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Livro do Eclesiástico

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Livro do Eclesiástico

 Capítulo 1

1. Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos.
2. Quem pode contar os grãos de areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? Quem pode medir a altura do céu, a extensão da terra, a profundidade do abismo?
3. Quem pode penetrar a sabedoria divina, anterior a tudo?
4. A sabedoria foi criada antes de todas as coisas, a inteligência prudente existe antes dos séculos!
5. O verbo de Deus nos céus é fonte de sabedoria, seus caminhos são os mandamentos eternos.
6. A quem foi revelada a raiz da sabedoria? Quem pode discernir os seus artifícios?
7. A quem foi mostrada e revelada a ciência da sabedoria? Quem pode compreender a multiplicidade de seus caminhos?
8. Somente o Altíssimo, criador onipotente, rei poderoso e infinitamente temível, Deus dominador, sentado no seu trono;
9. foi ele quem a criou no Espírito Santo, quem a viu, numerada e medida;
10. ele a espargiu em todas as suas obras, sobre toda a carne, à medida que a repartiu, e deu-a àqueles que a amavam.
11. O temor do Senhor é uma glória, um motivo de glória, uma fonte de alegria, uma coroa de regozijo.
12. O temor do Senhor alegra o coração. Ele nos dá alegria, regozijo e longa vida.
13. Quem teme o Senhor sentir-se-á bem no instante derradeiro, no dia da morte será abençoado.
14. O amor de Deus é uma sabedoria digna de ser honrada.
15. Aqueles a quem ela se mostra, amam-na logo que a vêem, logo que reconhecem os prodígios que realiza.
16. O temor do Senhor é o início da sabedoria. Ela foi criada com os homens fiéis no seio de sua mãe, ela caminha com as mulheres de escol, vemo-la na companhia dos justos e dos fiéis.
17. O temor ao Senhor é a religião da ciência.
18. Essa religião guarda e santifica o coração; ela lhe traz satisfação e alegria.
19. Aquele que teme ao Senhor achar-se-á confortado, no dia da morte será abençoado.
20. O temor ao Senhor é a plenitude da sabedoria, a plenitude de seus frutos, (para aquele que a possui)
21. ela enche toda a sua casa com os bens que produz, e seus celeiros com seus tesouros.
22. O temor do Senhor é a coroa da sabedoria: dá uma plenitude de paz e de frutos de salvação.
23. Ele a viu e numerou-a; ora, um e outra são um dom de Deus.
24. A sabedoria distribui a ciência e a prudente inteligência; eleva à glória aqueles que a possuem.
25. O temor do Senhor é a raiz da sabedoria, seus ramos são de longa duração.
26. A inteligência e a religião da ciência se acham nos tesouros da sabedoria, mas a sabedoria é abominada pelos pecadores.
27. O temor ao Senhor expulsa o pecado,
28. pois aquele que não tem esse temor não poderá tornar-se justo. A violência de sua paixão causará sua ruína.
29. O homem paciente esperará até um determinado tempo, após o qual a alegria lhe será restituída.
30. O homem de bom senso guarda suas palavras; muitos falarão, em voz alta, de sua prudência.
31. O sentido da instrução está encerrado nos celeiros da sabedoria.
32. Mas o culto de Deus é abominado pelo pecador.
33. Meu filho, tu que desejas ardentemente a sabedoria, sê justo e Deus ta concederá.
34. Pois o temor do Senhor é sabedoria e instrução, e o que lhe é agradável
35. é fidelidade e doçura; ele encherá os celeiros daqueles (que as possuem).
36. Não sejas rebelde ao temor do Senhor, não vás a ele com um coração fingido.
37. Não sejas hipócrita diante dos homens, e que teus lábios não sejam motivo de queda.
38. Vela sobre eles para que não caias, e não atraias sobre tua alma a desonra;
39. e para que Deus, revelando teus segredos, não te destrua no meio da assembléia,
40. por te teres aproximado do Senhor sorrateiramente, com o coração cheio de astúcia e engano.

 
Capítulo 2

1. Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação;
2. humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade,
3. sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça.
4. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência.
5. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação.
6. Põe tua confiança em Deus e ele te salvará; orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice.
7. Vós, que temeis o Senhor, esperai em sua misericórdia, não vos afasteis dele, para que não caiais;
8. vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele, a fim de que não se desvaneça vossa recompensa.
9. Vós, que temeis o Senhor, esperai nele; sua misericórdia vos será fonte de alegria.
10. Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações se encherão de luz.
11. Considerai, meus filhos, as gerações humanas: sabei que nenhum daqueles que confiavam no Senhor foi confundido.
12. Pois quem foi abandonado após ter perseverado em seus mandamentos? Quem é aquele cuja oração foi desprezada?
13. Pois Deus é cheio de bondade e de misericórdia, ele perdoa os pecados no dia da aflição. Ele é o protetor de todos os que verdadeiramente o procuram.
14. Ai do coração fingido, dos lábios perversos, das mãos malfazejas, do pecador que leva na terra uma vida de duplicidade;
15. ai dos corações tímidos que não confiam em Deus, e que Deus, por essa razão, não protege;
16. ai daqueles que perderam a paciência, que saíram do caminho reto, e se transviaram nos maus caminhos.
17. Que farão eles quando o Senhor começar o exame?
18. Aqueles que temem ao Senhor não são incrédulos à sua palavra, e os que o amam permanecem em sua vereda.
19. Aqueles que temem ao Senhor procuram agradar-lhe, aqueles que o amam satisfazem-se na sua lei.
20. Aqueles que temem ao Senhor preparam o coração, santificam suas almas na presença dele.
21. Aqueles que temem ao Senhor guardam os seus mandamentos, têm paciência até que ele lance os olhos sobre eles,
22. dizendo: Se não fizermos penitência, cairemos nas mãos do Senhor, e não nas mãos dos homens,
23. pois a misericórdia dele está na medida de sua grandeza.

 
Capítulo 3

1. Os filhos da sabedoria formam a assembléia dos justos, e o novo que compõem é, todo ele, obediência e amor.
2. Ouvi, meus filhos, os conselhos de vosso pai, segui-os de tal modo que sejais salvos.
3. Pois Deus quis honrar os pais pelos filhos, e cuidadosamente fortaleceu a autoridade da mãe sobre eles.
4. Aquele que ama a Deus o roga pelos seus pecados, acautela-se para não cometê-los no porvir. Ele é ouvido em sua prece cotidiana.
5. Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro.
6. Quem honra seu pai achará alegria em seus filhos, será ouvido no dia da oração.
7. Quem honra seu pai gozará de vida longa; quem lhe obedece dará consolo à sua mãe.
8. Quem teme ao Senhor honra pai e mãe. Servirá aqueles que lhe deram a vida como a seus senhores.
9. Honra teu pai por teus atos, tuas palavras, tua paciência,
10. a fim de que ele te dê sua bênção, e que esta permaneça em ti até o teu último dia.
11. A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces.
12. Não te glories do que desonra teu pai, pois a vergonha dele não poderia ser glória para ti,
13. pois um homem adquire glória com a honra de seu pai, e um pai sem honra é a vergonha do filho.
14. Meu filho, ajuda a velhice de teu pai, não o desgostes durante a sua vida.
15. Se seu espírito desfalecer, sê indulgente, não o desprezes porque te sentes forte, pois tua caridade para com teu pai não será esquecida,
16. e, por teres suportado os defeitos de tua mãe, ser-te-á dada uma recompensa;
17. tua casa tornar-se-á próspera na justiça. Lembrar-se-ão de ti no dia da aflição, e teus pecados dissolver-se-ão como o gelo ao sol forte.
18. Como é infame aquele que abandona seu pai, como é amaldiçoado por Deus aquele que irrita sua mãe!
19. Meu filho, faze o que fazes com doçura, e mais do que a estima dos homens, ganharás o afeto deles.
20. Quanto mais fores elevado, mais te humilharás em tudo, e perante Deus acharás misericórdia;
21. porque só a Deus pertence a onipotência, e é pelos humildes que ele é (verdadeiramente) honrado.
22. Não procures o que é elevado demais para ti; não procures penetrar o que está acima de ti. Mas pensa sempre no que Deus te ordenou. Não tenhas a curiosidade de conhecer um número elevado demais de suas obras,
23. pois não é preciso que vejas com teus olhos os seus segredos.
24. Acautela-te de uma busca exagerada de coisas inúteis, e de uma curiosidade excessiva nas numerosas obras de Deus,
25. pois a ti foram reveladas muitas coisas, que ultrapassam o alcance do espírito humano.
26. Muitos foram enganados pelas próprias opiniões. Seu sentido os reteve na vaidade.
27. O coração empedernido acabará por ser infeliz. Quem ama o perigo nele perecerá.
28. O coração de caminhos tortuosos não triunfará, e a alma corrompida neles achará ocasião de queda.
29. O coração perverso ficará acabrunhado de tristeza, e o pecador ajuntará pecado sobre pecado.
30. Não há nenhuma cura para a assembléia dos soberbos, pois, sem que o saibam, o caule do pecado se enraíza neles.
31. O coração do sábio se manifesta pela sua sabedoria; o bom ouvido ouve a sabedoria com ardente avidez.
32. O coração sábio e inteligente abstém-se do pecado. Ele triunfará nas obras de justiça.
33. A água apaga o fogo ardente, a esmola enfrenta o pecado.
34. Deus olha para aquele que pratica a misericórdia; dele se lembrará no porvir, no dia de sua infelicidade este achará apoio.

 
Capítulo 4

1. Meu filho, não negues esmola ao pobre, nem dele desvies os olhos.
2. Não desprezes o que tem fome, não irrites o pobre em sua indigência.
3. Não aflijas o coração do infeliz, não recuses tua esmola àquele que está na miséria;
4. não rejeites o pedido do aflito, não desvies o rosto do pobre.
5. Não desvies os olhos do indigente, para que ele não se zangue. Aos que pedem não deis motivo de vos amaldiçoarem pelas costas,
6. pois será atendida a imprecação daquele que te amaldiçoa na amargura de sua alma. Aquele que o criou o atenderá.
7. Torna-te afável na assembléia dos pobres, humilha tua alma diante de um ancião; curva a cabeça diante de um poderoso.
8. Dá ouvidos ao pobre de boa vontade. Paga a tua dívida, dá-lhe com doçura uma resposta apaziguadora.
9. Liberta da casa do orgulhoso aquele que sofre injustiça. Quando fizeres um julgamento, não o faças com azedume.
10. Sê misericordioso com os órfãos como um pai; e sê como um marido para a mãe deles.
11. E serás como um filho obediente do Altíssimo, que, mais do que uma mãe, terá compaixão de ti.
12. A sabedoria inspira a vida aos seus filhos, ela toma sob a sua proteção aqueles que a procuram; ela os precede no caminho da justiça.
13. Aquele que a ama, ama a vida; aqueles que velam para encontrá-la sentirão sua doçura.
14. Aqueles que a possuem terão a vida como herança, e Deus abençoará todo o lugar onde ele entrar.
15. Aqueles que a servem serão obedientes ao Santo; aqueles que a amam serão amados por Deus.
16. Aquele que a ouve julgará as nações; aquele que é atento em contemplá-la permanecerá seguro.
17. Quem nela põe sua confiança tê-la-á como herança e sua posteridade a possuirá,
18. pois na provação ela anda com ele, e escolhe-o em primeiro lugar.
19. Ela traz-lhe o temor, o pavor e a aprovação. Ela o atormenta com sua penosa disciplina, até que, tendo-o experimentado nos seus pensamentos, ela possa confiar nele.
20. Então ela o porá firme, voltará a ele em linha reta. Ela o cumula de alegria,
21. desvenda-lhe seus segredos e enriquece-o com tesouros de ciência, de inteligência e de justiça.
22. Porém, se ele se transviar, ela o abandonará, e o entregará às mãos do seu inimigo.
23. Meu filho, aproveita-te do tempo, evita o mal;
24. para o bem de tua alma, não te envergonhes de dizer a verdade,
25. pois há uma vergonha que conduz ao pecado, e uma vergonha que atrai glória d graça.
26. Em teu próprio prejuízo não te mostres parcial, não mintas em prejuízo de tua alma.
27. Não tenhas complacência com as fragilidade do próximo,
28. não retenhas uma palavra que pode ser salutar, não escondas tua sabedoria pela tua vaidade.
29. Pois a sabedoria faz-se distinguir pela língua; o bom senso, o saber e a doutrina, pela palavra do sábio; e a firmeza, pelos atos de justiça.
30. Não contradigas de nenhum modo a verdade, envergonha-te da mentira cometida por ignorância.
31. Não te envergonhes de confessar os teus pecados; não te tornes escravo de nenhum homem que te leve a pecar.
32. Não resistas face a face ao homem poderoso, não te oponhas ao curso do rio.
33. Combate pela justiça a fim de salvares tua vida; até a morte, combate pela justiça, e Deus combaterá por ti contra teus inimigos.
34. Não sejas precipitado em palavras, e (ao mesmo tempo) covarde e negligente em tuas ações.
35. Não sejas como um leão em tua casa, prejudicando os teus domésticos e tiranizando os que te são submissos.
36. Que tua mão não seja aberta para receber, e fechada para dar.

 
Capítulo 5

1. Não contes com riquezas injustas. Não digas: Tenho o suficiente para viver, pois no dia do castigo e da escuridão, isso de nada te servirá.
2. Quando te sentires forte, não te entregues às cobiças de teu coração.
3. Não digas: Como sou forte! ou: Quem me obrigará a prestar contas dos meus atos?,
4. pois Deus tomará sua vingança. Não digas: Pequei, e o que me aconteceu de mal?, pois o Senhor é lento para castigar (os crimes).
5. A propósito de um pecado perdoado, não estejas sem temor, e não acrescentes pecado sobre pecado.
6. Não digas: A misericórdia do Senhor é grande, ele terá piedade da multidão dos meus pecados,
7. pois piedade e cólera são nele igualmente rápidas, e o seu furor visa aos pecadores.
8. Não demores em te converteres ao Senhor, não adies de dia em dia,
9. pois sua cólera virá de repente, e ele te perderá no dia do castigo.
10. Não te inquietes à procura de riquezas injustas, de nada te servirão no dia do castigo e da escuridão.
11. Não joeires a todos os ventos, não andes por qualquer caminho, pois é assim que se revela o pecador de linguagem dúbia.
12. Firma-te no caminho do Senhor, na sinceridade de teus sentimentos e teus conhecimentos, nunca te afastes de uma linguagem pacífica e eqüitativa.
13. Escuta com doçura o que te dizem a fim de compreenderes, darás então uma resposta sábia e apropriada.
14. Se tiveres inteligência, responde a outrem, senão, põe a mão sobre a tua boca, para que não sejas surpreendido a dizer uma palavra indiscreta, e venhas a te envergonhar dela.
15. A honra e a consideração acompanham a linguagem do sábio, mas a língua do imprudente é a sua própria ruína.
16. Não passes por delator, não caias com embaraço nas armadilhas de tua língua,
17. pois ao ladrão estão reservados a confusão e o arrependimento, à língua dúbia, uma censura severa; ao delator, ódio, inimizade e infâmia.
18. Faze justiça tanto para o pequeno como para o grande.

 
Capítulo 6

1. De amigo não te tornes inimigo de teu próximo, pois o malvado terá por sorte a vergonha e a ignomínia, como todo pecador invejoso e de língua fingida.
2. Não te eleves como um touro nos pensamentos de teu coração, para não suceder que a tua loucura quebre a tua força,
3. devore as tuas folhas, apodreça os teus frutos e te deixe como uma árvore seca no deserto.
4. Pois uma alma perversa é a perda de quem a possui; torná-lo-á motivo de zombaria para seus inimigos, e conduzi-lo-á à sorte dos ímpios.
5. Uma boa palavra multiplica os amigos e apazigua os inimigos; a linguagem elegante do homem virtuoso é uma opulência.
6. Dá-te bem com muitos, mas escolhe para conselheiro um entre mil.
7. Se adquirires um amigo, adquire-o na provação, não confies nele tão depressa.
8. Pois há amigos em certas horas que deixarão de o ser no dia da aflição.
9. Há amigo que se torna inimigo, e há amigo que desvendará ódios, querelas e disputas;
10. há amigo que só o é para a mesa, e que deixará de o ser no dia da desgraça.
11. Se teu amigo for constante, ele te será como um igual, e agirá livremente com os de tua casa.
12. Se se rebaixa em tua presença e se retrai diante de ti, terás aí, na união dos corações, uma excelente amizade.
13. Separa-te daqueles que são teus inimigos, e fica de sobreaviso diante de teus amigos.
14. Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro.
15. Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé.
16. Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade; quem teme ao Senhor, achará esse amigo.
17. Quem teme ao Senhor terá também uma excelente amizade, pois seu amigo lhe será semelhante.
18. Meu filho, aceita a instrução desde teus jovens anos; ganharás uma sabedoria que durará até à velhice.
19. Vai ao encontro dela, como aquele que lavra e semeia, espera pacientemente seus excelentes frutos,
20. terás alguma pena em cultivá-la, mas, em breve, comerás os seus frutos.
21. Quanto a sabedoria é amarga para os ignorantes! O insensato não permanecerá junto a ela.
22. Ela lhes será como uma pesada pedra de provação, eles não tardarão a desfazer-se dela.
23. Pois a sabedoria que instrui justifica o seu nome, não se manifesta a muitos; mas, naqueles que a conhecem, persevera, até (tê-los levado) à presença de Deus.
24. Escuta, meu filho, recebe um sábio conselho, não rejeites minha advertência.
25. Mete os teus pés nos seus grilhões, e teu pescoço em suas correntes.
26. Abaixa teu ombro para carregá-la, não sejas impaciente em suportar seus liames.
27. Vem a ela com todo o teu coração. Guarda seus caminhos com todas as tuas forças.
28. Segue-lhe os passos e ela se dará a conhecer; quando a tiveres abraçado, não a deixes.
29. Pois acharás finalmente nela o teu repouso. E ela transformar-se-á para ti em um motivo de alegria.
30. Seus grilhões ser-te-ão uma proteção, um firme apoio; suas correntes te serão um adorno glorioso;
31. pois nela há uma beleza que dá vida, e seus liames são ligaduras que curam.
32. Como ele te revestirás como de uma vestimenta de glória, e a porás sobre ti como uma coroa de júbilo.
33. Meu filho, se me ouvires com atenção, serás instruído; se submeteres o teu espírito, tornar-te-ás sábio.
34. Se me deres ouvido, receberás a doutrina. Se gostares de ouvir, adquirirás a sabedoria.
35. Permanece na companhia dos doutos anciãos, une-te de coração à sua sabedoria, a fim de que possas ouvir o que dizem de Deus, e não te escapem suas louváveis máximas.
36. Se vires um homem sensato, madruga para ir ter com ele, desgaste o teu pé o limiar de sua porta.
37. Concentra teu pensamento nos preceitos de Deus, sê assíduo à meditação de seus mandamentos. Ele próprio te dará um coração, e ser-te-á concedida a sabedoria que desejas.

 
Capítulo 7

1. Não pratiques o mal, e o mal não te iludirá.
2. Afasta-te da injustiça, e a injustiça se afastará de ti.
3. Meu filho, não semeies o mal nos sulcos da injustiça, e dele não recolherás o sétuplo.
4. Não peças ao Senhor o encargo de guiar outrem, nem ao rei um lugar de destaque.
5. Não te justifiques perante Deus, pois ele conhece o fundo dos corações; não pretendas parecer sábio diante do rei.
6. Não procures tornar-te juiz, se não fores bastante forte para destruir a iniqüidade, para que não aconteça que temas perante um homem poderoso, e te exponhas a pecar contra a eqüidade.
7. Não ofendas a população inteira de uma cidade, não te lances em meio da multidão.
8. Não acrescentes um segundo pecado ao primeiro, pois mesmo por causa de um só não ficarás impune.
9. Não te deixes levar ao desânimo.
10. Não descuides de orar nem de dar esmola.
11. Não digas: Deus há de considerar a quantidade de meus dons; quando os oferecer ao Deus Altíssimo, ele os há de aceitar.
12. Não zombes de um homem que está na aflição, pois há alguém que humilha e exalta: Deus que tudo vê.
13. Não inventes mentira contra teu irmão, não inventes nenhuma mentira contra teu amigo.
14. Cuida-te para não dizeres mentira alguma, pois o costume de mentir é coisa má.
15. Na companhia dos anciãos, não sejas falador, não multipliques as palavras em tua oração.
16. Não abomines as tarefas penosas, nem o labor da terra, que foi criado pelo Altíssimo.
17. Não te coloques no número das pessoas corrompidas,
18. lembra-te de que a cólera não tarda.
19. Humilha profundamente o teu espírito, pois o fogo e o verme são o castigo da carne do ímpio.
20. Não pratiques o mal contra um amigo que demora em te pagar, não desprezes por causa do ouro um irmão bem-amado.
21. Não te afastes da mulher sensata e virtuosa que te foi concedida no temor do Senhor; pois a graça de sua modéstia vale mais do que o ouro.
22. Não maltrates um escravo que trabalha pontualmente, nem o operário que te é devotado.
23. Que o escravo sensato te seja tão caro quanto a tua própria vida! Não o prives da liberdade, nem o abandones na indigência.
24. Tens rebanhos? Cuida deles; se te forem úteis, guarda-os em tua casa.
25. Tens filhos? Educa-os, e curva-os à obediência desde a infância.
26. Tens filhas? Vela pela integridade de seus corpos, não lhes mostres um rosto por demais jovial.
27. Casa tua filha, e terás feito um grande negócio; dá-a a um homem sensato.
28. Se tiveres mulher conforme teu coração, não a repudies, e não confies na que é odiosa.
29. Honra teu pai de todo o coração, não esqueças os gemidos de tua mãe;
30. lembra-te de que sem eles não terias nascido, e faze por eles o que fizeram por ti.
31. Teme a Deus com toda a tua alma, tem um profundo respeito pelos seus sacerdotes.
32. Ama com todas as tuas forças aquele que te criou; não abandones os seus ministros.
33. Honra a Deus com toda a tua alma, respeita os sacerdotes; (nos sacrifícios) oferece-lhes as espáduas.
34. Dá-lhes, como te foi prescrito, a parte da primícias e das vítimas expiatórias; purifica-te de tuas omissões com pequenas (oferendas);
35. oferece ao Senhor os dons das espáduas, os sacrifícios de santificação e as primícias das coisas santas.
36. Estende a mão para o pobre, a fim de que sejam perfeitos teu sacrifício e tua oferenda.
37. Dá de boa vontade a todos os vivos, não recuses esse benefício a um morto.
38. Não deixes de consolar os que choram, aproxima-te dos que estão aflitos.
39. Não tenhas preguiça de visitar um doente, pois é assim que te firmarás na caridade.
40. Em tudo o que fizeres, lembra-te de teu fim, e jamais pecarás.

 
Capítulo 8

1. Não disputes com um homem poderoso, para que não caias em suas mãos.
2. Não tenhas desavença com um rico, para não acontecer que ele te mova um processo;
3. pois o ouro e a prata perderam a muitos, e o poder deles chega até a transviar o coração de um rei.
4. Não tenhas desavença com um grande falador, e não amontoes lenha em sua fogueira.
5. Não convivas com um homem mal-educado, para não acontecer que ele fale mal de teus antepassados.
6. Não desprezes um homem que renuncia ao pecado, não lhe dirijas censuras; lembra-te de que todos merecemos o castigo.
7. Não desprezes um ancião, pois alguns dentre nós também envelheceremos.
8. Não te alegres com a morte de teu inimigo, pois sabes que todos morreremos, e não queremos que com isso se regozijem.
9. Não desprezes o que contarem os velhos sábios, mas entretém-te com suas palavras,
10. pois é com eles que aprenderás a sabedoria, os ensinamentos da inteligência, e a arte de servir irrepreensivelmente os poderosos.
11. Não desprezes os ensinamentos dos anciãos, pois eles os aprenderam com seus pais.
12. Estudarás com eles o conhecimento e a arte de responder com oportunidade.
13. Não acendas os tições dos pecadores, repreendendo-os, para não acontecer que te queimes nas chamas dos seus pecados.
14. Não resistas perante um insolente, para que ele não arme ciladas às tuas palavras.
15. Não emprestes dinheiro a alguém mais poderoso do que tu, pois, se lhe emprestares, considera-o perdido.
16. Não prestes fiança a outrem além de tuas posses, pois se o fizeres, considera-te na obrigação de pagá-la.
17. Não julgues (o procedimento) de um juiz, pois ele julga conforme a eqüidade.
18. Não enveredes por um caminho com um audacioso, para não acontecer que ele faça recair sobre ti seus delitos; pois ele só age segundo o seu capricho, e por causa de sua loucura perecerás com ele.
19. Não tenhas desavença com um homem irascível; não vás para o deserto com um audacioso, porque para ele nada vale o sangue, e ele te destruirá quando te achares sem socorro.
20. Não deliberes com loucos, pois só amam o que lhes agrada.
21. Nada resolvas perante um estranho, pois não sabes o que ele pode imaginar.
22. Não abras teu coração a qualquer homem, para não acontecer que recebas uma falsa amizade, e, além disso, ultrajes.

 
Capítulo 9

1. Não tenhas ciúme da mulher que repousa no teu seio, para que ela não empregue contra ti a malícia que lhe houveres ensinado.
2. Não entregues tua alma ao domínio de tua mulher, para que ela não usurpe tua autoridade e fiques humilhado.
3. Não lances os olhos para uma mulher leviana, para que não caias em suas ciladas.
4. Não freqüentes assiduamente uma dançarina, e não lhe dês atenção, para que não pereças por causa de seus encantos.
5. Não detenhas o olhar sobre uma jovem, para que a sua beleza não venha a causar tua ruína.
6. Nunca te entregues às prostitutas, para que não te percas com os teus haveres.
7. Não lances os olhos daqui e dali pelas ruas da cidade, não vagueies pelos caminhos.
8. Desvia os olhos da mulher elegante, não fites com insistência uma beleza desconhecida.
9. Muitos pereceram por causa da beleza feminina, e por causa dela inflama-se o fogo do desejo.
10. Toda mulher que se entrega à devassidão é como o esterco que se pisa na estrada.
11. Muitos, por haveres admirado uma beleza desconhecida, foram condenados, pois a conversa dela queima como fogo.
12. Nunca te sentes ao lado de uma estrangeira, não te ponhas à mesa com ela;
13. não a provoques a beber vinho, para não acontecer que teu coração por ela se apaixone, e que pelo preço de teu sangue caias na perdição.
14. Não abandones um velho amigo, pois o novo não o valerá.
15. Vinho novo, amigo novo; é quando envelhece que o beberás com gosto.
16. Não invejes a glória nem as riquezas do pecador, pois não sabes qual será a sua ruína.
17. Não sintas prazer com a violência dos injustos; sabe que o ímpio desagrada a Deus até na habitação dos mortos.
18. Afasta-te do homem que tem o poder de matar, e assim não saberás o que é temer a morte.
19. Mas, se dele de aproximares, cuida em não cometer nenhuma falta, para não acontecer que ele tire a tua vida.
20. Sabe que a morte está próxima, porque andas em meio de armadilhas, e no meio das armas de inimigos escolerizados.
21. Tanto quanto possível, desconfia de quem de ti se aproxima, e aconselha-te com os sábios e os prudentes.
22. Que os teus convivas sejam virtuosos. Põe tua glória no temor de Deus.
23. Que o pensamento de Deus ocupe o teu espírito, e os preceitos do Altíssimo sejam a tua conversa.
24. É pela obra de suas mãos que o artista conquista a estima; e um príncipe do povo, pela sabedoria de seus discursos; e os anciãos, pela prudência de suas palavras.
25. Um grande falador é coisa terrível na cidade; o homem de conversas imprudentes torna-se odioso.

 
Capítulo 10

1. Um governador sábio julga o seu povo; o governo de um homem sensato será estável.
2. Tal o juiz do povo, tais os seus ministros; tal o governador da cidade, tais os seus habitantes.
3. Um rei privado de juízo perde o seu povo, as cidades povoam-se pelo bom senso dos que governam.
4. O domínio sobre um país está na mão de Deus. Ele lhe suscitará no tempo oportuno um governador útil.
5. A prosperidade do homem está na mão de Deus; é ele que põe na fronte do escriba um sinal de honra.
6. Não te recordes de nenhuma injustiça causada pelo próximo, nada faças por um procedimento injusto.
7. O orgulho é abominável a Deus e aos homens; e toda a iniqüidade das nações provoca horror.
8. Um reino passa de um povo a outro, por causa das injustiças, dos ultrajes e de fraudes diversas.
9. Nada há mais criminoso do que a avareza; de que se orgulha o que é terra e cinza?
10. Nada há mais iníqüo do que o amor ao dinheiro; aquele que o ama chega até a vender a sua alma. Vivo ainda, despojou-se de suas próprias entranhas.
11. A duração de todo o poder é breve; uma doença prolongada cansa o médico.
12. O médico atalha um breve mal-estar; assim, um que hoje é rei amanhã morrerá.
13. Quando o homem está morto, tem por herança serpentes, bichos e vermes.
14. O início do orgulho num homem é renegar a Deus,
15. pois seu coração se afasta daquele que o criou, porque o princípio de todo pecado é o orgulho; aquele que nele se compraz será coberto de maldições, e acabará sendo por elas derrubado.
16. Eis porque o Senhor desonrou a assembléia dos maus, e os destruiu para sempre.
17. Deus derrubou os tronos dos chefes orgulhosos e em lugar deles fez sentar homens pacíficos.
18. Deus fez secar as raízes das nações arrogantes, e implantou os humildes entre as mesmas nações.
19. O Senhor destruiu as terras das nações, e as arruinou até os alicerces.
20. Destruiu muitas delas e exterminou-as, apagou a sua lembrança de sobre a terra.
21. Deus apaga a memória dos orgulhosos, enquanto faz perdurar a dos humildes de coração.
22. O orgulho não foi criado para os homens, nem a cólera para o sexo feminino.
23. A raça do homem que teme a Deus será honrada; será desonrado aquele que desprezar os preceitos do Senhor.
24. Entre os seus irmãos, a homenagem é feita para aquele que os governa; aqueles que temem a Deus serão honrados na presença do Senhor.
25. Rico, nobre ou pobre, sua glória é o temor do Senhor.
26. Não desprezes o homem justo, ainda que pobre; não enalteças um pecador, ainda que rico,
27. O grande, o justo e o poderoso recebem homenagens, mas ninguém é maior do que aquele que teme a Deus.
28. Homens livres serão os súditos de um escravo sensato. Repreendido, o homem prudente e bem educado não murmura, e o ignorante não será honrado.
29. Não te orgulhes do trabalho que fazes, não sejas indolente no tempo da adversidade.
30. Mais vale o trabalho e abundância, do que o jactancioso que não tem pão.
31. Meu filho, conserva tua alma na doçura, e dá-lhe a honra que merece.
32. Aquele que peca contra si mesmo, que o justificará? Quem devolverá a honra a quem desonrou sua vida?
33. Um pobre é honrado pelo seu conhecimento e temor a Deus; há quem o é por causa de suas riquezas.
34. Mas quanta glória teria se fosse rico aquele que é honrado, mesmo sendo pobre! Mas o que se gloria de sua riqueza, acautele-se para não se tornar pobre.

 
Capítulo 11

1. A sabedoria do humilde levantará a sua cabeça e o fará sentar-se no meio dos grandes.
2. Não avalies um homem pela sua aparência, não desprezes um homem pelo seu aspecto.
3. Pequena é a abelha entre os seres alados: o que produz, entretanto, é o que há de mais doce.
4. Não te glories nunca de tuas vestes, não te engrandeças no dia em que fores homenageado, pois só as obras do Altíssimo são admiráveis, dignas de glória, misteriosas e invisíveis.
5. Muitos príncipes ocuparam o trono, e alguém, em quem se não pensava, usou o diadema.
6. Muitos poderosos foram grandemente oprimidos, e homens ilustres foram entregues às mãos de outrem.
7. Não censures ninguém antes de estares bem informado; e quando te tiveres informado, repreende com eqüidade;
8. nada respondas antes de ter ouvido, não interrompas ninguém no meio do seu discurso.
9. Não indagues das coisas que não te dizem respeito; não te assentes com os maus para julgar.
10. Meu filho, não empreendas coisas em demasia, porque, se adquirires riquezas, não ficarás isento de culpa; se empreenderes muitos negócios, não poderás abrangê-los; se te antecipares, não te sairás bem deles.
11. Há ímpio que trabalha, se apressa e se queixa, porém só se torna menos rico.
12. Há homem esgotado e em grande necessidade de alívio, pobre de energia e rico em necessidades,
13. que o olhar de Deus considera com benevolência, e tira do desalento para lhe dar ânimo; muitos, ao verem isso, ficam surpreendidos e dão glória a Deus.
14. Bens e males, vida e morte, pobreza e riqueza vêm de Deus.
15. Em Deus se encontram a sabedoria, o conhecimento e a ciência da lei; nele residem a caridade e as boas obras.
16. O erro e as trevas foram criados com os pecadores; aqueles que se comprazem no mal, envelhecerão no mal.
17. O dom de Deus permanece nos justos, e seu aproveitamento assegura um triunfo eterno.
18. Há homem que enriquece, vivendo com economia, e a única recompensa que dela usufrui é a
19. de poder dizer: Achei o repouso, vou agora desfrutar meus haveres sozinho.
20. E ele não considera que o tempo passa, que vem a morte, e que, ao morrer, tudo deixará para os outros.
21. Permanece firme em tua aliança com Deus; que isto seja sempre o assunto de tuas conversas. E envelhece praticando os mandamentos.
22. Não prestes atenção ao que fazem os pecadores; põe tua confiança em Deus, e limita-te ao que fazes.
23. É, com efeito, coisa fácil aos olhos de Deus enriquecer repentinamente o pobre.
24. A bênção divina não se faz esperar para recompensar o justo. Em pouco tempo ele o faz crescer e dar fruto.
25. Não digas: De que preciso eu? Que tenho a esperar doravante?
26. Não digas tampouco: Eu me basto a mim mesmo; que mal posso temer para o futuro?
27. No dia feliz não percas a recordação dos males, nem a recordação do bem no dia infeliz.
28. Pois no dia da morte é fácil para Deus dar a cada um conforme o seu comportamento.
29. A dor de um instante faz esquecer os maiores prazeres; com a morte do homem, todos os seus atos serão desvendados.
30. Não louves a homem algum antes de sua morte, pois é em seus filhos que se reconhece um homem.
31. Não tragas um homem qualquer à tua casa, pois numerosas são as armadilhas do que engana.
32. Assim como sai um hálito fétido de um estômago estragado, assim como a perdiz atrai para a armadilha, e o cabrito para os laços, assim é o coração dos soberbos, e daquele que está à espreita para ver a ruína do próximo.
33. Transformando o bem em mal, ele arma ciladas, e põe nódoas nas coisas mais puras.
34. Uma centelha basta para acender uma grande fogueira; um só rebanho é causa de múltiplos morticínios, e o pecador procura traiçoeiramente derramar sangue.
35. Acautela-te contra o corruptor que trama a iniqüidade, para não acontecer que ele faça de ti um eterno objeto de mofa.
36. Dás entrada em tua casa ao estrangeiro? Ele aí suscitará uma discórdia que te derrubará, e te tornará inimigo das pessoas de tua própria casa.

 
Capítulo 12

1. Se fizeres bem, sabe a quem o fazes, e receberás gratidão pelos teus benefícios.
2. Faze o bem para o justo, e disso terás grande recompensa, senão dele, pelo menos do Senhor,
3. pois não há bem para quem persevera no mal e não dá esmolas; porque o Altíssimo tem horror dos pecadores, e usa de misericórdia com os que se arrependem.
4. Dá ao homem bom, não ampares o pecador, pois Deus dará ao mau e ao pecador o que merecem; ele os guarda para o dia em que os castigará.
5. Dá àquele que é bom, e não auxilies o pecador.
6. Faze o bem ao homem humilde, e nada dês ao ímpio; impede que se lhe dê pão, para não suceder que ele se torne mais poderoso do que tu.
7. Pois acharás um duplo mal em todo o bem que lhe fizeres, porque o próprio Altíssimo abomina os pecadores, e exerce vingança sobre os ímpios.
8. O amigo não se conhece durante a prosperidade, e o inimigo não se pode esconder na adversidade.
9. Quando um homem é feliz, seus inimigos estão tristes; é na desgraça que se reconhece um amigo.
10. Não confies nunca em teu inimigo, pois a malícia dele é como a ferrugem que sempre volta no bronze.
11. Ainda mesmo que se humilhe e ande todo submisso, sê vigilante e previne-te contra ele,
12. Não o estabeleças junto de ti, nem ele se assente à tua direita, para não suceder que ele queira tomar o teu lugar e ocupar o teu assento; e que, reconhecendo enfim a veracidade das minhas palavras, te sintas ferido pelos meus avisos.
13. Quem terá pena de um encantador mordido por uma cobra, e de todos os que se aproximam das feras? Assim acontece com aquele que priva com o malvado, e que se acha envolvido nos pecados dele.
14. Ficará uma hora contigo, mas se vieres a fraquejar, não mais poderá conter-se.
15. O inimigo tem a doçura nos lábios, enquanto no coração arma laços para te lançar na cova.
16. O inimigo tem lágrimas nos olhos, mas, se tiver oportunidade, será insaciável de teu sangue.
17. Se a desgraça te ferir, hás de achá-lo em primeiro lugar;
18. ele tem lágrimas nos olhos, mas, fingindo socorrer-te, dar-te-á uma rasteira.
19. Abanará a cabeça e baterá palmas, e, mudando de semblante, não cessará de cochichar.

 
Capítulo 13

1. Quem toca no pez ficará manchado; e quem trata com o orgulhoso, tornar-se-á orgulhoso.
2. Quem se liga com um mais poderoso do que ele, põe (sob os ombros) uma pesada carga. Não te tornes amigo de um mais poderoso do que tu.
3. Que ligação pode haver entre um pote de barro e um pote de ferro? Quando houver choque, (o pote de barro) será quebrado.
4. O rico comete uma injustiça e em seguida se põe a gritar; o pobre, ofendido, guarda silêncio.
5. Enquanto lhe servires, ele te empregará; quando nada mais tiveres, ele te abandonará.
6. Se tens haveres, ele se banqueteará contigo, te esgotará e não cuidará de tua sorte.
7. Se lhe fores útil, ele te dominará; com um sorriso ele te dará esperanças, com belas palavras te dirá: De que necessitas?
8. Confundir-te-á com seus banquetes, até que te tenha exaurido duas ou três vezes; e, por fim, zombará de ti; depois, vendo-te, abandornar-te-á, e abanará a cabeça, escarnecendo de ti.
9. Humilha-te perante Deus e espera que sua mão (execute).
10. Tem cuidado em não te deixares seduzir, para que não caias numa loucura aviltante.
11. Não te rebaixes em tua sabedoria, para não suceder que esse rebaixamento te arraste à loucura.
12. Se um poderoso te chamar, retira-te, e ele será ainda mais levado a insistir.
13. Não sejas importuno, para não acontecer que ele se canse de ti; não te afastes muito dele, para não suceder que ele te esqueça.
14. Não tenhas a audácia de falar de igual para igual com ele, e não confies em suas longas conversas. Pois fazendo-te falar muito, ele te experimentará, e com um sorriso te interrogará sobre os teus segredos.
15. Seu coração impiedoso relembrará todas as tuas palavras, e não te poupará nem aos maus tratos nem às cadeias.
16. Cuida de ti e presta bem atenção aos teus ouvidos, pois caminhas à beira de um abismo.
17. Mas, ouvido tudo isso, encara-o como um sonho, e serás vigilante;
18. ama a Deus durante toda a tua vida, e invoca-o para tua salvação.
19. Todo ser vivo ama o seu semelhante, assim todo homem ama o seu próximo.
20. Toda carne se une a outra carne de sua espécie, e todo homem se associa ao seu semelhante.
21. O logo jamais terá amizade com o cordeiro: assim é entre o pecador e o justo.
22. Que relação pode haver entre um santo homem e um cão? Que ligação pode ter um rico com um pobre?
23. O onagro é a presa do leão no deserto: assim os pobres servem de pasto aos ricos.
24. E como a humanidade é abominada pelo orgulhoso, do mesmo modo o pobre causa horror ao rico.
25. Um rico abalado é apoiado pelos seus amigos. O pobre que tropeça é ainda empurrado pelos seus companheiros.
26. Quando um rico é enganado, numerosos são aqueles que o vêm ajudá-lo; se diz tolices, o apóiam.
27. Quando um pobre é enganado, ainda merece censura, e, se falar com sabedoria, não o levam em consideração.
28. Se fala o rico, todos se calam, e glorificam suas palavras até às nuvens;
29. se fala um pobre, dizem: Que é este homem? E se ele tropeçar, fazem-no cair.
30. A riqueza é boa para quem não tem a consciência pesada, péssima é a pobreza do mau que se lastima.
31. O coração do homem modifica seu rosto, seja em bem, seja em mal.
32. O sinal de um coração feliz é um rosto alegre, tu o acharás dificilmente e com esforço.

 
Capítulo 14

1. Feliz o homem que não pecou pelas suas palavras, e que não é atormentado pelo remorso do pecado.
2. Feliz aquele cuja alma não está triste e que não está privado de esperança!
3. Para o homem avarento e cúpido a riqueza é inútil; para que serve o ouro ao homem invejoso?
4. Quem acumula injustamente, com prejuízo da vida, acumula para outros, e outro há de vir que esbanjará esses bens na devassidão.
5. Para quem será bom aquele que é mau para si mesmo? Não terá nenhuma satisfação em seus bens.
6. Nada é pior do que aquele que é avaro consigo mesmo: eis aí o verdadeiro salário de sua maldade.
7. Se ele fizer algum bem, é inconscientemente, a seu pesar, e acaba desvendando a sua maldade.
8. O olhar do invejoso é mau; ele desvia o rosto e despreza sua alma.
9. O olhar do avarento é insaciável a respeito da iniqüidade, só ficará satisfeito quando tiver ressecado e consumido a sua alma.
10. O olhar maldoso só leva ao mal; não será saciado com pão, mas será pobre e triste em sua própria mesa.
11. Meu filho, se algo tiveres, faze com isso algum bem a ti mesmo, e apresenta a Deus oferendas dignas.
12. Lembra-te de que a morte não tarda, e de que o pacto da moradia dos mortos te foi revelado, pois é lei deste mundo que é preciso morrer,
13. Antes de morrer, faze bem ao teu amigo, e dá esmola ao pobre conforme tuas posses.
14. Não te prives de um dia feliz, e não deixes escapar nenhuma parcela do precioso dom.
15. Não será a outrem que deixarás o fruto de teus esforços e de teus trabalhos, para ser repartido por sorte?
16. Dá e recebe, e justifica a tua alma.
17. Pratica a justiça, antes de tua morte, pois na moradia dos mortos não há de se achar alimento.
18. Toda carne fenece como a erva, e como a folha que cresce numa árvore vigorosa.
19. Umas nascem, outras caem. Assim, nesta raça de carne e sangue, uma geração morre, outra nasce.
20. Tudo o que é corruptível acabará por ser destruído, e o artesão morrerá com o seu trabalho.
21. Toda obra excelente será aprovada e o seu autor nela achará orgulho.
22. Feliz o homem que persevera na sabedoria, que se exercita na prática da justiça, e que, em seu coração, pensa no olhar de Deus que tudo vê;
23. que repassa no seu coração os seus caminhos, que penetra no conhecimento de seus segredos, que caminha atrás dela seguindo-lhe as pegadas, e que permanece em suas vias;
24. que olha pelas suas janelas, que escuta à sua porta,
25. que se detém junto à sua casa e que, enterrando uma estaca dentro de suas muralhas, edifica sua cabana junto a ela. Nessa cabana, seus haveres repousam tranqüilamente para sempre;
26. sob esse abrigo ele estabelece os seus filhos, e ele mesmo residirá debaixo dos seus ramos.
27. Em sua sombra ele encontra abrigo contra o calor, e repousará na sua glória.

 
Capítulo 15

1. Aquele que teme a Deus praticará o bem. Aquele que exerce a justiça possuirá a sabedoria.
2. Ela virá ao seu encontro como mãe cumulada de honrarias, e o receberá como uma esposa virgem;
3. alimentá-lo-á com o pão da vida e da inteligência, e o saciará com a água salutar da sabedoria. Ela se fortalecerá nele e o tornará inabalável,
4. ela o sustentará para que não seja confundido, e o exaltará entre os seus próximos.
5. Abrir-lhe-á a boca no meio da assembléia, enchê-lo-á do espírito de sabedoria e de inteligência, e o revestirá com um manto glorioso.
6. Acumulará sobre ele um tesouro de alegria e de júbilo, e lhe dará por herança um nome eterno.
7. Os homens insensatos não a alcançarão, mas os homens de bom senso irão ao encontro dela; os insensatos não a verão, porque ela está longe do orgulho e da fraude.
8. Os mentirosos dela não se recordarão, mas os homens sinceros achar-se-ão com ela, e prosperarão até a visita de Deus.
9. O louvor não é belo na boca do pecador,
10. porque a sabedoria vem de Deus; o louvor a Deus acompanha a sabedoria, enche a boca fiel, e lhe é inspirada pelo Dominador.
11. Não digas: É por causa de Deus que ela me falta. Pois cabe a ti não fazer o que ele abomina.
12. Não digas: Foi ele que me transviou, pois que Deus não necessita dos pecadores.
13. O Senhor detesta todo o erro e toda a abominação; aqueles que o temem não amam essas coisas.
14. No princípio Deus criou o homem, e o entregou ao seu próprio juízo;
15. deu-lhe ainda os mandamentos e os preceitos.
16. Se quiseres guardar os mandamentos, e praticar sempre fielmente o que é agradável (a Deus), eles te guardarão.
17. Ele pôs diante de ti a água e o fogo: estende a mão para aquilo que desejares.
18. A vida e a morte, o bem e o mal estão diante do homem; o que ele escolher, isso lhe será dado,
19. porque é grande a sabedoria de Deus. Forte e poderoso, ele vê sem cessar todos os homens.
20. Os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, e ele conhece todo o comportamento dos homens.
21. Ele não deu ordem a ninguém para fazer o mal, e a ninguém deu licença para pecar;
22. pois não deseja uma multidão de filhos infiéis e inúteis.

 
Capítulo 16

1. Não te regozijes de ter muitos filhos se são maus, nem ponhas neles a tua alegria, se não tiverem o temor de Deus.
2. Não confies na sua vida, nem voltes os teus olhares para os seus trabalhos;
3. pois um único filho temente a Deus vale mais do que mil filhos ímpios.
4. Há mais vantagens em morrer sem filhos, que em deixar após si filhos ímpios.
5. Um único homem sensato fará povoar a pátria, enquanto que um país de maus tornar-se-á deserto.
6. Vi com meus olhos inúmeros exemplos, e meus ouvidos ouviram alguns ainda mais graves.
7. O fogo acender-se-á na assembléia do maus, e a cólera se inflamará sobre um povo incrédulo.
8. Os gigantes não imploraram o perdão de seus pecados, e foram destruídos, apesar de terem confiados na própria força.
9. Deus não poupou a terra onde residia Lot, mas abominou os seus habitantes por causa de sua insolência.
10. Não teve pena deles, exterminou a nação inteira, que se engrandecia com o orgulho, apesar de seus pecados.
11. Assim aconteceu com os seiscentos mil homens vivos que se haviam reunido na dureza de coração; ainda que um único se tivesse mostrado obstinado, seria para admirar que não tivesse sido castigado,
12. pois misericórdia e ira estão sempre em Deus, grandemente misericordioso, porém capaz de cólera.
13. Os seus castigos igualam sua misericórdia; ele julga o homem conforme as suas obras.
14. O pecador não escapará em suas rapinas, e não será postergada a espera daquele que exerce a misericórdia;
15. toda a misericórdia colocará cada um em seu lugar, conforme o mérito de suas obras e a sabedoria de seu comportamento.
16. Não digas: Furtar-me-ei aos olhos de Deus; quem se lembrará de mim no alto do céu?
17. Não serei reconhecido no meio da multidão; quem sou eu no meio de uma tal multidão de criaturas?
18. Eis que o céu e o céu dos céus, o abismo, a terra inteira e tudo o que encerram se abalarão quando ele aparecer.
19. As montanhas, as colinas e os alicerces da terra tremerão de pavor quando Deus os olhar.
20. No meio de tudo isso, o coração do homem é insensato; Deus, porém, conhece todos os corações.
21. Quem é aquele que compreende os caminhos (de Deus), e a tempestade que escapa aos olhos do homem?
22. Com efeito a maior parte de suas obras está oculta; quem anunciará, quem poderá suportar os efeitos de sua justiça? Pois as sentenças (divinas) estão longe do pensamento de muitos, e o exame geral só se realizará no último dia.
23. O homem de coração mesquinho só pensa em vaidades; o imprudente e extraviado só se ocupa de loucuras.
24. Meu filho, ouve-me, adquire uma instrução sadia, torna o teu coração atento às minhas palavras.
25. Dar-te-ei um ensino muito exato, vou tentar explicar-te o que é a sabedoria; torna o teu coração atento às minhas palavras, pois vou descrever-te com exatidão as maravilhas que Deus, desde o início, fez brilhar nas suas obras, e vou expor, com toda a veracidade, o conhecimento de Deus.
26. Por decreto de Deus suas obras existem desde o começo; desde a criação distinguiu-as em partes. Colocou as principais em suas épocas,
27. adornou-as para sempre; elas não sentiram necessidade nem fadiga, e nunca interromperam o seu trabalho.
28. Nunca nenhuma delas embaraçou a vizinha.
29. Não sejas incrédulo à palavra do Senhor.
30. Depois disto, olhou Deus para a terra, e encheu-a de benefícios.
31. É o que revela sobre a terra a alma de todo ser vivo, e é ao seu seio que todos eles voltam.

 
Capítulo 17

1. Deus criou o homem da terra, formou-o segundo a sua própria imagem;
2. e o fez de novo voltar à terra. Revestiu-o de força segundo a sua natureza;
3. determinou-lhe uma época e um número de dias. Deu-lhe domínio sobre tudo o que está na terra.
4. Fê-lo temido por todos os seres vivos, fê-lo senhor dos animais e dos pássaros.
5. De sua própria substância, deu-lhe uma companheira semelhante a ele, com inteligência, língua, olhos, ouvidos, e juízo para pensar; cumulou-os de saber e inteligência.
6. Criou neles a ciência do espírito, encheu-lhes o coração de sabedoria, e mostrou-lhes o bem e o mal.
7. Pôs o seu olhar nos seus corações para mostrar-lhes a majestade de suas obras,
8. a fim de que celebrassem a santidade do seu nome, e o glorificassem por suas maravilhas, apregoando a magnificência de suas obras.
9. Deu-lhes, além disso, a instrução, deu-lhes a posse da lei da vida;
10. concluiu com eles um pacto eterno, e revelou-lhes a justiça de seus preceitos.
11. Viram com os próprios olhos as maravilhas da sua glória, seus ouvidos ouviram a majestade de sua voz: Guardai-vos, disse-lhes ele, de toda a iniqüidade.
12. Impôs a cada um (deveres) para com o próximo.
13. O proceder deles lhe está sempre diante dos olhos, nada lhe escapa.
14. Pôs um príncipe à testa de cada povo;
15. Israel, porém, foi visivelmente o quinhão do próprio Deus.
16. Todas as suas obras lhe são claras como o sol, e seus olhos observam sem cessar o seu proceder.
17. As leis de Deus não são eclipsadas pela iniqüidade deles, e todos os pecados que cometem estão diante do Senhor.
18. A esmola do homem é para ele como um selo, e ele conserva a beneficência do homem como a pupila dos olhos.
19. Depois se levantará para dar a cada um o que lhe é devido, e fá-los-á voltar às profundezas da terra.
20. Aos penitentes, porém, abre o caminho da justiça: conforta os desfalecidos, e conserva-lhes a verdade como destino.
21. Converte-te ao Senhor, abandona os teus pecados.
22. Ora diante dele e diminui as ocasiões de pecado.
23. Volta para o Senhor, afasta-te de tua injustiça, e detesta o que causa horror a Deus.
24. Conhece a justiça e os juízos de Deus; permanece firme no estado em que ele te colocou, e na oração constante ao Altíssimo.
25. Anda na companhia do povo santo, com os que vivem e proclamam a glória de Deus.
26. Não te detenhas no erro dos ímpios, louva a Deus antes da morte;
27. após a morte nada mais há, o louvor terminou. Glorifica a Deus enquanto viveres; glorifica-o enquanto tiveres vida e saúde; louva a Deus e glorifica-o em suas misericórdias.
28. Quão grande é a misericórdia do Senhor, e o perdão que concede àqueles que para ele se voltam!
29. Pois não se pode encontrar tudo nos homens, porque os homens não são imortais, e se comprazem na vaidade e na malícia.
30. O que há de mais luminoso do que o sol? E, entretanto, ele tem eclipses. O que há de mais criminoso do que os pensamentos da carne e do sangue? Ora, isso será castigado.
31. O sol contempla a multidão dos astros do céu, enquanto que todos os homens são apenas terra e cinza.

 
Capítulo 18

1. O Eterno tudo criou sem exceção, só o Senhor será considerado justo. Ele é o rei invencível que permanece para sempre.
2. Quem será capaz de relatar as suas obras?
3. Quem poderá compreender as suas maravilhas?
4. Quem poderá descrever todo o poder de sua grandeza? Quem empreenderá a explicação de sua misericórdia?
5. Nada há a subtrair, nada a acrescentar às maravilhas de Deus; elas são incompreensíveis.
6. Quando o homem tiver acabado, então estará no começo; e quando cessar a pesquisa, ficará perplexo.
7. Que é o homem, e para que serve? Que mal ou que bem pode ele fazer?
8. A duração da vida humana é quando muito cem anos. No dia da eternidade esses breves anos serão contados como uma gota de água do mar, como um grão de areia.
9. É por isso que o Senhor é paciente com os homens, e espalha sobre eles a sua misericórdia.
10. Ele vê quanto é má a presunção do seu coração, e reconhece que o fim deles é lamentável;
11. é por isso que ele os trata com toda a doçura, e mostra-lhes o caminho da justiça.
12. A compaixão de um homem concerne ao seu próximo, mas a misericórdia divina estende-se sobre todo ser vivo.
13. Cheio de compaixão, (Deus) ensina os homens, e os repreende como um pastor o faz com o seu rebanho.
14. Compadece-se daquele que recebe os ensinamentos de sua misericórdia, e do que se apressa a cumprir os seus preceitos.
15. Meu filho, não mistures a repreensão com o benefício, não acrescentes nunca palavras duras e más às tuas dádivas.
16. Porventura o orvalho não refresca o calor ardente? Assim, uma palavra doce vale mais do que um presente.
17. A doçura das palavras não prevalece sobre a própria dádiva? Mas uma e outra coisa se encontram no homem justo.
18. O insensato censura com aspereza; a dádiva de um indiscreto resseca os olhos.
19. Antes de julgar, procura ser justo; antes de falar, aprende.
20. Usa o remédio antes de ficares doente. Interroga-te a ti mesmo antes do juízo, e acharás misericórdia diante de Deus.
21. Antes da doença, humilha-te, e no tempo da enfermidade mostra o teu proceder.
22. Nada te impeça de orar sempre, e não te envergonhes de progredir na justiça até a morte; pois a recompensa de Deus é eterna.
23. Antes da oração, prepara a tua alma, e não sejas como um homem que tenta a Deus.
24. Lembra-te da ira do último dia, e do tempo em que Deus castigará, desviando o rosto.
25. Lembra-te da pobreza quando estiveres na abundância e das necessidades da indigência no dia da riqueza.
26. Entre a manhã e a tarde muda o tempo, e tudo isto acontece num instante aos olhos de Deus.
27. Um homem sábio está sempre alerta; nos dias de tentação, se resguarda do pecado.
28. Todo homem sagaz reconhece a sabedoria, e presta homenagem àquele que a encontrou.
29. Os homens de linguagem sensata procedem também com sabedoria, compreendem a verdade e a justiça, e espalham uma multidão de sentenças e máximas.
30. Não te deixes levar por tuas más inclinações, e refreia os teus apetites.
31. Se satisfizeres a cobiça de tua alma, ela fará de ti a alegria dos teus inimigos.
32. Não te comprazas no meio das multidões, mesmo da menores, porque nelas somos constantemente comprometidos.
33. Não te empobreças, pedindo empréstimos para aparentar, quando nada tens na algibeira; isso equivaleria a atentar contra a tua própria vida.

 
Capítulo 19

1. O operário dado ao vinho não se enriquecerá, e aquele que se descuida das pequenas coisas, cairá pouco a pouco.
2. O vinho e as mulheres fazem sucumbir até mesmos os sábios, e tornam culpados os homens sensatos.
3. Aquele que se une às prostitutas é um homem de nenhuma valia; tornar-se-á pasto da podridão e dos vermes; ficará sendo um grande exemplo, e sua alma será suprimida do número dos vivos.
4. Aquele que é crédulo demais tem um coração leviano; sofrerá prejuízo e será tido como pecador contra si mesmo.
5. Quem se regozija com a iniqüidade será desonrado; quem detesta a correção abreviará a sua vida; quem odeia a tagarelice, destrói sua malícia.
6. Quem peca contra si próprio, arrepender-se-á de tê-lo feito; quem põe sua alegria na malícia, será apontado como infame.
7. Não repitas uma palavra dura e maldosa, e não serás prejudicado.
8. Não confies teu pensamento nem ao amigo nem ao inimigo. Se tiveres cometido uma falta, não a reveles,
9. pois ele te ouvirá, te observará, e, fingindo desculpar o teu pecado, te odiará. E estará sempre presente (para te prejudicar).
10. Ouviste uma palavra contra o teu próximo? Abafa-a dentro de ti; fica seguro de que ela não te fará morrer.
11. Por causa de uma palavra (irrefletida) o tolo estorce-se de dores, como uma mulher que geme para dar à luz.
12. Como uma flecha cravada na gordura da coxa, assim é uma palavra no coração do insensato.
13. Repreende o teu amigo, porque talvez não tenha compreendido, e diga: Nada fiz. Ou se o fez, para que não torne a fazê-lo.
14. Repreende o teu próximo, porque talvez não tenha dito (aquilo) de que é acusado. Ou, se o disse, para que não o torne a dizer.
15. Repreende o teu próximo, porque muitas vezes se diz o que não é verdade,
16. e não acredites em tudo o que dizem. Homem há que peca pela língua, mas sem fazer com intenção.
17. Pois quem não peca pela língua? Repreende o teu próximo antes de ameaçá-lo e dá ensejo ao temor do Altíssimo;
18. pois toda a sabedoria consiste no temor de Deus; nela está o temor de Deus. E em toda a sabedoria reside o cumprimento da lei.
19. O hábito de praticar o mal não é sabedoria; o modo de agir dos pecadores não é prudência.
20. Há uma malícia hábil que é execrável, e há uma estupidez que é apenas falta de sabedoria.
21. Mais vale o homem que tem pouca sabedoria, e a quem falta o senso, mas que tem o temor (de Deus), do que o homem que possui uma grande inteligência, e que transgride a lei do Altíssimo.
22. Há uma habilidade que não falha o alvo, mas que é iníqua.
23. Há quem fale com segurança e só diz a verdade, e há quem se humilhe maliciosamente, cujo coração está cheio de embuste.
24. Há quem se rebaixe com excesso em profunda humilhação, e quem abaixe a cabeça, fingindo não ver o que está oculto.
25. Se a fraqueza o impede de cometer o mal, não deixará de pecar, logo que houver ocasião.
26. Pelo semblante se reconhece um homem; pelo seu aspecto se reconhece um sábio.
27. As vestes do corpo, o riso dos dentes, e o modo de andar de um homem fazem-no revelar-se.
28. Há uma falsa correção na cólera de um insolente; há um modo de julgar que muitas vezes não é justo; e aquele que se cala dá prova de prudência.

 
Capítulo 20

1. Oh! quanto melhor é admoestar que irritar-se, e não impedir de falar aquele que quer confessar a sua falta!
2. Como o eunuco que anseia por violentar uma donzela,
3. assim é o que, por violência, faz um julgamento iníquo.
4. Como é bom que o corrigido manifeste o seu arrependimento! Pois assim se evita um pecado voluntário.
5. Há quem se cale e é considerado sábio, e quem se torne odioso pela intemperança no falar.
6. Há quem se cale por não saber falar, e há quem se cale porque reconhece quando é tempo (de falar).
7. O sábio permanece calado até o momento (oportuno), mas o leviano e imprudente não espera a ocasião.
8. Aquele que se expande em palavras, prejudica-se a si mesmo; quem se permite todo o desregramento torna-se odioso.
9. Para o homem desprovido de instrução há proveito na infelicidade, mas há certas descobertas que lhe acarretam a ruína.
10. Há dom que não é útil. e há dom que é duplamente recompensado.
11. Há quem ache a sua perda na própria glória, e há quem levantará a cabeça após uma humilhação.
12. Há quem compre muito por um preço módico, mas que (de fato) o paga pelo sétuplo do seu valor.
13. O sábio torna-se amável por suas palavras, enquanto que os encantos do insensato desaparecem.
14. O donativo do insensato não te trará proveito, pois ele te fixa com sete olhos.
15. Ele dá pouco e censura muitas vezes; quando abre a sua boca é como uma fogueira.
16. Há quem empresta hoje e amanhã o reclama. Tal homem é odioso.
17. O insensato não tem amigos, e pelo bem que faz não será bem acatado,
18. porque os que comem o seu pão têm línguas falsas; quantas e quantas vezes não zombarão dele?
19. Pois não agiu com bom senso, distribuindo o que devia guardar e o que não devia guardar.
20. A queda de uma língua mentirosa é como uma queda na laje; assim a ruína dos maus virá de repente.
21. Um homem desagradável é como uma história ruim, que se acha continuamente na boca das pessoas mal-educadas.
22. Será mal recebida a máxima que sair da boca do insensato, pois que ele a diz fora de tempo.
23. Há quem se abstenha de pecar por falta de meios, mas ressente o aguilhão do pecado até em seu repouso.
24. Há quem perca a sua alma por causa do respeito humano; perde-a, cedendo a uma pessoa imprudente; perde-se por atender demasiadamente a uma pessoa.
25. Há quem, por falsa vergonha, faça uma promessa a um amigo, e dele se faça gratuitamente um inimigo.
26. A mentira é no homem uma vergonhosa mancha: não deixa os lábios das pessoas mal-educadas.
27. Mais vale um ladrão do que um mentiroso contumaz, mas ambos terão a ruína como partilha.
28. O comportamento dos mentirosos é aviltante, sua vergonha jamais os abandonará.
29. O sábio atrai a si a estima por suas palavras; o homem prudente agradará aos poderosos.
30. Quem cultiva sua terra colherá montes de frutos; quem cultiva a justiça será ele próprio elevado; quem agrada aos poderosos fugirá da iniqüidade.
31. Os presentes e as dádivas cegam os olhos dos juízes. São em sua boca como um freio que os torna mudos e os impede de castigar.
32. Sabedoria escondida é tesouro invisível. Para que serve uma e outro?
33. Mais vale aquele que dissimula sua insipiência, do que aquele que esconde sua sabedoria.

 
Capítulo 21

1. Filho, pecaste? Não o faças mais. Mas ora pelas tuas faltas passadas, para que te sejam perdoadas.
2. Foge do pecado com se foge de uma serpente; porque, se dela te aproximares, ela te morderá.
3. Os seus dentes são dentes de leão, que matam as almas dos homens.
4. Todo pecado é como uma espada de dois gumes: a chaga que ele produz é incurável.
5. O ultraje e a violência destroem as riquezas. A mais rica mansão se arruína pelo orgulho; assim será desenraizada a riqueza do orgulhoso.
6. A oração do pobre eleva-se de sua boca até os ouvidos (de Deus), (e Deus) se apressará em lhe fazer justiça.
7. Aquele que odeia a correção segue os passos do pecador, aquele que teme a Deus volta ao seu próprio coração.
8. De longe é conhecido o poderoso de linguagem insolente, mas o homem sábio sabe como se descartar dele.
9. Quem constrói a sua casa às custas de outrem, é como aquele que amontoa pedras para (construir) no inverno.
10. A reunião dos pecadores é como um amontoado de estopas: seu fim será a fogueira.
11. O caminho dos pecadores é calçado de pedras unidas, mas ele conduz à região dos mortos, às trevas e aos suplícios.
12. Aquele que guarda a justiça penetrará o espírito dela.
13. A sabedoria e o bom senso são a consumação do temor a Deus.
14. Jamais tornar-se-á hábil aquele que não é sábio no bem,
15. pois há uma sabedoria que produz muito mal. E o bom senso não está onde está a amargura.
16. A ciência do sábio espalha-se como a água que transborda, e o conselho que ele dá permanece como fonte de vida.
17. O coração do insensato é como um cântaro lascado, nada retém da sabedoria.
18. Qualquer palavra sábia que ouça o homem sensato, ele a louvará e dela se aproveitará. Que a ouça um voluptuoso, e ela lhe desagradará, e ele a arremessará para trás de si.
19. A conversa do insensato é como um fardo para carregar, mas o encanto se acha nos lábios do homem sensato.
20. A conversação do homem prudente é procurada na sociedade; todos relembrarão suas palavras em seus corações.
21. A sabedoria é para o insensato como uma casa arruinada; a ciência do insensato é feita de palavras incoerentes.
22. A instrução é para o insensato como peias nos pés e como algemas nas mãos.
23. O insensato eleva a voz quando ri, mas o homem sábio sorri discretamente.
24. Para o homem prudente a ciência é um ornato de ouro, uma pulseira que traz no braço direito.
25. O insensato põe facilmente os pés na casa do vizinho, mas aquele que tem educação hesita em visitar um poderoso.
26. O insensato olha dentro de uma casa pela janela; o homem bem educado permanece fora.
27. É sinal de loucura escutar a uma porta; o homem prudente indigna-se com tal grosseria.
28. Os lábios dos imprudentes só proferem tolices, mas as palavras do sábio têm peso na balança.
29. O coração dos insensatos está na boca, a boca dos sábios está no coração.
30. Quando o ímpio amaldiçoa o adversário, amaldiçoa-se a si mesmo.
31. O delator macula-se a si próprio, e é odiado por todos; o que mora com ele será odioso, mas o homem sensato que se cala será honrado.

 
Capítulo 22

1. Ao preguiçoso é atirado esterco, só se fala dele com desprezo.
2. O preguiçoso é apedrejado com excremento, quem o tocar sacudirá a mão.
3. O filho mal educado é a vergonha de seu pai, a filha semelhante não gozará de nenhuma consideração.
4. Um jovem prudente é uma herança para o marido, mas a filha desavergonhada causa mágoa ao seu pai.
5. A mulher atrevida cobre de vergonha o pai e o marido; e é igual aos celerados: ambos a desprezam.
6. Uma palavra inoportuna é música em dia de luto; a sabedoria, porém, emprega com oportunidade o chicote e a instrução.
7. Instruir um insensato é tornar a ajustar um vaso quebrado;
8. falar a quem não ouve é como despertar alguém de um sono profundo.
9. Falar da sabedoria com um insensato é conversar com alguém que está adormecendo; no fim da conversa ele dirá: Que é?
10. Chora sobre um morto, porque ele perdeu a luz; chora sobre um tolo, porque é falho de juízo.
11. Chora menos sobre um morto, porque ele achou o repouso;
12. a vida criminosa do mau, porém, é pior do que a morte.
13. O luto por um morto dura sete dias, mas por um insensato e um ímpio, dura toda a sua vida.
14. Não fales muito com um estulto; não convivas com o insensato.
15. Acautela-te contra ele, para não seres incomodado; e não te mancharás com o contágio de seu pecado.
16. Afasta-te dele: encontrarás repouso, e a sua loucura não te causará mágoa.
17. O que há de mais pesado que o chumbo? E que outro nome dar-lhe a não ser o de insensato?
18. É mais fácil carregar areia, sal ou uma barra de ferro, do que suportar o imprudente, o tolo e o ímpio.
19. Um encaixamento de madeira adaptado aos alicerces de um edifício não se desconjunta. Assim é o coração firmado por uma decisão bem amadurecida.
20. O desígnio de um homem sensato, em qualquer tempo que seja, não será alterado pelo temor.
21. Como a estacada posta em lugar elevado e a parede sem argamassa não podem resistir à violência do vento,
22. assim um coração tímido, de pensamentos tolos, não pode resistir ao choque do temor.
23. O coração medroso do insensato jamais tem temor em seus pensamentos; assim também o que não se apóia nos preceitos divinos.
24. Quem machuca um olho, dele faz sair lágrimas; quem magoa um coração, nele excita a sensibilidade.
25. Quem lança uma pedra aos pássaros, fá-los fugir; assim, quem insulta um amigo, rompe a amizade.
26. Ainda que tenhas arrancado a espada contra o teu amigo, não desesperes; porque o regresso é possível.
27. Ainda que tenhas dito contra ele palavras desagradáveis, não temas, porque a reconciliação é possível, salvo se se tratar de injúrias, afrontas, insolências, revelação de um segredo ou golpes à traição; em todos esses casos fugirá de ti o teu amigo.
28. Permanece fiel ao teu amigo em sua pobreza, a fim de te alegrares com ele na sua prosperidade.
29. Permanece-lhe fiel no tempo da aflição, a fim de teres parte com ele em sua herança.
30. O vapor e a fumaça elevam-se na fornalha antes do fogo; assim o homicídio e o derramamento de sangue são precedidos de injúrias, ultrajes e ameaças.
31. Não me envergonharei de saudar um amigo, nem me esconderei da sua presença; e se me acontecer algum mal por isso, eu o suportarei,
32. mas quem o souber, dele desconfiará.
33. Quem porá uma guarda à minha boca, e um selo inviolável nos meus lábios, para que eu não caia por sua causa, e para que minha língua não me perca?

 
Capítulo 23

1. Senhor, meu pai e soberano de minha vida, não me abandoneis ao conselho de meus lábios, e não permitais que eles me façam sucumbir.
2. Quem fará sentir o chicote em meus pensamentos, e em meu coração a doutrina da sabedoria, para eu não ser poupado nos pecados por ignorância, a fim de que esses erros não apareçam?
3. Para que não aumentem as minhas omissões, e não se multipliquem as minhas ignorâncias, e eu não caia diante de meus adversários, e não escarneça de mim o meu inimigo?
4. Senhor, meu pai e Deus de minha vida, não me abandoneis às suas sugestões;
5. não me deis olhos altivos e preservai-me da cobiça!
6. Afastai de mim a intemperança! Que a paixão da volúpia não se apodere de mim e não me entregueis a uma alma sem pejo e sem pudor!
7. Ouvi, filhos, o conhecimento que eu vos dou: aquele que o guardar não perecerá pelos lábios, nem cairá em ações criminosas.
8. O pecador é apanhado pela sua leviandade; o orgulhoso e o maledicente nela encontrarão motivos de queda.
9. Que tua boca não se acostume ao juramento, porque isso leva a muitos pecados.
10. Que o nome de Deus não esteja sempre na tua boca, e que não mistures nas tuas conversas o nome dos santos, porque nisso não estarias isento de culpa.
11. Pois, assim como um escravo submetido continuamente à tortura, dela trará as cicatrizes, assim, todo homem que jura pelo nome de Deus, não poderá totalmente escapar ao pecado.
12. O homem que jura com freqüência será cheio de iniqüidade, e o flagelo não deixará a sua casa;
13. se não cumprir o juramento, sua culpa recairá sobre ele; e, se dissimular, pecará duplamente.
14. Se jurar em vão, isso não o justificará: sua casa será cheia de castigos.
15. Há uma outra palavra que merece a morte, e não deve ser encontrada na herança de Jacó!
16. Tudo isto está longe dos homens piedosos, que não se comprazem em tais crimes.
17. Não acostumes tua boca a uma linguagem grosseira, pois aí sempre haverá pecado.
18. Lembra-te de teu pai e de tua mãe, quando te achares no meio dos poderosos,
19. para não acontecer que Deus se esqueça de ti na presença deles, e que, tornando-te insensato pela tua excessiva familiaridade, tenhas de suportar um insulto, e desejes não ter nascido, e amaldiçoes o dia do teu nascimento.
20. O homem acostumado a dizer palavras injuriosas jamais se corrigirá disso.
21. Duas espécies de pessoas multiplicam os pecados, e a terceira atrai sobre si a cólera e a perdição.
22. A alma que queima como um fogo ardente não se apagará antes de ter devorado alguma coisa.
23. O homem que abusa de seu próprio corpo, não terá sossego enquanto não acender uma fogueira.
24. Para o fornicador todo o alimento é doce; não se cansará de pecar até à morte.
25. O homem que profana seu leito prejudica-se a si mesmo, e diz: Quem me vê?
26. As trevas me rodeiam, as paredes me escondem; ninguém me olha; a quem temerei? O Altíssimo não se recordará de meus pecados.
27. E ele não compreende que o olhar de Deus tudo vê, que um semelhante temor humano exclui dele o temor a Deus, e que os olhos dos homens o temem.
28. Ele não sabe que os olhos do Senhor são muito mais luminosos que o sol, que examinam por todos os lados o procedimento dos homens, as profundezas do abismo, e investigam o coração humano até em seus mais íntimos esconderijos.
29. Pois, o Senhor Deus conhecia todas as coisas antes de tê-las criado, e as vê todas, depois que as completou.
30. Este tal será castigado nas praças públicas da cidade; será posto em fuga como o potro da égua, e será apanhado onde menos o esperar.
31. Será vexado diante de todos, porque não compreendeu o que é o temor a Deus.
32. Assim também perecerá toda mulher que deixar seu marido, e lhe der como herdeiro um filho adulterino,
33. porque primeiramente ela foi desobediente à lei do Altíssimo, em segundo lugar pecou contra o seu marido, cometendo assim um adultério, dando-se a si filhos de outro homem.
34. Essa mulher será trazida perante a assembléia, e seus filhos serão vigiados.
35. Seus filhos não pegarão raízes; seus ramos não darão frutos.
36. Ela deixará uma memória maldita, e sua desonra jamais se apagará.
37. E todos aqueles que lhe sobreviverem reconhecerão que nada é melhor do que o temor a Deus, e nada mais suave que guardar os seus preceitos.
38. É uma grande glória seguir o Senhor, pois é ele quem dá vida longa.

 
Capítulo 24

1. A sabedoria faz o seu próprio elogio, honra-se em Deus, gloria-se no meio do seu povo.
2. Ela abre a boca na assembléia do Altíssimo, gloria-se diante dos exércitos do Senhor,
3. é exaltada no meio do seu povo, e admirada na assembléia santa.
4. Entre a multidão dos eleitos, recebe louvores, e bênçãos entre os abençoados de Deus.
5. Ela diz: Saí da boca do Altíssimo; nasci antes de toda criatura.
6. Eu fiz levantar no céu uma luz indefectível, e cobri toda a terra como que de uma nuvem.
7. Habitei nos lugares mais altos: meu trono está numa coluna de nuvens.
8. Sozinha percorri a abóbada celeste, e penetrei nas profundezas dos abismos. Andei sobre as ondas do mar,
9. e percorri toda a terra. Imperei sobre todos os povos
10. e sobre todas as nações.
11. Tive sob os meus pés, com meu poder, os corações de todos os homens, grandes e pequenos. Entre todas as coisas procurei um lugar de repouso, e habitarei na moradia do Senhor.
12. Então a voz do Criador do universo deu-me suas ordens, e aquele que me criou repousou sob minha tenda.
13. E disse-me: Habita em Jacó, possui tua herança em Israel, estende tuas raízes entre os eleitos.
14. Desde o início, antes de todos os séculos, ele me criou, e não deixarei de existir até o fim dos séculos; e exerci as minhas funções diante dele na casa santa.
15. Assim fui firmada em Sião; repousei na cidade santa, e em Jerusalém está a sede do meu poder.
16. Lancei raízes no meio de um povo glorioso, cuja herança está na partilha de meu Deus; e fixei minha morada na assembléia dos santos.
17. Elevei-me como o cedro do Líbano, como o cipreste do monte Sião;
18. cresci como a palmeira de Cades, como as roseiras de Jericó.
19. Elevei-me como uma formosa oliveira nos campos, como um plátano no caminho à beira das águas.
20. Exalo um perfume de canela e de bálsamo odorífero, um perfume como de mirra escolhida;
21. como o estoraque, o gálbano, o ônix e a mirra, como a gota de incenso que cai por si própria, perfumei minha morada. Meu perfume é como o de um bálsamo sem mistura.
22. Estendi meus galhos como um terebinto, meus ramos são de honra e de graça.
23. Cresci como a vinha de frutos de agradável odor, e minhas flores são frutos de glória e abundância.
24. Sou a mãe do puro amor, do temor (de Deus), da ciência e da santa esperança,
25. em mim se acha toda a graça do caminho e da verdade, em mim toda a esperança da vida e da virtude.
26. Vinde a mim todos os que me desejais com ardor, e enchei-vos de meus frutos;
27. pois meu espírito é mais doce do que o mel, e minha posse mais suave que o favo de mel.
28. A memória de meu nome durará por toda a série dos séculos.
29. Aqueles que me comem terão ainda fome, e aqueles que me bebem terão ainda sede.
30. Aquele que me ouve não será humilhado, e os que agem por mim não pecarão.
31. Aqueles que me tornam conhecida terão a vida eterna.
32. Tudo isso é o livro da vida, a aliança do Altíssimo, e o conhecimento da verdade.
33. Moisés deu-nos a lei com os preceitos da justiça, a herança da casa de Jacó e as promessas feitas a Israel.
34. (Deus) prometeu a seu servo Davi que faria sair dele um rei muito poderoso, o qual se sentaria eternamente num trono de glória.
35. (A lei) faz transbordar a sabedoria como o Fison, e como o Tigre na época dos frutos novos;
36. ela espalha a inteligência como o Eufrates, e uma inundação como a do Jordão no tempo da colheita.
37. É ela quem derrama a ciência como o Nilo, soltando as águas como o Geon no tempo da vindima.
38. Foi ele quem primeiro a conheceu perfeitamente, essa sabedoria impenetrável às almas fracas.
39. O seu pensamento é mais vasto do que o mar, e seu conselho, mais profundo do que o grande abismo.
40. Eu, a sabedoria, fiz correr os rios.
41. Sou como o curso da água imensa de um rio, como o canal de uma ribeira, e como um aqueduto saindo do paraíso.
42. Eu disse: Regarei as plantas do meu jardim, darei de beber aos frutos de meu prado;
43. e eis que meu curso de água tornou-se abundante, e meu rio tornou-se um mar.
44. Pois a luz da ciência que eu derramo sobre todos é como a luz da manhã, e de longe eu a torno conhecida.
45. Penetrarei em todas as profundezas da terra, visitarei todos aqueles que dormem, e alumiarei todos os que confiam no Senhor.
46. Continuarei a espalhar a minha doutrina como uma profecia, e deixá-la-ei aos que buscam a sabedoria, e não abandonarei seus descendentes até o século santo.
47. Considerai que não trabalhei só para mim, mas para todos aqueles que buscam a verdade.

 
Capítulo 25

1. Meu espírito se compraz em três coisas que têm a aprovação de Deus e dos homens:
2. a união entre os irmãos, o amor entre os parentes, e um marido que vive bem com sua mulher.
3. Mas há três espécies de gente que minha alma detesta, e cuja vida me é insuportável:
4. um pobre orgulhoso, um rico mentiroso e um ancião louco e insensato.
5. Como acharás na velhice aquilo que não tiveres acumulado na juventude?
6. Quão belo é para a velhice o saber julgar, e para os anciãos o saber aconselhar!
7. Quão bela é a sabedoria nas pessoas de idade avançada, e a inteligência com a prudência nas pessoas honradas!
8. A experiência consumada é a coroa dos anciãos; o temor de Deus é a sua glória.
9. Nove coisas se apresentam ao meu espírito, as quais considero felizes, e uma décima que anunciarei aos homens:
10. um homem que encontra a sua alegria em seus filhos; um homem que vive o bastante para ver a ruína de seus inimigos;
11. aquele – feliz dele! – que vive com uma mulher sensata, e que não pecou pela língua, nem teve de servir a pessoas indignas dele.
12. Feliz aquele que encontrou um amigo verdadeiro, e que fala da justiça a um ouvido atento.
13. Como é grande aquele que encontrou sabedoria e ciência! Mas nada é tão grande como aquele que teme ao Senhor:
14. o temor a Deus coloca-o acima de tudo.
15. Feliz o homem que recebeu o dom do temor a Deus.
16. O temor a Deus é o começo de seu amor, e a ele é preciso acrescentar um princípio de fé.
17. A tristeza do coração é uma chaga universal, e a maldade feminina é uma malícia consumada.
18. Toda chaga, não, porém, a chaga do coração;
19. toda malícia, não, porém, a malícia da mulher;
20. toda vingança, não, porém, a que nos causam nossos adversários;
21. toda vingança, não, porém, a de nossos inimigos.
22. Não há veneno pior que o das serpentes;
23. não há cólera que vença a da mulher. É melhor viver com um leão e um dragão, que morar com uma mulher maldosa.
24. A malícia de uma mulher transtorna-lhe as feições, obscurece-lhe o olhar como o de um urso, e dá-lhe uma tez com a aparência de saco.
25. Entre seus parentes, queixa-se o seu marido, e, ouvindo-os, suspira amargamente.
26. Toda malícia é leve, comparada com a malícia de uma mulher; que a sorte dos pecadores caia sobre ela!
27. Como uma ladeira arenosa aos pés de um ancião, assim é a mulher tagarela para um marido pacato.
28. Não contemples a beleza de uma mulher, não cobices uma mulher pela sua beleza.
29. Grandes são a cólera de uma mulher, sua audácia, sua desordem.
30. Se a mulher tiver o mando, ela se erguerá contra o marido.
31. Coração abatido, semblante triste e chaga de coração: eis (o que faz) uma mulher maldosa.
32. Mãos lânguidas, joelhos que se dobram: eis (o que faz) uma mulher que não traz felicidade ao seu marido.
33. Foi pela mulher que começou o pecado, e é por causa dela que todos morremos.
34. Não dês à tua água a mais ligeira abertura, nem à mulher maldosa a liberdade de sair a público.
35. Se ela não andar sob a direção de tuas mãos, ela te cobrirá de vergonha na presença de teus inimigos.
36. Separa-te do seu corpo, a fim de que não abuse sempre de ti.

 
Capítulo 26

1. Feliz o homem que tem uma boa mulher, pois, se duplicará o número de seus anos.
2. A mulher forte faz a alegria de seu marido, e derramará paz nos anos de sua vida.
3. É um bom quinhão uma mulher bondosa; no quinhão daqueles que temem a Deus, ela será dada a um homem pelas suas boas ações.
4. Rico ou pobre, (o seu marido) tem o coração satisfeito, e seu rosto reflete alegria em todo o tempo.
5. Meu coração teme três coisas, e uma quarta faz empalidecer de pavor o meu semblante:
6. a denúncia de uma cidade, o motim de um povo,
7. a calúnia, coisas estas mais temíveis que a morte;
8. mas uma mulher ciumenta é uma dor de coração e um luto.
9. A língua de uma mulher ciumenta é um chicote que atinge todos os homens.
10. Uma mulher maldosa é como jugo de bois desajustado; quem a possui é como aquele que pega um escorpião.
11. A mulher que se dá à bebida é motivo de grande cólera; sua ofensa e sua infâmia não ficarão ocultas.
12. O mau procedimento de uma mulher revela-se na imprudência de seu olhar e no pestanejar das pálpebras.
13. Vigia cuidadosamente a jovem que não se retrai dos homens, para que não se perca, achando ocasião.
14. Desconfia de toda ousadia de seus olhos, e não te admires se ela te desprezar.
15. Como um viajante sedento abre a boca diante da fonte e bebe toda a água que encontra, assim senta-se ela em qualquer cama até desfalecer, e qualquer flecha abre sua aljava.
16. A graça de uma mulher cuidadosa rejubila seu marido,
17. e seu bom comportamento revigora os ossos.
18. É um dom de Deus uma mulher sensata e silenciosa, e nada se compara a uma mulher bem-educada.
19. A mulher santa e honesta é uma graça inestimável;
20. não há peso para pesar o valor de uma alma casta.
21. Assim como o sol que se levanta nas alturas de Deus, assim é a beleza de uma mulher honrada, ornamento de sua casa.
22. Como a lâmpada que brilha no candelabro sagrado, assim é a beleza do rosto na idade madura.
23. Como colunas de ouro sobre alicerces de prata, são as pernas formosas sobre calcanhares firmes.
24. Como fundamentos eternos sobre pedra firme, assim são os preceitos divinos no coração de uma mulher santa.
25. Duas coisas entristecem o meu coração, e uma terceira me irrita:
26. um homem de guerra que perece na indigência, um homem sábio que é desprezado,
27. e aquele que passa da justiça ao pecado; a este último, Deus reserva a espada.
28. Duas coisas me parecem difíceis e perigosas: dificilmente evitará erros o que negocia, e o taberneiro não escapará ao pecado da língua.

 
Capítulo 27

1. A pobreza fez cair vários deles no pecado. Quem procura enriquecer, afasta os olhos (de Deus).
2. Como se enterra um pau entre as junturas das pedras, assim penetra o pecado entre a venda e a compra.
3. O pecado será esmagado com o pecador.
4. Se não te aferrares firmemente no temor ao Senhor, tua casa em breve será destruída.
5. Quando se sacode a joeira, só ficam refugos; assim a perplexidade permanece no pensamento do homem.
6. A fornalha experimenta as jarras do oleiro; a prova do infortúnio, os homens justos.
7. O cuidado aplicado a uma árvore mostra-se no fruto; assim a palavra manifesta o que vai no coração do homem.
8. Não louves um homem antes que ele tenha falado, pois é assim que se experimentam os humanos.
9. Se procurares a justiça, hás de consegui-la, e dela te revestirás como de um manto de festa. Habitarás com ela, ela te protegerá para sempre; e, no dia do juízo, nela encontrarás apoio.
10. As aves chegam-se aos seus semelhantes; assim a verdade volta àqueles que a põem em prática.
11. O leão está sempre à espreita de uma presa; assim o pecado, para aqueles que praticam a iniqüidade.
12. O homem santo permanece na sabedoria, estável como o sol; mas o insensato é inconstante como a lua.
13. Na companhia dos tolos, guarda tuas palavras para outra ocasião. Sê de preferência assíduo junto às pessoas ponderadas.
14. A conversação dos pecadores é odiosa; eles se alegram nas delícias do pecado.
15. Uma linguagem cheia de blasfêmias é horripilante, e sua grosseria fará com que não queiramos ouvi-la.
16. Uma disputa entre orgulhosos faz correr sangue; suas injúrias fazem sofrer os ouvidos.
17. Quem revela o segredo de um amigo perde a sua confiança, e não mais achará amigos que lhe convenham.
18. Ama o teu próximo e sê fiel na amizade com ele;
19. se desvendares seus segredos, em vão correrás atrás dele,
20. pois, como um homem que mata seu amigo, assim é o que destrói a amizade do próximo;
21. como um homem que solta o pássaro que tem na mão, assim abandonaste o teu próximo, e não mais o encontrarás.
22. Não o persigas, já está longe; escapou-se como uma gazela da armadilha. Porque a sua alma foi ferida,
23. e não mais poderás curar (sua ferida). Depois de uma injúria pode haver reconciliação;
24. desvendar, porém, os segredos de um amigo é um desespero para a alma desventurada.
25. Aquele que tem um olhar lisonjeiro trama negros propósitos, e ninguém pode afastá-lo de si.
26. Em tua presença só terá doçura nos lábios, admirará tudo o que disseres; mas em breve mudará sua linguagem e armará laços às tuas palavras.
27. Abomino muitas coisas, porém nada tanto quanto ele; o Senhor também o detesta.
28. Quem lança uma pedra no ar, a vê recair sobre sua cabeça; a ofensa feita por traição atingirá também o traidor.
29. Quem cava uma fossa cairá nela; quem põe uma pedra no caminho do próximo nela tropeçará; quem arma uma cilada a outrem nela será apanhado.
30. O desígnio criminoso volta-se contra o seu autor, que não saberá de onde lhe vem o mal.
31. A zombaria e a ofensa são próprias dos orgulhosos; a vingança os espreita como um leão.
32. Aqueles que escarnecem do pecado dos justos serão apanhados no laço, e a dor os consumirá ainda vivos.
33. Cólera e furor são ambos execráveis; o homem pecador os alimenta em si mesmo.

 
Capítulo 28

1. Aquele que quer vingar sofrerá a vingança do Senhor, que guardará cuidadosamente os seus pecados.
2. Perdoa ao teu próximo o mal que te fez, e teus pecados serão perdoados quando o pedires.
3. Um homem guarda rancor contra outro homem, e pede a Deus a sua cura!
4. Não tem misericórdia para com o seu semelhante, e roga o perdão dos seus pecados!
5. Ele, que é apenas carne, guarda rancor, e pede a Deus que lhe seja propício! Quem, então, lhe conseguirá o perdão de seus pecados?
6. Lembra-te do teu fim, e põe termo às tuas inimizades,
7. pois a decadência e a morte são uma ameaça (para aqueles que transgridem) os mandamentos.
8. Lembra-te do temor a Deus, e não fiques irado contra o próximo.
9. Lembra-te da aliança com o Altíssimo, e passa por cima do erro que o teu próximo cometeu inadvertidamente.
10. Evita a desavença e diminuirás os pecados.
11. O homem irascível provoca as querelas; o pecador espalha a inquietação entre seus amigos, e semeia a inimizade no meio de pessoas que vivem em paz.
12. O fogo queima na proporção da lenha que há na floresta; a ira do homem inflama-se na medida de seu poder, e desenvolve-se em proporção de sua riqueza.
13. Uma querela precipitada acende o fogo; a presteza na disputa derrama sangue; e a língua que presta (falso) testemunho causa a morte.
14. Sopra sobre uma centelha e ela se abrasará; cospe sobre ela e ela se apagará: ambos saem de tua boca.
15. Maldito o delator e o homem que diz branco e preto, pois semeiam a discórdia entre muita gente que vive em paz.
16. A língua de um terceiro abalou muitos deles, e os afugentou de uma nação a outra.
17. Ela destruiu as cidades fortes dos ricos, e arrasou as casas dos poderosos.
18. Desbaratou os exércitos dos povos, e dispersou nações valentes.
19. A língua de um terceiro fez repudiar mulheres de escol, e privou-as do fruto de seu labor.
20. Aquele que o ouve não terá paz, não terá amigo em quem tenha confiança.
21. A chicotada produz um ferimento, porém uma língua má quebra os ossos.
22. Muitos homens morreram pelo fio da espada, mas não tantos quanto os que pereceram por sua própria língua.
23. Feliz aquele que está ao abrigo da língua perversa, que não passou pela cólera dela, que não atraiu sobre si o seu jugo, e que não foi atado pelas suas correntes,
24. pois o jugo dela é um jugo de ferro, e suas correntes, correntes de bronze.
25. A morte que ela dá é morte desastrada, e a moradia dos mortos é-lhe preferível.
26. Ela durará, mas não sempre; ela dominará o proceder dos injustos, e os justos não serão devorados pelas suas chamas.
27. Aqueles que abandonam Deus lhe serão entregues: ela os consumirá sem se apagar; lançar-se-á sobre eles como um leão; e os estraçalhará como um leopardo.
28. Protege teus ouvidos com uma sebe de espinhos; não dês ouvidos à língua maldosa, e põe em tua boca uma porta com ferrolhos.
29. Derrete teu ouro e tua prata; faze uma balança para (pesar) as tuas palavras, e para a tua boca, um freio bem ajustado.
30. Tem cuidado para não pecar pela língua, para não caíres na presença dos inimigos que te espreitam, e para que não venha o teu pecado a ser incurável e mortal.

 
Capítulo 29

1. Aquele que tem compaixão empresta com juros ao seu próximo; aquele que tem a mão generosa guarda os mandamentos.
2. Empresta a teu próximo quando ele estiver necessitado, e de teu lado, paga-lhe o que lhe deves, no tempo marcado.
3. Cumpre tua palavra e procede lealmente com ele, e acharás em toda ocasião o que te é necessário.
4. Muitos consideraram como um achado o que pediam emprestado, e causaram desgosto àqueles que os ajudaram.
5. Até que se tenha recebido, beija-se a mão de quem empresta; com voz humilde fazem-se promessas;
6. mas, chegando o tempo de restituir, pedem-se prazos; só se têm palavras pesarosas e queixas; e toma-se como pretexto (a dificuldade) da época.
7. Se o que pede emprestado pode restituir, nega-se a princípio. Restitui em seguida só a metade da quantia, e a considera como um lucro.
8. Se não tem meios para pagar, priva o que emprestou do seu dinheiro, e dele se faz gratuitamente um inimigo.
9. Ele o paga com ofensas e maldições, e paga com o mal o bem que recebeu.
10. Muitos não emprestam, não por maldade, mas por medo de serem injustamente iludidos.
11. Todavia, sê indulgente para com o miserável, e não o faças esmorecer depois da esmola.
12. Por causa do mandamento, socorre o pobre; e não o deixes ir com as mãos vazias na sua indigência.
13. Perde o teu dinheiro em favor de teu irmão e de teu amigo; não o escondas debaixo de uma pedra para ficar perdido.
14. Gasta o teu tesouro segundo o preceito do Altíssimo, e isso te aproveitará mais do que o ouro.
15. Encerra a esmola no coração do pobre, e ela rogará por ti a fim de te preservar de todo o mal.
16, 17, 18 Para combater o teu inimigo, ela será uma arma mais poderosa do que o escudo e a lança de um homem valente.
19. O homem de bem responsabiliza-se pelo próximo; o homem sem pejo abandona-o a si próprio.
20. Não esqueças o benefício daquele que se responsabiliza por ti, pois ele arriscou a vida para te amparar.
21. O pecador e o impudico fogem de seu fiador;
22. o pecador atribui a si mesmo o benefício de quem por ele se responsabiliza, e com coração ingrato abandona o seu libertador.
23. Um homem se responsabiliza pelo seu próximo, e este, perdendo a vergonha, o abandonará.
24. Um mau penhor perdeu muitas pessoas que prosperavam, e as agitou como as ondas do mar;
25. por uma reviravolta das coisas, ele exilou muitos poderosos, que se tornaram peregrinos em terra estrangeira.
26. O pecador que transgride o mandamento do Senhor, comprometer-se-á a responder inoportunamente por outro; e aquele que tentar muitos empreendimentos não escapará do processo.
27. Ajuda o próximo conforme as tuas posses, e acautela-te para que não caias tu também.
28. O principal para a vida do homem é a água, o pão, o vestuário e uma casa para ocultar a sua nudez.
29. Mais vale o que um pobre come sob um vigamento, do que um magnífico banquete em casa alheia para quem não tem domicílio.
30. Contenta-te com o pouco ou muito que tiveres e evitarás a censura de seres um estranho.
31. É uma vida miserável a daquele que vai de casa em casa; em toda parte onde se hospedar, não estará confiante, e não ousará abrir a boca.
32. Recebe-se com hospitalidade, dá-se de comer e de beber a ingratos; e, depois disso, ouvem-se palavras desagradáveis:
33. Vamos, intruso, prepara a mesa, e o que tens, dá-o de comer aos outros;
34. retira-te, por causa da homenagem que devo prestar aos meus amigos. Preciso de minha casa para nela receber meu irmão.
35. Eis coisas penosas para um homem sensato: ouvir censuras pela hospitalidade e pelo empréstimo que se fez.

 
Capítulo 30

1. Aquele que ama seu filho, castiga-o com freqüência, para que se alegre com isso mais tarde, e não tenha de bater à porta dos vizinhos.
2. Aquele que dá ensinamentos a seu filho será louvado por causa dele, e nele mesmo se gloriará entre seus amigos.
3. Aquele que educa o filho torna o seu inimigo invejoso, e entre seus amigos será honrado por causa dele.
4. O pai morre, e é como se não morresse, pois deixa depois de si um seu semelhante.
5. Durante sua vida viu seu filho e nele se alegrou; quando morrer, não ficará aflito; não terá de que se envergonhar perante seus adversários,
6. pois deixou em sua casa um defensor contra os inimigos, alguém que manifestará gratidão aos seus amigos.
7. Aquele que estraga seus filhos com mimos terá que lhes pensar as feridas; a cada palavra suas entranhas se comoverão.
8. Um cavalo indômito torna-se intratável; a criança entregue a si mesma torna-se temerária.
9. Adula o teu filho e ele te causará medo; brinca com ele e ele te causará desgosto.
10. Não te ponhas a rir com ele, para que não venhas a sofrer com isso, e não acabes rangendo os dentes.
11. Não lhe dês toda a liberdade na juventude, não feches os olhos às suas extravagâncias:
12. obriga-o a curvar a cabeça enquanto jovem, castiga-o com varas enquanto ainda é menino, para que não suceda endurecer-se e não queira mais acreditar em ti, e venha a ser um sofrimento para a tua alma.
13. Educa o teu filho, esforça-te (por instruí-lo), para que te não desonre com sua vida vergonhosa.
14. Mais vale um pobre sadio e vigoroso, que um rico enfraquecido e atacado de doenças.
15. A saúde da alma na santidade e na justiça vale mais que o ouro e a prata. Um corpo robusto vale mais que imensas riquezas.
16. Não há maior riqueza que a saúde do corpo; não há prazer que se iguale à alegria do coração.
17. Mais vale a morte que uma vida na aflição; e o repouso eterno que um definhamento sem fim.
18. Bens escondidos em uma boca fechada são como preparativos de um festim colocados sobre um túmulo.
19. De que serve ao ídolo a oferenda que lhe fazem? Não pode nem comê-la nem lhe respirar o aroma.
20. Assim é aquele que o Senhor repele, e que carrega o castigo de seu pecado;
21. seus olhos vislumbram (o alimento) e ele suspira, assim como suspira o eunuco ao abraçar uma virgem.
22. Não entregues tua alma à tristeza, não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos.
23. A alegria do coração é a vida do homem, e um inesgotável tesouro de santidade. A alegria do homem torna mais longa a sua vida.
24. Tem compaixão de tua alma, torna-te agradável a Deus, e sê firme; concentra teu coração na santidade, e afasta a tristeza para longe de ti,
25. pois a tristeza matou a muitos, e não há nela utilidade alguma.
26. A inveja e a ira abreviam os dias, e a inquietação acarreta a velhice antes do tempo.
27. Um coração bondoso e nobre banqueteia-se continuamente, pois seus banquetes são preparados com solicitude.

 
Capítulo 31

1. As vigílias para enriquecer ressecam a carne, as preocupações que elas trazem tiram o sono.
2. A inquietação pelo porvir perturba o sentido. Uma doença grave torna a alma moderada.
3. O rico trabalha para juntar riquezas; quando se entrega ao repouso, goza o fruto de seus haveres.
4. O pobre trabalha por não possuir com que viver, e, ao término da vida, tudo lhe falta.
5. Aquele que ama o ouro não estará isento de pecado; aquele que busca a corrupção será por ela cumulado.
6. O ouro abateu a muitos, e seus encantos os perderam.
7. O ouro é um obstáculo para aqueles que se lhe oferecem em sacrifício; infelizes daqueles que o buscam com ardor: ele fará perecer todos os insensatos.
8. Bem-aventurado o rico que foi achado sem mácula, que não correu atrás do ouro, que não colocou sua esperança no dinheiro e nos tesouros!
9. Quem é esse homem para que o felicitemos? Ele fez prodígios durante sua vida.
10. Àquele que foi tentado pelo ouro e foi encontrado perfeito, está reservada uma glória eterna: ele podia transgredir a lei e não a violou; ele podia fazer o mal e não o fez.
11. Por isso seus bens serão fortalecidos no Senhor, e toda a assembléia dos santos louvará suas esmolas.
12. Se estiveres sentado a uma mesa bem abastecida, não comeces abrindo a boca.
13. Não digas: Que abundância de iguarias há sobre ela!
14. Lembra-te de que um olhar maldoso é coisa funesta.
15. Que coisa há pior que o olho? É por isso que há de se desfazer em lágrimas.
16. Quando ele olhar, não sejas o primeiro a estender a mão, para que não cores, envergonhado pela tua cobiça.
17. Não comas demasiadamente num banquete.
18. Julga os desejos de teu próximo segundo os teus.
19. Serve-te como um homem sóbrio do que te é apresentado, para que não te tornes odioso, comendo muito.
20. Acaba de comer em primeiro lugar, por decoro, e evita todo excesso, para que não desgostes a ninguém.
21. Se tiveres tomado assento em meio de uma sociedade numerosa, não sejas o primeiro a estender a mão para o prato, nem sejas o primeiro a pedir de beber.
22. Não é um pouco de vinho suficiente para um homem bem-educado? Assim não terás sono pesado, e não sentirás dor.
23. A insônia, o mal-estar e as cólicas são o tributo do intemperante.
24. Para um homem sóbrio, um sono salutar; ele dorme até de manhã e sente-se bem.
25. Se tiveres sido obrigado a comer demais, levanta-te e vomita; isso te aliviará, e não te exporás à doença.
26. Ouve-me, meu filho, não me desprezes: reconhecerás no fim a veracidade de minhas palavras.
27. Em todas as tuas ações, sê diligente, e nenhuma doença te acometerá.
28. Muitos lábios abençoarão aquele que dá refeições com liberalidade; o testemunho prestado à honestidade dele é verídico.
29. Toda a cidade resmunga contra aquele que dá de comer com mesquinhez e o testemunho prestado à avareza dele é exato.
30. Não incites a beber aquele que ama o vinho, pois o vinho perdeu a muitos.
31. O fogo põe à prova a dureza do ferro: assim o vinho, bebido em excesso, revela o coração dos orgulhosos.
32. O vinho bebido sobriamente é como uma vida para os homens. Se o beberes moderadamente, serás sóbrio.
33. Que é a vida do homem a quem falta o vinho?
34. Que coisa tira a vida? A morte.
35. No princípio o vinho foi criado para a alegria não para a embriaguez.
36. O vinho, bebido moderadamente, é a alegria da alma e do coração.
37. A sobriedade no beber é a saúde da alma e do corpo.
38. O excesso na bebida causa irritação, cólera e numerosas catástrofes.
39. O vinho, bebido em demasia, é a aflição da alma.
40. A embriaguez inspira a ousadia e faz pecar o insensato; abafa as forças e causa feridas.
41. Não repreendas o próximo durante uma refeição regada a vinho; não o trates com desprezo enquanto ele se entrega à alegria.
42. Não lhe faças censuras, não o atormentes, reclamando o que te é devido.

 
Capítulo 32

1. Fizeram-te rei (do festim)? Não te envaideças com isso. Sê no meio dos outros como qualquer um deles.
2. Ocupa-te com eles e em seguida senta-te. Não tomes lugar à mesa, senão após cumpridos os teus deveres,
3. assim te regozijarás por causa deles. Receberás a coroa como um gracioso adorno, e ganharás a consideração dos convivas.
4. Tu, mais idoso, fala, pois convém
5. que sejas o primeiro a falar, com séria competência. Mas não perturbes a música,
6. nem te alongues em discursos, onde não há quem os ouça. Não te engrandeças sem propósito por causa de tua sabedoria.
7. Como uma pedra de rubi engastada no ouro, assim é a música no meio de uma refeição regada a vinho.
8. Como um sinete de esmeraldas engastadas em ouro, assim é um grupo de músicos no meio de uma alegre e moderada libação.
9. Ouve em silêncio, e tua modéstia provocará a benevolência.
10. Jovem, fala muito pouco de teus assuntos privados.
11. Se fores duas vezes interrogado, que tua resposta seja concisa.
12. Em muitas coisas, porta-te como se as ignorasses; ouve em silêncio e pergunta.
13. No meio dos poderosos, não tomes muitas liberdades; não fales muito onde houver anciãos:
14. vê-se o relâmpago antes de se ouvir o estalido, a graça precede o rubor da modéstia. Pelo teu recato serás benquisto.
15. Uma vez chegada a hora de se levantar, não te demores; sê o primeiro a correr para casa, onde te regozijarás com os divertimentos.
16. Faze o que te aprouver, porém sem pecado e sem orgulho.
17. E em tudo isso glorifica o Senhor que te criou, e que te cumula de todos os seus bens.
18. Aquele que teme o Senhor aceitará sua doutrina, aqueles que vigiam para procurá-lo serão por ele abençoados.
19. Aquele que busca a lei, por ela será cumulado. Aquele, porém, que procede com falsidade, nela achará ocasião de pecado.
20. Aqueles que temem o Senhor terão um juízo reto, e farão brilhar como uma tocha a sua justiça.
21. O pecador foge da censura, e encontra precedentes segundo o seu desejo.
22. O homem prudente não perde ocasião alguma para instruir-se, e o estranho ou o orgulhoso não tem nenhum temor;
23. mesmo quando age sozinho e sem conselheiro, ele será castigado pelos seus próprios desígnios.
24. Meu filho, nada faças sem conselho, e não te arrependerás depois de teres agido.
25. Não te embrenhes num caminho de perdição e não tropeçarás nas pedras. Não te metas num caminho escabroso, para não pores diante de ti uma pedra de tropeço.
26. Previne-te contra teus filhos, sê prudente em presença de teus familiares.
27. Em tudo o que fizeres, age com segurança, pois isso é guardar os mandamentos.
28. Aquele que crê em Deus atende ao que ele manda. Aquele que põe sua confiança nele, não será atingido.

 
Capítulo 33

1. Aquele que teme o Senhor não será surpreendido por nenhuma desgraça. Mas Deus o protegerá na provação, e o livrará de todo o mal.
2. O sábio não odeia nem os mandamentos nem os preceitos. Ele não se despedaçará como uma nave na tempestade.
3. O homem sensato crê na lei de Deus, e a lei lhe é fiel.
4. Aquele que esclarece uma pergunta, prepara a resposta; depois de assim ter orado, ele será atendido. Ele concentra as suas idéias e depois responde.
5. O coração do insensato é como as rodas de um carro, e o seu pensamento é semelhante a um eixo que gira.
6. O amigo zombador é como o garanhão, que relincha debaixo de qualquer um que o monta.
7. Por que um dia prevalece sobre outro dia, uma luz sobre outra luz, um ano sobre outro ano, (provindo todos) do mesmo sol?
8. Foi a ciência do Senhor que os diferenciou, quando criou o sol que atende às suas leis;
9. ele distinguiu os tempos e os dias de festa, nos quais os homens celebram pontualmente as solenidades.
10. Entre eles há alguns que Deus elevou e consagrou; a outros pôs no número dos dias comuns. Foi assim que Deus tirou todos os homens do solo e da terra de que foi formado Adão.
11. Em sua grande sabedoria, o Senhor os distinguiu, e diversificou os seus caminhos.
12. Entre eles, alguns foram abençoados e exaltados, outros foram santificados, e ele os tomou para si. Entre eles, alguns foram amaldiçoados e humilhados, os quais ele expulsou de seu lugar de exílio.
13. Como o barro está nas mãos do oleiro, que o molda e o dispõe,
14. dando-lhe todas as formas que deseja, assim é o homem na mão de quem o criou, e que lhe retribuirá segundo o seu juízo.
15. Diante do mal está o bem; diante da morte, a vida, assim também diante do justo está o pecador. Considera assim todas as obras do Altíssimo; estão sempre duas a duas, opostas uma à outra.
16. E eu fui o último que despertei, e fiz como o que junta os grãos depois da vindima.
17. Eu também esperei na bênção de Deus, e enchi a tina como o vindimador.
18. Olhai que não trabalhei só para mim, mas para todos os que buscam a doutrina.
19. Ouvi-me, ó poderosos e todos os povos! E vós, chefes da assembléia, escutai-me!
20. Ao teu filho, à tua mulher, ao teu irmão, ao teu amigo, não concedas autoridade sobre ti durante tua vida. Não dês teus bens a outrem, para não te arrependeres e teres de tornar a pedi-los.
21. Enquanto viveres e respirares, que ninguém te faça mudar a esse respeito,
22. porque é melhor que os teus filhos te peçam, do que estares tu olhando para as mãos de teus filhos.
23. Em tudo o que fizeres conserva a tua autoridade;
24. não manches o teu bom nome. (Somente) no fim de tua vida, no momento da morte, distribuirás a tua herança.
25. Para o jumento o feno, a vara e a carga. Para o escravo o pão, o castigo e o trabalho.
26. O escravo só trabalha quando corrigido, e só aspira ao repouso; afrouxa-lhe a mão, e ele buscará a liberdade.
27. O jugo e a correia fazem dobrar o mais rígido pescoço; o trabalho contínuo torna o escravo dócil.
28. Para o escravo malévolo a tortura e as peias; manda-o para o trabalho para que ele não fique ocioso,
29. pois a ociosidade ensina muita malícia.
30. Ocupa-o no trabalho, pois é o que lhe convém. Se ele não obedecer, submete-o com grilhões, mas não cometas excessos, seja com quem for, e não faças coisa alguma importante sem ter refletido.
31. Se tiveres um escravo fiel, que ele te seja tão estimado como tu mesmo. Trata-o como irmão, porque foi pelo preço de teu sangue que o obtiveste.
32. Se o maltratares injustamente, ele fugirá;
33. se ele for embora, não saberás a quem perguntar, nem onde deverás procurá-lo.

 
Capítulo 34

1. O insensato (vive) de esperanças quiméricas; os imprudentes edificam sobre os sonhos.
2. Como aquele que procura agarrar uma sombra ou perseguir o vento, assim é o que se prende a visões enganadoras.
3. Isto segundo aquilo, eis o que se vê nos sonhos: é como a imagem de um homem diante dele próprio.
4. Que coisa pura poderá vir do impuro? Que verdade pode vir da mentira?
5. A adivinhação do erro, os augúrios mentirosos e os sonhos dos maus, tudo isso não passa de vaidade.
6. O teu coração, como o de uma mulher que está de parto, sofrerá imaginações. A menos que o Altíssimo te envie uma visão, não detenhas nelas teu pensamento,
7. pois os sonhos fizeram errar muita gente, que pecou porque neles punham sua esperança;
8. a palavra da lei se cumpre integralmente, e a sabedoria tornar-se-á evidente na boca do homem fiel.
9. Que sabe aquele que não foi experimentado? O homem de grande experiência tem inúmeras idéias; aquele que muito aprendeu fala com sabedoria.
10. Aquele que não tem experiência pouca coisa sabe, mas o que passou por muitas dificuldades desenvolve a prudência.
11. Que sabe aquele que não foi tentado? O que foi enganado abundará em sagacidade.
12. Vi muitas coisas em minhas viagens, muitos costumes diferentes.
13. Algumas vezes encontrei-me em perigo de morte, mas fui libertado pela graça de Deus.
14. O espírito daqueles que temem a Deus será procurado, será abençoado quando Deus olhar para eles.
15. Com efeito, sua esperança está posta naquele que os salva, e os olhos de Deus estão voltados para aqueles que o amam.
16. Aquele que teme ao Senhor não tremerá; de nada terá medo, pois o próprio Senhor é sua esperança.
17. Feliz a alma do que teme ao Senhor.
18. Para quem olha ela, e quem é a sua força?
19. Os olhos do Senhor estão voltados para aqueles que o temem; ele é um poderoso protetor, um sólido apoio, um abrigo contra o calor, uma tela contra o ardor do meio-dia,
20. um sustentáculo contra os choques, um amparo contra a queda. Ele eleva a alma, ilumina os olhos; dá saúde, vida e bênção.
21. A oferenda daquele que sacrifica um bem, mal adquirido, é maculada. E os insultos dos injustos não são aceitos por Deus.
22. O Senhor (só se dá) àqueles que o aguardam no caminho da verdade e da justiça.
23. O Altíssimo não aprova as dádivas dos injustos, nem olha para as ofertas dos maus; a multidão dos seus sacrifícios não lhes conseguirá o perdão de seus pecados.
24. Aquele que oferece um sacrifício arrancado do dinheiro dos pobres, é como o que degola o filho aos olhos do pai.
25. O pão dos indigentes é a vida dos pobres; aquele que lho tira é um homicida.
26. Quem tira de um homem o pão de seu trabalho, é como o assassino do seu próximo.
27. O que derrama o sangue e o que usa de fraude no pagamento de um operário são irmãos:
28. um constrói, o outro destrói. O que lhes resta senão a fadiga?
29. Um ora, o outro maldiz; de qual ouvirá Deus a voz?
30. Se aquele que se lava após ter tocado num morto, torna a tocá-lo, de que lhe serve ter-se lavado?
31. Assim se porta o homem que jejua por causa de seus pecados, e torna a cometê-los: de que lhe serve ter-se humilhado? Quem ouvirá a sua prece?

 
Capítulo 35

1. Aquele que observa a lei faz numerosas oferendas.
2. É um sacrifício salutar guardar os preceitos, e apartar-se de todo pecado.
3. Afastar-se da injustiça é oferecer um sacrifício de propiciação, que consegue o perdão dos pecados.
4. Aquele que oferece a flor da farinha dá graças, e o que usa de misericórdia oferece um sacrifício.
5. Abster-se do mal é coisa agradável ao Senhor; o fugir da injustiça alcança o perdão dos pecados.
6. Não te apresentarás diante do Senhor com as mãos vazias,
7. pois todos (esses ritos) se fazem para obedecer aos preceitos divinos.
8. A oblação do justo enriquece o altar; é um suave odor na presença do Senhor.
9. O sacrifício do justo é aceito (por Deus). O Senhor não se esquecerá dele.
10. Dá glória a Deus de bom coração e nada suprimas das primícias (do produto) de tuas mãos.
11. Faze todas as tuas oferendas com um rosto alegre, consagra os dízimos com alegria.
12. Dá ao Altíssimo conforme te foi dado por ele, dá de bom coração de acordo com o que tuas mãos ganharam,
13. pois o Senhor retribui a dádiva, e recompensar-te-á tudo sete vezes mais.
14. Não lhe ofereças dádivas perversas, pois ele não as aceitará.
15. Nada esperes de um sacrifício injusto, porque o Senhor é teu juiz, e ele não faz distinção de pessoas.
16. O Senhor não faz acepção de pessoa em detrimento do pobre, e ouve a oração do ofendido.
17. Não despreza a oração do órfão, nem os gemidos da viúva.
18. As lágrimas da viúva não correm pela sua face, e seu grito não atinge aquele que as faz derramar?
19. Pois da sua face sobem até o céu; o Senhor que a ouve, não se compraz em vê-la chorar.
20. Aquele que adora a Deus na alegria será bem recebido, e sua oração se elevará até as nuvens.
21. A oração do humilde penetra as nuvens; ele não se consolará, enquanto ela não chegar (a Deus), e não se afastará, enquanto o Altíssimo não puser nela os olhos.
22. O Senhor não concederá prazo: ele julgará os justos e fará justiça. O fortíssimo não terá paciência com (os opressores), mas esmagar-lhes-á os rins.
23. Vingar-se-á das nações, até suprimir a multidão dos soberbos, e quebrar os cetros dos iníquos;
24. até que ele dê aos homens segundo as suas obras, segundo a conduta de Adão, e segundo a sua presunção;
25. até que faça justiça ao seu povo, e dê alegria aos justos por um efeito de sua misericórdia.
26. A misericórdia divina no tempo da tribulação é bela; é como a nuvem que esparge a chuva na época da seca.

 
Capítulo 36

1. Tende piedade de nós, ó Deus de todas as coisas, olhai para nós, e fazei-nos ver a luz de vossa misericórdia!
2. Espargi o vosso terror sobre as nações que não vos procuram, para que saibam que não há outro Deus senão vós, e publiquem as vossas maravilhas!
3. Estendei vossa mão contra os povos estranhos, para que vejam o vosso poder.
4. Como diante dos seus olhos mostrastes vossa santidade em nós, assim também, à nossa vista, sereis glorificado neles,
5. para que reconheçam, como também nós reconhecemos, que não há outro Deus fora de vós, Senhor!
6. Renovai vossos prodígios, fazei milagres inéditos,
7. glorificai vossa mão e vosso braço direito,
8. excitai vosso furor e espargi vossa cólera;
9. desbaratai o inimigo e aniquilai o adversário.
10. Apressai o tempo e lembrai-vos do fim, para que sejam apregoadas vossas maravilhas.
11. Devore o ardor da chama aquele que escapar, e sejam arruinados aqueles que maltratam o vosso povo.
12. Esmagai a cabeça dos chefes dos inimigos que dizem: Só nós existimos!
13. Reuni todas as tribos de Jacó, para que saibam que não há outro Deus senão vós, e publiquem vossas maravilhas! Tomai-as como herança, assim como eram no começo.
14. Tende piedade de vosso povo, que é chamado pelo vosso nome, e de Israel, que tratastes como vosso filho primogênito.
15. Tende piedade da cidade que santificastes, de Jerusalém, cidade do vosso repouso.
16. Enchei Sião com vossas palavras inefáveis, e o vosso povo com a vossa glória.
17. Dai testemunho em favor daqueles que são vossas criaturas desde a origem. Tornai verdadeiros os oráculos que proferiam os antigos profetas em vosso nome.
18. Recompensai aqueles que vos esperam pacientemente, a fim de que vossos profetas sejam achados fiéis. Ouvi as orações de vossos servos.
19. Segundo as bênçãos dadas a vosso povo por Aarão, conduzi-nos pelo caminho da justiça, para que todos os habitantes da terra saibam que vós sois o Deus que contempla os séculos.
20. O estômago recebe toda espécie de alimentos, mas entre os alimentos um é melhor do que o outro.
21. O paladar discerne o gosto da caça; o coração sensato discerne as palavras enganadoras.
22. Um coração perverso é causa de tristeza, mas o homem experiente resistir-lhe-á.
23. A mulher pode esposar toda espécie de homens, mas entre as jovens uma é melhor do que a outra.
24. A beleza da mulher alegra o rosto do esposo: ela se torna mais amável que tudo o que o homem pode desejar.
25. Se a sua língua cura os males, tem também doçura e bondade; o seu esposo não é como os demais homens.
26. Aquele que possui uma mulher virtuosa tem com que tornar-se rico; é uma ajuda que lhe é semelhante, e uma coluna de apoio.
27. Onde não há cerca, os bens estão expostos ao roubo; onde não há mulher, o homem suspira de necessidade.
28. Quem confia naquele que não tem morada, e naquele que passa a noite onde quer que a noite o surpreenda? Ou que vagueia de cidade em cidade como um ladrão sempre prestes a fugir?

 
Capítulo 37

1. Todo amigo diz: Eu também contraí amizade. Há porém um amigo que só o é de nome. Não é uma dor que dura até a morte
2. ver um amigo e um companheiro mudarem-se em inimigos?
3. Ó presunção criminosa, onde tiveste origem, para cobrir a terra com tua malícia e tua perfídia?
4. O amigo distrai-se com seu amigo nas suas alegrias; no dia da tribulação, tornar-se-á seu adversário.
5. O amigo compartilha da desventura do seu amigo no interesse de seu ventre; ao ver o inimigo, tomará do escudo.
6. Não te esqueças de teu amigo nos teus pensamentos; no meio da riqueza, não percas a sua lembrança.
7. Não te aconselhes com aquele que te arma um laço. Esconde tuas intenções àqueles que te têm inveja.
8. Todo conselheiro dá sua opinião, mas há conselheiros que só têm em vista o próprio interesse.
9. Estejas prevenido quando tratar-se de um conselheiro; informa-te primeiro quais são os seus interesses, pois ele pensa em si mesmo antes de tudo.
10. Teme que ele plante uma estaca no solo e te diga:
11. Estás no bom caminho, enquanto se põe defronte para ver o que te acontecerá.
12. Vai consultar um homem sem religião sobre as coisas santas; um injusto sobre a justiça; uma mulher sobre sua rival; um tímido sobre a guerra; um mercador sobre o negócio; um comprador sobre uma coisa para vender; um invejoso sobre a gratidão;
13. um ímpio sobre a piedade; um homem desonrado sobre a honestidade; um lavrador sobre o seu trabalho;
14. um operário, contratado por um ano, sobre o término de seu contrato; um criado preguiçoso sobre uma grande tarefa! Não confies neles e em nenhum de seus conselhos.
15. Sê, porém, assíduo junto a um santo homem, quando conheceres um que seja fiel ao temor de Deus,
16. cuja alma se irmana à tua, e que compartilhará da tua dor quando titubeares nas trevas.
17. Fortalece em ti um coração prudente, pois nada tem mais valor para ti.
18. A alma de um santo homem descobre às vezes melhor a verdade que sete sentinelas postas em observação numa colina.
19. Mas em todas as coisas ora ao Altíssimo, para que ele dirija teus passos na verdade.
20. Que uma palavra de verdade preceda todos os teus atos, e um conselho firme preceda toda a tua diligência.
21. Uma palavra má transtorna o coração; dela vêm quatro coisas: o bem e o mal, a vida e a morte; sobre estas quem domina de contínuo é a língua. Há homem hábil que ensina a muita gente, mas que é inútil para si mesmo.
22. Outro é esclarecido e instrui a muitos, e é agradável a si próprio.
23. Aquele que afeta sabedoria nas palavras é odioso; ficará desprovido de tudo.
24. Não recebeu o favor do Senhor, pois é desprovido de toda a sabedoria.
25. Há um sábio que é sábio para si mesmo, e os frutos de sua sabedoria são verdadeiramente louváveis.
26. O sábio ensina o seu povo, e os frutos de sua sabedoria são duradouros.
27. O homem sábio será cumulado de bênçãos. Aqueles que o virem o louvarão.
28. A vida do homem conta poucos dias, mas os dias de Israel são inúmeros.
29. O sábio herdará a honra no meio do povo, e o seu nome viverá eternamente.
30. Meu filho, experimenta tua alma durante tua vida; se o poder lhe for nefasto, não lho dês,
31. pois nem tudo é vantajoso para todos, e todos não se comprazem nas mesmas coisas.
32. Nunca sejas guloso em banquete algum; não te lances sobre tudo o que se serve,
33. pois o excesso no alimento é causa de doença, e a intemperança leva à cólica.
34. Muitos morreram por causa de sua intemperança, o homem sóbrio, porém, prolonga sua vida.

 
Capítulo 38

1. Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo quem o criou.
2. (Toda a medicina provém de Deus), e ele recebe presentes do rei:
3. a ciência do médico o eleva em honra; ele é admirado na presença dos grandes.
4. O Senhor fez a terra produzir os medicamentos: o homem sensato não os despreza.
5. Uma espécie de madeira não adoçou o amargor da água? Essa virtude chegou ao conhecimento dos homens.
6. O Altíssimo deu-lhes a ciência da medicina para ser honrado em suas maravilhas;
7. e dela se serve para acalmar as dores e curá-las; o farmacêutico faz misturas agradáveis, compõe ungüentos úteis à saúde, e seu trabalho não terminará,
8. até que a paz divina se estenda sobre a face da terra.
9. Meu filho, se estiveres doente não te descuides de ti, mas ora ao Senhor, que te curará.
10. Afasta-te do pecado, reergue as mãos e purifica teu coração de todo o pecado.
11. Oferece um incenso suave e uma lembrança de flor de farinha; faze a oblação de uma vítima gorda.
12. Em seguida dá lugar ao médico, pois ele foi criado por Deus; que ele não te deixe, pois sua arte te é necessária.
13. Virá um tempo em que cairás nas mãos deles.
14. E eles mesmos rogarão ao Senhor que mande por meio deles o alívio e a saúde (ao doente) segundo a finalidade de sua vida.
15. Aquele que peca na presença daquele que o fez, cairá nas mãos do médico.
16. Meu filho, derrama lágrimas sobre um morto, e chora como um homem que sofreu cruelmente. Sepulta o seu corpo segundo o costume, e não descuides de sua sepultura.
17. Chora-o amargamente durante um dia, por causa da opinião pública, e depois consola-te de tua tristeza;
18. toma luto segundo o merecimento da pessoa, um dia ou dois, para evitar as más palavras.
19. Pois a tristeza apressa a morte, tira o vigor, e o desgosto do coração faz inclinar a cabeça.
20. A tristeza permanece quando (o corpo) é levado; e a vida do pobre é o espelho de seu coração.
21. Não entregues teu coração à tristeza, mas afasta-a e lembra-te do teu fim.
22. Não te esqueças dele, porque não há retorno; de nada lhe servirás e só causarás dano a ti mesmo.
23. Lembra-te da sentença que me foi dada: a tua será igual; ontem para mim, hoje para ti.
24. Na paz em que o morto entrou, deixa repousar a sua memória, e conforta-o no momento em que exalar o último suspiro.
25. A sabedoria do escriba lhe vem no tempo do lazer. Aquele que pouco se agita adquirirá sabedoria.
26. Que sabedoria poderia ter o homem que conduz a charrua, que faz ponto de honra aguilhoar os bois, que participa de seu labor, e só sabe falar das crias dos touros?
27. Ele põe todo o seu coração em traçar sulcos, e o seu cuidado é engordar novilhas.
28. Igualmente acontece com todo carpinteiro, todo arquiteto, que passa no trabalho os dias e as noites. Assim sucede àquele que grava as marcas dos sinetes, variando as figuras por um trabalho assíduo; que aplica todo o seu coração na imitação da pintura, e põe todo o cuidado no acabamento de seu trabalho.
29. Assim acontece com o ferreiro sentado perto da bigorna, examinando o ferro que vai moldar; o vapor do fogo queima as suas carnes, e ele resiste ao ardor da fornalha.
30. O barulho do martelo lhe fere o ouvido de golpes repetidos; seus olhos estão fixos no modelo do objeto.
31. Ele aplica o seu coração em aperfeiçoar a sua obra, e põe um cuidado vigilante em torná-la bela e perfeita.
32. O mesmo sucede com o oleiro que, entregue à sua tarefa, gira a roda com os pés, sempre cuidadoso pela sua obra; e todo o seu trabalho (visa a produzir) uma quantidade (determinada).
33. Com o seu braço dá forma ao barro, torna-o maleável com os pés,
34. aplica o seu coração em aperfeiçoar o verniz, e limpa o forno com muita diligência.
35. Todos esses artistas esperam (tudo) de suas mãos; cada um deles é sábio em sua profissão.
36. Sem eles nenhuma cidade seria construída,
37. nem habitada, nem freqüentada; mas eles mesmos não terão parte na assembléia,
38. não se sentarão nas cadeiras dos juízes, não entenderão as disposições judiciárias, não apregoarão nem a instrução nem o direito, nem serão encontrados a estudar as máximas.
39. Entretanto, sustentam as coisas deste mundo. Sua oração se refere aos trabalhos de sua arte; a eles aplicam sua alma, e estudam juntos a lei do Altíssimo.

 
Capítulo 39

1. O sábio procura cuidadosamente a sabedoria de todos os antigos, e aplica-se ao estudo dos profetas.
2. Guarda no coração as narrativas dos homens célebres, e penetra ao mesmo tempo nos mistérios das máximas.
3. Penetra nos segredos dos provérbios, e vive com o sentido oculto das parábolas.
4. Exerce o seu cargo no meio dos poderosos, e comparece perante aqueles que governam.
5. Viaja pela terra de povos estrangeiros, para reconhecer o que há do bem e do mal entre os homens.
6. Desde o alvorecer aplica o coração à vigília para se unir ao Senhor que o criou, e ora na presença do Altíssimo.
7. Abre sua boca para orar, e pede perdão de seus pecados,
8. pois se for da vontade do Senhor que é grande, ele o cumulará do espírito de inteligência.
9. Então ele espargirá como uma chuva palavras de sabedoria, e louvará o Senhor em sua oração.
10. O Senhor orientará seus conselhos e seus ensinamentos, e ele meditará nos mistérios (divinos).
11. Ensinará ele próprio o conhecimento de sua doutrina. Porá sua glória na lei da aliança do Senhor.
12. Muitos homens louvarão sua sabedoria: jamais cairá ela no esquecimento.
13. A sua memória não desaparecerá; seu nome será repetido de geração em geração.
14. As nações proclamarão sua sabedoria, a assembléia apregoará seu louvor.
15. Enquanto viver, terá maior nome que mil outros, e, quando repousar, será feliz.
16. Refletirei ainda para contá-lo, pois estou cheio de um entusiasmo
17. que diz: Ouvi-me, rebentos divinos, desabrochai como uma roseira plantada à beira das águas;
18. como o Líbano, espargi suave aroma,
19. dai flores como o lírio, exalai perfume e estendei graciosa folhagem. Cantai cânticos e bendizei o Senhor nas suas obras.
20. Dai ao seu nome magníficos elogios, glorificai-o com a voz de vossos lábios, com os cânticos de vossos lábios e a música das harpas. Direis assim à guisa de louvor:
21. Todas as obras do Senhor são excelentes;
22. à sua voz conteve-se a água amontoada, a uma palavra de sua boca as águas ajuntaram-se como em reservatórios.
23. À sua ordem, fez-se calmaria, e a salvação que ele dá não será mesquinha.
24. São-lhe apresentadas as ações de todos os viventes, nada é oculto aos seus olhos.
25. Seu olhar abrange de um século a outro: nada é maravilhoso para ele.
26. Não se deve dizer: O que é isso, o que é aquilo? Pois todas as coisas serão examinadas a seu tempo.
27. A bênção dele é como um rio que transborda;
28. como o dilúvio inundou a terra inteira, assim a sua cólera será a sorte dos povos que não o procuram.
29. Assim como ele transformou as águas em aridez e ressecou a terra, e o seu comportamento é determinado pelo deles, assim, em sua ira, seu comportamento é motivo de queda para os pecadores.
30. Assim como os bens, desde o princípio, foram criados para os bons, assim os bens e os males o foram para os maus.
31. As coisas mais necessárias à vida do homem são: a água, o fogo, o ferro, o sal, o leite, o pão da flor de farinha, o mel, a uva, o azeite e o vestuário:
32. todas essas coisas são bens para os fiéis, mas tornam-se males para os ímpios e os pecadores.
33. Há espíritos que foram criados para a vingança: aumentaram seus tormentos pelo seu furor.
34. No tempo do extermínio manifestarão sua força, e apaziguarão a fúria daquele que os criou.
35. Fogo, granizo, fome e morte, tudo isso foi criado para a vingança,
36. como também os dentes dos animais, os escorpiões, as serpentes, e a espada vingadora destinada ao extermínio dos ímpios.
37. Todas essas coisas se regozijam com as ordens do Senhor, e mantêm-se prontas sobre a terra para servir oportunamente, e, chegando o tempo, não omitirão uma só de suas palavras.
38. Por isso, desde o princípio estou firme em minhas idéias; refleti e as escrevi.
39. Todas as obras do Senhor são boas; ele põe cada coisa em prática quando chega o tempo.
40. Não há razão para dizer: Isto é pior do que aquilo, porque todas as coisas serão achadas boas a seu tempo.
41. E agora, de todo o coração e com a boca, cantai e bendizei o nome do Senhor!

 
Capítulo 40

1. Uma grande inquietação foi imposta a todos os homens, e um pesado jugo acabrunha os filhos de Adão, desde o dia em que saem do seio materno, até o dia em que são sepultados no seio da mãe comum:
2. seus pensamentos, os temores de seu coração, a apreensão do que esperam, e o dia em que tudo acaba,
3. desde o que se senta num trono magnífico, até o que se deita sobre a terra e a cinza;
4. desde o que veste púrpura e ostenta coroa, até aquele que só se cobre de pano. Furor, ciúme, inquietação, agitação, temor da morte, cólera persistente e querelas.
5. E na hora de repousar no leito, o sono da noite perturba-lhe as idéias.
6. Ele repousa um pouco, tão pouco que é como se não repousasse; e no mesmo sono, como uma sentinela durante o dia,
7. é perturbado pelas visões de seu espírito, como um homem que foge do combate. No momento em que (se julga) em lugar seguro, ele se levanta e admira-se do seu vão temor.
8. Assim acontece a toda criatura, desde os homens até os animais. Mas para os pecadores é sete vezes mais.
9. Além do mais, a morte, o sangue, as querelas, a espada, as opressões, a fome, a ruína e os flagelos
10. foram todos criados para os maus, e foi por causa deles que veio o dilúvio.
11. Tudo o que vem da terra voltará à terra, como todas as águas regressam ao mar.
12. Todo presente e todo bem mal adquirido perecerão; a boa fé, porém, subsistirá eternamente.
13. As riquezas dos injustos secarão como uma torrente; elas assemelham-se a uma trovoada que estala na chuva.
14. O homem se regozija quando abre a mão, mas no fim os prevaricadores serão aniquilados.
15. A posteridade dos ímpios não multiplicará os ramos; as raízes impuras agitam-se no alto de um rochedo.
16. A vegetação que cresce à beira das águas, ao longo de um rio, será arrancada antes de todas as ervas dos campos.
17. A beneficência é como um paraíso abençoado, e a misericórdia permanecerá eternamente.
18. Doce é a vida do operário que se basta a si próprio; vivendo assim, encontrarás um tesouro.
19. Os filhos e a fundação de uma cidade dão firmeza a um nome, mas é mais estimada que um e outro uma mulher sem mácula.
20. O vinho e a música alegram o coração: sobre um e outro, porém, prevalece o amor da sabedoria.
21. A flauta e a harpa emitem um som harmonioso; a língua suave, porém, supera uma e outra.
22. A graça e a beleza são atraentes para o olhar; mais do que uma e outra é a vegetação dos campos.
23. Um amigo ajuda a seu amigo no momento oportuno. Mais do que um e outro, uma mulher ajuda seu marido.
24. Os irmãos são um socorro no tempo da tribulação. Mais do que eles, porém, a misericórdia liberta.
25. O ouro e a prata são bases sólidas. Um bom conselho, porém, supera um e outra.
26. As riquezas e as energias elevam o coração; o temor do Senhor, porém, sobrepuja umas e outras.
27. Nada falta àquele que tem o temor ao Senhor; e com ele não há necessidade de outro auxílio.
28. O temor ao Senhor é-lhe como um paraíso abençoado; ele está revestido de uma glória que supera toda glória.
29. Meu filho, não leves nunca uma vida de mendigo, pois mais vale morrer que mendigar.
30. Quando um homem olha para a mesa de outro, sua vida não é realmente vida, na obsessão do alimento, porque se nutre dos víveres de outrem;
31. mas o homem moderado e educado se acautela contra isso.
32. Na boca do insensato, a coisa mendigada é doce; mas nas suas entranhas arderá um fogo.

 
Capítulo 41

1. Ó morte, como tua lembrança é amarga para o homem que vive em paz no meio de seus bens,
2. para o homem tranqüilo e afortunado em tudo, e que ainda se encontra em condição de saborear o alimento!
3. Ó morte, tua sentença é suave para o indigente, cujas forças se esgotam,
4. para quem está no declínio da idade, carregado de cuidados, para quem não tem mais confiança e perde a paciência.
5. Não temas a sentença da morte; lembra-te dos que te precederam, e de todos os que virão depois de ti: é a sentença pronunciada pelo Senhor sobre todo ser vivo.
6. Que te sobrevirá por vontade do Altíssimo? Dez anos, cem anos, mil anos…
7. Na habitação dos mortos não se tomam em consideração os anos de vida.
8. Os filhos dos pecadores tornam-se objeto de abominação, assim como os que freqüentam as casas dos ímpios.
9. A herança dos filhos dos pecadores perecerá. O opróbrio prende-se à sua posteridade.
10. Os filhos de um homem ímpio queixam-se de seu pai porque é por sua culpa que estão envergonhados.
11. Desgraçados de vós, homens ímpios, que abandonastes a lei do Senhor, o Altíssimo!
12. Se nasceis, é na maldição, e quando morrerdes, tereis a maldição como herança.
13. Tudo o que vem da terra voltará à terra. Assim os ímpios passam da maldição à ruína.
14. Os homens se entristecem com (a perda) de seu corpo; porém, até o nome dos ímpios será aniquilado.
15. Cuida em procurar para ti uma boa reputação, pois esse bem ser-te-á mais estável que mil tesouros grandes e preciosos.
16. A vida honesta só tem um número de dias; a boa fama, porém, permanece para sempre.
17. Meus filhos, guardai em paz meu ensinamento: pois uma sabedoria oculta e um tesouro invisível, para que servem essas duas coisas?
18. Mais vale um homem que dissimula a sua ignorância, que um homem que oculta a sua sabedoria.
19. Tende, pois, vergonha do que vou dizer,
20. porque não é bom ter vergonha de tudo, e nem todas as coisas agradam, na verdade, a todos.
21. Envergonhai-vos da fornicação, diante de vosso pai e de vossa mãe; e da mentira, diante do que governa e do poderoso;
22. de um delito, diante do príncipe e do juiz; da iniqüidade, diante da assembléia e do povo;
23. da injustiça, diante de teu companheiro e de teu amigo;
24. de cometeres um roubo no lugar onde moras, por causa da verdade de Deus e de sua aliança. Envergonha-te de pôr os cotovelos sobre a mesa, de usar de fraude no dar e no receber,
25. de não responder àqueles que te saúdam, de lançar os olhos para uma prostituta,
26. de desviar os olhos de teu próximo, de tirar o que a ele pertence, sem devolver-lho.
27. Não olhes para a mulher de outrem; não tenhas intimidades com tua criada, e não te ponhas junto do seu leito.
28. Envergonha-te diante de teus amigos de dizer palavras ofensivas; não censures o que deste.

 
Capítulo 42

1. Não repitas o que ouviste. Não reveles um segredo. Assim estarás verdadeiramente isento de confusão, e acharás graça diante de todos os homens. Não te envergonhes de tudo o que vou dizer, e não faças acepção de pessoas até o ponto de pecar.
2. Não te envergonhes da lei e da aliança do Altíssimo, de uma sentença que justifique o ímpio,
3. de um negócio entre teus amigos e estranhos, da doação de uma herança em favor de teus amigos.
4. Não te envergonhes de usar uma balança fiel e de peso certo, de adquirir pouco ou muito,
5. de não fazer diferença na venda e com os mercadores, de corrigir freqüentemente os teus filhos, de golpear até sangrar as costas de um escravo ruim.
6. Sobre uma mulher má, é bom pôr-se o selo.
7. Onde há muitas mãos, emprega a chave. Conta e pesa tudo o que entregas; assenta o que dás e o que recebes.
8. Não te envergonhes de corrigir o insensato e o tolo; não te envergonhes dos anciãos julgados pelos jovens. Assim te mostrarás verdadeiramente instruído, e serás aprovado por todos.
9. Uma filha é uma preocupação secreta para seu pai; o cuidado dela tira-lhe o sono. Ele teme que passe a flor de sua idade sem se casar, ou que, casada, torne-se odiosa para o marido;
10. receia que seja seduzida na sua virgindade, e que se torne grávida na casa paterna. Teme que, casada, ela viole a fidelidade, ou que, em todo caso, seja estéril.
11. Exerce severa vigilância sobre uma filha libertina, para que ela te não exponha aos insultos dos teus inimigos, e te torne o assunto de troça da cidade, o objeto de mofa pública, e te desonre aos olhos de toda a população.
12. Não detenhas o olhar sobre a beleza de ninguém, não te demores no meio de mulheres,
13. pois assim como a traça sai das roupas, assim a malícia do homem vem da mulher.
14. Um homem mau vale mais que uma mulher que (vos) faz bem, mas que se torna causa de vergonha e de confusão.
15. Relembrarei agora as obras do Senhor, proclamarei o que vi. Pelas palavras do Senhor foram produzidas as suas obras.
16. O sol contempla todas as coisas que ilumina; a obra do Senhor está cheia de sua glória.
17. Porventura não fez o Senhor com que seus santos proclamassem todas as suas maravilhas, maravilhas que ele, o Senhor todo-poderoso, consolidou, a fim de que subsistam para a sua glória?
18. Ele sonda o abismo e o coração humano, e penetra os seus pensamentos mais sutis,
19. pois o Senhor conhece tudo o que se pode saber. Ele vê os sinais dos tempos futuros, anuncia o passado e o porvir, descobre os vestígios das coisas ocultas.
20. Nenhum pensamento lhe escapa, nenhum fato se esconde a seus olhos.
21. Ele enalteceu as maravilhas de sua sabedoria, ele é antes de todos os séculos e será eternamente.
22. Nada se pode acrescentar ao que ele é, nem nada lhe tirar; não necessita do conselho de ninguém.
23. Como são agradáveis as suas obras! E todavia delas não podemos ver mais que uma centelha.
24. Essas obras vivem e subsistem para sempre, e em tudo o que é preciso, todas lhe obedecem.
25. Todas as coisas existem duas a duas, uma oposta à outra; ele nada fez que seja defeituoso.
26. Ele fortaleceu o que cada um tem de bom. Quem se saciará de ver a glória do Senhor?

 
Capítulo 43

1. O firmamento nas alturas é a sua beleza, o aspecto do céu é uma visão de glória.
2. O sol, aparecendo na aurora, anuncia o dia. A obra do Altíssimo é um instrumento admirável.
3. Ao meio-dia queima a terra: quem resiste ao seu ardor? Ele conserva uma fornalha de fogo por efeito de seu calor.
4. O sol queima três vezes mais as montanhas, despedindo raios de fogo, cujo resplendor deslumbra os olhos.
5. Grande é o Senhor que o criou; por sua ordem, ele apressa o seu curso.
6. A lua é, em todas as suas fases regulares, a marca do tempo e o sinal do futuro.
7. É a lua que determina os dias de festa; sua luz diminui a partir da lua cheia.
8. É ela que dá nome ao mês; sua claridade cresce de modo admirável, até ficar cheia.
9. É um sinal para os exércitos do céu que lança no firmamento um glorioso esplendor.
10. O brilho das estrelas faz a beleza do céu; o Senhor ilumina o mundo nas alturas.
11. À palavra do Santo estão prontas para o julgamento: são indefectivelmente vigilantes.
12. Observa o arco-íris e bendiz aquele que o fez: é muito belo no seu resplendor.
13. Faz a volta do céu num círculo de glória: são as mãos do Altíssimo que o estendem.
14. O Senhor com uma ordem faz cair subitamente a neve, acelera a marcha dos raios de seu juízo.
15. Por essa causa se abrem as suas reservas, e voam as nuvens como pássaros.
16. Por sua grandeza condensa as nuvens, e as pedras de granizo caem em estilhaços.
17. As montanhas são abaladas quando ele aparece; por sua vontade sopra o vento do sul.
18. O estrondo do trovão fere a terra, assim como a tempestade do aquilão e o turbilhão dos ventos.
19. Espalha a neve como pássaros que pousam, como gafanhotos que se abatem sobre a terra;
20. o olhar encanta-se com o brilho de sua alvura, o coração fica atônito ao vê-la cair.
21. Deus espalha a geada sobre a terra como sal; quando as águas se congelam tornam-se como pontas de cardo.
22. Quando sopra o vento frio do aquilão, a água gela como cristal, que repousa sobre toda a massa líquida, e veste as águas como se fosse uma couraça.
23. (A geada) devora os montes, queima os desertos, resseca como o fogo tudo o que é verde.
24. O remédio para isso é o rápido aparecimento de um aguaceiro. O orvalho após o frio atenua (o rigor do gelo).
25. A palavra de Deus faz calar o vento; só com o seu pensar apazigua o abismo, no meio do qual o Senhor plantou as ilhas.
26. Os que navegam sobre o mar contam os seus perigos; ouvindo-os, ficaremos arrebatados de admiração.
27. Ali se encontram grandes obras e maravilhas, animais de toda espécie e criaturas monstruosas.
28. Por ele, tudo tende regularmente para a sua finalidade, tudo foi disposto conforme a sua palavra.
29. Diremos muitas coisas, porém faltarão palavras. Mas o resumo de nosso discurso é este: Ele está em tudo.
30. Que podemos nós fazer para glorificá-lo? Pois o Todo-poderoso está acima de todas as suas obras.
31. O Senhor é terrível e soberanamente grande. Seu poder é maravilhoso.
32. Glorificai o Senhor quanto puderdes, que ele ficará sempre acima, porque é admirável a sua grandeza.
33. Bendizei o Senhor, exaltai-o com todas as vossas forças, pois ele está acima de todo louvor.
34. Enaltecendo-o, reuni todas as vossas forças; não desanimeis; jamais chegareis (ao fim).
35. Quem poderá contar o que dele viu? Quem é capaz de louvá-lo, como ele é, desde os primórdios?
36. Muitos segredos são maiores que tudo isso; só vemos um pequeno número de suas obras.
37. O Senhor fez todas as coisas: ele dá sabedoria àqueles que vivem com piedade.

 
Capítulo 44

1. Façamos o elogio dos homens ilustres, que são nossos antepassados, em sua linhagem.
2. O Senhor deu-lhes uma glória abundante, desde o princípio do mundo, por um efeito de sua magnificência.
3. Eles foram soberanos em seus estados, foram homens de grande virtude, dotados de prudência. As predições que anunciaram adquiriram-lhes a dignidade de profetas:
4. eles governaram os povos do seu tempo e, com a firmeza de sua sabedoria, deram instruções muito santas ao povo.
5. Com sua habilidade cultivaram a arte das melodias, publicaram os cânticos das escrituras.
6. Homens ricos de virtude, que tinham gosto pela beleza, e viviam em paz em suas casas.
7. Todos eles adquiriram fama junto de seus contemporâneos, e foram a glória de seu tempo.
8. Aqueles que deles nasceram deixaram um nome que publica seus louvores.
9. Outros há, dos quais não se tem lembrança; pereceram como se nunca tivessem existido. Nasceram, eles e seus filhos, como se não tivessem nascido.
10. Os primeiros, porém, foram homens de misericórdia; nunca foram esquecidas as obras de sua caridade.
11. Na sua posteridade permanecem os seus bens.
12. Os filhos de seus filhos são uma santa linhagem, e seus descendentes mantêm-se fiéis às alianças.
13. Por causa deles seus filhos permanecem para sempre, e sua posteridade, assim como sua glória, não terá fim.
14. Seus corpos foram sepultados em paz, seu nome vive de século em século.
15. Proclamem os povos sua sabedoria, e cante a assembléia os seus louvores!
16. Henoc agradou a Deus e foi transportado ao paraíso, para excitar as nações à penitência.
17. Noé foi julgado justo e perfeito, e no tempo da ira tornou-se o elo de reconciliação.
18. Por isso foram deixados alguns na terra, quando veio o dilúvio.
19. Ele foi o depositário das alianças feitas com o mundo, a fim de que ninguém doravante fosse destruído por dilúvio.
20. Abraão é o pai ilustre de uma infinidade de povos. Ninguém lhe foi igual em glória: guardou a lei do Altíssimo, e fez aliança com ele.
21. O Senhor marcou essa aliança em sua carne; na provação, mostrou-se fiel.
22. Por isso jurou Deus que o havia de glorificar na sua raça, e prometeu que ele cresceria como o pó da terra.
23. Prometeu-lhe que exaltaria sua raça como as estrelas, e que seu quinhão de herança se estenderia de um mar a outro: desde o rio até as extremidades da terra.
24. Ele fez o mesmo com Isaac, por causa de seu pai, Abraão.
25. O Senhor deu-lhe a bênção de todas as nações, e confirmou sua aliança sobre a cabeça de Jacó.
26. Distinguiu-o com suas bênçãos, deu-lhe a herança, e repartiu-a entre as doze tribos.
27. Conservou-lhe homens cheios de misericórdia, que encontraram graça aos olhos de toda carne.

 
Capítulo 45

1. Moisés foi amado por Deus e pelos homens: sua memória é abençoada.
2. O Senhor deu-lhe uma glória semelhante à dos santos; tornou-se poderoso e temido por seus inimigos.
3. Glorificou-o na presença dos reis, prescreveu-lhe suas ordens diante do seu povo, e mostrou-lhe a sua glória.
4. Santificou-o pela sua fé e mansidão, escolheu-o entre todos os homens.
5. Pois (Deus) atendeu-o, ouviu sua voz e o introduziu na nuvem.
6. Deu-lhe seus preceitos perante (seu povo) e a lei da vida e da ciência, para ensinar a Jacó sua aliança e a Israel seus decretos.
7. Exaltou seu irmão Aarão, semelhante a ele, da tribo de Levi.
8. Fez com ele uma aliança eterna, deu-lhe o sacerdócio do seu povo, e cumulou-o de felicidade e de glória.
9. Adornou-o com um cinto de honra, revestiu-o de um manto de glória, coroou-o com todo esse aparato majestoso.
10. Deu-lhe a longa túnica, a túnica inferior e o efod, cujas bordas eram ornadas de numerosas campainhas,
11. que deviam retinir, quando ele andasse, e se ouvisse o seu som no templo, para advertir os filhos de seu povo.
12. Deu-lhe uma túnica santa, tecida de ouro, de pedras preciosas e de púrpura, obra de um homem sábio, dotado de juízo e de verdade.
13. Era uma obra de artista, de fio de escarlate, com doze pedras preciosas engastadas no ouro, gravadas pelo trabalho do lapidador, em memória das doze tribos de Israel.
14. Sobre sua tiara colocou uma coroa de ouro, onde estava gravado o cunho da santidade, da glória e da honra; era uma obra majestosa, adorno que encantava os olhos.
15. Nunca antes dele houve coisa tão magnífica, desde o princípio do mundo.
16. Nenhum estranho dele se revestiu, mas somente os seus filhos, e os filhos de seus filhos no decorrer dos tempos.
17. Os sacrifícios foram diariamente consumidos pelo fogo.
18. Moisés o investiu e o ungiu com o óleo santo.
19. Deus fez com ele e com sua raça uma aliança eterna, que durará tanto quanto os dias do céu, para exercer o sacerdócio, para cantar os louvores do Senhor, e abençoar solenemente o seu povo em seu nome.
20. Escolheu-o entre todos os viventes para oferecer a Deus o sacrifício, o incenso e o perfume da lembrança, e para fazer a expiação em favor do seu povo.
21. Deu-lhe autoridade sobre seus preceitos, e sobre as disposições dos seus julgamentos, para ensinar a Jacó seus mandamentos, e explicar sua lei a Israel.
22. Estrangeiros conspiraram contra ele; por inveja, homens o cercaram no deserto, que eram do partido de Datã e Abiron, e da facção furiosa de Coré.
23. Viu isso o Senhor, e não lhe agradou, e foram destruídos pela impetuosidade de sua cólera.
24. Fez prodígios contra eles, e a chama de seu fogo os devorou.
25. Aumentou ainda mais a glória de Aarão: deu-lhe uma herança, destinou-lhe as primícias dos frutos da terra.
26. Antes de tudo, preparou-lhes alimento em abundância, pois devem comer os sacrifícios do Senhor, os quais deu a ele e à sua posteridade.
27. Mas ele não tem herança na terra das nações, não tem porção entre seu povo, pois (o Senhor) mesmo é o quinhão de sua herança.
28. Finéias, filho de Eleazar, é o terceiro em glória. Ele imitou (Moisés) no temor do Senhor.
29. Permaneceu firme no meio da idolatria do povo; por sua bondade e o zelo de sua alma, apaziguou a ira de Deus contra Israel.
30. É por isso que Deus fez com ele uma aliança de paz, e deu-lhe o principado das coisas santas e do seu povo, a fim de que a ele e a seus descendentes pertencesse para sempre a dignidade sacerdotal.
31. Fez também Deus aliança com o rei Davi, filho de Jessé, da tribo de Judá; tornou-o herdeiro do reino, ele e sua raça, para derramar a sabedoria no nosso coração, e julgar o seu povo com justiça, a fim de que não se perdessem os seus bens: tornou eterna a sua glória no seio de sua raça.

 
Capítulo 46

1. Josué, filho de Nun, foi um valente na guerra. Sucedeu Moisés entre os profetas; foi ilustre, tão ilustre como o nome que trazia,
2. muito ilustre salvador dos eleitos de Deus, para derrubar os inimigos que se levantavam, e para conquistar a herança de Israel.
3. Que glória não alcançou ele em levantar as suas mãos, e em brandir a espada contra as cidades!
4. Quem pôde enfrentá-lo? Pois o Senhor mesmo lhe trazia os seus inimigos.
5. Não deteve ele o sol, em sua cólera? Não se tornou um só dia tão longo como dois?
6. Ele invocou o Altíssimo todo-poderoso, atacando os inimigos de todos os lados: o Deus grande e santo o atendeu com uma chuva de pedras de grande força.
7. Investiu impetuosamente contra as hostes inimigas, e despedaçou-as na descida do vale,
8. para que as nações conhecessem o poder de Deus, e soubessem que não é fácil combater contra Deus, ele seguiu sempre o Todo-poderoso.
9. No tempo em que Moisés ainda vivia, praticou um ato de piedade com Caleb, filho de Jefoné, permanecendo firme contra o inimigo, impedindo o povo de pecar, e abafando a murmuração excitada pela malícia.
10. Dentre um número de seiscentos mil homens de pé, esses dois foram escolhidos e poupados da morte, para levar o povo à sua herança, nessa terra onde mana leite e mel.
11. O Senhor deu força a Caleb; até a velhice permaneceu ele vigoroso, para subir a um lugar elevado na terra (prometida), que a sua descendência recebeu como herança,
12. para que todos os israelitas reconhecessem que é bom obedecer ao Deus santo.
13. Em seguida, vieram os juízes, cada um (designado) pelo seu nome, aqueles cujos corações não se perverteram, e que não se afastaram do Senhor.
14. Que a sua memória seja abençoada, e seus ossos floresçam em seus sepulcros!
15. Que seu nome permaneça eternamente, e passe aos seus filhos com a glória desses santos homens!
16. Amado pelo Senhor seu Deus, Samuel, o profeta do Senhor, instituiu um novo governo, e ungiu príncipes entre o seu povo.
17. Julgou a assembléia segundo a lei do Senhor. E o Deus de Jacó o visitou. Por sua fidelidade ele se mostrou verdadeiramente profeta,
18. e foi fiel em suas palavras, porque viu o Deus da luz.
19. Invocou o Deus todo-poderoso, ofereceu-lhe um cordeiro sem mácula, quando os seus inimigos o perseguiam por todos os lados.
20. O Senhor trovejou do céu, fazendo ouvir sua voz com grande estrondo.
21. Destroçou os príncipes de Tiro, e todos os chefes dos filisteus.
22. Antes de terminar a sua vida neste mundo, tomou como testemunha o Senhor e seu Cristo, de que não tinha recebido dinheiro de pessoa alguma, nem mesmo uma sandália, e não achou ninguém que o acusasse.
23. Depois disso, adormeceu e apareceu ao rei, e lhe mostrou seu fim (próximo); levantou a sua voz do seio da terra para profetizar a destruição da impiedade do povo.

 
Capítulo 47

1. Depois disto (levantou-se Natã, profeta) no tempo de Davi.
2. Assim como a gordura (da vitamina) se separa da carne, assim foi Davi separado do meio dos israelitas.
3. Ele brincou com os leões como se fossem cordeiros, e tratou os ursos como cordeirinhos.
4. Não foi ele quem, em sua mocidade, matou o gigante, e tirou a vergonha do seu povo?
5. Levantando a mão, com uma pedra de sua funda abateu a insolência de Golias,
6. pois ele invocou o Senhor todo-poderoso, o qual deu à sua destra força para derrubar o temível guerreiro, e para levantar o poder do seu povo.
7. Assim, foi ele festejado por causa (da morte) de dez mil homens. Louvaram-no nas bênçãos do Senhor, e ofereceram-lhe uma coroa de glória,
8. porque ele esmagou os inimigos de todos os lados, exterminou u os filisteus, seus adversários, (como se vê) ainda hoje, e abateu o seu poder para sempre.
9. Fez de todas as suas obras uma homenagem ao Santo e ao Altíssimo com palavras de louvor.
10. Louvor ao Senhor com todo o coração. Amou a Deus que o criou, e lhe deu poder contra seus inimigos.
11. Estabeleceu cantores diante do altar, e compôs suaves melodias para os seus cânticos.
12. Deu esplendor às festividades, e brilho aos dias solenes, até o fim da vida, para que fosse louvado o santo nome do Senhor, e fosse glorificada desde o amanhecer a santidade de Deus.
13. O Senhor purificou-o de seus pecados, engrandeceu o seu poder para sempre, e firmou-lhe, por sua aliança, a realeza e um trono de glória em Israel.
14. Depois dele, apareceu seu filho, cheio de sabedoria; por causa dele o Senhor derrubou todo o poder dos inimigos.
15. Salomão reinou em dias de paz. Deus submeteu a ele todos os seus inimigos,
16. a fim de que ele construísse uma casa ao nome do Senhor, e lhe preparasse um santuário eterno. Quão bem foste instruído na tua juventude! Foste cheio de sabedoria como um rio. Tua alma cobriu toda a terra.
17. Encerraste enigmas em sentenças, teu nome foi glorificado até nas ilhas longínquas, e foste amado na tua paz.
18. Por teus cânticos, provérbios, parábolas e interpretações, foste admirado por toda a terra.
19. Em nome do Senhor Deus, que é chamado o Deus de Israel,
20. ajuntaste montes de ouro como se fosse bronze, amontoaste prata como se faz com o chumbo.
21. Entregaste teus flancos às mulheres, saciaste teu corpo,
22. maculaste tua glória, profanaste tua raça, atraindo assim a cólera sobre teus filhos, e o castigo sobre tua loucura,
23. causando com isso um cisma no reino, e fazendo sair de Efraim uma dominação rebelde.
24. Mas Deus não esqueceu a sua misericórdia, não destruiu nem aniquilou as suas obras; não arrancou pela raiz a posteridade de seu eleito, não exterminou a raça daquele que ama o Senhor.
25. Ao contrário, deixou um resto a Jacó, e a Davi um rebento de sua raça.
26. E Salomão teve um fim semelhante ao de seus pais.
27. Deixou depois de si um filho que foi a loucura da nação,
28. um homem desprovido de juízo, chamado Roboão, que transviou o povo por seu conselho.
29. E Jeroboão, filho de Nabat, que fez Israel pecar, e abriu para Efraim o caminho da iniqüidade. Houve entre eles uma profusão de pecados,
30. que os expulsaram para longe de sua terra.
31. Procuraram todos os meios de fazer o mal, até que veio a vingança, que pôs um termo às suas iniqüidades.

 
Capítulo 48

1. Suas palavras queimavam como uma tocha ardente. Elias, o profeta, levantou-se em breve como um fogo.
2. Ele fez vir a fome sobre o povo (de Israel): foram reduzidos a um punhado por tê-lo irritado com sua inveja, pois não podiam suportar os preceitos do Senhor.
3. Com a palavra do Senhor ele fechou o céu, e dele fez cair fogo por três vezes.
4. Quão glorioso te tornaste, Elias, por teus prodígios! Quem pode gloriar-se de ser como tu?
5. Tu que fizeste sair um morto do seio da morte, e o arrancaste da região dos mortos pela palavra do Senhor;
6. tu que lançaste os reis na ruína, que desfizeste sem dificuldade o seu poder, que fizeste cair de seu leito homens gloriosos.
7. Tu que ouviste no Sinai o julgamento do Senhor, e no monte Horeb os decretos de sua vingança.
8. Tu que sagraste reis para a penitência, e estabeleceste profetas para te sucederem.
9. Tu que foste arrebatado num tubilhão de fogo, num carro puxado por cavalos ardentes.
10. Tu que foste escolhido pelos decretos dos tempos para amenizar a cólera do Senhor, reconciliar os corações dos pais com os filhos, e restabelecer as tribos de Jacó.
11. Bem-aventurados os que te conheceram, e foram honrados com a tua amizade!
12. Pois, quanto a nós, só vivemos durante esta vida, e depois da morte, nem mesmo nosso nome nos sobreviverá.
13. Elias foi então arrebatado em um turbilhão, mas seu espírito permaneceu em Eliseu. Nunca em sua vida teve Eliseu medo de um príncipe; ninguém o dominou pelo poder.
14. Nada houve que o pudesse vencer: seu corpo, mesmo depois da morte, fez profecias.
15. Durante a vaida fez prodígios, depois da morte fez milagres.
16. E, apesar de tudo isto, o povo não fez penitência, não se afastou dos seus pecados, até que foi expulso de sua terra, e espalhado por todo o mundo.
17. Só ficou um resto do povo, um príncipe da casa de Davi.
18. Alguns deles fizeram o que é do agrado de Deus; os outros, porém, multiplicaram os seus pecados.
19. Ezequias fortificou a sua cidade, trazendo água até o centro; abriu com ferro um rochedo, e construiu um poço para as águas.
20. Durante o seu reinado veio Senaquerib, que enviou Rabsaces, o qual levantou a sua mão contra eles; ele estendeu a sua mão contra Sião, ensoberbecendo-se com seu poder.
21. Foi então que os seus corações e as suas mãos desfaleceram: sentiram dores como a parturiente.
22. Invocaram o Senhor misericordioso, levantando para o céu as suas mãos estendidas. E o Santo, o Senhor Deus, ouviu logo a sua voz:
23. não se recordou dos seus pecados, não os entregou aos seus inimigos, mas purificou-os pela mão de Isaías, seu santo profeta.
24. Derrubou o acampamento dos assírios, e o anjo do Senhor os desbaratou.
25. Pois Ezequias fez o que era agradável a Deus: caminhou corajosamente pelas pegadas de Davi, seu pai, assim como lhe havia recomendado Isaías, o grande profeta, fiel aos olhos do Senhor.
26. Um dia o sol retrocedeu, e (o profeta) prolongou a vida do rei.
27. Por uma poderosa inspiração ele viu o fim dos tempos, e consolou aqueles que choravam em Sião;
28. ele anunciou o futuro até o fim dos tempos, assim como as coisas ocultas antes que se cumprissem.

 
Capítulo 49

1. A memória de Josias é como uma composição de aromas, preparada pelo perfumista.
2. Em toda boca, sua lembrança é doce como o mel, como uma melodia num festim regado de vinho.
3. Foi divinamente destinado a levar o povo à penitência, e robusteceu a piedade numa época de pecado.
4. Voltou o coração para o Senhor e fez desaparecer as abominações da impiedade.
5. Exceto Davi, Ezequias e Josias, todos pecaram:
6. os reis de Judá abandonaram a lei do Altíssimo, e desprezaram o temor a Deus;
7. por isso tiveram de entregar a outros o seu reino, e a sua glória a uma nação estrangeira.
8. (Os inimigos) queimaram a cidade eleita, a cidade santa, transformaram suas ruas num deserto, conforme o que predissera Jeremias,
9. pois eles maltrataram aquele que havia sido consagrado profeta desde o ventre de sua mãe, para derrubar, para destruir, para arruinar, mas depois reedificar e renovar.
10. Foi Ezequiel quem teve essa visão gloriosa, que o Senhor lhe mostrou num carro de querubins.
11. Pois ele anunciou com uma chuva a sorte dos inimigos, assim como os bens reservados àquele que seguiam o caminho reto.
12. Quanto aos doze profetas, refloresçam os seus ossos em seus túmulos, pois fortaleceram Jacó, e redimiram-se (da servidão) por uma fé corajosa.
13. Como engrandecer a glória de Zorobabel? Foi ele como um anel na mão direita.
14. Do mesmo modo Josué, filho de Josedec; eles que, em seus dias, reconstruíram a casa (de Deus), e tornaram a levantar o templo santo do Senhor, destinado a uma glória eterna.
15. Neemias viverá por longo tempo na recordação; ele reergueu nossas muralhas arruinadas, restabeleceu nossas portas e nossos trincos, e reedificou nossas casas.
16. Ninguém nasceu no mundo comparável a Henoc, pois ele também foi arrebatado desta terra;
17. nem comparável a José, nascido para ser o príncipe de seus irmãos e o sustentáculo de sua raça, o governador de seus irmãos, e o esteio de seu povo.
18. Seus ossos foram conservados com cuidado; depois de sua morte fizeram profecia.
19. Set e Sem foram glorificados entre os homens, porém, acima de qualquer ser vivo da criação, acha-se Adão.

 
Capítulo 50

1. Simão, filho de Onias, sumo sacerdote, foi quem, durante a sua vida, sustentou a casa do Senhor; e durante os seus dias, fortificou o templo.
2. Por ele foi fundado o alto edifício do templo, o edifício duplo e as altas muralhas.
3. Em seus dias a água jorrou dos reservatórios que se encheram extraordinariamente, como o mar (de bronze),
4. ele cuidou do seu povo, libertou-o da perdição.
5. Foi bastante poderoso para aumentar a cidade, conquistou glória em suas relações com a nação, e alargou a entrada do templo e do átrio.
6. Como a estrela-d’alva brilha no meio das nuvens, como brilha a lua nos dias de lua cheia,
7. como brilha o sol radioso, assim resplandeceu ele no templo de Deus.
8. (Ele era) como o arco-íris fulgurando nas nuvens luminosas, como a flor da roseira em dia de primavera, como os lírios à beira de uma corrente de água, e como o incenso que exala seu perfume nos dias de verão;
9. como um fogo que lança centelhas, como o incenso que se queima no fogo;
10. como um vaso de ouro maciço, adornado de pedrarias;
11. como uma oliveira cujos rebentos crescem, e como um cipreste que se ergue para o alto. Assim aparecia ele quando se cobria com o manto de aparato, e revestia os ornatos de sua dignidade.
12. Subindo ao altar santo, honrava os santos ornamentos.
13. Conservando-se de pé junto do altar, recebia as partes (das vítimas) da mão dos sacerdotes, e os seus irmãos o rodeavam como uma coroa, como uma plantação de cedros no monte Líbano.
14. Como as folhas de uma palmeira, todos os filhos de Aarão mantinham-se em volta dele em sua magnificência.
15. A oblação do Senhor era apresentada pelas suas mãos diante do povo de Israel. Quando terminava o sacrifício no altar, a fim de enaltecer a oblação do rei Altíssimo,
16. ele estendia a mão para a libação, e espargia o sangue da videira;
17. derramava ao pé do altar um perfume divino para o príncipe Altíssimo.
18. Então os filhos de Aarão manifestavam-se com exclamações, e tocavam trombetas de metal batido; faziam ouvir grandes clamores para se fazerem lembrados diante de Deus.
19. E todo o povo se comprimia em multidão, e caía com a face por terra, para adorar o Senhor seu Deus, e dirigir preces ao Deus todo-poderoso, o Altíssimo.
20. Os cantores elevavam a voz, e do vasto edifício subia uma suave melodia.
21. O povo orava ao Senhor, o Altíssimo, até que terminasse o culto do Senhor, e que as cerimônias tivessem fim,
22. Então, descendo do altar, o sumo sacerdote elevava as mãos sobre todo o povo israelita, para render glória a Deus em alta voz, e para glorificá-lo em seu nome.
23. E (o povo) repetia sua oração, querendo demonstrar o poder de Deus.
24. E agora, orai ao Deus de todas as coisas, que fez grandes coisas pela terra toda, que multiplicou nossos dias desde o seio materno, e usou de misericórdia para conosco.
25. Que ele nos conceda a alegria do coração, e que a paz esteja com Israel agora e para sempre;
26. para que Israel creia que a misericórdia de Deus está conosco, e que nos liberte quando chegar o dia.
27. Há dois povos que minha alma abomina, e o terceiro, que aborreço, nem sequer é um povo:
28. aqueles que vivem no monte Seir, os filisteus, e o povo insensato que habita em Siquém.
29. Jesus, filho de Sirac de Jerusalém, escreveu neste livro uma doutrina de sabedoria e ciência, e derramou nele a sabedoria de seu coração.
30. Feliz aquele que se entregar a essas boas palavras; aquele que as guardar no coração será sempre sábio;
31. pois, se ele as cumprir, será capaz de todas as coisas, porque a luz de Deus guiará os eus passos.

 
Capítulo 51

1. Glorificar-vos-ei, ó Senhor e Rei, louvar-vos-ei, ó Deus, meu salvador.
2. Glorificarei o vosso nome, porque fostes meu auxílio e meu protetor.
3. Livrastes meu corpo da perdição, das ciladas da língua injusta, e dos lábios dos forjadores de mentira. Fostes meu apoio contra aqueles que me acusavam.
4. Libertastes-me conforme a extensão da misericórdia de vosso nome, dos rugidos dos animais ferozes, prestes a me devorar;
5. da mão daqueles que atacavam a minha vida, do assalto das tribulações que me aturdiam,
6. e da violência das chamas que me rodeavam. Em meio ao fogo não me queimei.
7. Libertastes-me das profundas entranhas da morada dos mortos, da língua maculada, das palavras mentirosas, do rei iníquo e da língua injusta.
8. Minha alma louvará ao Senhor até a morte,
9. porque a minha vida estava prestes a cair nas profundezas da região dos mortos.
10. Eles me rodearam de todos os lados, e ninguém lá estava para ajudar-me. Esperava algum auxílio dos homens e nada veio.
11. Lembrei-me, Senhor, da vossa misericórdia, e de vossas obras que datam do princípio do mundo,
12. pois libertais, Senhor, aqueles que esperam em vós, e os salvais das mãos das nações.
13. Exaltastes a minha habitação sobre a terra, e eu vos roguei quando a morte se aproximou de mim;
14. invoquei o Senhor, pai do meu Senhor, para que me não abandonasse no dia de minha aflição, sem socorro, durante o reinado dos soberbos.
15. Louvarei sem cessar o vosso nome; glorificá-lo-ei em meus louvores, porque foi ouvida a minha prece,
16. porque me livrastes da perdição, e salvastes-me do perigo num tempo de iniqüidade.
17. Eis por que eu vos glorificarei e cantarei vossos louvores e bendirei o nome do Senhor.
18. Quando eu era ainda jovem, antes de ter viajado, busquei abertamente a sabedoria na oração:
19. pedi-a a Deus no templo, e buscá-la-ei até o fim de minha vida. Ela floresceu como uma videira precoce
20. e meu coração alegrou-se nela. Meus pés andaram por caminho reto: desde a minha juventude tenho procurado encontrá-la.
21. Apliquei um pouco o meu ouvido e logo a recolhi.
22. Encontrei em mim mesmo muita sabedoria, e nela fiz grande progresso.
23. Tributarei glória àquele que ma deu,
24. pois resolvi pô-la em prática; fui zeloso no bem e não serei confundido.
25. Lutou minha alma para atingi-la, robusteci-me, pondo-a em prática.
26. Levantei minhas mãos para o alto, e deplorei o erro do meu espírito.
27. Conduzi minha alma para ela, e encontrei-a, ao procurar conhecê-la.
28. Desde o início, graças a ela, possuí o meu coração; eis por que não serei abandonado.
29. Minhas entranhas comoveram-se em procurá-la, e assim adquiri um bem precioso.
30. O Senhor deu-me como recompensa uma língua, e dela me servirei para louvá-lo.
31. Aproximai-vos de mim, ignorantes, reuni-vos na casa do ensino.
32. Por que tardais? Que direis a isto? Vossas almas estão violentamente perturbadas pela sede.
33. Abri a boca e falei: Buscai a sabedoria sem dinheiro!
34. Dobrai a cabeça sob o jugo, receba vossa alma a instrução, porque perto se pode encontrá-la.
35. Vede com os vossos olhos o pouco que trabalhei, e como adquiri grande paz.
36. Recebei a instrução como uma grande soma de prata, e possuireis nela grande quantidade de ouro.
37. Que vossa alma se regozije na misericórdia (de Deus)! E não sereis humilhados quando o louvardes.
38. Cumpri vossa tarefa antes que o tempo (passe) e, no devido tempo, ele vos dará a recompensa.

 

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