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Temas católicos, Liturgia diária, Salmos, Santos do dia.

Isaías

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Isaías

 Capítulo 1

1. Profecia de Isaías, filho de Amós, a respeito de Judá e Jerusalém no tempo de Ozias, de Joatão, de Acaz e de Ezequias, rei de Judá.
2. Ouvi, céus, e tu, ó terra, escuta, é o Senhor que fala: Eu criei filhos e os eduquei, eles, porém, se revoltaram contra mim.
3. O boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo do seu dono; mas Israel não conhece nada, e meu povo não tem entendimento.
4. Ai da nação pecadora, do povo carregado de crimes, da raça de malfeitores, dos filhos desnaturados! Abandonaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel, e lhe voltaram as costas.
5. Onde vos ferir ainda, quando persistis na rebelião? Toda a cabeça está enferma, e todo o coração, abatido.
6. Desde a planta dos pés até o alto da cabeça, não há nele coisa sã. Tudo é uma ferida, uma contusão, uma chaga viva, que não foi nem curada, nem ligada, nem suavizada com óleo.
7. Vossa terra está assolada, vossas cidades, incendiadas. Os inimigos, à vossa vista, devastam vosso país. (É uma desolação, como a ruína de Sodoma).
8. Sião está só como choupana em uma vinha, como choça em pepinal, como cidade sitiada.
9. Se o Senhor dos exércitos não nos tivesse deixado alguns da nossa linhagem, teríamos sido como Sodoma, e ter-nos-íamos tornado como Gomorra.
10. Ouvi a palavra do Senhor, príncipes de Sodoma; escuta a lição de nosso Deus, povo de Gomorra:
11. De que me serve a mim a multidão das vossas vítimas?, diz o Senhor. Já estou farto de holocaustos de cordeiros e da gordura de novilhos cevados. Eu não quero sangue de touros e de bodes.
12. quando vindes apresentar-vos diante de mim, quem vos reclamou isto: atropelar os meus átrios?
13. De nada serve trazer oferendas; tenho horror da fumaça dos sacrifícios. As luas novas, os sábados, as reuniões de culto, não posso suportar a presença do crime na festa religiosa.
14. Eu abomino as vossas luas novas e as vossas festas; elas me são molestas, estou cansado delas.
15. Quando estendeis vossas mãos, eu desvio de vós os meus olhos; quando multiplicais vossas preces, não as ouço. Vossas mãos estão cheias de sangue,
16. lavai-vos, purificai-vos. Tirai vossas más ações de diante de meus olhos.
17. Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido; fazei justiça ao órfão, defendei a viúva.
18. Pois bem, justifiquemo-nos, diz o Senhor. Se vossos pecados forem escarlates, tornar-se-ão brancos como a neve! Se forem vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã!
19. Se fordes dóceis e obedientes, provareis os melhores frutos da terra;
20. se recusardes e vos revoltardes, provareis a espada. É a boca do Senhor que o declara.
21. Como se prostituiu a cidade fiel, Sião, cheia de retidão? A justiça habitava nela, e agora são os homicidas.
22. Tua prata converteu-se em escória, teu vinho misturou-se com água.
23. Teus príncipes são rebeldes, cúmplices de ladrões. Todos eles amam as dádivas e andam atrás do proveito próprio; não fazem justiça ao órfão, e a causa da viúva não é evocada diante deles.
24. Por isso eis o que diz o Senhor, Deus dos exércitos, o Poderoso de Israel: Ah! eu tirarei satisfação de meus adversários, e me vingarei de meus inimigos.
25. Voltarei minha mão contra ti, e te purificarei no crisol, e eliminarei de ti todo o chumbo.
26. Tornarei teus juízes semelhantes aos de outrora, e teus conselheiros como os de antigamente. Então te chamarão Cidade da Justiça, Cidade fiel.
27. Sião será remida pelo direito, e seus convertidos pela justiça..
28. Os rebeldes e os pecadores serão destruídos juntamente, e aqueles que abandonam o Senhor perecerão.
29. Então tereis vergonha dos carvalhos verdes que cobiçais, e corareis de pejo dos jardins que ora vos agradam,
30. porque sereis como um carvalho verde com folhagem seca, e como um jardim sem água.
31. O homem forte será a estopa. e sua obra, a faísca; eles arderão sem que ninguém possa extinguir.

 
Capítulo 2

1. Visão de Isaías, filho de Amós, acerca de Judá e Jerusalém.
2. No fim dos tempos acontecerá que o monte da casa do Senhor estará colocado à frente das montanhas, e dominará as colinas. Para aí acorrerão todas as gentes,
3. e os povos virão em multidão: Vinde, dirão eles, subamos à montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacó: ele nos ensinará seus caminhos, e nós trilharemos as suas veredas. Porque de Sião deve sair a lei, e de Jerusalém, a palavra do Senhor.
4. Ele será o juiz das nações, o governador de muitos povos. De suas espadas forjarão relhas de arados, e de suas lanças, foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se arrastarão mais para a guerra.
5. Casa de Jacó, vinde, caminhemos à luz do Senhor.
6. Vós rejeitastes inteiramente vosso povo, a casa de Jacó, porque ela está cheia de adivinhos do Oriente, e de agoureiros como os filisteus; ela transige com os estrangeiros.
7. A sua terra está cheia de prata e de ouro, e há tesouros sem fim. A sua terra está cheia de cavalos e há um sem-número de carros.
8. A sua terra está cheia de ídolos; os homens se prosternam diante da obra de suas mãos, diante daquilo que seus dedos fabricaram.
9. Os mortais serão abatidos e o homem será humilhado; vós não os perdoareis de maneira nenhuma.
10. Refugiai-vos nos rochedos, escondei-vos debaixo da terra, sob o impulso do terror do Senhor, e do esplendor de sua majestade, quando ele se levantar para aterrorizar a terra.
11. A soberba dos mortais será abatida, e o orgulho dos homens será humilhado. Só o Senhor será exaltado naquele tempo.
12. Porque o Senhor dos exércitos terá um dia (para exercer punição) contra todo ser orgulhoso e arrogante, e contra todo aquele que se exalta, para abatê-lo,
13. contra todos os cedros do Líbano, altos e majestosos, e contra todos os carvalhos de Basã,
14. contra todos os altos montes, e contra todos os outeiros elevados,
15. contra todas as torres altas, e contra todas as muralhas fortificadas,
16. contra todas as naus de Társis e contra todos os objetos de luxo.
17. A pretensão dos mortais será humilhada, o orgulho dos homens será abatido. Só o Senhor será exaltado naquele tempo,
18. e todos os ídolos desaparecerão.
19. Refugiai-vos nas cavernas dos rochedos, e nos antros da terra, sob o impulso do terror do Senhor, e do esplendor de sua majestade, quando ele se levantar para aterrorizar a terra.
20. Naquele tempo o homem lançará aos ratos e aos morcegos os ídolos de prata e os ídolos de ouro, que para si tinha feito a fim de adorá-los;
21. refugiar-se-á nas cavernas dos rochedos e nas fendas da pedreira, por causa do espanto da presença do Senhor, e do esplendor de sua majestade, quando ele se levantar para aterrorizar a terra.
22. Cessai de confiar no homem, cuja vida se prende a um fôlego: como se pode estimá-lo?

 
Capítulo 3

1. Eis que o Senhor, Deus dos exércitos, vai tirar de Jerusalém e de Judá todo sustentáculo, todo recurso: toda a reserva de pão e toda a reserva de água,
2. o valente e o guerreiro, o juiz e o profeta, o adivinho e o ancião,
3. o chefe de cinqüenta, o grande e o conselheiro, aquele que possui segredos, e se dedica aos sortilégios.
4. Por príncipes eu lhes darei meninos, e adolescentes deterão o poder sobre eles.
5. Os povos se maltratarão uns aos outros, cada um (atormentará) seu próximo: o jovem insultará o velho, e o vilão, o nobre.
6. Um homem se aproximará de outro e dirá: Tu tens um manto na casa de teu pai; é mister que sejas nosso príncipe; toma sob teu poder esta ruína.
7. O outro, então, protestará: Eu não posso curar estas chagas; e em minha casa não há nem pão nem manto; não me façais príncipe do povo.
8. Jerusalém, com efeito, ameaça ruína, e Judá se desmorona, porque suas palavras e suas ações se opõem ao Senhor, e desafiam os olhares de sua majestade.
9. Sua parcialidade testemunha contra eles; ostentam seus pecados (como Sodoma), em vez de escondê-los. Ai deles, porque causam dano a si mesmos.
10. Feliz o justo, para ele o bem; ele comerá o fruto de suas obras.
11. Ai do ímpio, para ele o mal; porque ele será tratado segundo as suas obras.
12. O meu povo é oprimido por tiranos caprichosos, e cobradores de impostos o dominam. Povo meu, teus guias te desencaminham, destroem o caminho por onde tu passas.
13. O Senhor se levanta para acusar, e se ergue para julgar seu povo.
14. O Senhor entra em juízo contra os anciãos e os magistrados de seu povo. Fostes vós que devorastes a vinha, o espólio do pobre está em vossas casas.
15. Por que razão calcais aos pés o meu povo, e maltratais a face dos pobres?, declara o Senhor Deus dos exércitos.
16. E o Senhor disse: Já que são pretensiosas as filhas de Sião, e andam com o pescoço emproado, fazendo acenos com os olhos, e caminham com passo afetado, fazendo retinir as argolas de seus tornozelos,
17. o Senhor tornará sua cabeça calva e desnudará sua fronte.
18. Naquele tempo o Senhor lhes tirará as jóias, as argolas, os colares, as lúnulas,
19. os brincos, os braceletes e os véus,
20. os diademas, as cadeias, os cintos, os frascos de perfumes e os amuletos,
21. os anéis e os pingentes da fronte,
22. os vestidos de festa, os mantos, as gazas e as bolsas,
23. os espelhos, as musselinas, os turbantes e as mantilhas.
24. E então, em lugar de perfume, haverá podridão, em lugar de cinto, uma corda, em lugar de cabelos encrespados, uma cabeça raspada, em lugar do largo manto, um cilício, uma cicatriz em lugar da beleza.
25. Teus varões tombarão à espada, e teus bravos, na batalha.
26. Suas portas gemerão e se lastimarão; e ela, despojada, sentar-se-á por terra.

 
Capítulo 4

1. Naquele tempo, sete mulheres disputarão entre si um homem, e dirão: É do nosso pão que comeremos, e de nossas vestes que nos cobriremos. Deixa-nos apenas trazer o teu nome, faze cessar nosso opróbrio.
2. Naquele tempo, aquilo que o Senhor fizer crescer será o ornamento e a glória, e o fruto da terra será o orgulho e o ornato daqueles de Israel que foram salvos.
3. O que restar de Sião, os sobreviventes de Jerusalém, serão chamados santos, e todos os que estiverem computados entre os vivos em Jerusalém.
4. Quando o Senhor tiver lavado a imundície das filhas de Sião, e apagado de Jerusalém as manchas de sangue pelo sopro do direito e pelo vento devastador,
5. o Senhor virá estabelecer-se sobre todo o monte Sião e em suas assembléias: de dia como uma nuvem de fumaça, e de noite como um fogo flamejante. Porque sobre todos se estenderá a glória do Senhor,
6. como a cobertura de uma tenda, à guisa de sombra contra o calor do dia, e de refúgio e abrigo contra a procela e a chuva.

 
Capítulo 5

1. Eu quero cantar para o meu amigo seu canto de amor a respeito de sua vinha: meu amigo possuía uma vinha num outeiro fértil.
2. Ele a cavou e tirou dela as pedras; plantou-a de cepas escolhidas. Edificou-lhe uma torre no meio, e construiu aí um lagar. E contava com uma colheita de uvas, mas ela só produziu agraço.
3. E agora, habitantes de Jerusalém, e vós, homens de Judá, sede juízes entre mim e minha vinha.
4. Que se poderia fazer por minha vinha, que eu não tenha feito? Por que, quando eu esperava vê-la produzir uvas, só deu agraço?
5. Pois bem, mostrar-vos-ei agora o que hei de fazer à minha vinha: arrancar-lhe-ei a sebe para que ela sirva de pasto, derrubarei o muro para que seja pisada.
6. Eu a farei devastada; não será podada nem cavada, e nela crescerão apenas sarças e espinhos; vedarei às nuvens derramar chuva sobre ela.
7. A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta de sua predileção. Esperei deles a prática da justiça, e eis o sangue derramado; esperei a retidão, e eis os gritos de socorro.
8. Ai de vós, que ajuntais casa a casa, e que acrescentais campo a campo, até que não haja mais lugar, e que sejais os únicos proprietários da terra.
9. Os meus ouvidos ouviram ainda este juramento do Senhor dos exércitos: Grande número de casas, eu o juro, será devastado, grandes e magníficas herdades ficarão desabitadas.
10. Dez jeiras de vinha não produzirão mais que um bato, e um homer de semente não dará mais que um efá.
11. Ai daqueles que desde a manhã procuram a bebida, e que se retardam à noite nas excitações do vinho!
12. Amantes da cítara e da harpa, do tamborim e da flauta, e do vinho em seus banquetes, mas para as obras do Senhor não têm um olhar sequer, e não enxergam a obra de suas mãos.
13. Por causa disso meu povo será desterrado sem nada pressentir. Sua nobreza será atenazada pela fome, e a multidão, mirrada pela sede.
14. Por isso a morada dos mortos se alargará, e abrirá desmesuradamente a boca. O esplendor (de Sião) e sua multidão barulhenta, seu alvoroço e sua alegria desaparecerão dela.
15. O homem será curvado, os grandes serão humilhados, os olhares altivos serão abatidos,
16. e o Senhor dos exércitos triunfará no juízo; o Deus santo mostrar-se-á como tal, fazendo justiça.
17. Os cordeiros serão apascentados nesses lugares como em suas pastagens, e sobre as ruínas pastarão os cabritos.
18. Ai daqueles que arrastam a correção com as cordas da indisciplina, e a pena do pecado como com os tirantes de um carro!
19. (Ai) daqueles que dizem: Que ele se avie, que faça já sua obra, a fim de que a vejamos. Que o plano do Santo de Israel se execute para que o conheçamos!
20. Ai daqueles que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que mudam as trevas em luz e a luz em trevas, que tornam doce o que é amargo, e amargo o que é doce!
21. Ai daqueles que são sábios aos próprios olhos, e prudentes em seu próprio juízo!
22. Ai daqueles que põem sua bravura em beber vinho, e sua coragem em misturar licores;
23. (ai) daqueles que, por uma dádiva, absolvem o culpado, e negam justiça àquele que tem o direito a seu lado!
24. Por isso, assim como a palhoça é devorada por uma língua de fogo, e como a palha é consumida pela chama, assim a raiz deles sucumbirá na podridão e sua flor voará como a poeira, porque repudiaram a lei do Senhor dos exércitos, e desprezaram a palavra do Santo de Israel.
25. Por isso o furor do Senhor se inflama contra seu povo, apodera-se dele e o castiga; os montes tremem, seus cadáveres, como carniça, jazem nas ruas. Entretanto, sua cólera não se aplacou, e sua mão está prestes a precipitar-se.
26. Ele arvora uma bandeira para chamar uma nação longínqua, assobia para fazê-la vir dos confins da terra, e ei-la que, ágil, acorre às pressas.
27. Ninguém dentre eles se arrasta ou tropeça, ninguém dorme nem cochila; ninguém desata a cinta de seus rins, nem desaperta a correia dos sapatos.
28. Agudas são as suas flechas e todos os seus arcos, entesados. Os cascos de seus cavalos são (duros) como a pederneira, e as rodas de seus carros assemelham-se à tempestade.
29. É (como) o rugido da leoa, e o rosnar do leãozinho. Ele brame e agarra a sua presa, e a carrega sem que ninguém lha arrebate.
30. Naquele tempo, um estrondo, semelhante ao bramido do mar, retumbará contra ele. Quando olhar a terra, só verá trevas e angústia, e no céu se estenderão nuvens tenebrosas.

 
Capítulo 6

1. No ano da morte do rei Ozias, eu vi o Senhor sentado num trono muito elevado; as franjas de seu manto enchiam o templo.
2. Os serafins se mantinham junto dele. Cada um deles tinha seis asas; com um par (de asas) velavam a face; com outro cobriam os pés; e, com o terceiro, voavam.
3. Suas vozes se revezavam e diziam: Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glória!
4. A este brado as portas estremeceram em seus gonzos e a casa, encheu-se de fumo.
5. Ai de mim, gritava eu. Estou perdido porque sou um homem de lábios impuros, e habito com um povo (também) de lábios impuros e, entretanto, meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!
6. Porém, um dos serafins voou em minha direção; trazia na mão uma brasa viva, que tinha tomado do altar com uma tenaz.
7. Aplicou-a na minha boca e disse: Tendo esta brasa tocado teus lábios, teu pecado foi tirado, e tua falta, apagada.
8. Ouvi então a voz do Senhor que dizia: Quem enviarei eu? E quem irá por nós? Eis-me aqui, disse eu, enviai-me.
9. Vai, pois, dizer a esse povo, disse ele: Escutai, sem chegar a compreender, olhai, sem chegar a ver.
10. Obceca o coração desse povo, ensurdece-lhe os ouvidos, fecha-lhe os olhos, de modo que não veja nada com seus olhos, não ouça com seus ouvidos, não compreenda nada com seu espírito. E não se cure de novo.
11. Até quando, Senhor’ disse eu. E ele respondeu: Até que as cidades fiquem devastadas e sem habitantes, as casas, sem gente, e a terra, deserta;
12. até que o Senhor tenha banido os homens, e seja grande a solidão na terra.
13. Se restar um décimo (da população), ele será lançado ao fogo, como o terebinto e o carvalho, cuja linhagem permanece quando são abatidos. (Sua linhagem é um germe santo).

 
Capítulo 7

1. No tempo de Acaz, filho de Joatão, filho de Ozias, rei de Judá, Rasin, rei de Arão, foi com Pecá, filho de Romelia, rei de Israel, contra Jerusalém para lhe dar combate; mas não pôde apoderar-se dela.
2. Quando se soube, na casa de Davi, que (o exército da) Síria estava acampado em Efraim, o coração do rei e o de seu povo ficaram perturbados como as árvores das florestas agitadas pelos ventos.
3. Então disse o Senhor a Isaías: Vai ter com Acaz, com Sear-Jasub, teu filho, na extremidade do aqueduto do reservatório superior, no caminho do campo do pisoeiro.
4. E dize-lhe: Tem ânimo, não temas, não vacile o teu coração diante desses dois pedaços de tições fumegantes. (Diante do furor de Rasin, da Síria, e do filho de Romelia).
5. Visto que a Síria decidiu tua perdição, com Efraim e o filho de Romelia, dizendo:
6. Vamos contra Judá, nós o bateremos, e nos apoderaremos dele, e proclamaremos rei o filho de Tabeel.
7. Eis o que disse o Senhor Javé: Isso não acontecerá, essas coisas não se realizarão,
8. porque a capital da Síria é Damasco, e a cabeça de Damasco é Rasin. (Dentro de sessenta e cinco anos Efraim desaparecerá do rol dos povos.)
9. E a capital de Efraim é Samaria, e a cabeça de Samaria é o filho de Romelia. Se não o crerdes, não subsistireis.
10. O Senhor disse ainda a Acaz:
11. Pede ao Senhor teu Deus um sinal, seja do fundo da habitação dos mortos, seja lá do alto.
12. Acaz respondeu: De maneira alguma! Não quero pôr o Senhor à prova.
13. Isaías respondeu: Ouvi, casa de Davi: Não vos basta fatigar a paciência dos homens? Pretendeis cansar também o meu Deus?
14. Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco.
15. Ele será nutrido com manteiga e mel até que saiba rejeitar o mal e escolher o bem.
16. Porque antes que o menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra, cujos dois reis tu temes, será devastada.
17. O Senhor fará vir sobre ti, sobre teu povo e sobre a casa de teu pai, dias tais como não houve desde que Efraim se separou de Judá [o rei dos assírios].
18. Naquele dia, o Senhor assobiará às moscas que estão nas margens dos rios do Egito e às abelhas da terra da Assíria.
19. Elas virão pousar em massa nos vales escarpados, nas cavernas dos rochedos, sobre todas as moitas e todas as pastagens.
20. Naquele tempo, com uma navalha emprestada do outro lado do rio [com o rei da Assíria] o Senhor vos raspará a cabeça e os pêlos das pernas, assim como a barba.
21. Naquele tempo, cada homem manterá uma vaca e duas ovelhas;
22. comer-se-á a manteiga de todo o leite que elas derem, porque é de manteiga e mel que viverão aqueles que subsistirem na terra.
23. Naquele tempo, todo terreno que contiver mil vides valendo mil siclos de prata será abandonado às sarças e aos espinhos.
24. Ali só se entrará com setas e arcos, porque toda aquela terra estará coberta de sarças e espinhos. Não se voltará mais aos montes que eram cultivados à enxada, por causa das sarças e dos espinhos; será permitido aos bois pastá-los e serão pisados pelos carneiros.

 
Capítulo 8

1. E o Senhor disse-me: Toma uma grande placa e escreve nela em caracteres legíveis: Maer-chalal-hach-baz. (Toma depressa os despojos, faze velozmente a presa).
2. Tomai por testemunhas fidedignas o sacerdote Urias e Zacarias, filho de Jeberequias.
3. Eu me aproximei da profetisa, que concebeu e deu à luz um filho. (Então) o Senhor me disse Chama-o Maer-Chalal-hach-baz,
4. porque antes que o menino saiba dizer: papai, mamãe, as riquezas de Damasco e os despojos de Samaria serão carregados diante do rei da Assíria.
5. O Senhor disse-me ainda:
6. Porque este povo rejeitou as águas tranqüilas de Siloé, e perdeu o domínio diante de Rasin e do filho de Romelia,
7. o Senhor fará cair sobre ele as águas do rio, abundantes e impetuosas (o rei da Assíria com todo o seu poder); subirá por toda parte pelas suas ribanceiras, transbordará por todas as suas margens,
8. invadirá Judá, inundá-lo-á e o submergirá, e subirá até o pescoço. Com suas asas desdobradas cobrirá toda a terra, ó Emanuel!
9. Aprendei-o, povos, e ficareis consternados. Ouvi com atenção, terras longínquas. Podeis pegar em armas e sereis destruídos;
10. preparai um plano, e ele malogrará; dai ordens e elas não serão executadas, porque Deus está conosco.
11. Porque eis o que o Senhor me disse quando me agarrou e me preveniu contra essa política:
12. Não chameis conspiração tudo aquilo que o povo chama conspiração; não vos assusteis.
13. É o Senhor que vós deveis ter por conspirador; é a ele que é preciso respeitar, a ele que se deve temer.
14. Ele será a pedra de escândalo e a pedra de tropeço para as duas casas de Israel, o laço e a cilada para os habitantes de Jerusalém.
15. Muitos dentre eles vacilarão, cairão e serão despedaçados; serão presos ao laço e apanhados na armadilha.
16. Eu vou recolher esta declaração e selar esta revelação para os meus discípulos.
17. Terei confiança no Senhor que se esconde da casa de Jacó,e esperarei nele.
18. Eu e os filhos que o Senhor me deu somos, em Israel, sinais e presságios da parte do Senhor dos exércitos, que habita no monte de Sião.
19. Se vos disserem: Consultai os espíritos dos mortos, os adivinhos, os que conhecem segredos e dizem em voz baixa: Porventura um povo não deve consultar os seus deuses? Consultar os mortos em favor dos vivos?
20. Para aceitar uma lei e um testemunho. É o que se dirá. Porque não haverá aurora para eles.
21. Andarão errantes pela terra, fatigados e esfomeados; atormentados pela fome, agastar-se-ão e amaldiçoarão o seu rei e o seu Deus. Levantarão os olhos, depois olharão para a terra,
22. e só verão misérias, escuridão e trevas angustiantes. Repelir-se-ão dentro da noite
23. (pois não há trevas onde há angústia?). No passado ele humilhou a terra de Zabulon e de Neftali, mas no futuro cobrirá de honras o caminho do mar, a Transjordânia e o distrito das nações.

 
Capítulo 9

1. O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz.
2. Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos.
3. Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã.
4. Porque todo calçado que se traz na batalha, e todo manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão presa das chamas;
5. porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz.
6. Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino. Ele o firmará e o manterá pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre. Eis o que fará o zelo do Senhor dos exércitos.
7. O Senhor profere uma palavra contra Jacó, e ela vai cair sobre Israel.
8. Todo o povo conhece seus efeitos, Efraim e os habitantes de Samaria, que dizem no seu orgulho e na sua pretensão:
9. Os tijolos caíram, nós edificaremos com pedras lavradas, os sicômoros foram cortados, nós os substituiremos por cedros.
10. O Senhor sustentou seus inimigos contra ele, e estimulou seus adversários.
11. Os arameus do Oriente, os filisteus do Ocidente devoraram Israel com bons dentes. Apesar de tudo, sua cólera não se aplacou, e sua mão está prestes a precipitar-se.
12. O povo, porém, não se voltou para quem o feria, e não buscou o Senhor dos exércitos.
13. Então o Senhor cortou a cabeça e a cauda de Israel, a palma e o junco em um só dia
14. (a cabeça é o ancião e o respeitável, a cauda é o falso profeta).
15. (Aqueles que conduziam esse povo, desencaminharam-no, e os que eles conduziam, perderam-se.)
16. Por isso o Senhor não poupa os jovens e não tem piedade dos órfãos nem das viúvas, porque todos eles são ímpios e perversos, e todas as bocas proferem infames palavras. Apesar de tudo, sua cólera não se aplacou, e sua mão está prestes a precipitar-se.
17. Porque a maldade queima como um fogo que devora as sarças e os espinhos, e depois envolve a espessura da floresta, de onde a fumaça se eleva em turbilhões.
18. Pela cólera do Senhor a terra está em fogo, e o povo veio a ser presa das chamas.
19. Cortam à direita, e têm fome, comem à esquerda, e não se satisfazem. Cada um devora a carne de seu próximo, e ninguém tem piedade de seu irmão;
20. Manassés come Efraim, e Efraim, Manassés; depois os dois juntos atacam Judá. Apesar de tudo, sua cólera não se aplacou, e sua mão está prestes a precipitar-se.

 
Capítulo 10

1. Ai daqueles que fazem leis injustas e dos escribas que redigem sentenças opressivas,
2. para afastar os pobres dos tribunais e negar direitos aos fracos de meu povo; para fazer das viúvas sua presa e despojar os órfãos.
3. Que fareis vós no dia do ajuste de contas, e da tempestade que virá de longe? Junto de quem procurareis auxílio, e onde deixareis vossas riquezas?
4. A menos que vos curveis entre os cativos, tombareis entre os mortos. Apesar de tudo, sua cólera não se aplacou, e sua mão está prestes a precipitar-se.
5. Ai da Assíria, vara de minha cólera e bastão que maneja o meu furor.
6. Eu o enviei contra uma nação ímpia, e o lancei contra o povo, o objeto de minha cólera, para que o entregasse à pilhagem e lhe levasse os despojos, e o calcasse aos pés como a lama das ruas.
7. Mas ele não entendeu dessa maneira, e este não foi o seu pensamento. Ele só pensa em destruir, em exterminar nações em massa.
8. Porque disse: Porventura meus chefes não são todos eles reis?
9. Não teve Calano o destino de Carcamis, Emat, o de Arfad, e Samaria, o de Damasco?
10. Assim como minha mão se apoderou dos reinos de falsos deuses, cujos ídolos eram mais numerosos que os de Jerusalém e de Samaria,
11. assim como tratei Samaria e seus falsos deuses, não devo tratar também Jerusalém e seus ídolos?
12. Quando o Senhor tiver terminado a sua obra no monte Sião e em Jerusalém, ele punirá a linguagem orgulhosa do rei da Assíria e seus olhares insolentes. Porque ele disse:
13. Foi pela força de minha mão que eu agi, e pela minha destreza, porque sou hábil. Dilatei as fronteiras, saqueei os tesouros e lancei por terra aqueles que estavam no trono.
14. Minha mão tomou como um ninho a riqueza dos povos. Assim como se recolhem os ovos abandonados, eu reuni a terra inteira. Ninguém moveu a asa, nem abriu o bico, nem piou.
15. Acaso o machado se vangloria à custa do lenhador? Ou a serra se levanta contra o serrador? Como se a vara fizesse agitar aquele que a maneja, como se o bastão fizesse mover o braço!
16. Por isso o Senhor Deus dos exércitos fará enfraquecer seus robustos guerreiros, e debaixo de sua glória acender-se-á um fogo como o de um incêndio.
17. A luz de Israel tornar-se-á um fogo e seu Santo, uma chama, para queimar e devorar as suas sarças e seus espinhos em um só dia.
18. O esplendor de seu bosque e de seu jardim ele o aniquilará, corpo e alma. (Será como um doente que definha.)
19. Restarão tão poucas árvores em sua floresta, que um menino poderá contá-las.
20. Naquele tempo, o restante de Israel e os remanescentes da casa de Jacó deixarão de apoiar-se naquele que os fere, mas apoiar-se-ão com confiança no Senhor, o Santo de Israel.
21. Um resto voltará, um resto de Jacó, para o Deus forte.
22. Ainda que teu povo fosse inumerável como a areia do mar, dele só voltará um resto. A destruição está resolvida, a justiça vai tirar a desforra.
23. Esta sentença de ruína o Senhor Deus dos exércitos executará no centro de toda a terra.
24. Por isso o Senhor Deus dos exércitos disse: Povo meu, que habitas em Sião, não temas o assírio que te castiga com a vara, e brande seu bastão contra ti, como outrora os egípcios.
25. Porque dentro de muito pouco tempo meu ressentimento contra vós terá fim e minha cólera o aniquilará.
26. O Senhor Deus dos exércitos vibrará o açoite contra ele como quando feriu Madiã no penhasco de Oreb, e quando estendeu seu bastão sobre o mar, contra o Egito.
27. Naquele tempo, o peso que ele te impôs será tirado de teus ombros, e o seu jugo desaparecerá de teu pescoço… Ele avança pelo lado de Rimon,
28. vai contra Aiat; passou por Magron, e depositou sua bagagem em Micmas;
29. transpuseram o desfiladeiro, e acamparam em Gaba. Ramá está aterrorizada, e Gabaat de Saul, tomada de pânico.
30. Levanta tua voz, ó filha de Galim; escuta, Laís; responde-lhe Anatot.
31. Medmena está em fuga, e os habitantes de Gabim retiraram-se;
32. mais um dia de pouso em Nobe, e depois ele levantará sua mão contra o monte Sião, contra a colina de Jerusalém.
33. O Senhor Deus dos exércitos, com um golpe terrível, abate os ramos, as grandes árvores são cortadas, e as mais altas lançadas por terra;
34. a ramagem da floresta tomba pelo ferro, e o Líbano desaba pela força.

 
Capítulo 11

1. Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes.
2. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor.
3. (Sua alegria se encontrará no temor ao Senhor.) Ele não julgará pelas aparências, e não decidirá pelo que ouvir dizer;
4. mas julgará os fracos com eqüidade, fará justiça aos pobres da terra, ferirá o homem impetuoso com uma sentença de sua boca, e com o sopro dos seus lábios fará morrer o ímpio.
5. A justiça será como o cinto de seus rins, e a lealdade circundará seus flancos.
6. Então o lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se deitará ao pé do cabrito, o touro e o leão comerão juntos, e um menino pequeno os conduzirá;
7. a vaca e o urso se fraternizarão, suas crias repousarão juntas, e o leão comerá palha com o boi.
8. A criança de peito brincará junto à toca da víbora, e o menino desmamado meterá a mão na caverna da áspide.
9. Não se fará mal nem dano em todo o meu santo monte, porque a terra estará cheia de ciência do Senhor, assim como as águas recobrem o fundo do mar.
10. Naquele tempo, o rebento de Jessé, posto como estandarte para os povos, será procurado pelas nações e gloriosa será a sua morada.
11. Naquele tempo, o Senhor levantará de novo a mão para resgatar o resto de seu povo, os sobreviventes da Assíria e do Egito (de Patros, da Etiópia, de Elão, de Senaar, de Emat e das ilhas do mar).
12. Levantará o seu estandarte entre as nações, reunirá os exilados de Israel, e recolherá os dispersos de Judá dos quatro cantos da terra.
13. A inveja de Efraim abrandar-se-á, e os inimigos de Judá se desvanecerão. (Efraim não mais invejará Judá, e Judá não será mais inimigo de Efraim.)
14. Eles voarão para o lado dos filisteus ao Ocidente e, juntos, saquearão os filhos do Oriente. Estenderão a mão sobre a Iduméia e Moab, e os amonitas lhes serão submissos.
15. Assim como o Senhor pôs a seco o braço de mar do Egito, com seu sopro ardente, ele estenderá a mão sobre o rio e o dividirá em sete braços, de sorte que se poderá atravessar a vau.
16. O caminho se abrirá para o resto de seu povo que escapar da Assíria, como se abriu para Israel no tempo em que ele saiu da terra do Egito.

 
Capítulo 12

1. E dirás naquele tempo: Eu vos rendo graças, Senhor, porque vos irritastes; vossa cólera se aplacou e vós me consolastes.
2. Eis o Deus que me salva, tenho confiança e nada temo, porque minha força e meu canto é o Senhor, e ele foi o meu salvador.
3. Vós tirareis com alegria água das fontes da salvação,
4. e direis naquele tempo: Louvai ao Senhor, invocai o seu nome, fazei que suas obras sejam conhecidas entre os povos; proclamai que seu nome é sublime.
5. Cantai ao Senhor, porque ele fez maravilhas, e que isto seja conhecido por toda a terra.
6. Exultai de gozo e alegria, habitantes de Sião, porque é grande no meio de vós o Santo de Israel.

 
Capítulo 13

1. Oráculo contra Babilônia, revelado a Isaías, filho de Amós.
2. Levantai o estandarte sobre a colina escalvada, elevai a voz contra eles. Fazei-lhes sinal com as mãos, para que transponham as portas dos nobres.
3. Em minha cólera requisitei minhas tropas sagradas, e chamei os meus bravos e meus altivos triunfadores.
4. Escutai esse ruído sobre os montes como vozerio de grande multidão; escutai o tumulto dos reinos e das nações reunidas. É o Senhor dos exércitos que passa em revista suas tropas para a batalha.
5. Chegam de uma terra longínqua, da extremidade dos céus, o Senhor e os instrumentos de seu furor, para devastar toda a terra.
6. Lamentai-vos, porque o dia do Senhor está próximo como uma devastação provocada pelo Todo-poderoso.
7. Por causa disso deixam cair os braços; todos perdem a coragem;
8. ficam cheios de terror… Tomados de convulsões e dores, eles se retorcem como uma mulher em parto. Olham uns para os outros e têm o rosto em fogo.
9. Eis que virá o dia do Senhor, dia implacável, de furor e de cólera ardente, para reduzir a terra a um deserto, e dela exterminar os pecadores.
10. Nem as estrelas do céu, nem suas constelações brilhantes, farão resplandecer sua luz; o sol se obscurecerá desde o nascer, e a lua já não enviará sua luz.
11. Punirei o mundo por seus crimes, e os pecadores por suas maldades. Abaterei o orgulho dos arrogantes e humilharei a pretensão dos tiranos.
12. Tornarei os homens mais raros que o ouro fino, e os mortais mais raros que o metal de Ofir.
13. Farei oscilar os céus, e a terra abalada será sacudida pela ira do Senhor Deus dos exércitos, no dia do seu furor ardente.
14. Então, como uma gazela assustada, como um rebanho que ninguém recolhe, cada um voltará para seu povo, e fugirá para sua terra.
15. Todos aqueles que forem encontrados serão mortos; os que forem apanhados serão passados à espada.
16. Seus filhinhos serão massacrados diante de seus olhos, suas casas serão saqueadas, e suas mulheres, violadas.
17. Suscitarei contra eles os medos, que não se interessam pela prata, nem apreciam o ouro.
18. Seus arcos abaterão os jovens; não terão compaixão pelos frutos das entranhas, nem piedade das crianças.
19. Então Babilônia, a pérola dos reinos, a jóia de que os caldeus tanto se orgulham, será destruída por Deus, como Sodoma e Gomorra.
20. Nunca mais será habitada, nem povoada até o fim dos tempos. O árabe não mais erguerá aí sua tenda, os pastores não amalharão aí seus rebanhos,
21. as feras terão aí seu covil, os mochos freqüentarão as casas, as avestruzes morarão aí, e os sátiros farão aí suas danças.
22. Os chacais uivarão nos seus palácios, e os lobos, nas suas casas de prazer. Sua hora está próxima e seus dias estão contados.

 
Capítulo 14

1. Porque o Senhor terá compaixão de Jacó, e ainda dará a Israel a sua predileção e os restabelecerá na sua terra, os estrangeiros se reunirão a eles e se agregarão à casa de Jacó.
2. Os povos virão buscá-los para conduzi-los à sua morada. Possuí-los-á a casa de Israel na terra do Senhor como servos e como servas. Conservarão prisioneiros aqueles que os tinham detido, e dominarão seus opressores.
3. Quando o Senhor te tiver aliviado de tuas penas, de teus tormentos e da dura servidão a que estiveste sujeito,
4. cantarás esta sátira contra o rei de Babilônia, e dirás: Como? Não existe mais o tirano! Acabou-se a tormenta!
5. O Senhor despedaçou o bastão dos perversos e o cetro dos opressores.
6. Ele feria os povos com fúria, vibrando golpes sem interrupção, e governava as nações com brutalidade, subjugando-as sem piedade.
7. Toda a terra conhece o repouso e a paz, todos exultam em cantos de alegria.
8. Até os ciprestes se regozijam de tua queda, dizendo com os cedros do Líbano: Desde que caíste, não sobe até nós o lenhador.
9. Debaixo da terra se agita a morada dos mortos, para receber-te à tua chegada; despertam em tua honra as sombras dos grandes, e todos os senhores da terra, e levantam-se de seus tronos todos os reis das nações.
10. Todos tomam a palavra para dizer-te: Finalmente, eis-te fraco como nós, eis-te semelhante a nós.
11. Tua majestade desceu à morada dos mortos, acompanhada do som de tuas harpas. Jazes sobre um leito de vermes e os vermes são a tua coberta.
12. Então! Caíste dos céus, astro brilhante, filho da aurora! Então! Foste abatido por terra, tu que prostravas as nações!
13. Tu dizias: Escalarei os céus e erigirei meu trono acima das estrelas. Assentar-me-ei no monte da assembléia, no extremo norte.
14. Subirei sobre as nuvens mais altas e me tornarei igual ao Altíssimo.
15. E, entretanto, eis que foste precipitado à morada dos mortos, ao mais profundo abismo.
16. Detêm-se para ver-te melhor, e procuram reconhecer-te: Porventura é aquele que fazia tremer a terra, e abalava os impérios,
17. que fazia do mundo um deserto, e destruía as cidades, e impedia os prisioneiros de voltarem para suas casas?
18. Todos os reis das nações, todos repousam com glória, cada um no seu túmulo;
19. tu, porém, foste atirado para longe de teu sepulcro, como um aborto que causa horror. Os cadáveres dos homens mortos à espada jazem sobre as pedras de uma tumba;
20. tal como uma carniça que se calca aos pés, tu não te reunirás a eles no sepulcro, porque arruinaste tua terra, e fizeste perecer o teu povo. Nunca, jamais se falará da raça dos ímpios.
21. Preparai o massacre dos filhos por causa da iniqüidade dos pais. Que eles não se levantem para conquistar o mundo, e invadir toda a face da terra.
22. Levantar-me-ei contra eles, declara o Senhor dos exércitos, apagarei o nome e o vestígio de Babilônia, sua raça e sua posteridade, diz o Senhor.
23. Farei dela o domínio da garça real, um lodaçal. Varrê-la-ei com a vassoura da destruição, – palavra do Senhor dos exércitos.
24. Jurou o Senhor dos exércitos: Por certo será feito como eu decidi, e o que resolvi se cumprirá.
25. Esmagarei o assírio em minha terra e o calcarei aos pés nos meus montes. Serão livres de seu jugo, e o seu fardo não lhes pesará nos ombros.
26. Eis a decisão tomada para toda a terra; é assim que eu estendo a mão sobre todas as nações.
27. O Senhor dos exércitos decidiu, quem mudará sua sentença? Sua mão está estendida, quem o fará retirá-la?
28. Este oráculo data do ano da morte do rei Acaz:
29. Não te alegres, ó terra dos filisteus, de que tenha sido quebrada a vara que te feria, porque da estirpe da serpente nascerá uma áspide, e seu fruto será um dragão voador.
30. Os humildes poderão pastar nas minhas pastagens, e os pobres dormirão tranqüilos. Eu farei, porém, morrer de fome a tua raça, e matarei tua posteridade.
31. Lamenta-te, ó porta! Grita, ó cidade! Treme, ó terra inteira dos filisteus! Porque do norte vem uma nuvem de poeira, e batalhões em filas cerradas.
32. E que responderá (meu povo) aos mensageiros desta nação? Que o Senhor fundou Sião, e que os humildes de seu povo aí encontrarão o refúgio.

 
Capítulo 15

1. Oráculo contra Moab. Sim, atacada de noite, Ar-Moab foi destruída. Sim, atacada de noite, Quir-Moab foi destruída.
2. O povo de Dibon subiu aos lugares altos para chorar, ao Nebo e ao Medaba: Moab lamenta-se. Todas as cabeças estão raspadas, todas as barbas cortadas.
3. Na rua vestem burel e lamentam-se nos terraços. Tudo geme e se desfaz em pranto.
4. Hesebon e Eleale soltam gritos, e sua voz chega até Jasa. Também Moab sente seus rins fremirem e sua alma desfalecer.
5. Do fundo do coração Moab geme, seus fugitivos alcançam Segor (em Eglat-Salisia). Sim, a subida de Luit, fazem-na chorando. Sim, pela estrada de Oronaim soltam gritos de aflição.
6. Ah! As águas de Nemrim se esgotaram. A erva secou, a relva murchou, e as plantas não mais existem,
7. Por isso levam seus bens e suas provisões para além da torrente dos salgueiros.
8. Porque o clamor circula por todas as fronteiras de Moab, suas lamentações ecoam até Eglaim, suas lamentações atingem Beer-Elim.
9. Porque as águas de Dimon estão cheias de sangue (porque enviarei sobre Dimon novos infortúnios, um leão contra os remanescentes de Moab e contra os sobreviventes de Adma).

 
Capítulo 16

1. Enviai o cordeiro ao soberano da terra de Selá, pelo deserto, ao monte de Sião.
2. Como aves espantadas, como ninhada dispersa, tais serão as filhas de Moab na passagem do Arnon.
3. Dá teu aviso, intervém como árbitro, cobre-nos com tua sombra como a noite, em pleno meio-dia; esconde os exilados, não traias os fugitivos.
4. Deixa morar em tua casa os exilados de Moab, sê o seu refúgio contra o devastador, até que o opressor desapareça, a devastação tenha fim, e o invasor deixe a terra.
5. O trono se consolidará pela bondade; nele sentará constantemente, na casa de Davi, um juiz amante do direito e zeloso da justiça.
6. Nós conhecemos o orgulho de Moab, o soberbo, sua arrogância, sua altivez, sua insolência e a perfídia de sua língua.
7. Por isso Moab geme sobre Moab e todos se lamentam. Pelos bolos de uvas de Quir-Hasereth, eles suspiram consternados;
8. porque o campo de Hesebon está seco e os soberanos das nações saquearam a vinha de Sabama, cujos sarmentos atingiram Jáser e se perdiam no deserto, cujos rebentos se prolongavam e atravessavam o mar.
9. Por isso eu choro com Jáser sobre a vinha de Sabama; banho-vos com minhas lágrimas, Hesebon e Eleale; porque sobre vossa colheita e vossa messe retumbou o grito do pisoeiro.
10. A alegria e a animação desapareceram dos pomares, nas vinhas não há mais cantos nem vozes alegres; já não se pisa a vindima nas cubas, e o grito do pisoeiro cessou.
11. Por isso estremeço sobre Moab como uma harpa, e meu coração geme sobre Quir-Hares;
12. por mais que Moab se agite nos lugares altos, por mais que visite seus santuários para orar, nada obterá.
13. Esse é o oráculo que o Senhor pronunciou outrora contra Moab.
14. E agora, ele declara: Dentro de três anos, contados como os anos de um assalariado, a soberania de Moab, tão considerável, será insignificante, e dela não restará senão um débil vestígio.

 
Capítulo 17

1. Oráculo contra Damasco. Damasco vai ser suprimida do número das cidades, e será reduzida a ruínas abandonadas para sempre.
2. Suas cidades serão abandonadas aos rebanhos que virão repousar aí sem que ninguém os enxote.
3. Foi tirado o baluarte de Efraim, foi tirada a realeza de Damasco; os restos de Aarão perecerão, passarão como a glória de Israel. Oráculo do Senhor dos exércitos.
4. Naquele dia a glória de Jacó declinará, e sua gordura reduzir-se-á em magreza,
5. como quando o ceifador já colheu o trigo e seu braço cortou as espigas, alguém rebusca as searas no vale de Rafaim;
6. aí não haverá para respigar, como quando já se varejou as oliveiras, senão dois ou três bagos no mais alto topo. Oráculo do Senhor, Deus de Israel.
7. Naquele dia o homem voltará seus olhares para o seu Criador, seus olhos verão o Santo de Israel;
8. e ele não olhará mais aquilo que seus dedos fizeram (as estacas sagradas e as estelas ao sol).
9. Naquele dia, tuas cidades serão abandonadas como as cidades despovoadas dos amorreus e dos heveus, abandonadas no tempo da invasão dos israelitas. Elas ficarão desabitadas,
10. porque esqueceste o Deus que te salva, e não te lembraste de tua fortaleza! Esforçar-te-ás em vão para plantar jardins de Adônis, e neles semear plantas exóticas;
11. no dia em que plantares, vê-los-ás crescer, e numa bela manhã tua planta dará flores; porém a colheita será nula no dia do infortúnio, e o mal, irremediável.
12. Oh! Esse barulho de povo numeroso, esse rumor semelhante ao do mar! Esse tumulto de nações poderosas, semelhante ao brilhar de águas impetuosas!
13. Ele as ameaça e elas fogem para longe como, nas alturas, a palha levada pelo vento, como a poeira levantada pela tempestade.
14. Quando veio a noite, houve terror, e antes da manhã, nada mais restava deles. Esta será a sorte daqueles que nos saqueiam, tal será o quinhão daqueles que nos despojam.

 
Capítulo 18

1. Oh! terra em que ressoa o ruído de asas, além dos rios da Etiópia,
2. tu enviaste mensageiros por mar, em barcos de papiro, sobre a face das águas. Ide, mensageiros velozes, a um povo de alta estatura e de pele luzente, a uma nação temida ao longe, a uma nação poderosa e dominadora, cuja terra é cortada pelos rios.
3. Vós, que habitais o mundo e povoais a terra, quando o estandarte se erguer nas alturas, olhai. E quando soar a trombeta, ouvi!
4. Pois eis o que o Senhor me disse: Eu olho com serenidade do lugar onde me encontro, como o calor suave de um dia luminoso, como a nuvem que dá o orvalho durante o calor da messe.
5. Porque antes da vindima, quando tiver passado a floração, e a flor se tornar um cacho amadurecente, os sarmentos serão cortados com a foice, e as cepas serão aparadas e arrancadas,
6. e serão todos abandonados aos abutres dos montes, aos animais selvagens da planície; os abutres viverão deles no estio e os animais selvagens da planície os comerão no inverno.
7. Naquele tempo serão levadas oferendas ao Senhor dos exércitos da parte do povo de alta estatura e pele luzente, do povo temido ao longe, da nação poderosa e dominadora, cuja terra é cortada pelos rios; serão levadas ao lugar onde reside o nome do Senhor dos exércitos, sobre o monte Sião.

 
Capítulo 19

1. Oráculo contra o Egito. Eis que o Senhor, montado numa nuvem rápida, vem ao Egito. Os ídolos do Egito tremem diante dele e o Egito sente desfalecer sua coragem.
2. Excitarei os egípcios, uns contra os outros, e eles se baterão irmão contra irmão, amigo contra amigo, cidade contra cidade, reino contra reino.
3. O Egito perderá a cabeça, e eu abolirei sua prudência. Consultarão os ídolos e os feiticeiros, os evocadores de mortos e os adivinhos.
4. Entregarei esta terra nas mãos de um soberano cruel, um rei implacável a dominará. Oráculo do Senhor dos exércitos.
5. As águas do mar se estancarão, e o rio se tornará seco e árido.
6. A água estagnará nos canais, os rios do Egito diminuirão e secarão. Juncos e caniços murcharão
7. nas campinas à margem do Nilo; tudo o que cresce ao longo do rio secará, cairá e desaparecerá;
8. os pescadores ficarão desolados, os que lançam o anzol no rio se lamentarão, e os que lançam suas redes às águas ficarão consternados.
9. Os que trabalham o linho ficarão decepcionados, os cardadores e os tecelães serão confundidos,
10. os tecedores ficarão à míngua, e todos os trabalhadores em desolação.
11. Os príncipes de Soã enlouquecerão, os sábios conselheiros do faraó formarão um conselho insensato. Como ousais dizer ao faraó: Eu sou filho de sábios, filho dos antigos reis?
12. Onde estão agora os teus sábios? Que eles te anunciem e te façam saber os desígnios do Senhor dos exércitos contra o Egito!
13. Os príncipes de Soã perdem a razão, os príncipes de Nof são iludidos; e os chefes das tribos desencaminham o Egito.
14. O Senhor difundiu entre eles um espírito de vertigem, e eles vagueiam por todo o Egito sem desígnio certo, como um bêbado que cambaleia em seu vômito.
15. O Egito não está em condições de decidir o que devem fazer a cabeça e a cauda, a palma e o junco.
16. Naquele tempo, os egípcios serão como mulheres, tremerão de medo sob a ameaça da mão do Senhor levantada sobre eles.
17. Então a terra de Judá será o terror do Egito; logo que se fale nela, ele se encherá de pavor, por causa dos desígnios que o Senhor dos exércitos formou contra ele.
18. Naquele tempo, haverá no Egito cinco cidades que falarão a língua de Canaã e jurarão pelo Senhor dos exércitos. Uma delas será chamada a Cidade do Sol.
19. Naquele tempo, haverá um altar erguido ao Senhor, em pleno Egito, e, em suas fronteiras, um obelisco dedicado ao Senhor.
20. E eles servirão de monumento ao Senhor na terra do Egito. Quando maltratados pelos opressores, invocarão o Senhor, e ele lhes enviará um salvador, um defensor que os libertará.
21. O Senhor se dará a conhecer ao Egito, os egípcios conhecerão o Senhor naquele tempo, e lhe oferecerão sacrifícios e oblações; farão votos ao Senhor e os cumprirão.
22. Quando o Senhor ferir os egípcios, será para curá-los; eles se voltarão para o Senhor, que se deixará aplacar e os curará.
23. Naquele tempo, haverá um caminho do Egito para a Assíria; os assírios irão ao Egito, e os egípcios, à Assíria. O Egito e a Assíria renderão culto ao Senhor.
24. Naquele tempo, Israel será, como terceiro, aliado ao Egito e à Assíria, objeto da bênção no meio da terra que o Senhor dos exércitos abençoará nestes termos: Bendito seja meu povo do Egito, a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança!

 
Capítulo 20

1. No ano em que veio a Azot o general enviado por Sargão, rei da Assíria, este assediou Azot e apoderou-se dela.
2. (Naquele tempo o Senhor tinha falado pelo ministério de Isaías, nestes termos: Vai, desata o saco que trazes às costas e tira as sandálias dos teus pés. Isaías dispôs-se a executá-lo, ia nu e descalço.)
3. O Senhor disse: Do mesmo modo que meu servo Isaías vagueia nu e descalço há três anos, para dar uma imagem do que aguarda o Egito e a Etiópia,
4. assim serão levados pelo rei da Assíria os prisioneiros egípcios e os deportados da Etiópia, moços e velhos, nus e descalços, com o dorso descoberto (a nudez do Egito).
5. Então aqueles que esperavam na Etiópia e punham no Egito a sua confiança serão amedrontados e confundidos.
6. Os habitantes desta costa dirão naquele dia: Eis aqueles em quem esperávamos, entre os quais queríamos encontrar proteção, procurar auxílio e socorro contra o rei da Assíria! Como nos livraremos deles?

 
Capítulo 21

1. Oráculo do deserto marítimo. Como um furacão desencadeado do meio-dia, assim vem isto do deserto, de uma terra horrível.
2. Uma visão sinistra me foi revelada: O salteador rouba, o destruidor devasta. Arroja-te, ó Elão, assaltai, ó medos; não tenhais piedade.
3. Por essa causa tenho os rins atenazados, e sou tomado de dores como uma mulher no parto. Atordoa-me o sofrimento, cega-me o terror;
4. minha razão desvaira, o terror me invade, e o crepúsculo desejado causa-me espanto.
5. Põem a mesa, estendem o tapete, comem e bebem… Alerta, capitães! Untai o escudo.
6. Porque o Senhor me disse: Vai postar uma sentinela! Que ela te anuncie o que vir!
7. Se vir uma fila de cavaleiros, dois a dois, uma fila de asnos, outra de camelos, que preste atenção, muita atenção.
8. E então grite: Eu vejo! Em meu posto de guarda, Senhor, eu me mantenho o dia inteiro; em meu observatório permaneço de pé todas as noites.
9. Eis que vem a cavalaria, cavaleiros dois a dois. Tomam a palavra e dizem-me: Caiu, caiu Babilônia! Todos os simulacros de seus deuses foram despedaçados contra a terra.
10. Ó povo meu, pisado, malhado como o grão, o que aprendi do Senhor dos exércitos, do Deus de Israel, eu te anuncio.
11. Oráculo contra Edom. Gritam-me de Seir: Sentinela, em que pé está a noite? Sentinela, em que pé está a noite?
12. E a sentinela responde: A manhã chega, igualmente a noite. Se quereis sabê-lo, voltai a interrogar.
13. Oráculo das estepes. Passai a noite nas brenhas da estepe, caravanas de dedanitas;
14. ide levar água àqueles que têm sede, habitantes da terra de Pemá, ide oferecer pão aos fugitivos.
15. Porque fogem diante das espadas, diante da espada nua, diante do arco retesado, diante do rude combate.
16. Porque eis o que me disse o Senhor: Ainda (um) ano, contado como os anos do mercenário, e desaparecerá o império de Cedar.
17. E só ficará um punhado dos valentes arqueiros, filhos de Cedar. O Senhor, Deus de Israel, o disse.

 
Capítulo 22

1. Oráculo do vale da Visão. Que tens, pois, para subir em multidão aos terraços,
2. cidade ruidosa, cidade turbulenta, cidade alegre! Teus mortos não foram transpassados pela espada, nem mortos em combate.
3. Todos os teus chefes escaparam e fugiram para longe; teus bravos foram feitos prisioneiros sem que tivessem estirado o arco.
4. Por isso eu digo: Não me olheis, deixai-me derramar lágrimas amargas, não procureis consolar-me da ruína de meu povo.
5. Porque este é um dia de derrota, de esmagamento e de confusão, enviado pelo Senhor, Deus dos exércitos. No vale da Visão abalam a muralha e gritam para a montanha.
6. Elão toma sua aljava, Arão monta a cavalo, Quir prepara o seu escudo.
7. Teus belos vales estão atravancados de carros, os cavaleiros postam-se às tuas portas:
8. tirou-se o véu de Judá! Nesse dia voltais os olhos para o arsenal do palácio da Floresta.
9. Olhais as brechas da cidade de Davi e vedes que elas são numerosas. Acumulais as águas da piscina inferior,
10. examinais as casas de Jerusalém e as demolis para consolidar a muralha.
11. Cavais um reservatório entre os dois muros para as águas da piscina velha. Mas não olhais para aquele que quis estas coisas, e não vedes aquele que as preparou já de há muito.
12. O Senhor Deus dos exércitos vos convida nesse dia a chorar e a dar brados de pesar, a raspar a cabeça e a cingir o cilício.
13. E eis que tudo se destina à alegria e ao prazer; matam bois, degolam carneiros, comem carne e bebem vinho: Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos!
14. Porém o Senhor dos exércitos revelou-me: jamais este crime será perdoado sem que sejais mortos. Oráculo do Senhor, Deus dos exércitos.
15. Contra Sobna, prefeito do palácio. Eis o que diz o Senhor, Deus dos exércitos: Vai ter com esse ministro,
16. que cava para si um sepulcro num lugar elevado, que talha para si uma morada na rocha. Que propriedade tens aqui, que parentes tens nela, para ousares cavar-te nela um sepulcro?
17. Eis que o Senhor te lança com força, ó grande homem, arremessa-te, rolando,
18. lançando-te como uma bola para uma terra vasta em todo o sentido. É lá que morrerás, lá será a tua famosa tumba! Ó vergonha da casa de teu senhor!
19. Depor-te-ei de teu cargo e arrancar-te-ei do teu posto.
20. Naquele dia chamarei meu servo Eliacim, filho de Helcias.
21. Revesti-lo-ei com a tua túnica, cingi-lo-ei com o teu cinto, e lhe transferirei os teus poderes; ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá.
22. Porei sobre seus ombros a chave da casa de Davi; se ele abrir, ninguém fechará, se fechar, ninguém abrirá;
23. fixá-lo-ei como prego em lugar firme, e ele será um trono de honra para a casa de seu pai.
24. Dele estarão pendentes todos os membros de sua família, os ramos principais e os ramos menores, toda espécie de vasos, desde os copos até os jarros.
25. Porém, um belo dia, diz o Senhor dos exércitos, o prego, fincado em lugar firme, cederá, arrancar-se-á e cairá, e toda a carga que ele sustentava será feita em pedaços: palavra do Senhor.

 
Capítulo 23

1. Oráculo contra Tiro. Lastimai-vos, navios de Társis, porque vosso porto foi destruído. Foi no regresso de Chipre que eles receberam a nova.
2. Estão estupefatos os habitantes da costa, o mercador de Sidon, o corredor do mar,
3. cujos mensageiros navegam ao largo. O grão de Sihor era a sua colheita, e sua renda era tirada do comércio das nações.
4. Envergonha-te, Sidon, porque o mar (a fortaleza do mar) te diz: Eu não concebi nem dei à luz. Não criei rapazes nem eduquei moças.
5. Quando o Egito receber esta nova, tremerá ao ter conhecimento da sorte de Tiro.
6. Passai a Társis, lastimai-vos, habitantes da costa.
7. Acaso não é a vossa cidade gloriosa, cuja origem remonta aos dias antigos, e que dirigia seus passos para se estabelecer ao longe?
8. Quem, pois, tomou essa decisão contra Tiro, essa cidade coroada, cujos mercadores eram soberanos, e os traficantes, fidalgos da terra?
9. Foi o Senhor dos exércitos quem o decidiu, para ferir o orgulho da nobreza e para aviltar os mais considerados da terra.
10. Cultiva agora a terra, filha de Társis, teu porto já não existe.
11. O Senhor estendeu a mão sobre o mar e abalou os reinos. Ele ordenou a destruição das fortalezas de Canaã.
12. E disse: Cessa de rejubilar-te, Sidon, filha desonrada! Levanta-te e vai estabelecer-te em Chipre! Mesmo lá, não terás repouso.
13. Reduziram-na a ruínas.
14. Lastimai-vos, navios de Társis, porque vosso porto foi destruído.
15. Naquele tempo, Tiro será esquecida durante setenta anos. No reinado de outro rei, ao fim de setenta anos, realizar-se-á para ela a canção da meretriz:
16. Toma a tua cítara, percorre a cidade, meretriz esquecida, toca com perfeição, canta a toda voz para que se lembrem de ti.
17. No fim de setenta anos, o Senhor visitará Tiro, e ela recomeçará a enriquecer-se, mantendo comércio com todos os reinos do mundo, em toda a superfície da terra.
18. Porém, os lucros, que lhe trouxer seu comércio, serão consagrados ao Senhor, em vez de serem entesourados; seu comércio aproveitará àqueles que habitam na presença do Senhor, a fim de que tenham com que se nutrir com abundância e se vestir magnificamente.

 
Capítulo 24

1. Eis que o Senhor devasta a terra e a torna deserta, transtorna a sua face e dispersa seus habitantes.
2. Isso acontece ao sacerdote como ao leigo, ao senhor como ao escravo, à senhora como à serva, ao vendedor como ao comprador, ao que empresta como ao que toma emprestado, ao credor como ao devedor.
3. A terra será totalmente devastada, inteiramente pilhada, porque o Senhor assim o decidiu.
4. A terra está na desolação, murcha; o mundo definha e esmorece, e os chefes do povo estão aterrados.
5. A terra foi profanada por seus habitantes, porque transgrediram as leis, violaram as regras e romperam a aliança eterna.
6. Por isso a maldição devora a terra e seus habitantes expiam suas penas; os habitantes da terra são consumidos, um pequeno número de homens sobrevive.
7. O mosto está triste, a vinha, murcha, e os que tinham o coração em alegria suspiram.
8. O som alegre dos tamborins cessou, os risos morreram e o som alegre da cítara calou-se.
9. Não se canta mais bebendo vinho. O licor é amargo ao bebedor.
10. A cidade desordenada está em ruínas, todas as casas fechadas, para que ninguém possa entrar nelas.
11. Gritam nas ruas: Não há mais vinho! Acabada a alegria, o regozijo foi banido da terra.
12. Na cidade só restam escombros e a porta arrombada está em pedaços,
13. pois isso acontece na terra, no meio dos povos, como com as oliveiras que alguém vareja, como com as uvas que, acabada a vindima, alguém rebusca.
14. Eles elevam a voz e cantam, do lado do mar aclamam a majestade do Senhor:
15. Glorificai, pois, ao Senhor, nas regiões da luz, e, nas ilhas do mar, o nome do Senhor, Deus de Israel.
16. Dos confins da terra, ouvimos cantar: Honra ao justo! Eu, porém, disse: Infeliz de mim, infeliz de mim! Ai de mim! Os salteadores saqueiam, os salteadores obstinam-se na pilhagem.
17. O terror, a fossa e a cilada vão apanhar-te, habitante da terra.
18. O que fugir para escapar do terror cairá na fossa, o que se livrar da fossa será preso no laço. Porque as comportas lá do alto abrir-se-ão e os fundamentos da terra serão abalados.
19. A terra é feita em pedaços: estala, fende-se, é sacudida,
20. cambaleia como um homem embriagado e balança como uma rede. Seus crimes pesam sobre ela, e ela cairá para não mais se levantar.
21. Naquele tempo o Senhor, lá do alto, examinará a milícia celeste e os reis do mundo, sobre a terra.
22. Serão amontoados como prisioneiros num calabouço, serão encerrados numa prisão, e, depois de muitos dias, serão castigados.
23. A lua corará de vergonha e o sol empalidecerá, porque o Senhor dos exércitos reinará sobre o monte Sião e em Jerusalém, e sua glória resplandecerá diante de seus anciãos.

 
Capítulo 25

1. Senhor, vós sois meu Deus; exaltar-vos-ei e celebrarei vosso nome, porque executastes maravilhosos desígnios, concebidos, de há muito, com firme constância.
2. Reduzistes a cidade a um montão de pedras e a fortaleza a um acervo de ruínas. A cidadela dos orgulhosos está aniquilada e jamais será reconstruída.
3. Por isso um povo forte vos glorifica e a sociedade das nações valentes vos venera.
4. Porque vós sois refúgio para o fraco, refúgio para o pobre na sua tribulação, abrigo contra a tempestade e sombra contra o calor. (Porque o sopro dos tiranos é como uma tempestade de inverno,
5. como o calor sobre uma terra árida. Vós fazeis cessar o clamor dos tiranos, assim como cessa o calor à sombra de uma nuvem. O canto triunfal dos tiranos extinguir-se-á).
6. O Senhor dos exércitos preparou para todos os povos, nesse monte, um banquete de carnes gordas, um festim de vinhos velhos, de carnes gordas e medulosas, de vinhos velhos purificados.
7. Nesse monte tirará o véu que vela todos os povos, a cortina que recobre todas as nações,
8. e fará desaparecer a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e tirará de toda a terra o opróbrio que pesa sobre o seu povo, porque o Senhor o disse.
9. Naquele dia dirão: Eis nosso Deus do qual esperamos nossa libertação. Congratulemo-nos, rejubilemo-nos por seu socorro,
10. porque a mão do Senhor repousa neste monte, enquanto que Moab é pisada no seu lugar como pisada é a palha no monturo.
11. Aí estende as suas mãos como as estende o nadador para nadar. Porém, (o Senhor) abate o seu orgulho, e frustra-lhe o esforço das mãos.
12. Suas muralhas, soberbas e fortes, ele as faz cair e as arrasa até o rés-do-chão.

 
Capítulo 26

1. Naquele tempo será cantado este cântico na terra de Judá: Nós vimos uma cidade forte, em que se pôs por proteção muro e antemuro.
2. Abri as portas, deixai entrar um povo justo, que respeita a fidelidade,
3. que tem caráter firme e conserva a paz, porque tem confiança em vós.
4. Tende sempre confiança no Senhor, porque o Senhor é o rochedo perene.
5. Ele derrubou os que habitavam nas alturas e destruiu a cidade soberba; derrubou-a por terra e ao nível do chão a reduziu.
6. Ela é calcada aos pés pela plebe, sob os passos dos indigentes.
7. O caminho do justo é reto; vós aplanais a senda do justo.
8. Seguindo a vereda de vossos juízos, Senhor, nós vos esperamos; por vosso nome e vossa memória nossa alma aspira.
9. Minha alma vos deseja durante a noite e meu espírito vos procura desde a manhã. Quando vossos juízos se exercem sobre a terra, os habitantes do mundo aprendem a justiça.
10. Porém, se se perdoar o ímpio, ele não aprenderá a justiça; na terra da retidão ele se entregará ao mal e não verá a majestade do Senhor.
11. Senhor, vossa mão está levantada sem que o percebam. Que vejam vosso ardente amor por vosso povo, e sejam confundidos; e que o fogo, bom para os vossos inimigos, os devore.
12. Senhor, proporcionai-nos a paz! Pois vós nos tendes tratado segundo o nosso procedimento.
13. Senhor, nosso Deus, outros senhores, além de vós, nos têm dominado, mas não queremos reconhecer outro senão vós.
14. Os mortos não reviverão, as sombras não ressuscitarão, porque vós os castigastes e destruístes e apagastes até sua memória.
15. Aumentai a nação, Senhor (aumentai a nação), manifestai vossa grandeza, e dilatai as fronteiras da nação.
16. Senhor, na tribulação, nós vos buscamos, e clamamos a vós na angústia em que vosso castigo nos abate.
17. Como uma mulher grávida, prestes a dar à luz, se retorce e grita em suas dores, assim estamos diante de vós, Senhor:
18. nós concebemos e sofremos para dar à luz (o vento), sem poder dar a salvação à nossa terra; não nasceram novos habitantes no mundo.
19. Que os vossos mortos revivam! Que seus cadáveres ressuscitem! Que despertem e cantem aqueles que jazem sepultos, porque vosso orvalho é um orvalho de luz e a terra restituirá o dia às sombras.
20. Vai, povo meu, entra nos teus quartos, fecha atrás de ti as portas. Esconde-te por alguns instantes até que a cólera passe,
21. porque o Senhor vai sair de sua morada para punir os crimes dos habitantes da terra; porque a terra fará brotar o sangue que ela bebeu, e não ocultará mais os corpos dos assassinados.

 
Capítulo 27

1. Naquele dia o Senhor ferirá, com sua espada pesada, grande e forte, Leviatã, o dragão fugaz, Leviatã, o dragão tortuoso; e matará o monstro que está no mar.
2. Naquele dia se dirá: Cantai a bela vinha!
3. Eu, o Senhor, sou o vinhateiro; no momento oportuno eu a rego, a fim de que seus sarmentos não murchem. Dia e noite eu a vigio,
4. e nada tenho contra ela. Se nela crescerem sarças e espinhos, eu lhes farei guerra e os queimarei a todos,
5. a menos que se coloquem sob minha proteção, que façam a paz comigo, que façam comigo a paz!
6. Um dia Jacó lançará raízes, Israel produzirá flores e botões, e eles cobrirão o mundo de frutos.
7. Porventura (o Senhor) os feriu como feriu aqueles que os feriam? Massacrou-os como massacrou aqueles que os massacravam?
8. Ele operou justiça, mediante a expulsão e o exílio deles, arrebatando-os com seu sopro impetuoso como o vento do Oriente.
9. Assim foi expiado o crime de Jacó, e este é o resultado do perdão de seu pecado: ele quebrou as pedras dos altares, como se trituram as pedras de cal; as estacas sagradas e os monumentos ao sol não se erguem mais,
10. porque a cidade forte é agora uma solidão, uma morada abandonada como o deserto. Aí vêm pastar os bois e aí pernoitam e comem os seus ramos.
11. Tão logo os galhos secos se quebram, as mulheres vêm e lhes põem fogo. É um povo sem compreensão, por isso seu Criador não tem piedade dele, aquele que o formou não lhe dá nenhum perdão.
12. Naquele tempo o Senhor malhará o trigo desde o leito do rio até a torrente do Egito. E vós sereis apanhados um a um, filhos de Israel.
13. Naquele tempo soará a grande trombeta. E serão vistos chegar os exilados da terra da Assíria, e os fugitivos espalhados pela terra do Egito. Eles adorarão o Senhor no monte santo, em Jerusalém.

 
Capítulo 28

1. Ai da coroa pretensiosa dos embriagados de Efraim e da flor murcha que faz ostentação de seu ornato, dominando o vale fértil de homens vencidos pelo vinho.
2. Eis que vem, por ordem do Senhor, um homem forte e poderoso como chuva de pedras, um furacão destruidor. Como trombas de água que se abatem com violência, precipita (tudo) por terra.
3. Será pisada aos pés a coroa pretensiosa dos embriagados de Efraim,
4. e a flor murcha que faz ostentação de seu ornato, dominando o vale fértil. Será como o figo prematuro, antes do verão, que a gente vê, logo colhe, e apenas o tem na mão, já o devora.
5. Naquele dia o Senhor dos exércitos será uma coroa resplandecente, um diadema esplêndido para o resto do seu povo,
6. um espírito de justiça para o juiz que faz parte do tribunal, e de valentia, para aqueles que rechaçam às portas o inimigo.
7. Mas também estes titubeiam sob o efeito do vinho, alucinados pela bebida; sacerdotes e profetas cambaleiam na bebedeira. Estão afogados no vinho, desnorteados pela bebida, perturbados em sua visão, vacilando em seus juízos.
8. Todas as mesas estão cobertas, de asqueroso vômito, não há sequer um lugar limpo.
9. A quem pretende ele ensinar a sabedoria? A quem quer fazer compreender as revelações? A meninos apenas desmamados que acabam de deixar o seio?
10. E ordem sobre ordem, ordem sobre ordem, norma sobre norma, norma sobre norma, ora para cá, ora para lá!
11. Pois bem, será por gente que balbucia, será numa língua bárbara que o Senhor falará a esse povo!
12. Por mais que se lhes dissesse: Eis o repouso, deixai repousar aquele que está fatigado, é o momento de estarem calmos, eles nada quiseram ouvir.
13. Por isso a palavra de Deus lhes vai dizer: Ordem sobre ordem, ordem sobre ordem, norma sobre norma, norma sobre norma, ora para cá, ora para lá! A fim de que caiam de costas e se despedacem, e sejam apanhados no laço e presos.
14. Escutai, pois, gracejadores, a palavra do Senhor, vós que governais esse povo que está em Jerusalém.
15. Fizemos um pacto com a morte, dizeis vós, uma convenção com a morada dos mortos; a inundação passará sem atingir-nos porque fizemos da mentira um abrigo, e da perfídia um refúgio.
16. Por isso o Senhor Deus lhes diz: Eu coloquei em Sião uma pedra, um bloco escolhido, uma pedra angular preciosa, de base: quem confiar nela não tropeçará.
17. Tomarei o direito por fio de prumo e, por nível, a justiça. O granizo derrubará o abrigo da mentira, e as águas inundarão o refúgio ilusório.
18. Vosso pacto com a morte será quebrado, vosso entendimento com a morada dos mortos não subsistirá; quando a onda transbordante passar, sereis por ela esmagados.
19. Cada vez que ela passar, arrebatar-vos-á, porque ela passará cada manhã (de dia e de noite). E aí só haverá terror na interpretação de oráculos.
20. Porque o leito será muito curto para que alguém se deite nele, e o cobertor muito estreito para que alguém se cubra com ele.
21. Porque o Senhor se levantará como no monte Perasim e fremirá como no vale de Gabaon para concluir sua obra, sua obra singular, para executar seu trabalho, seu trabalho inaudito.
22. Assim, pois, cessai de zombar para que vossos grilhões não se apertem, porque eu ouvi uma sentença de ruína por ordem do Senhor dos exércitos (contra toda a terra).
23. Aplicai os ouvidos para ouvir minha voz, sede atentos para escutar minha palavra!
24. Porventura o trabalhador trabalha sempre (para semear)? Cava e amanha incessantemente o seu terreno?
25. Acaso, depois de ter aplainado a superfície, não espalhará aí a nigela e semeará o cominho? Ele lançará aí o trigo e a cevada, e a espelta a eito.
26. É o seu Deus quem o instruiu, quem lhe ensinou o costume.
27. Pois não será necessário pisar a nigela com a grade, nem passar a roda do carro sobre o cominho; mas a nigela será batida com um pau e o cominho com a vara.
28. E preciso triturar o trigo? Não, não se bate indefinidamente. Uma vez que sobre ele passe a roda do carro, joeira-se sem triturá-lo.
29. Isso também vem do Senhor: admirável é seu conselho e alta a sua sabedoria.

 
Capítulo 29

1. Ai de Ariel, ai de Ariel, a cidade em que Davi acampou! Ajuntai um ano a outro; que se complete um ciclo de festas,
2. e cercarei Ariel, haverá prantos e gemidos; e tu te tornarás para mim como um ariel.
3. Acamparei contra ti como Davi, cercar-te-ei de acampamentos e levantarei trincheiras contra ti.
4. Falarás baixinho, da terra; tua voz sufocada subirá da poeira (tua voz sairá da terra como a de um espectro, tua palavra se elevará da poeira como um ganido).
5. A multidão de teus inimigos será como a poeira fina; a multidão de teus soldados será como a palha, que voa, pois, de repente,
6. serás visitada pelo Senhor dos exércitos com forte trovão, tremor de terra e estrondos, tempestade, furacão e chamas de fogo devorador.
7. Como se dissipa um sonho, uma visão noturna, assim se desvanecerá a multidão das nações que atacam Ariel, os acampamentos e as trincheiras daqueles que a sitiam.
8. Isso acontecerá tal como acontece com o esfomeado que sonha estar comendo e desperta com o estômago vazio, tal como o sequioso que sonha estar bebendo e acorda fatigado pela sede; assim será feito da multidão das nações que atacam a montanha de Sião.
9. Pasmai-vos e maravilhai-vos, obstinai-vos, feridos de cegueira, embriagai-vos, mas não de vinho, cambaleai, mas não por causa da bebida.
10. Porque o Senhor espalhou sobre vós um espírito de torpor, fechou vossos olhos e cobriu vossas cabeças.
11. A revelação de todos esses acontecimentos permanece para vós como o texto de um livro selado. Quando o oferecem a um letrado, pedindo-lhe que o leia, ele responde: Não posso, o livro está selado;
12. se o oferecem a um iletrado, pedindo-lhe que o leia, ele responde: Não sei ler.
13. O Senhor disse: Esse povo vem a mim apenas com palavras e me honra só com os lábios, enquanto seu coração está longe de mim e o temor que ele me testemunha é convencional e rotineiro,
14. por isso continuarei a tratar esse povo de modo tão estranho que a sabedoria dos espertalhões se perderá e a inteligência dos astutos desaparecerá.
15. Ai daqueles que querem esconder do Senhor seus desígnios, que fazem intrigas nas trevas e dizem: Quem nos vê e quem nos conhece?
16. Que perversidade a vossa! Pode-se tratar como barro o oleiro? Pode a obra dizer do artífice: Ele nada me fez? Pode o pote dizer do oleiro: Ele nada entende disso?
17. Acaso, dentro de mui pouco tempo, não será o Líbano convertido em vergel, e o vergel não passará por floresta?
18. Naquele tempo os surdos ouvirão as palavras de um livro; e, livres da obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão.
19. Os humildes encontrarão cada vez mais ventura no Senhor e os homens mais pobres, graças ao Santo de Israel, estarão jubilosos.
20. Pois não haverá mais tiranos, já terá desaparecido o cético, e todos os que planejavam o mal serão exterminados;
21. os que, por uma palavra, acusam os outros; os que, à porta, procuram enganar o juiz e por um nada fazem o inocente perder sua causa.
22. Por isso eis o que disse o Senhor, o Deus da casa de Jacó, que resgatou Abraão: Daqui em diante Jacó não será mais confundido, e seu rosto não mais empalidecerá,
23. porque, quando virem nele minha obra, bendirão o meu nome. Glorificarão o Santo de Jacó e temerão o Deus de Israel.
24. Os espíritos desencaminhados aprenderão sabedoria, e os que murmuravam receberão instrução.

 
Capítulo 30

1. Ai dos filhos rebeldes, diz o Senhor, eles seguem um plano que não vem de mim. Concluem alianças sem o meu consentimento, acumulando, assim, falta sobre falta.
2. Eles se voltam para o Egito sem me consultar, para refugiar-se sob a proteção do faraó, para abrigar-se à sombra do Egito.
3. O apoio do faraó ser-vos-á decepção e o abrigo à sombra do Egito, uma ignomínia.
4. Ainda que os chefes estejam em Soã e que os embaixadores tenham atingido Hanes,
5. todo mundo será enganado por esse povo inútil, que não dá nem auxílio nem socorro, e só causa decepção e opróbrio.
6. (Oráculo contra as feras do sul): Para a terra da tribulação e da angústia, de onde vêm o leão e a leoa, a víbora e o dragão voador, conduzirão as riquezas sobre o dorso de jumentos, e os tesouros sobre a corcova de camelos, para ofertá-los a um povo que não lhes serve de nada.
7. O socorro do Egito é ineficaz e nulo por isso eu o chamo Raab, o inerte.
8. Agora, pois, vai escrever estas coisas numa prancheta, inscreve-as num livro, a fim de que isso permaneça para o futuro e seja um testemunho eterno.
9. Porque este é um povo rebelde, são filhos mentirosos, filhos que se recusam a ouvir as instruções do Senhor.
10. E dizem aos videntes: Não vejais, e aos profetas: Não nos anuncieis a verdade, dizei-nos coisas agradáveis, profetizai-nos fantasias.
11. Afastai-vos do caminho, retirai-vos da vereda, deixai de colocar-nos sob os olhos do Santo de Israel.
12. Por isso, eis a réplica do Santo de Israel: Visto que rejeitais esta advertência, para fiar-vos de meios tortuosos e perversos, e procurar aí vosso apoio,
13. acontecerá para vós, por causa desse crime, como uma fenda que forma saliência numa muralha elevada: de improviso e num instante sobrevém o desabamento;
14. quebra-se como um pote de barro despedaçado sem piedade, de modo que os destroços não ofereçam sequer um caco para apanhar brasas no fogão ou tirar água da cisterna.
15. Porque aqui está o que disse o Senhor Deus, o Santo de Israel: É na conversão e na calma que está a vossa salvação; é no repouso e na confiança que reside a vossa força. Porém, sem nada querer ouvir,
16. vós dissestes: Não, galoparemos a cavalo – pois bem, fugireis, portanto; montaremos corcéis ligeiros – pois bem, sereis perseguidos numa corrida veloz.
17. (Mil fugirão à ameaça de um só), à ameaça de cinco inimigos, deitar-vos-eis a fugir até que não subsista mais do que um vestígio (escasso), como um mastro no cume de um monte, como um estandarte sobre uma colina.
18. É por isso que o Senhor está desejoso de vos perdoar; é por isso que ele se ergue para vos poupar; porque o Senhor é um Deus justo; ditosos aqueles que nele esperam.
19. Sim, povo de Sião, que habitas em Jerusalém, não terás mais de que chorar. À voz de tua súplica ele te fará misericórdia; assim que a ouvir, ele te atenderá.
20. (Quando o Senhor vos tiver dado o pão da angústia e a água da tribulação) aquele que te instrui não se esconderá mais, e verás com teus olhos aquele que te ensina.
21. Ouvirás com teus ouvidos estas palavras retumbarem atrás de ti: É aqui o caminho, andai por ele, quando te desviares quer para a direita, quer para a esquerda.
22. Acharás imundo o revestimento de prata de teus ídolos esculpidos e as aplicações de ouro de tuas estátuas fundidas: arrojá-los-ás como imundícies, gritando-lhes: Fora daqui!
23. (O Senhor) dará chuvas às sementes com que proverdes o solo e o pão que produzir a terra será nutritivo e saboroso. Naquele dia teu gado pastará em vastas pastagens;
24. os bois e os asnos, que trabalham a terra, comerão uma forragem salgada que será joeirada com a pá e com a peneira.
25. Então, em todo monte alto e em toda colina elevada haverá arroios de água corrente, no dia da grande mortandade, em que desabarão as fortalezas.
26. Então a luz da lua será viva como a do sol, e a do sol brilhará sete vezes mais (como a luz de sete dias), no dia em que o Senhor pensar a chaga de seu povo e curar as contusões dos golpes que recebeu.
27. Vede! É o nome do Senhor que vem de longe, sua cólera é ardente, uma nuvem pesada se levanta, seus lábios respiram furor, e sua língua é como um fogo devorador.
28. Seu sopro assemelha-se a uma torrente transbordante cuja água sobe até o pescoço. Ele passará as nações no crivo destruidor e porá nos queixos dos povos um freio que os desencaminhe.
29. Vós, porém, fareis retumbar vossos cânticos, como na noite em que se celebra festa; e tereis alegria no coração, como o que caminha ao som da flauta, para vir ao monte do Senhor, junto ao rochedo de Israel.
30. O Senhor fará retumbar sua voz majestosa, e mostrará como o seu braço desaba em sua cólera ardente, nas chamas de um fogo devorador, na tempestade, com chuva e granizo.
31. À voz do Senhor, o assírio tremerá e será ferido pela vara.
32. A cada golpe da vara vingadora (que o Senhor lhe infligirá), soarão tamborins e cítaras.
33. Sim, um lugar de incineração está preparado também para Moloc, cavado, profundo e largo; palha e lenha ali há em quantidade, e o sopro do Senhor, como uma torrente de enxofre, acendê-lo-á.

 
Capítulo 31

1. Ai daqueles que vão ao Egito buscar socorros, e que contam com a cavalaria, que se fiam no número de carros e no valor dos cavaleiros, em vez de voltarem seus olhares para o Santo de Israel e de consultarem o Senhor.
2. Entretanto, ele também é sábio, e faz vir o mal; não retira sua palavra, e se ergue contra a casa dos maus, e contra a ajuda daqueles que fazem o mal.
3. O egípcio é homem e não deus, seus cavalos são carne e não espírito. Quando o Senhor estender a mão, o protetor cambaleará e o protegido cairá. E eles perecerão conjuntamente.
4. Eis, pois, o que me diz o Senhor: Assim como ruge um leão, um jovem leão que defende sua presa, ainda que se congregue contra ele um tropel de pastores, sem se deixar intimidar pelos seus gritos, e sem recuar diante do número, assim o Senhor dos exércitos descerá ao combate, sobre o monte de Sião e sobre sua colina.
5. Como aves que voam, o Senhor dos exércitos protegerá Jerusalém, pondo-a ao abrigo, libertando-a, poupando e salvando.
6. Voltai, pois, filhos de Israel, àquele de quem estais tão profundamente separados.
7. Naquele dia cada um lançará fora seus ídolos de prata e seus ídolos de ouro, obras de vossas mãos criminosas.
8. O assírio cairá sob os golpes de uma espada que não é de homem, uma espada que não é de um mortal e fará dele sua presa. Ele fugirá diante da espada, e seus jovens guerreiros serão subjugados.
9. Seu rochedo desaparecerá de terror, seus chefes, espavoridos, abandonarão seu estandarte. Palavra do Senhor, cujo fogo está em Sião, e a fornalha em Jerusalém.

 
Capítulo 32

1. Eis que um rei reinará segundo a justiça, e os príncipes governarão com eqüidade.
2. Cada um deles será como um abrigo contra o vento, um refúgio contra a chuva torrencial; como um fio de água num chão ressecado, e como a sombra de um alto rochedo em terra ressequida.
3. Os olhos dos que vêem não mais serão ofuscados, e os ouvidos dos que ouvem estarão atentos.
4. Os espíritos insensatos dispor-se-ão a compreender, e a língua dos gagos falará prontamente e com clareza;
5. não mais se qualificará de nobre ao perverso, nem ao trapaceiro, de grande.
6. Porque o insensato profere loucuras e seu coração dá-se ao mal; comete impiedades, forma sobre o Senhor conceitos errôneos, deixa o faminto queixar-se de sua miséria, priva da bebida àquele que tem sede.
7. As intrigas do trapaceiro são desleais, ele maquina desígnios criminosos para perder os humildes com mentiras, o pobre que faz valer seu direito;
8. o fidalgo, porém, tem pensamentos dignos, e um procedimento nobre.
9. Mulheres descuidadas, escutei minha voz. Jovens confiantes demais, ouvi minhas palavras.
10. Dentro de um ano e alguns dias, tremereis, indolentes, porque a vindima estará perdida e a colheita, frustrada.
11. Fremi, descuidadas, tremei, confiantes. Despi-vos até estardes nuas. Cingi os vossos rins,
12. batei nos vossos peitos, (chorando) sobre a sorte dos campos férteis e das vinhas fecundas,
13. sobre as terras de meu povo, onde só crescem sarças, sobre todas as casas de prazer da cidade alegre.
14. O palácio está deserto, a cidade barulhenta está abandonada. Ofel e a torre de guarda serão para sempre planaltos desnudos, onde vagueiam os asnos selvagens e pastam os rebanhos.
15. Até que sobre nós se derrame o espírito do alto, então o deserto se mudará em vergel, e o vergel tomará o aspecto de uma floresta;
16. no deserto reinará o direito, e a justiça residirá no vergel.
17. A justiça produzirá a paz e o direito assegurará a tranqüilidade;
18. meu povo habitará em mansão serena, em moradas seguras, em abrigos tranqüilos.
19. (A floresta será abatida e a cidade, humilhada).
20. Bem-aventurados sereis por semear à margem de todos os cursos de água, e por deixar o boi e o asno sem peias.

 
Capítulo 33

1. Ai de ti, devastador que ainda não foste devastado, salteador que ainda não foste saqueado! Quando acabares de devastar, serás devastado, quando acabares de saquear, serás saqueado.
2. Senhor, tende piedade de nós, pois esperamos em vós. Sede nosso auxílio em cada manhã e nosso socorro no tempo da tribulação.
3. Ao fragor de vosso trovão, os povos fogem; quando vós vos ergueis, as nações se dispersam.
4. Recolherão o despojo como se amontoam os gafanhotos, saltam por cima assim como se atiram os gafanhotos.
5. O Senhor é grande, porque reina no alto; ele enche Sião de retidão e de justiça.
6. Teus dias estarão em segurança. A sabedoria e o conhecimento garantem a salvação, e o temor do Senhor será o seu tesouro.
7. Eis que a gente de Ariel lamenta nas ruas, os mensageiros de paz choram amargamente.
8. Os caminhos estão desertos, não há mais transeuntes nas veredas; o inimigo violou o tratado, desprezou as testemunhas, e não teve consideração para com ninguém.
9. A terra está enlutada e abatida, o Líbano, desonrado e ressequido, Saron assemelha-se a uma estepe, Basã e o Carmelo perdem sua folhagem.
10. Agora eu me erguerei, diz o Senhor, agora eu me manifestarei em toda a minha sublimidade.
11. Vós concebestes feno e gerareis palha; meu sopro, como um fogo, vos consumirá.
12. Os povos serão calcinados como espinhos cortados que se queimam.
13. Vós, que estais longe, ouvi o que eu fiz; vós, que estais perto, conhecei o meu poder.
14. Em Sião os pecadores serão aterrados, o medo apoderar-se-á dos ímpios. Quem de nós poderá permanecer perto deste fogo devorador? Quem de nós poderá permanecer perto das chamas eternas?
15. Aquele que procede bem e diz a verdade, que não quer um benefício extorquido, que não quer tocar um presente corruptor, que fecha os ouvidos aos propósitos sanguinários e cerra os olhos para não ver o mal.
16. Semelhante homem habitará nas alturas, e terá por asilo os rochedos fortificados; seu pão lhe é dado e a água lhe é assegurada.
17. Teus olhos verão o rei no seu esplendor, e contemplarão um grande território.
18. Teu coração recordará os terrores passados: Que foi feito do cobrador? Que foi feito do fiscal? Onde está aquele que inspecionava as fortificações?
19. Tu não verás mais aquele povo insolente, aquele povo de linguagem ininteligível, de língua bárbara que ninguém compreende.
20. Olha para Sião, a cidade de nossas festas; teus olhos verão Jerusalém, habitação tranqüila, tenda bem fixada, cujas estacas jamais serão arrancadas, nem as cordas rompidas.
21. Lá, na verdade, temos o arroio do Senhor, que nos serve de rios com largos canais; aí não passa embarcação a remo e nenhum navio imponente o sulca.
22. Porque o Senhor é nosso juiz, o Senhor é nosso legislador; o Senhor é nosso rei que nos salvará.
23. (Teus cordames afrouxaram, não sustentam mais o mastro e não estendem mais a vela.) Então o próprio cego apoderar-se-á da sua parte de um grande despojo, e os próprios coxos se entregarão ao saque;
24. ninguém mais (em Jerusalém) se dirá doente: o povo dessa cidade terá seus pecados perdoados.

 
Capítulo 34

1. Aproximai-vos, nações, para ouvir, e vós, Povos, estai atentos! Que ouça a terra e tudo o que ela contém, o mundo e tudo o que ele produz,
2. porque o Senhor está indignado contra todas as nações e enfurecido contra todas as suas tropas. Ele as devotou ao massacre e as destinou ao morticínio.
3. Os que forem mortos serão atirados sem sepultura, e o mau cheiro exalará de seus cadáveres; os montes serão banhados de sangue,
4. que escorrerá de todas as colinas; os céus se enrolarão como um livro, e todo o seu exército tombará, como cai da vinha a folha morta, como deixa a figueira o verdor emurchecido,
5. porque, nos céus, está inebriada (de cólera) a espada do Senhor. Ela vai precipitar-se sobre Edom, sobre o povo que ele destinou ao castigo.
6. A espada do Senhor está coberta de sangue, está impregnada de gordura, do sangue dos cordeiros e dos bodes, da gordura dos rins dos carneiros. Porque há um sacrifício ao Senhor em Bosra, uma grande carnificina na terra de Edom;
7. em vez de búfalos, os povos aí tombarão, uma multidão de robustos guerreiros, em lugar de touros. Sua terra embeber-se-á de sangue, o chão impregnar-se-á de gordura.
8. Porque é para o Senhor um dia de vingança, um ano de desforra para o defensor de Sião.
9. As torrentes da terra mudar-se-ão em pez, e sua terra em enxofre; o chão tornar-se-á pez que arderá
10. dia e noite; jamais se extinguirá, e sua fumaça subirá de geração em geração; (ela) será transformada em deserto por toda a eternidade, e jamais alguém passará por ali.
11. Será domínio do mocho e da garça, a coruja e o corvo habitá-la-ão. O Senhor estenderá sobre ela o cordel da destruição, e o fio de prumo da desolação.
12. Os sátiros farão aí sua morada, … seus covis. Nela não mais se falará em rei, e todos os seus príncipes terão desaparecido.
13. Os espinhos crescerão em seus palácios, as urtigas e os cardos, em suas fortalezas; será o covil dos chacais e o parque das avestruzes.
14. Nela se encontrarão cães e gatos selvagens, e os sátiros chamarão uns pelos outros; espectro noturno freqüentará esses lugares e neles encontrará o seu repouso.
15. A serpente lá fará seu ninho e porá ovos, chocá-los-á e fará sair da casca os filhotes; lá também se ajuntarão os abutres, nenhum estará ausente.
16. Procurai no livro do Senhor (e lede): nem um só deles faltará, porque é a boca do Senhor que os mandou, e seu espírito que os ajuntou.
17. Foi ele que lhes designou seu quinhão, foi sua mão que lhes repartiu a terra com o cordel. Eles a possuirão para sempre, habitá-la-ão de geração em geração.

 
Capítulo 35

1. O deserto e a terra árida regozijar-se-ão. A estepe vai alegrar-se e florir. Como o lírio
2. ela florirá, exultará de júbilo e gritará de alegria. A glória do Líbano lhe será dada, o esplendor do Carmelo e de Saron; será vista a glória do Senhor e a magnificência do nosso Deus.
3. Fortificai as mãos desfalecidas, robustecei os joelhos vacilantes.
4. Dizei àqueles que têm o coração perturbado: Tomai ânimo, não temais! Eis o vosso Deus! Ele vem executar a vingança. Eis que chega a retribuição de Deus: ele mesmo vem salvar-vos.
5. Então se abrirão os olhos do cego. E se desimpedirão os ouvidos dos surdos;
6. então o coxo saltará como um cervo, e a língua do mudo dará gritos alegres. Porque águas jorrarão no deserto e torrentes, na estepe.
7. A terra queimada se converterá num lago, e a região da sede, em fontes. No covil dos chacais crescerão caniços e papiros.
8. E haverá uma vereda pura, que se chamará o caminho santo; nenhum ser impuro passará por ele, e os insensatos não rondarão por ali.
9. Nele não se encontrará leão, nenhum animal feroz transitará por ele; mas por ali caminharão os remidos,
10. por ali voltarão aqueles que o Senhor tiver libertado. Eles chegarão a Sião com cânticos de triunfo, e uma alegria eterna coroará sua cabeça; a alegria e o gozo possuí-los-ão; a tristeza e os queixumes fugirão.

 
Capítulo 36

1. No décimo quarto ano do reinado de Ezequias aconteceu que Senaquerib, rei da Assíria, atacou todas as cidades fortificadas de Judá e se apoderou delas.
2. O rei da Assíria tinha enviado de Laquis a Jerusalém, contra o rei Ezequias, o general de exército com um poderoso contingente de tropas. Ele tomou posição ao pé do aqueduto do reservatório superior, no caminho do campo do pisoeiro.
3. Eliacim, filho de Helcias, prefeito do palácio, foi ter com ele, junto com o escriba Sobna e o cronista Joaé, filho de Asaf.
4. O general lhes disse: Eis o que direis a Ezequias: Assim fala o grande rei, o rei da Assíria: de onde te vem tanta confiança?
5. Tu só dizes palavras vãs. Entretanto, é de prudência e de bravura que se precisa na guerra. Sobre quem, então, pões tua confiança para contra mim te revoltares?
6. Eu o vejo: é com o Egito que tu contas, com esse caniço rachado que fere e transpassa a mão quando alguém sobre ele se apóia. Eis o que é o faraó, rei do Egito, para todos os que confiam nele.
7. Dir-me-eis, sem dúvida, que é no Senhor, vosso Deus, que pondes vossa confiança. Mas não é esse Deus de quem Ezequias suprimiu os lugares altos e os altares, dizendo ao povo de Judá e Jerusalém: É somente diante desse altar que vos prostrareis?
8. Pois então, faze uma convenção com meu soberano, o rei da Assíria. Eu fornecerei dois mil cavalos, se puderes encontrar cavaleiros para montá-los.
9. Mas como serás capaz de repelir um só dos menores oficiais de meu soberano? Contas com o Egito para arranjar carros e cavaleiros?
10. Porventura foi sem o consentimento do Senhor que ataquei esta terra para destruí-la? O Senhor foi quem me disse: Vai contra aquela terra e a destrói.
11. Eliacim, Sobna e Joaé disseram ao general: Fala a teus servos em aramaico, pois nós entendemos esse dialeto; não nos fales em hebraico, posto que a turba que está sobre a muralha pode ouvir-nos.
12. Porém o general replicou: Porventura é (unicamente) a teu soberano e a ti que meu soberano me encarregou de transmitir esta mensagem? Não é antes a esses homens que estão sobre as muralhas e que vão ser reduzidos, como vós, a comer seus excrementos e a beber sua urina?
13. O general adiantou-se, então, e se pôs a gritar em hebraico: Escutai o que disse o grande rei, o rei da Assíria!
14. Eis o que disse o rei: Não vos deixeis enganar por Ezequias; ele é incapaz de vos livrar.
15. Que ele não vos leve a confiar no Senhor, dizendo que o Senhor vos livrará e que esta cidade não cairá nas mãos do rei da Assíria!
16. Não escuteis o rei Ezequias! Eis o que vos diz o rei da Assíria: Fazei a paz comigo. Rendei-vos. Cada um de vós poderá comer o fruto de sua vinha e de sua figueira e beber a água de seu poço,
17. até que eu venha conduzir-vos a uma terra semelhante à vossa, uma terra de trigo e de vinho, uma terra de cereais e de vinhas.
18. Que Ezequias não abuse de vós dizendo que o Senhor vos livrará! Porventura os deuses das outras nações as livraram cada uma das mãos do rei da Assíria?
19. Onde estão os deuses de Hamat e Arfad? Onde estão os deuses de Sefarvaim? Porventura livraram eles a Samaria de minha mão?
20. Dentre todos os deuses dessas terras qual é o que salvou sua terra de minha mão? Por que então o Senhor preservaria Jerusalém?
21. O povo guardou silêncio. Não houve uma só palavra de resposta, pois o rei lhes havia proibido responder.
22. Eliacím, filho de Helcias, prefeito do palácio, o escriba Sobna e o cronista Joaé, filho de Asaf, retomaram para junto de Ezequias, com as vestes rasgadas, e lhe relataram as palavras do general.

 
Capítulo 37

1. A este relato, o rei Ezequias rasgou suas vestes e, envolvendo-se num saco, dirigiu-se ao templo do Senhor.
2. Depois enviou Eliacim, prefeito do palácio, o escriba Sobna e os decanos dos sacerdotes, cobertos de sacos, ao profeta Isaías, filho de Amós,
3. para dizer-lhe: Eis o que diz Ezequias: este dia é um dia de tribulação, de castigo e de opróbrio. Os filhos estão prestes a nascer, mas falta força para pô-los no mundo.
4. O Senhor teu Deus talvez tenha ouvido as palavras do general enviado pelo rei da Assíria, seu soberano, para insultar o Deus vivo, e irá castigá-lo pelas palavras que ouviu. Intercede, pois, em favor do resto que subsiste ainda!
5. E os servos do rei Ezequias foram ter com Isaías,
6. o qual lhes deu esta resposta: Eis o que diz o Senhor: não te espantes com as palavras que ouviste e com os ultrajes que proferiram contra mim os servos do rei da Assíria.
7. Vou insuflar-lhe um espírito que, ao receber uma certa notícia, fá-lo-á retornar à sua terra, onde eu o farei morrer pela espada.
8. O general, que soubera que o rei da Assíria tinha deixado Laquis, voltou para junto do seu soberano, que encontrou ocupado com o cerco de Lobna.
9. O rei recebeu a seguinte informação a respeito de Taraca, rei da Etiópia: Ele acaba de pôr-se em marcha para fazer-te guerra. Senaquerib enviou então mensageiros a Ezequias dizendo-lhes:
10. Eis o que direis a Ezequias, rei de Judá: não te deixes enganar pelo Deus em que tu confias, pensando que Jerusalém não será entregue às mãos do rei da Assíria.
11. Tu ouviste contar como os reis da Assíria trataram todas as terras que devastaram. E tu escaparias?
12. As nações que meus ancestrais aniquilaram: Gosã, Harã, Resef e os filhos de Éden que estavam em Talasar, porventura foram salvos pelos seus deuses?
13. Onde está o rei de Hamat, o de Arfad e o de Sefarvaim, de Ana e de Ava?
14. Ezequias, tomando a carta das mãos dos mensageiros, leu-a; depois, subiu ao templo e a desdobrou diante do Senhor,
15. dirigindo-lhe esta súplica:
16. Ó Senhor dos exércitos, Deus de Israel, vós que estais sentado sobre os querubins, não há outro Deus, senão vós, por todos os reinos da terra. Vós, que fizestes os céus e a terra,
17. inclinai o ouvido, Senhor, e escutai! Abri os olhos, Senhor, e vede! Ouvi a mensagem que Senaquerib fez trazer para ultrajar o Deus vivo!
18. É verdade, Senhor, que os reis da Assíria despovoaram as nações, devastaram seus territórios
19. e entregaram seus deuses às chamas; é porque não eram deuses, eram objetos feitos pela mão do homem, de pau e de pedra, e eles os aniquilaram.
20. Mas vós, Senhor nosso Deus, livrai-nos da mão de Senaquerib, a fim de que todos os povos da terra saibam que vós, Senhor, sois o único Deus.
21. Então Isaías, filho de Amós, mandou dizer a Ezequias: Eis o que disse o Senhor, Deus de Israel: eu ouvi a súplica que tu me dirigiste por causa de Senaquerib, rei da Assíria.
22. Eis o oráculo que o Senhor pronuncia contra ele: A virgem, filha de Sião, despreza-te e zomba de ti. A filha de Jerusalém meneia a cabeça por trás de ti.
23. A quem insultaste e ultrajaste? Contra quem elevaste a voz e olhaste por cima dos ombros? Ao Santo de Israel!
24. Por meio de teus servos insultaste o Senhor e disseste: Com a multidão dos meus carros galgarei ao cimo dos montes, aos confins do Líbano. Abaterei os seus cedros mais altos, seus ciprestes mais belos; penetrarei até os últimos limites do meu bosque mais espesso;
25. Cavarei e beberei água estrangeira; com a planta de meus pés ressecarei todos os canais do Egito.
26. Ignoras que desde o princípio preparei o que acontecerá, desde remotos tempos decidi o que agora realizarei: reduzirei a ruínas e escombros cidades fortificadas.
27. Seus habitantes ficarão sem forças, serão tomados de pavor e confusão, semelhantes à erva das pastagens, ao capim dos telhados, aos frutos atingidos pela longa estiagem.
28. Eu sei quando te levantas e te sentas, quando sais e quando entras, e conheço teus furores contra mim.
29. Porque ficaste furioso contra mim e subiram aos meus ouvidos as tuas insolências, porei argola em teu nariz e freio em tua boca, e te forçarei a voltar pelo caminho por onde vieste.
30. E eis o que te servirá de sinal: este ano se comem restolhos; o ano que vem, aquilo que nascer sozinho; no terceiro ano, porém, semeareis e colhereis; plantareis vinhas e comereis os seus frutos.
31. O resto, que subsistir da casa de Judá, lançará novas raízes no solo e produzirá frutos no alto.
32. Pois de Jerusalém surgirá um resto, e do monte Sião, sobreviventes. Eis o que fará o zelo do Senhor dos exércitos.
33. Por isso, eis o oráculo do Senhor ao rei da Assíria: não entrará nesta cidade nem atirará flechas contra ela, não lhe oporá escudo nem a cercará de trincheiras.
34. Mas voltará pelo caminho por onde veio, sem entrar na cidade – oráculo do Senhor.
35. Protegerei esta cidade para salvá-la, por minha causa e de Davi, meu servo.
36. O anjo do Senhor apareceu no campo dos assírios e feriu cento e oitenta e cinco mil homens. No dia seguinte, de manhã, ao despertar, só havia lá cadáveres.
37. Senaquerib, rei da Assíria, levantou acampamento; retomou o caminho de sua terra e ficou em Nínive.
38. Certo dia em que ele estava prostrado no templo de Nesroc, seu deus, seus filhos, Adramelec e Sarasar, o assassinaram a golpes de espada. E fugiram para a terra de Ararat. Seu filho Assaradon o sucedeu no trono.

 
Capítulo 38

1. Naquele tempo, Ezequias esteve doente, quase à morte. O profeta Isaías, filho de Amós, veio ter com ele e lhe disse: Eis o que disse o Senhor: põe em ordem a tua casa porque vais morrer, não te restabelecerás.
2. Então Ezequias voltou-se para a parede e se pôs a orar ao Senhor;
3. Senhor, disse ele, lembrai-vos de que tenho andado diante de vós com lealdade, de todo o coração, segundo a vossa vontade. E chorava abundantemente.
4. Depois a palavra do Senhor foi dirigida a Isaías nestes termos:
5. Vai dizer a Ezequias: eis o que diz o Senhor, o Deus de Davi, teu pai: Ouvi tua oração e vi tuas lágrimas, prolongarei tua vida por quinze anos,
6. livrar-te-ei, a ti e a esta cidade, das mãos do rei da Assíria. Protegerei esta cidade.
7. E eis o sinal, da parte do Senhor, para convencer-te de que cumprirá a promessa:
8. farei a sombra recuar os dez graus que o sol já lhe fez descer no relógio solar de Acaz. E o sol voltou dez graus para trás.
9. Poema composto por Ezequias, rei de Judá, quando esteve doente e se restabeleceu.
10. Eu dizia: É necessário, pois, que eu me vá, no apogeu de minha vida. Serei encerrado por detrás das portas da habitação dos mortos, durante os anos que me restariam a viver.
11. Eu dizia: Não verei mais o Senhor na terra dos viventes. Não verei mais a luz entre os habitantes do mundo.
12. Arrancam as estacas de meu abrigo, arrebatam-me como uma tenda de pastores. Como um tecelão, enrolam a tela de minha vida, depois cortam-lhe o laço. Dia e noite estou desamparado,
13. e grito até o amanhecer. Como um leão, quebram-me todos os ossos.
14. Como a andorinha, dou gritos agudos e gemo como a pomba. Meus olhos se cansam de olhar para o alto. Senhor, estou em agonia, socorrei-me.
15. Para que falar assim? Que dizer-lhe, uma vez que é ele mesmo quem assim o faz? O tempo que me resta eu o arrasto, vivendo em amargura.
16. Restituí-me a saúde, fazei-me reviver.
17. Eis que meu sofrimento se mudou em conforto; vós preservastes minha vida do túmulo onde se apodrece, e lançastes para trás de vós todos os meus pecados.
18. Com efeito, não é a morada dos mortos que vos louvará, nem a morte que vos celebrará. O que desce à sepultura não espera mais em vossa bondade.
19. Quem está vivo, somente quem está vivo pode louvar-vos, como eu o faço hoje. O pai dá a conhecer a seus filhos vossa fidelidade, diante da casa do Senhor.
20. Senhor, dignai-vos a nos salvar, e nós faremos soar a corda de nossos instrumentos todos os dias de nossa vida,
21. Isaías disse então: Que tragam um cataplasma de figos para aplicar sobre a úlcera, e Ezequias sarará.
22. Ezequias disse: Que sinal me garantirá que eu tornarei ao templo do Senhor?

 
Capítulo 39

1. Nessa mesma época, o rei de Babilônia, Merodac-Baladã, enviou a Ezequias embaixadores levando uma mensagem e presentes, porque soubera da doença e do restabelecimento do rei.
2. Ezequias sentiu-se lisonjeado e os fez visitar os tesouros de seu palácio: a baixela de prata e ouro, os perfumes, os ungüentos preciosos, assim como seu arsenal e todos os seus depósitos. Nada houve em seu palácio e em todos os seus domínios que Ezequias não lhes mostrasse.
3. Então o profeta Isaías veio visitar o rei Ezequias e lhe disse: Que disseram esses homens, e de onde vieram eles para fazer-te visita? Vieram ver-me de longe, de Babilônia, respondeu Ezequias.
4. E que visitaram eles em tua casa?, replicou Isaías. Viram tudo o que se encontra em meu palácio, respondeu Ezequias; nada há em meus tesouros que eu não lhes tenha mostrado.
5. Então Isaías disse a Ezequias; Escuta a, palavra do Senhor dos exércitos!
6. Aproxima-se o tempo em que se levará para Babilônia tudo aquilo que há em teu palácio, tudo o que acumularam os teus pais até este dia. Nada ficará, declara o Senhor.
7. Tomarão até os teus próprios filhos, que geraste, para fazer deles eunucos no palácio do rei de Babilônia.
8. Ezequias respondeu a Isaías: A sentença do Senhor, que acabas de proferir, é justa. Pois dizia a si mesmo: Ao menos terei paz e segurança enquanto viver.

 
Capítulo 40

1. Consolai, consolar meu povo, diz vosso Deus.
2. Animai Jerusalém, dizei-lhe bem alto que suas lidas estão terminadas, que sua falta está expiada, que recebeu, da mão do Senhor, pena dupla por todos os seus pecados.
3. Uma voz exclama: Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai reta na estepe uma pista para nosso Deus.
4. Que todo vale seja aterrado, que toda montanha e colina sejam abaixadas: que os cimos sejam aplainados, que as escarpas sejam niveladas!
5. Então a glória do Senhor manifestar-se-á; todas as criaturas juntas apreciarão o esplendor, porque a boca do Senhor o prometeu.
6. Clama!, disse uma voz, e eu respondi: Que clamarei? Toda criatura é como a erva e toda a sua glória como a flor dos campos!
7. A erva seca e a flor fenece quando o sopro do Senhor passa sobre elas. (Verdadeiramente o povo é semelhante à erva.)
8. A erva seca e a flor fenece, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente.
9. Subi a uma alta montanha, para anunciar a boa nova a Sião. Elevai com força a voz, para anunciar a boa nova a Jerusalém. Elevai a voz sem receio, dizei às cidades de Judá: Eis vosso Deus!
10. Eis o Senhor Deus que vem com poder, estendendo os braços soberanamente. Eis com ele o preço de sua vitória; faz-se preceder pelos frutos de sua conquista;
11. como um pastor, vai apascentar seu rebanho, reunir os animais dispersos, carregar os cordeiros nas dobras de seu manto, conduzir lentamente as ovelhas que amamentam.
12. Quem, pois, mediu o mar no côncavo da mão, quem com seus dedos abertos mediu os céus? Quem com o alqueire mediu a matéria terrestre, pesou as montanhas no gancho, e as colinas na balança?
13. Quem determinou o espírito do Senhor, e que conselheiro lhe deu lições?
14. De quem recebeu conselho para julgar bem, para que se lhe indique o caminho da justiça, (se lhe ensine a ciência) e se lhe mostre a via mais prudente?
15. As nações são para ele apenas uma gota de água num balde, um grão de areia na balança; as ilhas não pesam mais que o pó,
16. o Líbano não bastaria para o braseiro de seu altar, nem seus animais para os holocaustos.
17. Todas as nações juntas nada são diante dele: a seus olhos são como que inexistentes.
18. A quem poderíeis comparar Deus, e que imagem dele poderíeis oferecer?
19. Um artesão funde uma estátua, o ourives, a placa de ouro, e faz derreter as correntinhas de prata. (4l,6) Prestam-se assistência mútua, dizem um ao outro: Coragem! (4l,7) O fundidor estimula o ourives, e o malhador, o ferreiro: A solda é boa, diz. Ele a reforça com rebites para que não oscile.
20. Aquele que deseja esculpir uma imagem, escolhe madeira que não apodrece; põe-se à procura de um operário hábil, a fim de assentar uma estátua que não oscile.
21. Não o sabíeis? Não o aprendestes? Não vos ensinaram desde a origem? Não compreendestes nada da fundação da terra?
22. Aquele que domina acima do disco terrestre, cujos habitantes vê como se fossem gafanhotos, aquele que estende os céus como um véu de gaze, e como tenda os desdobra para aí se abrigar,
23. reduz os príncipes a nada, e faz desaparecer os governantes da terra;
24. apenas estejam plantados, apenas sejam semeados, apenas seu talo tenha lançado raízes no solo, sopra sobre eles e os resseca, e o turbilhão os varre como palha.
25. A quem então poderíeis comparar-me, que possa ser a mim igualado?, diz o Santo.
26. Levantai os olhos para o céu e olhai. Quem criou todos esses astros? Aquele que faz marchar o exército completo, e a todos chama pelo nome, o qual é tão rico de força e dotado de poder, que ninguém falta ao seu chamado.
27. Por que dizer-te então, ó Jacó, por que repetir, ó Israel: Escapa meu destino ao Senhor, passa meu direito despercebido a meu Deus?
28. Não o sabes? Não o aprendeste? O Senhor é um Deus eterno. Ele cria os confins da terra, sem jamais fatigar-se nem aborrecer-se; ninguém pode sondar sua sabedoria.
29. Dá forças ao homem acabrunhado, redobra o vigor do fraco.
30. Até os adolescentes podem esgotar-se, e jovens robustos podem cambalear,
31. mas aqueles que contam com o Senhor renovam suas forças; ele dá-lhes asas de águia. Correm sem se cansar, vão para a frente sem se fatigar.

 
Capítulo 41

1. Ilhas, silenciai para me ouvir, e que os povos renovem suas forças. Que venham tomar a palavra, e pleitear comigo sua causa!
2. Quem suscitou do Oriente aquele cujos passos são acompanhados de vitórias? Quem pôs então as nações
à sua mercê, e fez cair diante dele os reis? Sua espada os reduz a pó, seu arco os dispersa como se fossem palha.
3. Persegue-os e passa invulnerável, sem mesmo tocar com seus pés o caminho.
4. Quem, pois, realizou essas coisas? Aquele que desde a origem chama as gerações à vida: eu, o Senhor, que sou o primeiro – e que estarei ainda com os últimos.
5. À sua vista as ilhas são presas de temor, e os confins da terra tremem. (Que se apresentem e venham).
8. Mas tu, Israel, meu servo, Jacó que escolhi, raça de Abraão, meu amigo,
9. tu, que eu trouxe dos confins da terra, e que fiz vir do fim do mundo, e a quem eu disse: Tu és meu servo, eu te escolhi, e não te rejeitei;
10. nada temas, porque estou contigo, não lances olhares desesperados, pois eu sou teu Deus; eu te fortaleço e venho em teu socorro, eu te amparo com minha destra vitoriosa.
11. Vão ficar envergonhados e confusos todos aqueles que se revoltaram contra ti; serão aniquilados e destruídos aqueles que te contradizem;
12. em vão os procurarás, não mais encontrarás aqueles que lutam contra ti; serão destruídos e reduzidos a nada aqueles que te combatem.
13. Pois eu, o Senhor, teu Deus, eu te seguro pela mão e te digo: Nada temas, eu venho em teu auxílio.
14. Portanto, nada de medo, Jacó, pobre vermezinho, Israel, mísero inseto. Sou eu quem venho em teu auxílio, diz o Senhor, teu Redentor é o Santo de Israel.
15. Vou fazer de ti um trenó triturador, novinho, eriçado de pontas: calcarás e esmagarás as montanhas, picarás miúdo as colinas como a palha do trigo.
16. Tu as joeirarás e o vento as carregará; o turbilhão as espalhará; entretanto, graças ao Senhor, alegrar-te-ás, gloriar-te-ás no Santo de Israel.
17. Os infelizes que buscam água e não a encontram e cuja língua está ressequida pela sede, eu, o Senhor, os atenderei, eu, o Deus de Israel, não os abandonarei.
18. Sobre os planaltos desnudos, farei correr água, e brotar fontes no fundo dos vales. Transformarei o deserto em lagos, e a terra árida em fontes.
19. Plantarei no deserto cedros e acácias, murtas e oliveiras; farei crescer nas estepes o cipreste, ao lado do olmo e do buxo,
20. a fim de que saibam à evidência, e pela observação compreendam, que foi a mão do Senhor que fez essas coisas, e o Santo de Israel quem as realizou.
21. Pleiteai vossa causa, diz o Senhor; fazei valer vossos argumentos, diz o rei de Jacó.
22. Que se apresentem e nos predigam o que vai acontecer. Do passado ou do que souberam predizer, a que tenhamos dado atenção? Ou então anunciai-nos o futuro, para nos fazer conhecer o final.
23. Revelai o que acontecerá mais tarde, e admitiremos que vós sois deuses. Fazei qualquer coisa a fim de que nos possamos medir!
24. Mas nada sois, vossa obra é nula, afeiçoar-se a vós é abominável.
25. Eu o fiz surgir do norte e ele vem, do oriente, chamei-o pelo nome; ele calca aos pés os príncipes como lama, qual o oleiro quando amassa o barro.
26. Quem o havia predito para nos prevenir, quem o havia anunciado, para que se diga: É exato? Ninguém o declarou, ninguém o avisou, ninguém ouviu vossos oráculos.
27. Eu sou o primeiro que disse a Sião: Ei-los, e enviei a Jerusalém a boa nova.
28. Entre eles não encontrei ninguém, ninguém que soubesse dar um aviso. Pergunto-lhes: De onde vem ele? Não respondem.
29. Pois bem, todos eles nada são, suas obras são nulas. Suas estátuas, vazias como o vento.

 
Capítulo 42

1. Eis meu Servo que eu amparo, meu eleito ao qual dou toda a minha afeição, faço repousar sobre ele meu espírito, para que leve às nações a verdadeira religião.
2. Ele não grita, nunca eleva a voz, não clama nas ruas.
3. Não quebrará o caniço rachado, não extinguirá a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a franqueza a verdadeira religião; não desanimará, nem desfalecerá,
4. até que tenha estabelecido a verdadeira religião sobre a terra, e até que as ilhas desejem seus ensinamentos.
5. Eis o que diz o Senhor Deus que criou os céus e os desdobrou, que firmou a terra e toda a sua vegetação, que dá respiração a seus habitantes, e o sopro vital àqueles que pisam o solo:
6. Eu, o Senhor, chamei-te realmente, eu te segurei pela mão, eu te formei e designei para ser a aliança com os povos, a luz das nações;
7. para abrir os olhos aos cegos, para tirar do cárcere os prisioneiros e da prisão aqueles que vivem nas trevas.
8. Eu sou o Senhor, esse é meu nome, a ninguém cederei minha glória, nem a ídolos minha honra.
9. Realizaram-se os primeiros acontecimentos anunciados, eu predigo outros; antes que aconteçam, eu vo-los faço conhecer.
10. Cantai ao Senhor um cântico novo, do fim do mundo entoai seus louvores; que o mar o celebre com tudo o que contém, assim como as ilhas com seus habitantes!
11. Que o deserto e suas vilas elevem a voz, assim como os acampamentos onde habita Cedar! Que os povos de Sela clamem alegremente, que do alto das montanhas lancem suas aclamações!
12. Que dêem glória ao Senhor e espalhem seu louvor pelas ilhas!
13. Tal como um herói, o Senhor avança; como um guerreiro, ele desperta seu ardor; lança seu grito de guerra, como um herói que afronta seus inimigos.
14. Muito tempo guardei o silêncio, permaneci mudo e me contive. Mas agora grito, como mulher nas dores do parto; minha respiração se precipita.
15. Vou devastar montanhas e colinas, secar toda a vegetação, transformar os cursos de água em terras áridas, e fazer secar os tanques.
16. Aos cegos farei seguir um caminho desconhecido, por atalhos desconhecidos eu os encaminharei; mudarei diante deles a escuridão em luz, e as veredas pedregosas em estradas planas. Todas essas maravilhas, eu as realizarei, não deixarei de executá-las.
17. Retrocederão, cheios de vergonha, aqueles que se fiam nos ídolos, e que dizem às estátuas fundidas: Sois nosso Deus.
18. Surdos, ouvi, cegos, olhai e vede!
19. Quem é cego, senão meu servo, e surdo como o mensageiro que envio? (Quem é cego como o meu mensageiro e surdo como o servo do Senhor?)
20. Vistes muitas coisas sem lhes dar atenção, tivestes os ouvidos abertos sem escutar.
21. O Senhor quer, por causa de sua justiça, publicar uma lei grande e magnífica.
22. Todavia é um povo saqueado e despojado, todos foram acorrentados nos cárceres, fizeram-nos desaparecer nas prisões; são expostos à pilhagem sem que ninguém os livre, despojam-nos, e ninguém lhes faz restituir.
23. Quem dentre vós prestará atenção a essas coisas? Quem as ouvirá pensando no futuro?
24. Quem então entregou Jacó aos saqueadores, Israel aos depredadores? (Não é o Senhor contra quem pecamos, cujas vias não quiseram seguir, nem respeitar suas ordens).
25. Então despejou sobre eles sua cólera, e as violências da guerra; esta os envolveu de chamas sem que se apercebessem, e os consumiu sem que dessem atenção.

 
Capítulo 43

1. E agora, eis o que diz o Senhor, aquele que te criou, Jacó, e te formou, Israel: Nada temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, és meu.
2. Se tiveres de atravessar a água, estarei contigo. E os rios não te submergirão; se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e a chama não te consumirá.
3. Pois eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, teu salvador. Dou o Egito por teu resgate, a Etiópia e Sabá em compensação.
4. Porque és precioso a meus olhos, porque eu te aprecio e te amo, permuto reinos por ti, entrego nações em troca de ti.
5. Fica, tranqüilo, pois estou contigo, do oriente trarei tua raça, e do ocidente eu te reunirei.
6. Devolve-os!, direi ao setentrião e ao meio-dia: Não os retenhas! Traze meus filhos das longínquas paragens, e minhas filhas dos confins da terra;
7. todos aqueles que trazem meu nome, e que criei para minha glória.
8. Fazei comparecer o povo cego apesar de ter olhos, e os surdos que têm ouvidos!
9. Que todas as nações se congreguem e que os povos se reúnam! Quem dentre eles soube predizer o que se passa, e foi o primeiro que no-lo fez saber? Que apresentem suas testemunhas para justificar suas pretensões, que sejam ouvidas para que se possa dizer: É exato.
10. Vós sois minhas testemunhas, diz o Senhor, e meus servos que eu escolhi, a fim de que se reconheça e que me acreditem e que se compreenda que sou eu. Nenhum deus foi formado antes de mim, e não haverá outros depois de mim.
11. Fui eu, sou eu o Senhor, não há outro salvador a não ser eu.
12. Sou eu quem predisse e salvei, e não um deus estranho entre vós. Vós sois minhas testemunhas, diz o Senhor, eu sou Deus
13. desde toda a eternidade. Ninguém poderia escapar de minha mão; quando executo, quem poderia destruir minha obra?
14. Eis o que diz o Senhor, vosso Redentor, o Santo de Israel: Por vossa causa, envio a Babilônia, a fim de fazer cair os ferrolhos dos cárceres, e os caldeus lamentar-se-ão em altos brados.
15. Eu sou o Senhor, vosso Santo, o criador de Israel, vosso rei.
16. Eis o que diz o Senhor que abriu uma passagem através do mar, um caminho em meio às ondas,
17. que pôs em campo carros e cavalos, a tropa de soldados e chefes: eles caíram então para nunca mais se levantar; Extinguiram-se como um pavio de vela.
18. Não vos lembreis mais dos acontecimentos de outrora, não recordeis mais as coisas antigas,
19. porque eis que vou fazer obra nova, a qual já surge: não a vedes? Vou abrir uma via pelo deserto, e fazer correr arroios pela estepe.
20. Dar-me-ão glória os animais selvagens, os chacais e as avestruzes, pois terei feito jorrar água no deserto, e correr arroios na estepe, para saciar a sede de meu povo, meu eleito;
21. o povo, que formei para mim, contará meus feitos.
22. No entanto, não foste tu que me chamaste, Jacó, tu não te fatigaste por mim, Israel.
23. Não me ofereceste carneiros em holocausto, nem me honraste com sacrifícios; não cobrei de ti um pesado imposto em oblações, nem te sobrecarreguei exigindo incenso.
24. Não me compraste, a preço alto, cana perfumada, nem me fartaste com a gordura das vítimas. Mas me atormentaste com teus pecados, cansaste-me com tuas iniqüidades.
25. Sempre sou eu quem deve apagar tuas faltas, e não mais me lembrar de teus pecados.
26. Refresca tua memória e discutamos: apresenta tuas contas, para te justificar!
27. Já teu primeiro pai pecou, teus representantes me ofenderam,
28. teus príncipes profanaram meu santuário. Então entreguei Jacó ao anátema e Israel às injúrias.

 
Capítulo 44

1. Agora escuta, Jacó, meu servo, Israel, a quem escolhi.
2. Eis o que diz o Senhor que te criou, que te formou desde o seio materno e te socorreu: nada temas, Jacó, meu servo, meu Israel, a quem escolhi!
3. Porque derramarei água sobre o solo sequioso, fá-la-ei correr sobre a terra árida, derramarei meu espírito sobre tua posteridade, e minha bênção sobre teus rebentos.
4. Crescerão como a vegetação irrigada, como os álamos à beira dos arroios.
5. Um dirá: Eu sou do Senhor, outro reclamará para si o nome de Jacó, um terceiro escreverá na sua mão: Ao Senhor, e receberá o cognome de Israel.
6. Eis o que diz o Senhor, o rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos exércitos: Eu sou o primeiro e o último, não há outro Deus afora eu.
7. Quem é igual a mim? Que venha sustentar suas pretensões! Que prove e pleiteie contra mim! Quem anunciou o futuro, desde a origem? Que nos predigam o que deve ainda acontecer! Não tenhais medo então, e não tremais!
8. Não vos tenho esclarecido desde há muito tempo? Vós sois minhas testemunhas: existe outro Deus a não ser eu? Haverá outro rochedo além de mim?
9. Os fabricantes de ídolos nada são e suas preciosas obras nada valem; para confusão deles, suas testemunhas não sabem ver nem compreender.
10. Aquele que quer modelar um deus, funde uma estátua que não servirá para nada.
11. Seus fiéis ficarão decepcionados e seus operários são apenas homens. Que todos se congreguem e compareçam. Ficarão assustados e decepcionados.
12. O ferreiro manipula o formão e trabalha no forno; talha o ídolo com golpes de martelo; modela-o com mão vigorosa; mas tem fome, sente-se esgotado, tem sede, está extenuado.
13. O escultor em madeira estica o cordel, traça o esquema a lápis, desbasta a imagem com o cinzel, mede-a com o compasso; dá-lhe forma humana, fá-la um belo tipo de homem, para colocá-la numa casa.
14. Vai cortar madeira, apanha um roble ou um carvalho que tinham deixado crescer entre as árvores da floresta que o Senhor havia plantado, e que a chuva havia feito crescer.
15. Depois faz com a madeira um fogo, e leva-o para se aquecer; queima-a também para cozer o pão; enfim serve-se dela para fabricar um ídolo diante do qual se prosterna.
16. Queima a metade de sua madeira, sobre a brasa assa a carne, come esse assado até fartar-se. Então aquece-se e diz: Como é bom sentir o calor e admirar a chama!
17. Com a sobra faz um deus, um ídolo diante do qual se prostra para adorá-lo e orar dizendo: Salva-me, tu és meu deus.
18. Falta bom senso e juízo a essa gente; têm os olhos tão fechados que não vêem, seus corações não podem compreender.
19. Ninguém reflete nem tem bom senso e inteligência para se dizer: Queimei metade, cozi pão sobre a brasa, aí assei a carne que comi e iria eu fazer do resto um ídolo miserável? Prostrar-me-ia diante de um pedaço de madeira?
20. Este homem se nutre de cinzas, seu coração desabusado o desencaminha, ele não consegue salvar-se nem dizer: Não será um logro o que tenho nas mãos?
21. Lembra-te dessas coisas, Jacó! (Recorda-te), Israel, que tu és meu servo. Eu te formei, tu és meu servo, Israel, não posso esquecer-te.
22. Fiz desaparecer tuas iniqüidades como uma nuvem, e teus pecados como uma neblina: volve a mim, porque te resgatei.
23. Céus, regozijai-vos, pois o Senhor agiu: Ressoai de alegria, profundezas da terra! Explodi de alegria, ó montanhas! E tu também, floresta, com todas as tuas árvores, porque o Senhor resgatou Jacó, e manifestou sua glória em Israel.
24. Eis o que diz o Senhor, teu Redentor, que te formou desde o seio de tua mãe: Sou eu, o Senhor, que fiz todas as coisas, sozinho estendi os céus. Firmei a terra: quem estava comigo?
25. Confundo os sinais dos falsos profetas, faço delirar os adivinhos, faço voltar atrás os sábios, e transformo sua sabedoria em loucura.
26. Mantenho a palavra de meus servos, cumpro o que predizem meus enviados; digo que Jerusalém deve ser reabitada. Que as cidades de Judá devem ser reedificadas. Delas reerguerei as ruínas.
27. Digo ao abismo: Seca-te, vou estancar tuas torrentes.
28. Digo de Ciro: É meu pastor, executará em tudo a minha vontade. Falando de Jerusalém: Que seja reedificada! E do templo: Que seja reconstruído!

 
Capítulo 45

1. Eis o que diz o Senhor a Ciro, seu ungido, que ele levou pela mão para derrubar as nações diante dele, para desatar o cinto dos reis, para abrir-lhe as portas, a fim de que nenhuma lhe fique fechada:
2. Irei eu mesmo diante de ti, aplainando as montanhas, arrebentando os batentes de bronze, arrancando os ferrolhos de ferro.
3. Dar-te-ei os tesouros enterrados e as riquezas escondidas, para mostrar-te que sou eu o Senhor, aquele que te chama pelo teu nome, o Deus de Israel.
4. É por amor de meu servo, Jacó, e de Israel que escolhi, que te chamei pelo teu nome, com títulos de honra, se bem que não me conhecesses.
5. Eu sou o Senhor, sem rival, não existe outro Deus além de mim. Eu te cingi, quando ainda não me conhecias,
6. a fim de que se saiba, do levante ao poente, que nada há fora de mim. Eu sou o Senhor, sem rival;
7. formei a luz e criei as trevas, busco a felicidade e suscito a infelicidade. Sou eu o Senhor, que faço todas essas coisas.
8. Que os céus, das alturas, derramem o seu orvalho, que as nuvens façam chover a vitória; abra-se a terra e brote a felicidade e ao mesmo tempo faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa de tudo isso.
9. Ai daquele que discute com quem o formou, vaso entre os vasilhames de terra! Acaso diz a argila ao oleiro: Que fazes? Acaso diz a obra ao operário: És incompetente?
10. Ai daquele que ousa dizer a seu pai: Por que me geraste? E à sua mãe: Por que me concebeste?
11. Eis o que diz o Senhor, o Santo de Israel e seu criador: Pretendeis pedir-me conta do futuro, ditar-me um modo de agir?
12. Fui eu quem fez a terra, e a povoou de homens; foram minhas mãos que estenderam os céus, e eu comando todo o seu exército.
13. Fui eu quem, na minha justiça, suscitou Ciro, e quem por toda parte lhe aplaina o caminho; e é ele quem fará reedificar minha cidade e libertar meus deportados, sem recompensa nem dádivas, diz o Senhor dos exércitos.
14. Eis o que diz o Senhor: os pobres do Egito, os traficantes da Etiópia, os de elevada estatura de Sabaim, passarão para a tua terra e serão teus, servir-te-ão e desfilarão acorrentados, prostrar-se-ão diante de ti e te implorarão: Deus só se encontra em tua morada, não tem rival algum, os outros deuses não existem.
15. Verdadeiramente um Deus se esconde em tua casa, o Deus de Israel, um Deus que salva!
16. Ficarão envergonhados e confusos todos aqueles que se lhe opuseram; ignominiosamente retirar-se-ão os fabricantes de ídolos.
17. Israel obterá do Senhor uma salvação eterna, sem confusão nem vergonha, até o fim dos tempos.
18. Eis o que diz o Senhor que criou os céus, ele, o único Deus que formou a terra e a estabilizou, que não a criou para que seja um caos, mas a organizou para que nela se viva: eu sou o Senhor, e não tenho rival.
19. Não tenho falado às escondidas, nem numa terra tenebrosa. Não disse à raça de Jacó: Procurai-me no caos, eu, o Senhor, digo, a verdade, e me manifesto com toda a franqueza.
20. Vinde, reuni-vos todos, aproximai-vos, vós que fostes salvos dentre as nações! Nada disso compreendem aqueles que trazem seu ídolo de madeira, aqueles que oram a um deus impotente para salvar.
21. Fazei valer vossos argumentos, consultai-vos uns aos outros: quem havia predito o que se passa, quem o tinha anunciado desde longa data? Não fui eu, o Senhor, e nenhum outro? Não há Deus fora de mim.
22. Volvei-vos para mim, e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus e sou o único,
23. juro-o por mim mesmo! A verdade sai de minha boca, minha palavra jamais será revogada: todo joelho deve dobrar-se diante de mim, toda língua deve jurar por mim,
24. dizendo: É só no Senhor que se encontra a vitória e a força. A ele virão envergonhados todos aqueles que se tinham levantado contra ele;
25. mas toda a raça de Israel achará no Senhor o triunfo e a glória.

 
Capítulo 46

1. Bel cai, Nebo desmorona. Suas estátuas são carregadas em lombo de mula, fazem delas o fardo de animais exaustos.
2. Desmoronam todos e desabam; incapazes de salvar aqueles que os carregam, vão eles mesmos ao cativeiro.
3. Ouvi-me, casa de Jacó, e vós, sobreviventes da casa de Israel, que eu carreguei desde vosso nascimento e sustentei desde o seio materno:
4. permanecerei o mesmo até vossa velhice, sustentar-vos-ei até o tempo dos cabelos brancos; eu vos carregarei como já carreguei, cuidarei de vós e preservar-vos-ei;
5. a quem podereis comparar-me ou igualar-me? Quem poreis em paralelo comigo, que me seja igual?
6. Eis os que desembolsam seu ouro, e pesam a prata na balança; contratam um ourives para que ele faça um deus, diante do qual se prostram em adoração;
7. eles o carregam nos ombros e o transportam, depois o colocam em seu posto, onde se mantém, sem mais poder mover-se. Por mais que o invoquem, nunca responde, e não salva do infortúnio;
8. lembrai-vos disso, sede razoáveis, e entrai em vós mesmos, pecadores.
9. Recordai-vos do que se passou outrora. Só eu sou Deus, e não há nenhum outro, eu sou Deus e ninguém me é semelhante.
10. Desde o princípio eu predisse o futuro, anuncio antecipadamente o que ainda não se cumpriu. Meu plano realizar-se-á, executarei todas as minhas vontades.
11. Chamo do oriente uma ave de rapina, de uma terra longínqua o homem de meus desígnios. O que disse, executarei; o que concebi, realizarei.
12. Escutai-me, homens desanimados, que vos julgais longe da salvação!
13. Faço aproximar-se a salvação que prometi; ela não está longe: e a libertação que predisse não tardará. Darei a vitória a Sião, e minha glória a Israel.

 
Capítulo 47

1. Desce de teu trono, agacha-te ao solo, virgem, filha de Babilônia; assenta-te no chão, sem trono, filha dos caldeus! Já não serás chamada a delicada e a voluptuosa.
2. Toma a mó, vai moer a farinha, tira teu véu, arregaça teu vestido, descobre tuas pernas para passar os rios,
3. (descobre tua nudez, que se veja teu opróbrio). Vou exercer uma implacável vingança,
4. diz o nosso Redentor, que se intitula o Senhor dos exércitos, o Santo de Israel.
5. Senta-te em silêncio, mergulha na escuridão, filha dos caldeus, porque não mais te chamarão a soberana dos reinos.
6. Sem dúvida eu me havia irritado contra meu povo, profanei minha herança, entreguei-o nas tuas mãos; mas tu o trataste sem piedade, fizeste pesar duramente teu jugo sobre o ancião.
7. Tu te dizias: Eu serei sempre soberana perpétua. Sem refletir, não consideraste o fim.
8. Agora, portanto, ouve isto, voluptuosa, que reinas em segurança, que dizes em teu coração: Eu e nada mais que eu! Não conhecerei a viuvez, nem a perda de meus filhos.
9. Estas duas desgraças virão sobre ti num só dia: a perda de teus filhos e a viuvez te atormentarão ao mesmo tempo, a despeito de todos os teus sortilégios e teus poderosos encantos.
10. Tu te fiavas em tua malícia e dizias a ti mesma: Ninguém me vê! Mas tua habilidade e tua astúcia te desencaminharam a tal ponto que dizias em teu coração: Eu e nada a não ser eu!
11. Ora, uma calamidade virá sobre ti e não saberás conjurá-la; a catástrofe vai desabar sobre ti sem que possas impedi-la. Repentinamente alcançar-te-á uma ruína que não terás sabido evitar.
12. Agarra-te, portanto, a teus feitiços e à multidão de teus sortilégios, nos quais te esmeraste desde tua juventude! Talvez acharás uma receita eficaz para criar o terror.
13. Esbanjaste teus esforços entre tantos conselheiros. Que eles então se levantem e te salvem, aqueles que preparam o mapa do céu e observam os astros, que comunicam a cada mês como irão as coisas.
14. Ei-los como argueiros de palha que o fogo consumirá; não poderão escapar às investidas da chama. (Não será um braseiro onde se coze o pão, nem um fogo perto do qual se assenta).
15. Eis o que valerão teus feiticeiros que tens procurado consultar desde tua juventude. Eles fogem espavoridos, cada qual para seu lado, sem que nenhum venha em teu socorro.

 
Capítulo 48

1. Ouvi isto, casa de Jacó, vós, que tendes o nome de Israel, e que saístes das entranhas de Judá, vós, que jurais pelo nome do Senhor e que invocais o Deus de Israel, mas sem sinceridade nem retidão,
2. porque vós vos declarais da cidade santa, vós vos apoiais no Deus de Israel, cujo nome é o Senhor dos exércitos.
3. O que passou, eu predisse com muita antecipação; depois me pus à obra, e tudo se realizou.
4. Sabendo bem que és rígido, que tua cerviz tem músculos de ferro, e que tua fronte é de bronze,
5. eu te predisse os acontecimentos com muita antecedência, antes que acontecessem eu te preveni, para que não pudesses dizer: Foi meu ídolo quem os fez, foi minha estátua esculpida ou fundida quem os provocou.
6. Do que ouviste, vês a realização: não deves atestá-lo? Pois bem, vou revelar-te agora novos acontecimentos, ainda mantidos em segredo, e que tu não conheces.
7. Foram criados agora, e não antigamente; nunca até aqui ouviste falar disso, de maneira que não poderás dizer: Já o sabia.
8. Não, tu nada sabias, tu não o suspeitavas, eu não te havia feito ainda a confidência, porque sabia que eras desleal, chamado rebelde desde teu nascimento.
9. Eu continha minha cólera por minha honra, dominava-a, sem te ferir, por causa de minha glória.
10. Passei-te no cadinho como a prata, provei-te ao crisol da tribulação;
11. ajo unicamente preocupado com minha honra: como tolerar que se profane meu nome? A ninguém posso ceder minha glória.
12. Ouve-me, Jacó, e tu, Israel, que eu chamei! Sou sempre o mesmo, o primeiro, e sou também o último.
13. Foi minha mão que fundou a terra, e minha destra que estendeu os céus; quando os convoco, todos se apresentam.
14. Reuni-vos todos e escutai: quem dentre vós predisse esses acontecimentos? Aquele que o Senhor ama fará sua vontade contra Babilônia e a raça dos caldeus.
15. Eu mesmo falei e o chamei, eu o fiz vir e lhe dei feliz êxito.
16. Aproximai-vos de mim para ouvir isto: desde o início, nunca falei às escondidas, desde que a coisa existe, estou eu aí. (E agora o Senhor Deus com seu Espírito me envia).
17. Eis o que diz o Senhor, teu Redentor, o Santo de Israel: eu sou o Senhor teu Deus, que te dá lições salutares, que te conduz pelo caminho que deves seguir.
18. Ah! Se tivesses sido atento às minhas ordens! Teu bem-estar assemelhar-se-ia a um rio, e tua felicidade às ondas do mar;
19. tua posteridade seria como a areia, e teus descendentes, como os grãos de areia; nada poderia apagar nem abolir teu nome de diante de mim.
20. Saí de Babilônia, fugi da Caldéia! Proclamai a notícia com gritos de alegria, publicai-a até as extremidades do mundo. Dizei: o Senhor resgatou seu servo Jacó!
21. Não há sede para eles no deserto para onde os leva, porque faz brotar para eles água de um rochedo, fende as rochas para que as águas jorrem.
22. (Mas não há paz para os maus, diz o Senhor).

 
Capítulo 49

1. Ilhas, ouvi-me; povos de longe, prestai atenção! O Senhor chamou-me desde meu nascimento; ainda no seio de minha mãe, ele pronunciou meu nome.
2. Tornou minha boca semelhante a uma espada afiada, cobriu-me com a sombra de sua mão. Fez de mim uma flecha penetrante, guardou-me na sua aljava.
3. E disse-me: Tu és meu servo, (Israel), em quem me rejubilarei.
4. E eu dizia a mim mesmo: Foi em vão que padeci, foi em vão que gastei minhas forças. Todavia, meu direito estava nas mãos do Senhor, e no meu Deus estava depositada a minha recompensa.
5. E agora o Senhor fala, ele, que me formou desde meu nascimento para ser seu Servo, para trazer-lhe de volta Jacó e reunir-lhe Israel, (porque o Senhor fez-me esta honra, e meu Deus tornou-se minha força).
6. Disse-me: Não basta que sejas meu servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel; vou fazer de ti a luz das nações, para propagar minha salvação até os confins do mundo.
7. Eis o que diz o Senhor, o Redentor, o Santo de Israel, ao objeto de desprezo dos homens e de horror das nações, ao escravo dos tiranos: diante de ti, reis se levantarão e príncipes se prostrarão, por causa do Senhor que é fiel, e do Santo de Israel que te elegeu.
8. Eis o que diz o Senhor: no tempo da graça eu te atenderei, no dia da salvação eu te socorrerei, (Eu te formei e designei para fazer a aliança com os povos), para restaurar o país e distribuir as heranças devastadas,
9. para dizer aos prisioneiros: Saí! E àqueles que mergulham nas trevas: Vinde à luz! Ao longo de todo o trajeto terão o que comer. Sobre todas as dunas encontrarão seu alimento.
10. Não sentirão fome nem sede; o vento quente e o sol não os castigarão, porque aquele que tem piedade deles os guiará e os conduzirá às fontes.
11. Tornar-lhes-ei acessíveis todas as montanhas, e caminhos atingirão as alturas.
12. Ei-los que vêm de longe, ei-los do norte e do poente, e outros da terra dos sienitas.
13. Cantai, ó céus; terra, exulta de alegria; montanhas, prorrompei em aclamações! Porque o Senhor consolou seu povo, comoveu-se e teve piedade dos seus na aflição.
14. Sião dizia: O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-me.
15. Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca.
16. Eis que estás gravada na palma de minhas mãos, tenho sempre sob os olhos tuas muralhas.
17. Acorrem já aqueles que vão reconstruir-te, enquanto teus destruidores e devastadores fogem.
18. Lança o olhar à volta e vê: reúnem-se todos e vêm a ti. Por minha vida, diz o Senhor, de gala te revestirás, como uma noiva te cingirás.
19. Teus bairros em ruína e devastados, teu território saqueado serão demasiado estreitos para teus habitantes, após a partida daqueles que se aproveitavam de ti.
20. Teus ouvidos ouvirão ainda de teus filhos, que julgavas perdidos: O espaço é estreito demais para mim; dê-me espaço para que eu me instale!
21. Então dirás a ti mesma: Quem me gerou estes filhos? Não tinha filhos, era estéril: Quem os criou? Eis que eu estava desamparada e só: De onde vieram eles?
22. Eis o que diz o Senhor Deus: com a mão vou fazer sinal às nações, e levantar meu estandarte para alertar os povos. Trarão teus filhos na dobra de seu manto, e em seus ombros carregarão tuas filhas.
23. Reis serão teus aios: prostrados diante de ti, a face contra a terra, lamberão a poeira de teus pés. Saberás então que eu sou o Senhor, e que não serão confundidos os que contam comigo.
24. Acaso tirar-se-á a presa ao forte? Ou o que for tomado por um robusto guerreiro escapar-lhe-á das mãos?
25. Eis o que diz o Senhor: sim, a presa do bravo lhe será retirada, a presa do robusto guerreiro lhe escapará; sustentarei tua causa contra teu adversário, libertarei eu mesmo teus filhos.
26. Farei teus opressores comerem sua própria carne, embriagar-se-ão com seu próprio sangue, como se fosse vinho. E toda criatura saberá que sou eu o Senhor, teu Salvador, teu Redentor, o Poderoso de Jacó.

 
Capítulo 50

1. Eis o que diz o Senhor: Onde está a carta de divórcio pela qual eu teria repudiado vossa mãe? Ou então, a qual de meus credores eu vos vendi? Está bem claro que por vossos crimes fostes vendidos, e por causa de vossos pecados vossa mãe foi repudiada.
2. Então, por que não encontrei pessoa alguma quando vim? Por que ninguém respondeu ao meu apelo? Tenho eu realmente a mão demasiado curta para libertar, ou não tenho bastante força para salvar? Contudo, com uma simples ameaça, seco o mar e transformo as ondas em terra firme, de forma tal a faltar água para seus peixes, e seus animais perecerem de sede.
3. Visto os céus com vestimentas de luto, e os cubro como de um cilício.
4. O Senhor Deus deu-me a língua de um discípulo para que eu saiba reconfortar pela palavra o que está abatido. Cada manhã ele desperta meus ouvidos para que escute como discípulo;
5. (o Senhor Deus abriu-me o ouvido) e eu não relutei, não me esquivei.
6. Aos que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escarros.
7. Mas o Senhor Deus vem em meu auxílio: eis por que não me senti desonrado; enrijeci meu rosto como uma pedra, convicto de não ser desapontado.
8. Aquele que me fará justiça aí está. Quem ousará atacar-me? Vamos medir-nos! Quem será meu adversário? Que se apresente!
9. O Senhor Deus vem em meu auxílio: quem ousaria condenar-me? Cairão em frangalhos como um manto velho; a traça os roerá.
10. Que aqueles dentre vós que temem o Senhor ouçam a voz de seu Servo! Que aqueles que caminham no escuro, privados de luz, confiem no nome do Senhor e contem com o seu Deus!
11. Mas vós, que ateais um incêndio, que preparais projéteis inflamáveis, ide ao fogo do vosso incêndio, e dos projéteis que fizestes arder! É minha mão que vos imporá esse tratamento: sereis prostrados nos tormentos.

 
Capítulo 51

1. Ouvi-me, vós que seguis a justiça, e que buscais o Senhor! Olhai a rocha de que fostes talhados, a pedreira de onde vos tiraram:
2. considerai Abraão, vosso pai, e Sara, que vos pôs no mundo. Ele estava só, quando o chamei, mas eu o abençoei e o multipliquei,
3. porque o Senhor vai ter piedade de Sião, e reparar todas as suas ruínas. Do deserto em que ela se tornou ele fará um Éden, e da sua estepe um jardim do Senhor. Aí encontrar-se-ão o prazer e a alegria, os cânticos de louvor e as melodias da música.
4. Povos, escutai bem! Nações, prestai-me atenção! Pois é de mim que emanará a doutrina e a verdadeira religião que será a luz dos povos.
5. De repente minha justiça chegará, minha salvação vai aparecer, (meu braço fará justiça aos povos), as ilhas em mim terão esperança e contarão com meu braço.
6. Levantai os olhos para o céu, volvei vosso olhar à terra: os céus vão desvanecer-se como fumaça, como um vestido em farrapos ficará a terra, e seus habitantes morrerão como moscas. Mas minha salvação subsistirá sempre, e minha vitória não terá fim.
7. Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, povo meu, em cujo coração está a minha doutrina: não temais os insultos dos homens, não vos deixeis abater pelos seus ultrajes,
8. porque a traça os comerá como uma vestimenta, e os vermes das traças os roerão como lã. Mas minha vitória subsistirá sempre e meu triunfo persistirá de geração em geração.
9. Desperta, braço do Senhor, desperta, recobra teu vigor! Levanta-te como nos dias do passado, como nos tempos de outrora. Não foste tu que esmagaste Raab e fendeste de alto a baixo o Dragão?
10. Não foste tu que secaste o mar e estancaste as águas do grande abismo? Tu que abriste no fundo do mar um caminho, para por aí passarem os resgatados?
11. Por aí voltarão aqueles que o Senhor tiver libertado. Chegarão a Sião com cânticos de triunfo, uma eterna alegria cingir-lhes-á a cabeça; o júbilo e a alegria os invadirão, a tristeza e os lamentos fugirão.
12. Sou eu, sou eu quem vos consola! Como podes temer um mortal, um filho do homem, que acabará como a erva?
13. Como esquecer o Senhor, teu criador, que estendeu os céus e fundou a terra, para não cessares de tremer todo o tempo diante da cólera do opressor que procura fazer-te perecer? Mas de que vale a cólera do opressor?
14. Em breve o prisioneiro vai ser solto, não perecerá no cárcere, e o pão não lhe faltará.
15. Eu sou o Senhor teu Deus, que revolvo o mar e faço rugir as ondas; eu me chamo o Senhor dos exércitos.
16. Na tua boca coloquei minhas palavras, com a sombra de minha mão eu te cobri, para estender os céus e fundar a terra, e dizer a Sião: Tu és meu povo.
17. Desperta! Desperta! Levanta-te, Jerusalém, tu que bebeste da mão do Senhor a taça de sua cólera, que esgotaste até os resíduos o cálice que dá vertigem.
18. (De todos os filhos que ela pôs no mundo, nenhum a orientou; entre os filhos que ela criou, nenhum a segurou pela mão.)
19. Esses dois males te sobrevieram, – quem te lastimaria? Saque e ruína, fome e espada – quem te consolaria?
20. Teus filhos jazem desfalecidos (pelos cantos da rua), como um antílope apanhado no laço, tontos com a cólera do Senhor e com as ameaças de teu Deus.
21. Ouve então isto, infeliz, tu que estás embriagada, mas não pelo vinho.
22. Eis o que diz o Senhor teu Deus que toma a defesa de seu povo: Vou retirar de tua mão a taça que dá a vertigem, não mais terás para beber o cálice de minha cólera,
23. e eu vou pô-lo na mão dos tiranos, na mão de teus opressores que te diziam: Curva-te para passarmos, quando apresentavas teu dorso como o chão que se calca, como uma rua para os viandantes.

 
Capítulo 52

1. Desperta, desperta, põe teus adornos, Sião, veste teus trajes de gala, Jerusalém, cidade santa, porque não mais verás penetrar em tua casa nem incircuncisos nem impuros!
2. Sacode a poeira que te cobre, levanta-te, Jerusalém, e reina, desvencilha-te das cadeias que te prendem o pescoço, filha cativa de Sião.
3. Porque eis o que diz o Senhor: vós fostes vendidos gratuitamente e sereis resgatados sem pagamento.
4. Porque eis o que diz o Senhor Deus: meu povo desceu outrora do Egito para aí habitar, depois a Assíria o oprimiu sem motivo.
5. E agora que faço eu aqui, diz o Senhor, já que meu povo foi levado gratuitamente? Seus opressores soltam brados de triunfo, diz o Senhor, e meu nome é ultrajado todo dia, sem cessar.
6. Por isso meu povo vai saber meu nome: naquele dia compreenderá que sou eu quem diz: Eis-me aqui!
7. Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a felicidade, que traz as boas novas e anuncia a libertação, que diz a Sião: Teu Deus reina!
8. Ouve! Tuas sentinelas elevam a voz, e todas juntas soltam alegres gritos, porque vêem com seus próprios olhos o Senhor voltar a Sião.
9. Prorrompei todas em brados de alegria, ruínas de Jerusalém, porque o Senhor se compadece de seu povo, e resgata Jerusalém!
10. O Senhor descobre seu braço santo aos olhares das nações, e todos os confins da terra verão o triunfo de nosso Deus.
11. Parti, parti! Retirai-vos daí, não toqueis nada de impuro! Deixai estas paragens, purificai-vos, vós que levais os vasos do Senhor,
12. porque não partireis com precipitação, não vos retirareis como fugitivos, porquanto diante de vós irá o Senhor, e o Deus de Israel seguirá à vossa retaguarda.
13. Eis que meu Servo prosperará, crescerá, elevar-se-á, será exaltado.
14. Assim como, à sua vista, muitos ficaram embaraçados – tão desfigurado estava que havia perdido a aparência humana -,
15. assim o admirarão muitos povos: os reis permanecerão mudos diante dele, porque verão o que nunca lhes tinha sido contado, e observarão um prodígio inaudito.

 
Capítulo 53

1. Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do Senhor?
2. Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos.
3. Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.
4. Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado.
5. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas.
6. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós.
7. Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.)
8. Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo?
9. Foi-lhe dada sepultura ao lado de fascínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira.
10. Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer sua vida em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e a vontade do Senhor será por ele realizada.
11. Após suportar em sua pessoa os tormentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o enlevo. O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniqüidades.
12. Eis por que lhe darei parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados.

 
Capítulo 54

1. Dá gritos de alegria, estéril, tu que não tens filhos; entoa cânticos de júbilo, tu que não dás à luz, porque os filhos da desamparada serão mais numerosos do que os da mulher casada, declara o Senhor.
2. Amplia o espaço da tua tenda, desdobra sem constrangimento as telas que te abrigam, alonga tuas cordas, consolida tuas estacas,
3. pois deverás estender-te à direita e à esquerda; teus descendentes vão invadir as nações, povoar as cidades desertas.
4. Nada temas, não serás desapontada. Não te sintas perturbada, não terás do que te envergonhar, porque vais esquecer-te da vileza de tua mocidade. Já não te lembrarás do opróbrio de tua viuvez,
5. pois teu esposo é o teu Criador: chama-se o Senhor dos exércitos; teu Redentor é o Santo de Israel: chama-se o Deus de toda a terra.
6. Como uma mulher abandonada e aflita, eu te chamo. Pode-se repudiar uma mulher desposada na juventude? – diz o Senhor teu Deus.
7. Por um momento eu te havia abandonado, mas com profunda afeição eu te recebo de novo.
8. Num acesso de cólera volvi de ti minha face. Mas no meu eterno amor, tenho compaixão de ti.
9. Vou fazer hoje como no tempo de Noé: tal como jurei então que o dilúvio de Noé não mais se abateria sobre a terra, do mesmo modo faço juramento de não mais me irritar contra ti, e de nunca mais te atemorizar.
10. Mesmo que as montanhas oscilassem e as colinas se abalassem, jamais meu amor te abandonará e jamais meu pacto de paz vacilará, diz o Senhor que se compadeceu de ti.
11. Infeliz, sacudida pela tempestade e sem alívio, eis que te vou construir em pedra de jaspe e preparar teus alicerces de safira.
12. Farei tuas ameias de rubis, as portas de cristal, e todo um recinto de pedras preciosas.
13. Todos os teus filhos serão instruídos pelo Senhor, e a felicidade deles será grande; tu serás fundada sobre a justiça.
14. Serás isenta de qualquer opressão, nada terás a temer, e de todo o terror, pois não poderá atingir-te.
15. Se te atacarem, não será de minha parte; teus agressores sucumbirão diante de ti.
16. De fato, fui eu quem criou o ferreiro, que sopra sobre o fogo de brasas e dele tira as armas trabalhadas pela sua arte; também fui eu quem criou os demolidores para destruir:
17. qualquer arma forjada contra ti, ver-se-á destinada ao insucesso, e na justiça ganharás causa de qualquer língua que quiser acusar-te. Tal é o apanágio dos servos do Senhor, tal é o triunfo que lhes reservo, diz o Senhor.

 
Capítulo 55

1. Todos vós, que estais sedentos, vinde à nascente das águas; vinde comer, vós que não tendes alimento. Vinde comprar trigo sem dinheiro, vinho e leite sem pagar!
2. Por que despender vosso dinheiro naquilo que não alimenta, e o produto de vosso trabalho naquilo que não sacia? Se me ouvis, comereis excelentes manjares, uma suculenta comida fará vossas delícias.
3. Prestai-me atenção, e vinde a mim; escutai, e vossa alma viverá: quero concluir convosco uma eterna aliança, outorgando-vos os favores prometidos a Davi.
4. Farei de ti um testemunho para os povos, um condutor soberano das nações;
5. conclamarás povos que nunca conheceste, e nações que te ignoravam acorrerão a ti, por causa do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel que fará tua glória.
6. Buscai o Senhor, já que ele se deixa encontrar; invocai-o, já que está perto.
7. Renuncie o malvado a seu comportamento, e o pecador a seus projetos; volte ao Senhor, que dele terá piedade, e a nosso Deus que perdoa generosamente.
8. Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor;
9. mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos.
10. Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não volvem sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer,
11. assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão.
12. Sim, partireis com júbilo, e sereis reconduzidos em paz; montanhas e colinas aclamar-vos-ão, e todas as árvores do campo vos aplaudirão.
13. Em lugar do espinheiro, crescerá o cipreste, em lugar da urtiga, crescerá a murta; isso será para o renome do Senhor, um título para sempre imperecível.

 
Capítulo 56

1. Eis o que diz o Senhor: respeitai o direito e praticai a justiça, porque minha salvação não tarda a chegar e minha justiça a revelar-se.
2. Feliz do homem que assim se comporta, e o filho do homem que se atém a isso, que observa o sábado sem profaná-lo, e abstém-se de toda má ação.
3. Que o estrangeiro que deseja afeiçoar-se ao Senhor não diga: Certamente o Senhor vai excluir-me de seu povo. Que o eunuco não diga: Oh! sou apenas um lenho seco.
4. Porque eis o que diz o Senhor: aos eunucos que observarem meus sábados, que escolherem o que me é agradável, e se afeiçoarem à minha aliança,
5. eu darei na minha casa e dentro de minhas muralhas um monumento e um nome de mais valor que filhos e filhas; dar-lhes-ei um nome que jamais perecerá.
6. Quanto aos estrangeiros que desejam unir-se ao Senhor, para servi-lo e amar seu nome, para serem seus servos, se observarem o sábado sem profaná-lo, e se se afeiçoarem à minha aliança,
7. eu os conduzirei ao meu monte santo e os cumularei de alegria na minha casa de oração; seus holocaustos e sacrifícios serão aceitos sobre meu altar, pois minha casa chamar-se-á Casa de Orações para todos os povos.
8. Oráculo do Senhor Deus que reúne os exilados de Israel: eu lhes agregarei ainda outros junto aos seus já reunidos.
9. Animais dos campos, vinde todos apascentar-vos, como também os animais da floresta.
10. Meus guardas estão todos cegos e não vêem nada; são cães mudos incapazes de latir, sonham estirados, gostam de cochilar;
11. são cães vorazes e insaciáveis (são pastores que nada observam), cada qual segue seu caminho em busca de seu interesse.
12. Vinde, vou buscar o vinho; com licores nos embriagaremos; amanhã, como hoje, haverá uma enorme bebedeira.

 
Capítulo 57

1. E o justo perece sem que ninguém se aperceba; as pessoas de bem são arrebatadas e ninguém se importa;
2. por causa do mal, o justo é arrebatado para entrar na paz; repousam sobre seus leitos aqueles que seguiam o caminho reto.
3. E vós, aproximai-vos, filhos da feiticeira, descendência da mulher adúltera e devassa!
4. De quem vos escarneceis? A quem fazeis caretas e mostrais a língua? Não sois filhos do pecado, raça bastarda?
5. Vós vos abrasais sob os arvoredos de terebintos e sob qualquer árvore verde; vós imolais crianças no leito das torrentes e nas cavernas dos rochedos.
6. As pedras polidas da torrente, eis o que te toca, sim, eis o teu quinhão; tu lhes ofereces libações, preparas-lhes oferendas. (Posso a isso resignar-me?)
7. Sobre o cume de elevada montanha preparas teu leito, e é aí que sobes para oferecer sacrifícios.
8. Por trás da porta e seus umbrais, colocas teu emblema, porque não foi para mim que tu te descobriste, que estendeste a cama onde subiste; vais assalariar para ti aqueles com quem desejas ter negócios; admirando o ídolo, multiplicaste com eles as prostituições.
9. Depois corres a Melec com óleos, és pródiga em aromas, envias ao longe teus mensageiros, e os fazes descer à morada dos mortos.
10. De tanto andar assim, tu te fatigas, sem jamais dizer: já basta; encontras ainda força, e segues sem parar.
11. A quem temias então? De quem tinhas medo, para ser infiel, para não te lembrares de mim nem te preocupares comigo? Sem dúvida eu me calava e fechava os olhos; por isso tu não me temias.
12. Pois bem, vou mostrar o que valem tua justiça e tuas obras! Elas não te servirão de coisa alguma,
13. quando pedires socorro. E não te salvarão teus ídolos: todos serão levados pelo vento. Um sopro as carregará. Aquele, porém, que contar comigo herdará a terra, e possuirá meu monte santo.
14. (Será dito:) Abri, abri a estrada, aplanai-a! Retirai do caminho de meu povo todo obstáculo!
15. Porque eis o que diz o Altíssimo, cuja morada é eterna e o nome santo: Habitando como Santo uma elevada morada, auxilio todavia o homem atormentado e humilhado; venho reanimar os humildes, e levantar os ânimos abatidos.
16. Realmente, não desejo controvérsias sem fim, nem persistir sempre no descontentamento, senão o espírito desfalecerá diante de mim, assim como as almas que criei.
17. Por causa do crime de meu povo me irritei um momento; feri-o, dando-lhe as costas na minha indignação, enquanto o rebelde agia segundo sua fantasia.
18. Vi sua conduta, disse o Senhor, e o curarei. Vou guiá-lo e consolá-lo,
19. vou fazer assomar aos lábios dos aflitos a ação de graças. Paz, paz àquele que está longe e àquele que está perto.
20. Mas os ímpios são como um mar encapelado, que não pode acalmar-se, cujas ondas revolvem lodo e lama. Não há paz para os ímpios, diz meu Deus.

 
Capítulo 58

1. Clama em alta voz, sem constrangimento; faze soar a tua voz como a corneta. Denuncia a meu povo suas faltas, e à casa de Jacó seus pecados.
2. Sem dúvida eles me procuram dia após dia, desejam conhecer o comportamento que me agrada, como uma nação que houvesse sempre praticado a justiça, sem abandonar a lei de seu Deus. Informam-se junto a mim sobre as exigências da justiça, desejam a presença de Deus.
3. De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção? É que no dia de vosso jejum, só cuidais de vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários.
4. Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz.
5. O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor?
6. Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? – diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo.
7. É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante.
8. Então tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá na tua retaguarda.
9. Então às tuas invocações, o Senhor responderá, e a teus gritos dirá: Eis-me aqui! Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações;
10. se deres do teu pão ao faminto, se alimentares os pobres, tua luz levantar-se-á na escuridão, e tua noite resplandecerá como o dia pleno.
11. O Senhor te guiará constantemente, alimentar-te-á no árido deserto, renovará teu vigor. Serás como um jardim bem irrigado, como uma fonte de águas inesgotáveis.
12. Reerguerás as ruínas antigas, reedificarás sobre os alicerces seculares; chamar-te-ão o reparador de brechas, o restaurador das moradias em ruínas.
13. Se te abstiveres de calcar aos pés o sábado, de cuidar de teus negócios no dia que me é consagrado, se achares o sábado um dia maravilhoso, se achares respeitável o dia consagrado ao Senhor, se tu o venerares não seguindo os teus caminhos, não te entregando às tuas ocupações e às conversações,
14. então encontrarás tua felicidade no Senhor: eu te farei galgar as alturas da terra, e gozar a herança de Jacó, teu pai; porque a boca do Senhor falou.

 
Capítulo 59

1. Não, não é a mão do Senhor que é incapaz de salvar, nem seu ouvido demasiado surdo para ouvir,
2. são vossos pecados que colocaram uma barreira entre vós e vosso Deus. Vossas faltas são o motivo pelo qual a Face se oculta para não vos ouvir,
3. porque vossas mãos estão manchadas de sangue e vossos dedos de crimes; vossos lábios proferem mentira, vossa língua entretém pérfidas conversas.
4. Pessoa alguma cita em justiça com razão, ninguém pleiteia de boa fé: apóiam-se sobre falsos argumentos, pretende-se aquilo que não é. Concebeu-se a intriga e gera-se o crime.
5. Chocam ovos de áspide, e tecem teias de aranha. Se se comem seus ovos, morre-se, se se quebra um, sai dele uma víbora;
6. suas teias não poderiam servir para roupa, não nos podemos cobrir com o que tecem. Fazem obras infamantes, entregam-se a atos de violência.
7. Seus pés correm para o mal: têm pressa de derramar o sangue inocente. Meditam projetos malignos, só se encontram sobre sua passagem estrago e ruínas;
8. o caminho da paz lhes é desconhecido, seguem atalhos tortuosos, onde aqueles que passam ignoram a felicidade.
9. Eis por que o direito permanece afastado de nós, e a justiça não vem a nós. Esperamos a luz, e eis as trevas; aguardamos o dia, e andamos na escuridão.
10. Vamos como cegos apalpando o muro, caminhamos às apalpadelas como aqueles que perderam a vista. Em pleno dia tropeçamos como ao crepúsculo, mergulhamos nas trevas como os mortos.
11. Rugimos todos como ursos, e gememos como pombas. Esperamos o direito, mas em vão, a salvação, mas ela permanece longe de nós,
12. porque nossas faltas são inúmeras perante vós, e nossos pecados dão testemunho contra nós; temos consciência de nossos crimes, e conhecemos nossas iniqüidades:
13. nós nos temos revoltado contra o Senhor e o temos renegado, nós nos afastamos de nosso Deus; só temos falado de opressão e de revolta, exalamos de nosso coração palavras mentirosas.
14. O direito é posto de lado, a justiça se mantém afastada, a boa fé tropeça na praça pública e não pode ali entrar a retidão.
15. Desaparecida a boa fé, fica despojado aquele que se abstém do mal. O Senhor viu com indignação que não havia mais justiça.
16. Viu que aí não existia pessoa alguma, e admirou-se de que ninguém interviesse. Então foi seu próprio braço que lhe veio em auxílio, e sua justiça que lhe serviu de apoio.
17. Vestiu a justiça como uma couraça, pôs sobre a cabeça o capacete da salvação, revestiu-se da vingança como de uma cota de armas, e envolveu-se de zelo como de um manto.
18. Pagará a cada um segundo suas obras: cólera contra seus adversários, represália contra seus inimigos. (Usará de represálias contra as ilhas).
19. Desde o poente será visto o nome do Senhor, e desde o levante sua majestade, pois ele virá como uma torrente impetuosa precipitada pelo sopro do Senhor.
20. Mas virá como redentor a Sião, e aos filhos arrependidos de Jacó – Oráculo do Senhor.
21. (Eis minha aliança com eles, diz o Senhor: meu espírito que sobre ti repousa, e minhas palavras que coloquei em tua boca não deixarão teus lábios nem os de teus filhos, nem os de seus descendentes, diz o Senhor, desde agora e para sempre).

 
Capítulo 60

1. Levanta-te, sê radiosa, eis a tua luz! A glória do Senhor se levanta sobre ti.
2. Vê, a noite cobre a terra e a escuridão, os povos, mas sobre ti levanta-se o Senhor, e sua glória te ilumina.
3. As nações se encaminharão à tua luz, e os reis, ao brilho de tua aurora.
4. Levanta os olhos e olha à tua volta: todos se reúnem para vir a ti; teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são transportadas à garupa.
5. Essa visão tornar-te-á radiante; teu coração palpitará e se dilatará, porque para ti afluirão as riquezas do mar, e a ti virão os tesouros das nações.
6. Serás invadida por uma multidão de camelos, pelos dromedários de Madiã e de Efá; virão todos de Sabá, trazendo ouro e incenso, e publicando os louvores do Senhor.
7. Todo o gado menor de Cedar se reunirá junto a ti, os carneiros de Nabaiot ficarão à tua disposição; fá-los-ão subir sobre meu altar para minha satisfação, e para a honra de meu templo glorioso.
8. Quem é que voa assim como as nuvens, ou como as pombas volvendo ao pombal?
9. Sim, as frotas convergem para mim, e os navios de Társis abrem a marcha, para trazer de longe teus filhos, bem como sua prata e seu ouro, para honrar o nome do Senhor teu Deus, o Santo de Israel, que te cobriu de glória.
10. Estrangeiros reerguerão tuas muralhas, e seus reis te servirão, pois, se te castiguei na minha cólera, na minha bondade tenho piedade de ti.
11. Tuas portas ficarão abertas permanentemente, nem de dia nem de noite serão fechadas, a fim de deixar afluir as riquezas das nações sob a custódia de seus reis.
12. (Porque a nação ou o reino que recusar servir-te perecerá, e sua terra será devastada).
13. A glória do Líbano virá a ti, e todos juntos, o cipreste, a faia e o buxo, para ornamentar meu lugar santo e honrar o lugar onde pousam meus pés.
14. Os próprios filhos de teus opressores a ti virão humilhados; a teus pés se prostrarão todos aqueles que te desprezavam; chamar-te-ão a cidade do Senhor, a Sião do Santo de Israel.
15. De abandonada e amaldiçoada, sem ninguém para te socorrer, farei de ti um objeto de admiração para sempre, um motivo de alegria para as gerações futuras.
16. Sugarás o leite das nações, e mamarás ao peito dos reis: saberás que eu, o Senhor, sou teu salvador, que teu redentor é o Poderoso de Jacó.
17. Em vez de bronze, farei vir ouro; em lugar de ferro, farei vir prata; (em vez de madeira, bronze; em vez de pedras, ferro), farei reinar sobre ti a paz, e governar a justiça.
18. Não se ouvirá mais falar de violência em tua terra, nem de devastações e de ruínas em teu território. Chamarás tuas muralhas Salvação, tuas portas, Glória.
19. Não terás mais necessidade de sol para te alumiar, nem de lua para te iluminar: permanentemente terás por luz o Senhor, e teu Deus por resplendor.
20. Teu sol não mais se deitará, e tua lua não terá mais declínio, porque terás constantemente o Senhor por luz, e teus dias de luto estarão acabados.
21. Teu povo será um povo de justos que possuirá a terra para sempre; será uma planta cultivada pelo Senhor, obra de suas mãos destinada à sua glória.
22. Do menor nascerá toda uma tribo, e do mínimo, uma nação poderosa, sou eu, o Senhor, que em tempo oportuno realizarei essas coisas.

 
Capítulo 61

1. O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção; enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade;
2. proclamar um ano de graças da parte do Senhor, e um dia de vingança de nosso Deus; consolar todos os aflitos,
3. dar-lhes um diadema em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de vestidos de luto, cânticos de glória em lugar de desespero. Então os chamarão as azinheiras da justiça, plantadas pelo Senhor para sua glória.
4. Reconstruirão as ruínas antigas, reerguerão as relíquias do passado, restaurarão as cidades destruídas, repararão as devastações seculares;
5. virão estrangeiros apascentar vosso gado miúdo, gente de fora vos servirá de lavradores e vinhateiros;
6. a vós chamar-vos-ão sacerdotes do Senhor, de ministros de nosso Deus sereis qualificados. Vós vos alimentareis com as riquezas das nações, e brilhareis com sua opulência.
7. Já que tiveram parte dupla de vergonha e tiveram como quinhão opróbrios e escarros, receberão em sua terra parte dupla de herança, e a alegria deles será eterna.
8. Porque eu, o Senhor, amo a eqüidade, e detesto o fruto da rapina; por isso vou dar-lhes fielmente sua recompensa, e concluir com eles uma aliança eterna.
9. Sua raça tornar-se-á célebre entre as nações, e sua descendência entre os povos: todos, vendo-os, reconhecerão que são a abençoada raça do Senhor.
10. Com grande alegria eu me rejubilarei no Senhor e meu coração exultará de alegria em meu Deus, porque me fez revestir as vestimentas da salvação. Envolveu-me com o manto de justiça, como um neo-esposo cinge o turbante, como uma jovem esposa se enfeita com suas jóias.
11. Porque, quão certo o sol faz germinar seus grãos e um jardim faz brotar suas sementes, o Senhor Deus fará germinar a justiça e a glória diante de todas as nações.

 
Capítulo 62

1. Por amor a Sião, eu não me calarei, por amor de Jerusalém, não terei sossego, até que sua justiça brilhe como a aurora, e sua salvação como uma flama.
2. As nações verão então tua vitória, e todos os reis teu triunfo. Receberás então um novo nome, determinado pela boca do Senhor.
3. E tu serás uma esplêndida coroa na mão do Senhor, um diadema real entre as mãos do teu Deus;
4. não mais serás chamada a desamparada, nem tua terra, a abandonada; serás chamada: minha preferida, e tua terra: a desposada, porque o Senhor se comprazerá em ti e tua terra terá um esposo;
5. assim como um jovem desposa uma jovem, aquele que te tiver construído te desposará; e como a recém-casada faz a alegria de seu marido, tu farás a alegria de teu Deus.
6. Sobre tuas muralhas, Jerusalém, coloquei vigias; nem de dia nem de noite devem calar-se. Vós, que deveis manter desperta a memória do Senhor, não vos concedais descanso algum
7. e não o deixeis em paz, até que tenha restabelecido Jerusalém para dela fazer a glória da terra.
8. O Senhor o jurou por sua destra e por seu braço poderoso: Não deixarei mais teus inimigos alimentarem-se de teu trigo, nem os estrangeiros beberem o vinho, produto de teu trabalho.
9. Aqueles que colherem o trigo o comerão louvando o Senhor; aqueles que vindimarem beberão o vinho no átrio de meu santuário.
10. Passai, passai pelas portas, preparai o caminho ao povo! Abri, abri a estrada, retirai dela as pedras! Alçai o estandarte para convocar os povos.
11. Eis o que o Senhor proclama até os confins da terra: Dizei a Sião: eis, aí vem teu salvador; eis com ele o preço de sua vitória, ele faz-se preceder dos frutos de sua conquista;
12. os resgatados do Senhor serão chamados Povo Santo, e tu, cidade não mais desamparada, serás chamada a desejada.

 
Capítulo 63

1. Quem é aquele que vem de Edom, de Bosra, as vestes tintas, envolvido num traje magnífico, altaneiro na plenitude de sua força? Sou eu, que luto pela justiça e sou poderoso para salvar.
2. Por que, pois, tuas roupas estão vermelhas como as vestimentas daquele que pisa num lagar?
3. Eu pisei sozinho o lagar, e ninguém dentre os povos me auxiliou. Então eu os calquei com cólera, esmaguei-os com fúria; o sangue deles espirrou sobre meu vestuário, manchei todas as minhas roupas.
4. É que eu desejava um dia de vingança, e o ano da redenção dos meus havia chegado.
5. Olhei então, e não houve pessoa alguma para me ajudar; estranhei que ninguém me viesse amparar; então apelei para meu braço e achei forças na minha indignação.
6. Por isso, na minha cólera, arrasei os povos, na minha fúria triturei-os, fazendo correr seu sangue pela terra.
7. Quero celebrar os benefícios do Senhor e seus gloriosos feitos, por tudo o que fez em nosso favor, e por sua grande bondade, com a qual nos cumulou na sua ternura e na riqueza de seu amor.
8. Verdadeiramente, dizia de si para si, aqueles são meu povo, filhos que não me renegarão. E tornou-se seu salvador
9. em todas as suas aflições. Não era um mensageiro nem um anjo, mas sua própria Face que os salvava. No seu amor e na sua ternura ele mesmo os livrava do perigo. Durante o passado sustentou-os e amparou-os constantemente.
10. Mas revoltaram-se, ofenderam seu santo espírito, desde então tornou-se inimigo deles, e lhes fez guerra. Então se lembraram dos dias de outrora, de Moisés, seu servo.
11. Onde está aquele que tirou dos céus o pastor de seu rebanho? Onde está aquele que pôs nele seu santo espírito?
12. Aquele que à direita de Moisés atuou com o seu braço glorioso, e dividiu as águas diante dos seus para assegurar-se um renome eterno;
13. e os conduziu através dos abismos, sem tropeçarem, como o cavalo em descampado.
14. Como ao animal que desce ao vale, o espírito do Senhor os levava ao repouso. Foi assim que conduzistes vosso povo, para afirmar vosso glorioso renome.
15. Olhai do alto do céu e vede de vossa santa e gloriosa morada: Que foi feito de vosso amor ciumento e de vosso poder, e da emoção de vosso coração? Dai livre expansão à vossa ternura,
16. porque sois nosso pai. Abraão, de fato, nos ignora, e Israel não nos conhece; sois vós, Senhor, o nosso pai, nosso Redentor desde os tempos passados.
17. Por que, Senhor, desviar-nos para longe de vossos caminhos, por que tornar nossos corações insensíveis ao vosso temor? Voltai, por amor de vossos servos e das tribos de vossa herança!
18. Por que pagãos invadiram vosso templo, e nossos inimigos pisaram vosso santuário? Há muito tempo estamos como gente que já não governais, e que não traz vosso nome.

 
Capítulo 64

1. Oh! Se rasgásseis os céus, se descêsseis para fazer desabar diante de vós as montanhas,
2. como o fogo faz fundir a cera, como a chama faz evaporar a água, assim faríeis conhecer a vossos adversários quem sois, e as nações tremeriam diante de vós,
3. vendo-vos executar prodígios inesperados dos quais nunca se tinha ouvido falar.
4. Nenhum ouvido ouviu, olho algum viu outro deus salvar assim aqueles que contam com ele.
5. Vós vindes à frente daqueles que procedem bem, e se recordam de vossas vias. Eis que vos irritastes, e nós éramos culpados; isso perdura há muito tempo: como seríamos salvos?
6. Todos nós nos tornamos como homens impuros, nossas boas ações são como roupa manchada; como folhas todos nós murchamos, levados por nossos pecados como folhas pelo vento.
7. Não há ninguém para invocar vosso nome, para recuperar-se e a vós se afeiçoar, porque nos escondeis a vossa Face, e nos deixais ir a nossos pecados.
8. E, no entanto, Senhor, vós sois nosso pai; nós somos a argila da qual sois o oleiro: todos nós fomos modelados por vossas mãos.
9. Oh! Senhor, não vos irriteis excessivamente! Não guardeis a lembrança da culpa indefinidamente. Olhai, pois! Somos vosso povo:
10. apesar disso, vossas cidades santas tornaram-se um deserto, Sião tornou-se um ermo, Jerusalém, uma solidão.
11. Nosso santo e glorioso templo, onde nossos antepassados celebravam vossos louvores, tornou-se presa das chamas: tudo o que tínhamos de precioso foi saqueado.
12. A esse espetáculo, Senhor, podereis ficar insensível? Guardar silêncio e humilhar-nos mais ainda?

 
Capítulo 65

1. Mantive-me à disposição das pessoas que não me consultavam, ofereci-me àqueles que não me procuravam. Eis-me aqui, eis-me aqui, dizia eu a um povo que não invocava meu nome.
2. Estendia constantemente as mãos a uma nação indócil e rebelde, que seguia o mau caminho de acordo com suas inclinações;
3. há pessoas que não cessam de provocar-me diretamente, que sacrificam nos jardins, e queimam perfumes em cima de tijolos,
4. que se instalam nos túmulos, e passam a noite em antros, que comem carne de porco, e guarnecem seus pratos de alimentos imundos;
5. Mantém-te à distância, dizem eles, não me toques, porque eu te santificaria. Tudo isso me enche as narinas da fumaça, de um fogo que queima sempre.
6. Pois bem, eis a decisão que tomei: não me calarei enquanto não os fizer expiar
7. suas iniqüidades e as de seus pais, que queimavam o incenso nas montanhas, e me ultrajavam nas colinas. Vou calcular o salário deles, e lançá-lo em seu próprio seio.
8. Eis o que diz o Senhor: quando se encontra sumo num cacho de uvas, diz-se: Não o destruam, há aí uma bênção. Assim, por amor a meus servos, em lugar de destruir tudo,
9. tirarei de Jacó uma raça, e de Judá um herdeiro de minhas montanhas; meus eleitos as possuirão, e meus servos aí viverão.
10. Saron servirá de pastagem ao rebanho miúdo, e no vale de Acor espojar-se-ão os bois (para o povo que me tiver procurado).
11. Quanto a vós, desertores do Senhor, que haveis esquecido meu monte santo, que preparais a mesa para Gad, e encheis a taça de vinho aromatizado para Meni,
12. à espada eu vos destino; todos vós vos curvareis para serdes degolados, porque quando eu chamava, não respondíeis; quando falava, vos fazíeis de surdos; praticáveis o que eu acho ruim, e escolhíeis o que me desagrada.
13. Portanto, eis o que diz o Senhor Deus: meus servos comerão e vós tereis fome, meus servos beberão e vós tereis sede, meus servos se rejubilarão e vós ficareis envergonhados,
14. meus servos cantarão na alegria de seu coração, e vós vos lamentareis com o coração angustiado, rugireis com a alma em desespero.
15. Vosso nome ficará como um termo de maldição entre meus eleitos: (Que o Senhor Deus te faça morrer!) enquanto meus servos receberão um novo nome.
16. Aquele que desejar ser abençoado na terra, desejará sê-lo pelo Deus fiel, e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus fiel, porque as desgraças de outrora serão esquecidas, já não lhes volverão ao espírito.
17. Pois eu vou criar novos céus, e uma nova terra; o passado já não será lembrado, já não volverá ao espírito,
18. mas será experimentada a alegria e a felicidade eterna daquilo que vou criar. Pois vou criar uma Jerusalém destinada à alegria, e seu povo ao júbilo;
19. Jerusalém me alegrará, e meu povo me rejubilará; doravante já não se ouvirá aí o ruído de soluços nem de gritos.
20. Já não morrerá aí nenhum menino, nem ancião que não haja completado seus dias; será ainda jovem o que morrer aos cem anos: não atingir cem anos será uma maldição.
21. Serão construídas casas onde habitarão, serão plantadas vinhas cujos frutos comerão.
22. Não mais se construirá para que outro se instale; não mais se plantará para que outro se alimente. Os filhos de meu povo durarão tanto quanto as árvores, e meus eleitos gozarão do trabalho de suas mãos.
23. Não trabalharão mais em vão, não darão mais à luz filhos votados a uma morte repentina, porque serão a raça abençoada pelo Senhor, eles e seus descendentes.
24. Antes mesmo que me chamem, eu lhes responderei; estarão ainda falando e já serão atendidos.
25. O lobo e o cordeiro pastarão juntos, o leão, como um boi, se alimentará de palha, e a serpente comerá terra. Nenhum mal nem desordem alguma será cometida, em todo o meu monte santo, diz o Senhor.

 
Capítulo 66

1. Eis o que diz o Senhor: o céu é meu trono, e a terra meu escabelo. Que casa poderíeis contruir-me, que lugar poderíeis indicar-me para moradia?
2. Fui eu quem fez o universo, e tudo me pertence, declara o Senhor E o angustiado que atrai meus olhares, o coração contrito que teme minha palavra.
3. Imola-se um boi e mata-se um homem, sacrifica-se uma ovelha e parte-se a nuca de um cão, apresenta-se uma oblação e derrama-se sangue de porco, queima-se incenso e veneram-se ídolos; tal como essa gente adere a suas práticas, e aprecia seus atos abomináveis,
4. também eu terei prazer em maltratá-los. E farei vir sobre eles os males que temem, porque chamei, sem que ninguém me respondesse, falei, sem que me escutassem, porque fizeram aquilo que considero um mal, e escolheram o que me desagrada.
5. Ouvi a palavra do Senhor, vós que a temeis! eis o que dizem vossos irmãos que vos odeiam, que vos renegam por causa de meu nome: Que o Senhor manifeste sua glória para que vejamos vossa alegria! Mas eles serão confundidos.
6. Escutai esse tumulto que se levanta da cidade, esse barulho que vem do templo. Escutai, é o Senhor que trata seus inimigos como o merecem.
7. Antes da hora ela deu à luz, antes de sentir as dores, deu à luz um filho.
8. Quem jamais ouviu tal coisa, quem jamais viu coisa semelhante? É possível um país nascer num dia? Pode uma nação ser criada repentinamente? Desde as primeiras dores Sião deu à luz seus filhos.
9. Para que não desse à luz abriria eu o seio materno?, diz o Senhor. Eu que dou a fecundidade, o fecharia?, diz teu Deus.
10. Regozijai-vos com Jerusalém e encontrai aí a vossa alegria, vós todos que a amais; com ela ficai cheios de alegria, vós todos que estais de luto,
11. a fim de vos amamentar à saciedade em seu seio que consola, a fim de que sugueis com delícias seus peitos generosos.
12. Pois eis o que diz o Senhor: vou fazer a paz correr para ela como um rio, e como uma torrente transbordante a opulência das nações. Seus filhinhos serão carregados ao colo, e acariciados no regaço.
13. Como uma criança que a mãe consola, sereis consolados em Jerusalém.
14. Com essa visão vossos corações pulsarão de alegria, e vossos membros se fortalecerão como plantas. O Senhor manifestará a seus servos seu poder, e aos seus inimigos sua cólera.
15. Pois o Senhor virá no meio do fogo, com seus carros semelhantes ao furacão, para satisfazer sua cólera num braseiro, e cumprir suas ameaças em chamas ardentes;
16. porque o Senhor fará a justiça de toda a terra pelo fogo e de todo o ser vivente pela espada, e muitos cairão sob os golpes do Senhor.
17. Aqueles que se santificam e se purificam para ir aos jardins, conduzidos por alguém que se encontra no meio deles, aqueles que comem carne de porco, de animais rasteiros e ratos, verão cessar ao mesmo tempo suas maneiras de agir e de pensar, declara o Senhor.
18. E virei para reunir os homens de todas as nações e de todas as línguas; todos virão e verão minha glória.
19. Executarei no meio deles um prodígio e enviarei às nações aqueles dentre eles que tiverem escapado (a Társis, Put e Lud, Mosoc e Ros, Tubal e Javã), às ilhas longínquas que nunca ouviram falar de mim e não viram minha glória; eles farão conhecer às nações a minha glória.
20. De cada uma das nações trarão todos os vossos irmãos como oferenda ao Senhor, a cavalo, em carros, em liteiras, em lombo de mulas e de dromedários, ao meu monte santo, a Jerusalém, diz o Senhor, tal como os filhos de Israel trazem sua oferenda em vasos purificados à casa do Senhor.
21. Escolherei mesmo entre eles sacerdotes e levitas, diz o Senhor.
22. Pois, assim como os novos céus e a nova terra que vou criar devem subsistir diante de mim, declara o Senhor, assim devem subsistir vossa raça e vosso nome.
23. E assim, cada mês, à lua nova, e cada semana, aos sábados, todos virão prostrar-se diante de mim, diz o Senhor.
24. E quando se virarem, poderão ver os cadáveres daqueles que se revoltaram contra mim, porque o verme deles não morrerá e seu fogo não se extinguirá, e para todos serão um espetáculo horripilante.

 

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