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Livro dos Juízes

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Livro dos Juízes

 Capítulo 1

1. Depois da morte de Josué, os israelitas consultaram o Senhor: Quem dentre nós será o primeiro a combater os cananeus?
2. O Senhor respondeu: Judá, pois eu entregarei a terra nas suas mãos.
3. Então Judá disse a Simeão, seu irmão: Vem comigo à terra que me coube por sorte, para combatermos contra os cananeus. Depois irei contigo à tua terra. Simeão partiu com ele.
4. Judá travou combate e o Senhor entregou-lhe os cananeus e os ferezeus; derrotaram dez mil homens em Bezec.
5. Ali encontraram Adoni-Bezec, atacaram-no e derrotaram os cananeus e os ferezeus.
6. Adoni-Bezec fugiu, mas eles o perseguiram, prenderam-no e cortaram-lhe os polegares das mãos e os hálux dos pés.
7. Adoni-Bezec disse: Setenta reis, com os polegares das mãos e os hálux dos pés cortados, apanhavam debaixo de minha mesa os sobejos da comida. Como eu fiz, assim Deus me faz. E conduziram-no a Jerusalém, onde morreu.
8. Os juditas atacaram Jerusalém e tomaram-na. Passaram os seus habitantes ao fio da espada e incendiaram a cidade.
9. Desceram dali e combateram os cananeus das montanhas, do meio-dia e da planície.
10. Judá marchou contra os cananeus de Hebron (chamada antigamente Cariat-Arbé), e derrotou Sesai, Aimã e Tolmai.
11. Marchou depois contra os habitantes de Dabir, que antigamente se chamava Cariat-Sefer.
12. Caleb tinha dito: Àquele que combater e tomar Cariat-Sefer darei por mulher minha filha Axa.
13. Otoniel, filho de Cenez, irmão mais novo de Caleb, tomou a cidade; e Caleb deu-lhe sua filha Axa por mulher.
14. Chegando Axa à casa de seu marido, ele moveu-a a que pedisse um campo ao seu pai. (E pela segunda vez) ela saltou de seu jumento, e Caleb disse-lhe: Que tens?
15. Dá-me, respondeu ela, um presente. Instalaste-me em uma terra árida; dá-me também fontes de água! E Caleb deu-lhe as fontes superiores e inferiores.
16. Os filhos de Hobab, o quenita, cunhado de Moisés, subiram da cidade das Palmeiras com os juditas, no deserto de Judá, ao sul de Arad, e vieram estabelecer-se com o povo.
17. Judá prosseguiu sua marcha com Simeão, seu irmão, e derrotaram os cananeus de Sefaat. Votaram a cidade ao interdito e ela recebeu o nome de Horma.
18. Judá tomou também Gaza e seu território, bem como Ascalon e Acaron com seus territórios.
19. O Senhor estava com Judá, e ele conquistou a montanha; porém, não pôde despojar os habitantes da planície que possuíam carros de ferro.
20. Conforme o que Moisés tinha dito, deram Hebron a Caleb, que expulsou dela os três filhos de Enac.
21. Os benjaminitas não exterminaram os jebuseus de Jerusalém; por isso, os jebuseus habitaram em Jerusalém com os benjaminitas até o presente.
22. A família de José marchou também contra Betel, e o Senhor esteve com eles.
23. E quando exploravam Betel, que antes se chamava Luz,
24. viram um homem que saía da cidade, e disseram-lhe: Mostra-nos por onde se pode entrar na cidade e usaremos de misericórdia contigo.
25. Ele indicou-lhes a entrada, e passaram a localidade ao fio da espada, poupando, porém, aquele homem com a sua família.
26. Este emigrou para a terra dos hiteus, onde construiu uma cidade, à qual pôs o nome de Luz, nome que ela conserva ainda hoje.
27. Manassés não expulsou os habitantes de Betsã com suas aldeias, nem os de Tanac, de Dor, de Jeblaão, de Magedo, com suas aldeias, porque os cananeus estavam decididos a ocupar essa terra.
28. Quando se tornaram mais fortes, os israelitas fizeram-nos tributários, mas não os despojaram.
29. Efraim não expulsou os cananeus de Geser, os quais continuaram a habitar em Geser, no meio de Efraim.
30. Zabulon não expulsou os habitantes de Cetron, nem os de Naalol; e os cananeus continuaram a habitar no meio de Zabulon, embora sujeitos ao tributo.
31. Aser não expulsou os habitantes de Aco, nem os de Sidon, nem os de Aalab, de Acasib, de Helba, de Afec e de Roob;
32. os filhos de Aser estabeleceram-se entre os cananeus, habitantes daquela terra; não os despojaram.
33. Neftali não expulsou os habitantes de Bet-Sames, nem os de Bet-Anat, e estabeleceu-se entre os cananeus, habitantes daquela terra; os betsamitas e os betanitas ficaram-lhe tributários.
34. Os amorreus repeliram os danitas para a montanha, e não os deixaram descer para a planície.
35. Persistiram em ficar em Har-Harés, em Ajalon e em Salebim; mas a mão da casa de José prevaleceu sobre eles, e tiveram de pagar o tributo.
36. O território dos amorreus estendia-se desde a costa de Acrabim e de Sela, para o norte.

 
Capítulo 2

1. O anjo do Senhor subiu de Gálgala a Boquim e disse: Eu vos fiz subir do Egito e vos conduzi a esta terra que eu tinha prometido com juramento a vossos pais. E vos tinha dito: jamais hei de romper a aliança que fiz convosco;
2. vós, porém, não fareis aliança com os habitantes desta terra e lançareis por terra os seus altares! Ora, vós não obedecestes à minha voz.
3. Por que fizestes isso? Por essa razão eu disse: não os expulsarei de diante de vós; eles permanecerão ao vosso lado e os seus deuses vos serão um laço.
4. Ao dizer o anjo do Senhor estas palavras aos filhos de Israel, o povo pôs-se a chorar.
5. Pelo que chamaram àquele lugar Boquim, e ofereceram ali sacrifícios ao Senhor.
6. Josué despediu o povo, e os israelitas foram cada um para a sua herança, a fim de tomar posse da terra.
7. Durante toda a vida de Josué e dos anciãos que lhe sobreviveram, e que tinham testemunhado a grande obra que o Senhor tinha feito em favor de Israel, o povo serviu o Senhor.
8. Josué, filho de Nun, servo do Senhor, morreu com a idade de cento e dez anos.
9. Sepultaram-no no território de sua possessão, em Tamnat-Heres, na montanha de Efraim, ao norte do monte de Gaas.
10. Toda aquela geração se foi também unir a seus pais, e sucedeu-lhe outra que não conhecia o Senhor, nem o que ele tinha feito em favor de Israel.
11. Os israelitas fizeram então o mal aos olhos do Senhor e serviram os Baal.
12. Abandonaram o Senhor, o Deus de seus pais, que os tinha tirado do Egito, e seguiram outros deuses, os dos povos que habitavam em torno deles; prostraram-se diante deles, excitando assim a cólera do Senhor.
13. Abandonaram o Senhor para servirem Baal e Astarot.
14. A cólera do Senhor inflamou-se contra Israel, e ele entregou-os nas mãos de piratas, que os despojaram, e vendeu-os aos inimigos dos arredores, de sorte que não puderam mais resistir-lhes.
15. Para onde quer que fossem, a mão do Senhor estava contra eles para fazer-lhes mal, como o Senhor lhes tinha dito e jurado, e viram-se em grande aflição.
16. (Entretanto) o Senhor suscitava-lhes juízes que os livraram das mãos dos opressores,
17. mas nem mesmo os seus juízes ouviam e continuavam prostituindo-se a outros deuses, adorando-os. Abandonaram depressa o caminho que tinham seguido seus pais, na obediência aos mandamentos do Senhor, e não os imitaram.
18. Ora, quando o Senhor suscitava juízes, ele estava com o juiz para livrá-los de seus inimigos enquanto vivesse o juiz: o Senhor compadecia-se dos gemidos que soltavam diante de seus inimigos e de seus opressores.
19. Mas, depois que o juiz morria, corrompiam-se e se tornavam ainda piores do que seus pais, seguindo outros deuses, servindo-os e adorando-os; e não renunciavam aos seus crimes e à sua obstinação.
20. Inflamou-se, pois, contra Israel a cólera do Senhor: Visto que este povo violou o meu pacto, dizia ele, a aliança que eu tinha feito com seus pais, e não obedeceram à minha voz,
21. também eu não expulsarei de diante deles nenhuma das nações que Josué deixou ao morrer.
22. Por elas, queria o Senhor provar os israelitas, e ver se eles seguiriam ou não o caminho do Senhor, como o tinham feito seus pais.
23. E o Senhor deixou subsistir todas essas nações que não tinha entregue nas mãos de Josué, e não as quis expulsar logo.

 
Capítulo 3

1. Estas são as nações que o Senhor deixou subsistir para provar por meio delas os israelitas, todos aqueles que não tinham visto as guerras de Canaã,
2. e isso tão-somente para instrução das novas gerações israelitas, a fim de lhes ensinar a combater, ao menos àqueles que não o tinham feito antes.
3. Eram os cinco príncipes dos filisteus, todos os cananeus, os sidônios, os heveus que habitavam os montes do Líbano, desde a montanha de Baal-Hermon até a entrada de Hamat.
4. Essas nações ficaram para provar Israel, e ver se eles obedeceriam aos mandamentos que o Senhor havia prescrito aos seus pais por intermédio de Moisés.
5. Os filhos de Israel habitaram no meio dos cananeus, dos hiteus, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus.
6. Tomaram por mulheres suas filhas e eles mesmos deram suas filhas aos filhos deles, e serviram os seus deuses.
7. Os israelitas fizeram o mal aos olhos do Senhor, esqueceram-se do Senhor, seu Deus, e serviram aos baal e às asserá.
8. A ira do Senhor inflamou-se contra Israel, e ele entregou-os nas mãos de Cusã-Rasataim, rei da Mesopotâmia, a quem ficaram sujeitos durante oito anos.
9. Os israelitas clamaram ao Senhor, que lhes suscitou um libertador para salvá-los: Otoniel, filho de Cenez, irmão mais novo de Caleb.
10. O Espírito do Senhor desceu sobre ele: ele julgou Israel e saiu para a guerra. O Senhor entregou-lhe Cusã-Rasataim, rei da Mesopotâmia, e sua mão triunfou sobre ele.
11. A terra teve quarenta anos de descanso, e Otoniel, filho de Cenez, morreu.
12. Os israelitas fizeram de novo o mal aos olhos do Senhor, e o Senhor excitou contra eles Eglon, rei de Moab, porque tinham feito o mal aos seus olhos.
13. Eglon aliou-se aos filhos de Amon e de Amalec, e pôs-se em marcha contra Israel; derrotou-o e apoderou-se da cidade das Palmeiras.
14. E os israelitas estiveram sujeitos a Eglon, rei de Moab, por dezoito anos.
15. Os filhos de Israel clamaram ao Senhor, que lhes suscitou um libertador na pessoa de Aod, o canhoto, filho de Gera, benjaminita. Os filhos de Israel mandaram, por meio dele, um presente a Eglon, rei de Moab.
16. Aod mandou fazer para si uma espada de dois gumes, de um côvado de comprimento, e a levava debaixo de suas vestes, apoiada na coxa direita.
17. Ele veio e ofereceu o presente a Eglon, rei de Moab, que era muito gordo.
18. Terminada a cerimônia, levou os homens que tinham trazido o presente
19. até as estelas próximas de Gálgala. Voltou ao rei e disse-lhe: Senhor, tenho uma palavra a dizer-te. Silêncio, ordenou o rei; e todos os seus familiares se retiraram.
20. Aod entrou; o rei estava assentado, só, no seu quarto de verão. Tenho a dizer-te uma palavra da parte do Senhor, disse Aod. O rei levantou-se do seu trono.
21. E logo tomou Aod com a mão esquerda a espada que trazia na coxa direita e mergulhou-lha no ventre
22. com tanta força que o próprio cabo entrou após a lâmina, e ficou coberto pela muita gordura. E não retirou do ventre sua espada, cuja lâmina saía por detrás.
23. Aod saiu pela galeria, depois de ter fechado bem atrás de si as portas do quarto de cima, deixando-as trancadas.
24. E, tendo ele partido, notaram os servos do rei que as portas estavam fechadas: Sem dúvida, disseram, estará fazendo necessidade, em seu quarto de verão.
25. Mas, depois de esperarem muito tempo, ficaram alarmados, e, vendo que a porta do apartamento não se abria, tomaram a chave, abriram-na e encontraram o seu senhor morto e estendido por terra.
26. Enquanto isso, Aod fugiu para além das estelas, e foi para Seirat.
27. Logo que chegou à montanha de Efraim, tocou a trombeta e os filhos de Israel desceram da montanha com ele.
28. Segui-me, disse-lhes ele, porque o Senhor entregou-vos os moabitas, vossos inimigos. Eles o seguiram e ocuparam os vaus do Jordão, por onde se vai a Moab, de modo a não deixar passar ninguém.
29. Mataram então cerca de dez mil homens, todo o escol e todo o vigor de Moab; ninguém escapou.
30. Naquele dia foi Moab humilhado sob a mão de Israel. E a terra teve um descanso de oitenta anos.
31. Depois de Aod, Samgar, filho de Anat, derrotou seiscentos filisteus com um aguilhão de bois. Samgar também foi um libertador para Israel.

 
Capítulo 4

1. Depois da morte de Aod, os israelitas continuaram a fazer o mal aos olhos do Senhor.
2. Então o Senhor entregou-os nas mãos de Jabin, rei de Canaã, que reinava em Asor. Seu exército era chefiado por Sísara, que habitava em Haroset-Goim.
3. Os filhos de Israel clamaram ao Senhor, porque Jabin tinha novecentos carros de ferro e oprimia-os duramente já fazia vinte anos.
4. Naquela época, a profetisa Débora mulher de Lapidot, era juíza em Israel.
5. Sentava-se sob a palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na montanha de Efraim, e os israelitas iam ter com ela para que julgasse suas questões.
6. Ela mandou chamar Barac, filho de Abinoem, de Cedes em Neftali, e disse-lhe: Eis o que te ordena o Senhor, Deus de Israel: vai ao monte Tabor; toma contigo dez mil homens dos filhos de Neftali e de Zabulon.
7. Quando estiveres na torrente de Cison, conduzir-te-ei Sísara, chefe do exército de Jabin, com seus carros e suas tropas, e to entregarei.
8. Barac respondeu-lhe: Se vieres comigo, irei; mas se não quiseres vir comigo, não irei.
9. Sim, disse ela, irei contigo; mas a glória da expedição não será tua, porque o Senhor entregará Sísara nas mãos de uma mulher. E Débora foi com Barac a Cedes.
10. Barac convocou ali Zabulon e Neftali: dez mil homens levantaram-se e seguiram-no, tendo Débora em sua companhia.
11. Ora, Heber, o cineu, tinha-se separado dos cineus da família de Hobab, cunhado de Moisés, e tinha levantado suas tendas até o carvalhal de Senim, perto de Cedes.
12. Foi anunciado a Sísara que Barac, filho de Abinoem, estava em marcha para o monte Tabor.
13. Mandou então vir de Haroset-Goim todos os seus carros, novecentos carros de ferro, e todo o povo que estava com ele até a torrente de Cison.
14. Débora disse a Barac: Vai-te, porque este é o dia em que o Senhor te entregará Sísara. O Senhor mesmo marcha adiante de ti. Barac desceu do monte Tabor com dez mil homens.
15. E o Senhor desbaratou Sísara com todos os seus carros e todo o seu exército, que caíram ao fio da espada, diante de Barac. Sísara, saltando do seu carro, fugiu a pé,
16. enquanto Barac perseguia os carros e o exército até Haroset-Goim. Todo o exército de Sísara foi passado ao fio da espada, sem escapar um só homem.
17. Sísara, fugindo a pé, chegou à tenda de Jael, mulher de Heber, o cineu, porque havia paz entre Jabin, rei de Asor e a casa de Heber, o cineu.
18. Jael, saindo ao encontro de Sísara, disse-lhe: Entra, meu senhor, em minha casa, e não temas. Ele entrou na tenda e ela o ocultou sob um manto.
19. Ele disse à mulher: Peço-te que me dês um pouco de água, porque tenho sede. Ela abriu um odre de leite, deu-lhe de beber e recobriu-o.
20. Sísara disse-lhe ainda: Põe-te à entrada da tenda, e se qualquer pessoa te perguntar se há alguém aqui, responderás que não.
21. Jael, pois, mulher de Heber, tomou um prego da tenda juntamente com um martelo e, aproximando-se devagarinho, enterrou o prego na fonte de Sísara, pregando-o assim na terra enquanto ele dormia profundamente por causa da muita fadiga. Sísara morreu.
22. Entrementes, chegou Barac logo após Sísara. Jael saindo-lhe ao encontro, disse-lhe: Vem, vou mostrar-te o homem que buscas. Ele entrou e viu Sísara que jazia morto por terra, com o prego cravado em sua fonte.
23. Foi assim que Deus, naquele dia, humilhou Jabin, rei de Canaã, diante dos israelitas;
24. e a mão dos filhos de Israel pesava cada vez mais sobre Jabin, rei de Canaã, até que o exterminaram.

 
Capítulo 5

1. Naquele dia, Débora cantou este cântico, com Barac, filho de Abinoem:
2. Desatou-se a cabeleira em Israel, o povo ofereceu-se para o combate: bendizei o Senhor!
3. Reis, ouvi! Estai atentos, ó príncipes! Sou eu, eu que vou cantar ao Senhor. Vou proferir um salmo ao Senhor, Deus de Israel!
4. Senhor, quando saístes de Seir, quando surgistes dos campos de Edom, a terra tremeu, os céus se entornaram, as nuvens desfizeram-se em água,
5. abalaram-se as montanhas diante do Senhor, nada menos que o Sinai, diante do Senhor, Deus de Israel!
6. Nos dias de Samgar, filho de Anat, nos dias de Jael, estavam desertos os caminhos, e os viajantes seguiam veredas tortuosas.
7. Desertos se achavam os campos em Israel, desertos, senão quando eu, Débora, me levantei, me levantei como uma mãe em Israel.
8. Israel escolhera deuses novos, e logo a guerra lhe bateu às portas, e não havia um escudo nem uma lança entre os quarenta mil de Israel.
9. Meu coração bate pelos chefes de Israel, pelos que se ofereceram voluntariamente entre o povo: bendizei o Senhor!
10. Vós que cavalgais jumentas brancas, sentados sobre tapetes, a galopar pelas estradas, cantai!
11. A voz dos arqueiros, junto dos bebedouros, celebre as vitórias do Senhor, as vitórias dos seus chefes em Israel! Então o povo do Senhor desceu às portas.
12. Desperta, desperta, Débora! Desperta, desperta, canta um hino! Levanta-te, Barac! Toma os teus prisioneiros, filho de Abinoem!
13. E agora descei, sobreviventes do meu povo. Senhor, descei para junto de mim entre estes heróis.
14. De Efraim vêm os habitantes de Amalec; seguindo-te, marcha Benjamim com as tropas; de Maquir vêm os príncipes, e de Zabulon os guias com o bastão.
15. Os príncipes de Issacar estão com Débora; Issacar marcha com Barac e segue-lhe as pisadas na planície. Junto aos regatos de Rubem grandes foram as deliberações do coração.
16. Por que ficaste junto ao aprisco, a ouvir a música dos pastores? Junto aos regatos de Rubem grandes foram as deliberações do coração.
17. Galaad ficou em sua casa, além do Jordão; e Dã, por que habita junto dos navios? Aser assentou-se à beira do mar e ficou descansando nos seus portos.
18. Zabulon, porém, é um povo que desafia a morte, e da mesma forma Neftali, sobre os planaltos.
19. Vieram os reis e travaram combate; e travaram combate os reis de Canaã em Tanac, junto às águas de Magedo; mas não levaram espólio em dinheiro.
20. Desde o céu as estrelas combateram, de suas órbitas combateram contra Sísara,
21. e a torrente de Cison os arrastou, a velha torrente, a torrente de Cison. Marcha, ó minha alma, resolutamente!
22. Ouviu-se, então, o troar dos cascos dos cavalos, ao tropel, ao tropel dos cavaleiros.
23. Amaldiçoai Meroz, disse o Anjo do Senhor, amaldiçoai, amaldiçoai seus habitantes! Porque não vieram em socorro do Senhor, em socorro do Senhor, com os guerreiros.
24. Bendita seja entre as mulheres Jael, mulher de Heber, o quenita! Entre as mulheres da tenda seja bendita!
25. Ao que pediu água ofereceu leite; serviu nata em taça nobre.
26. Com uma das mãos segurou o prego, e com a outra o martelo de operário, e malhou Sísara, espedaçando-lhe a cabeça, e esmagou-lhe a fonte e a transpassou.
27. Aos seus pés ele vergou, tombou, ficou; aos seus pés ele vergou, tombou. Onde vergou, ali tombou abatido!
28. Da janela, através das persianas, a mãe de Sísara olha e clama: Por que tarda em chegar o seu carro?! Por que demoram tanto as suas carruagens?!
29. As mais sábias das damas lhe respondem, e ela mesma o repete a si própria:
30. Devem ter achado despojos, e os repartem: uma moça, duas moças para cada homem, despojos de tecidos multicores para Sísara, despojos de tecidos multicores, recamados; uma veste bordada, dois brocados, para os ombros do vencedor.
31. Assim pereçam, Senhor, todos os vossos inimigos! E os que vos amam sejam como o sol quando nasce resplendente.
32. E repousou a terra durante quarenta anos.

 
Capítulo 6

1. Os israelitas fizeram o mal aos olhos do Senhor, e o Senhor entregou-os nas mãos dos madianitas durante sete anos.
2. A mão de Madiã pesou rudemente contra Israel. Por medo dos madianitas, os filhos de Israel refugiaram-se nas cavernas das montanhas, em cavernas e fortificações.
3. Quando Israel semeava, subia Madiã com Amalec e os filhos do oriente para atacá-lo.
4. Acampavam defronte deles e devastavam as suas plantações até a vizinhança de Gaza, e não deixavam aos israelitas provisão alguma, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos.
5. Subiam com todos os seus rebanhos e tendas, semelhantes a uma nuvem de gafanhotos, e essa multidão inumerável de homens e camelos subia e devastava a terra.
6. Os israelitas ficaram desse modo extenuados pelos madianitas, e clamaram ao Senhor.
7. E, tendo eles clamado ao Senhor, pedindo socorro contra os madianitas, o Senhor mandou-lhes um profeta,
8. que lhes disse: Eis o oráculo do Senhor, Deus de Israel: eu vos fiz sair do Egito e vos tirei da servidão;
9. livrei-vos da mão dos egípcios e de vossos opressores; expulsei-os de diante de vós e dei-vos a sua terra.
10. E disse-vos: eu sou o Senhor, vosso Deus: não adorareis os deuses dos amorreus, em cuja terra ides habitar. Mas não ouvistes a minha voz.
11. Depois veio o anjo do Senhor e sentou-se debaixo do terebinto de Efra, que pertencia a Joás, da família de Abieser. Gedeão, seu filho, estava limpando o trigo no lagar, para escondê-lo dos madianitas.
12. O anjo do Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: O Senhor está contigo, valente guerreiro!
13. Gedeão respondeu: Ah, meu senhor, se o Senhor está conosco, por que nos vieram todos esses males? Onde estão aqueles prodígios que nos contaram nossos pais, dizendo: o Senhor fez-nos verdadeiramente sair do Egito? Agora o Senhor abandonou-nos e entregou-nos nas mãos dos madianitas.
14. Então o Senhor, voltando-se para ele: Vai, disse, com essa força que tens e livra Israel dos madianitas. Porventura não sou eu que te envio?
15. Ó Senhor, respondeu Gedeão, com que livrarei eu Israel? Minha família é a última de Manassés, e eu sou o menor na casa de meu pai.
16. O Senhor replicou: Eu estarei contigo e tu derrotarás os madianitas como se fossem um só homem.
17. Prosseguiu Gedeão: Se encontrei graça aos vossos olhos, provai-me por um sinal que sois vós quem me falais.
18. Não vos afasteis daqui até que eu volte trazendo uma oferta, e a ponha diante de vós. Esperarei, respondeu o Senhor, até que voltes.
19. Gedeão entrou em sua casa, preparou um cabrito e fez pães sem fermento com um efá de farinha. Pôs a carne num cesto e o caldo numa panela, levou tudo debaixo do terebinto e ofereceu-lho.
20. O anjo do Senhor disse-lhe: Toma a carne e os pães sem fermento, põe-nos sobre aquela pedra e derrama por cima o caldo. Ele assim o fez.
21. Então o anjo do Senhor estendeu a ponta da vara que tinha na mão, tocou a carne com os pães sem fermento, e imediatamente jorrou fogo da rocha que consumiu a carne e os pães sem fermento; e o anjo do Senhor desapareceu de seus olhos.
22. Gedeão reconheceu que era o anjo do Senhor e exclamou: Ai de mim, Senhor Javé, que vi o anjo do Senhor face a face.
23. O Senhor disse-lhe: Tranqüiliza-te; não temas, não morrerás.
24. Gedeão edificou ali um altar ao Senhor e chamou-o Javé-Chalom. Esse altar existe ainda hoje em Efra de Abieser.
25. Durante a noite disse-lhe o Senhor: Toma o novilho de teu pai e um segundo touro de sete anos; destrói o altar de Baal de teu pai e faze o mesmo com o ídolo de madeira que está junto dele.
26. Edificarás então um altar ao Senhor, teu Deus, em cima dessa pedra, depois de a teres preparado. Tomarás o segundo touro e o oferecerás em holocausto usando a madeira do ídolo que tiveres cortado.
27. Gedeão escolheu dez dos seus servos e fez o que o Senhor lhe tinha ordenado. Temendo, porém, a família de seu pai e os habitantes da cidade, não o quis fazer durante o dia; executou tudo durante a noite.
28. Chegada a manhã, quando os habitantes da cidade se levantaram, eis que viram o altar de Baal derrubado por terra, o ídolo vizinho cortado, e o segundo touro queimado em holocausto sobre o novo altar.
29. Quem fez isto?, perguntaram uns aos outros. Depois de haverem buscado e investigado cuidadosamente, foi-lhes dito: Foi Gedeão, filho de Joás.
30. Disseram então a Joás: Faze vir aqui o teu filho, para que seja morto, porque ele derrubou o altar de Baal e cortou o ídolo de madeira que estava perto!
31. Joás respondeu a todos os que o interpelavam: Porventura sois vós que deveis tomar o partido de Baal? Sois vós que deveis socorrê-lo? Pois aquele que tomar o partido de Baal será morto hoje mesmo. Se Baal é deus, que defenda ele mesmo a sua causa, pois derrubaram o seu altar!
32. Daquele dia em diante, Gedeão foi chamado Jerobaal, dizendo: Que Baal defenda a sua causa contra ele, pois ele derrubou o seu altar!
33. Todos os madianitas, os amalecitas e os filhos do oriente se tinham coligado e, tendo passado o Jordão, acamparam no vale de Jezrael.
34. O Espírito do Senhor apoderou-se de Gedeão, o qual, tocando a trombeta, convocou os filhos de Abieser para que o seguissem.
35. Enviou mensageiros por toda a tribo de Manassés, que se reuniu para segui-lo; e enviou também mensageiros às tribos de Aser, de Zabulon e de Neftali, e todos vieram juntar-se a ele.
36. Gedeão disse a Deus: Se quereis realmente salvar Israel por meio de minha mão, como o dissestes,
37. eis que vou estender um velo de lã na eira: se o orvalho cair só no velo, ficando toda a terra seca, reconhecerei que é por minha mão que livrareis Israel, como o dissestes.
38. E assim aconteceu. Levantando-se Gedeão no dia seguinte pela manhã, espremeu a lã e encheu um copo de orvalho.
39. Gedeão disse de novo a Deus: Não se acenda contra mim a vossa cólera se vos falo ainda uma vez! Só quero fazer mais uma prova com o velo: peço que só a lã fique seca, e o orvalho molhe toda a terra em redor.
40. E Deus assim o fez naquela noite: só o velo ficou seco, enquanto todo o solo estava coberto de orvalho.

 
Capítulo 7

1. Jerobaal, isto é, Gedeão, levantando-se no dia seguinte bem cedo, foi acampar na fonte de Harad com todo o povo que o acompanhava. O acampamento madianita encontrava-se ao norte da colina de Moré, na planície.
2. O Senhor disse a Gedeão: A gente que levas contigo é numerosa demais para que eu entregue Madiã em suas mãos. Israel poderia gloriar-se à minha custa, dizendo: foi a minha mão que me livrou.
3. Manda, pois, publicar este aviso para que todos o ouçam: quem for medroso ou tímido, volte para trás e deixe a montanha de Gelboé. Vinte e dois mil homens voltaram, ficando ainda dez mil.
4. O Senhor disse a Gedeão: Ainda há gente demais. Faze-os descer às águas, e ali farei uma escolha. Aquele que eu te disser que irá contigo, este te seguirá; e aquele que eu não te designar, ficará.
5. Gedeão fez, pois, descer o povo junto às águas e o Senhor disse-lhe: Porás à parte todos aqueles que lamberem a água com a língua, como faz o cão, e de outro lado aqueles que se puserem de joelhos para beber.
6. Ora, o número dos que lamberam a água, levando-a com a mão à boca, foi de trezentos homens; todo o resto do povo se pusera de joelhos para beber.
7. O Senhor disse a Gedeão: Com os trezentos homens que lamberam a água, vos salvarei, e entregarei Madiã nas tuas mãos. Todo o resto do povo volte para a sua casa.
8. Gedeão guardou os víveres do povo e suas trombetas, e despediu todos os israelitas, cada um para a sua tenda, só conservando os trezentos homens. O acampamento madianita estava embaixo, na planície.
9. Durante a noite seguinte, o Senhor disse a Gedeão: Levanta-te e ataca o acampamento, porque to entregarei.
10. Todavia, se tens medo de descer só, leva contigo Fara, teu servo.
11. Ouvirás o que eles dizem, e sentir-te-ás assim encorajado para atacar o acampamento. Gedeão desceu, pois, com Fara, seu servo, até onde estavam os postos avançados do acampamento.
12. Ora, os madianitas, os amalecitas e todos os filhos do oriente estavam espalhados pelo vale, tão numerosos como gafanhotos, e seus camelos eram também inumeráveis como a areia das praias.
13. No momento em que Gedeão se aproximou, um homem estava justamente contando um sonho ao seu companheiro: Eis, dizia ele, o sonho que tive: um pão de cevada rolava sobre o acampamento de Madiã e, chocando-se com a tenda, lançou-a completamente por terra. O companheiro respondeu:
14. Isso não é outra coisa senão a espada de Gedeão, filho de Joás, o israelita. Deus entregou em suas mãos Madiã e todo o acampamento.
15. Tendo ouvido a narração e a interpretação desse sonho, Gedeão prostrou-se por terra. Voltou ao acampamento israelita e disse: Levantai-vos, porque o Senhor vos entregou nas mãos o acampamento dos madianitas!
16. Dividiu os trezentos homens em três grupos, e pôs nas mãos de todos trombetas e ânforas vazias, levando estas dentro uma tocha acesa.
17. Olhai para mim, disse ele, e fazei como eu. Quando eu chegar aos limites do acampamento, fazei o que eu fizer.
18. Tocarei a trombeta com aqueles que me acompanham, e então tocareis também as vossas em volta de todo o acampamento, gritando: Pelo Senhor e por Gedeão!
19. Gedeão com seus cem homens chegou aos limites do acampamento no princípio da segunda vigília, quando se rendiam as sentinelas, e começaram a tocar as trombetas, quebrando ao mesmo tempo as ânforas que tinham na mão.
20. Então os três batalhões tocaram (também) as trombetas e quebraram as ânforas. Tomando as tochas na mão esquerda e as trombetas na direita para tocar, gritaram: À espada pelo Senhor e por Gedeão!
21. Cada um ficou em seu lugar, ao redor do acampamento; todo o acampamento se pôs a correr e fugiram, gritando.
22. Os trezentos homens continuavam a tocar as trombetas, enquanto, por todo o acampamento, o Senhor fez com que os madianitas voltassem a espada uns contra os outros, e o exército fugiu até Bet-Seta, para os lados de Sarera, e até os limites de Abel-Mehula, junto de Tebat.
23. Juntaram-se então aos israelitas as tribos de Neftali e de Aser e todo o Manassés, e perseguiram os madianitas.
24. Gedeão enviou mensageiros por todo o monte de Efraim, para dizer: Descei ao encontro dos madianitas e cortai-lhes a passagem das águas até Betbera, e até os vaus do Jordão. Juntaram-se, pois, os homens de Efraim e ocuparam as passagens até Betbera, e igualmente os vaus do Jordão.
25. Tendo capturado dois chefes madianitas, Oreb e Zeb, mataram Oreb no rochedo de Oreb, e Zeb no lagar de Zeb. E continuaram a perseguir os madianitas, levando as cabeças de Oreb e de Zeb a Gedeão, no outro lado do Jordão.

 
Capítulo 8

1. Os homens de Efraim disseram a Gedeão: Por que nos trataste assim, não nos chamando a pelejar contigo contra Madiã? E houve entre eles uma violenta discussão.
2. Gedeão respondeu-lhes: Que fiz eu, ao lado do que vós fizestes? Porventura não valem mais os cachos de Efraim que as vindimas de Abieser?
3. Foi nas vossas mãos que o Senhor entregou os príncipes de Madiã, Oreb e Zeb. Que pude eu, pois, fazer em comparação do que vós fizestes? E com estas palavras aquietaram-se.
4. Gedeão chegou ao Jordão e passou-o com seus trezentos homens, continuando a perseguir o inimigo, apesar de sua fadiga.
5. Chegando a Socot, disse aos seus moradores: Dai, peço-vos, pão aos homens que me acompanham, porque estão muito cansados; estou perseguindo Zebéia e Salmana, reis de Madiã.
6. Os chefes de Socot responderam-lhe: Tens já talvez em teu poder o punho de Zebéia e de Salmana para que possamos dar pão à tua tropa?
7. Pois bem, replicou Gedeão, quando o Senhor me houver entregue nas mãos Zebéia e Salmana, eu vos rasgarei a pele com espinhos e abrolhos do deserto!
8. Dali subiu a Fanuel, onde fez o mesmo pedido, mas obteve a mesma resposta que em Socot.
9. Gedeão disse-lhes: Quando eu voltar vitorioso, destruirei esta torre.
10. Zebéia e Salmana estavam então em Carcor com o seu forte exército, cerca de quinze mil homens, que eram o restante de todo o exército dos filhos do oriente, pois haviam já perecido cento e vinte mil combatentes que manejavam a espada.
11. Gedeão subiu pelo caminho dos nômades, a oriente de Nobe e de Jegba, e feriu o acampamento dos inimigos que se julgavam perfeitamente seguros.
12. Zebéia e Salmana, reis de Madiã, fugiram, mas foram perseguidos e presos por Gedeão, depois de ter derrotado toda a sua guarnição.
13. Gedeão, filho de Joás, voltou da batalha pela subida de Hares.
14. Deteve um jovem entre os habitantes de Socot e fez-lhe perguntas. Este escreveu-lhe uma lista com setenta e sete nomes dos chefes de Socot e dos anciãos.
15. Gedeão veio ter com os habitantes de Socot e disse-lhes: Eis aqui Zebéia e Salmana a respeito dos quais me insultastes, dizendo: tens já talvez em teu poder o punho de Zebéia e de Salmana, para que possamos dar pão aos teus homens fatigados?
16. Tomou então os anciãos da cidade e açoitou-os com espinhos e abrolhos do deserto.
17. Destruiu também a torre de Fanuel e matou os habitantes da cidade.
18. E disse a Zebéia e a Salmana: Como eram aqueles homens que matastes no Tabor? Eram, responderam-lhe, semelhantes a ti; cada um deles parecia um filho de rei
19. Eram meus irmãos, filhos de minha mãe! Juro pelo Senhor, se os tivésseis deixado com vida, eu não vos mataria.
20. E disse a Jeter, seu filho primogênito: Levanta-te e mata-os! Mas o jovem não ousou tirar a espada, porque, sendo ainda muito novo, tinha medo.
21. Vem tu mesmo, disseram-lhe Zebéia e Salmana, e mata-nos; porque, tal o homem, tal a sua força. Gedeão matou Zebéia e Salmana, e tomou os colares que os camelos traziam ao pescoço.
22. Os israelitas disseram a Gedeão: Sê o nosso rei, tu e teu filho, e o filho de teu filho, porque tu nos livraste das mãos dos madianitas.
23. Não, respondeu ele, não reinarei sobre vós, nem meu filho tampouco; é o Senhor quem será o vosso rei.
24. E ajuntou: Tenho um pedido a vos fazer: que cada um de vós me dê as argolas de vosso despojo. Os inimigos, que eram os ismaelitas, usavam argolas de ouro.
25. Eles responderam: Nós tas daremos de muito boa vontade. E, estendendo no chão um manto, lançaram nele as argolas de sua presa.
26. O peso das argolas de ouro que ele tinha pedido era de mil e setecentos siclos de ouro, sem contar os colares, brincos e ornamentos de púrpura que costumavam usar os reis de Madiã, afora ainda os colares que traziam seus camelos no pescoço.
27. Gedeão fez de tudo isso um efod e o expôs em sua cidade de Efra. Mas todos os israelitas se prostituíram ante esse efod que se tornou, assim, um laço para Gedeão e sua casa.
28. Os madianitas foram humilhados diante dos israelitas e não puderam mais levantar a cabeça, de sorte que a terra pôde gozar um repouso de quarenta anos no tempo de Gedeão.
29. Jerobaal, filho de Joás, retirou-se e foi habitar em sua casa.
30. Teve setenta filhos, saídos todos dele, porque tinha numerosas mulheres.
31. Sua concubina, que estava em Siquém, deu-lhe também um filho, que foi chamado Abimelec.
32. Morreu Gedeão, filho de Joás, numa ditosa velhice, e foi sepultado no túmulo de Joás, seu pai, em Efra de Abieser.
33. Depois de sua morte, os filhos de Israel prostituíram-se de novo com os baal, e tomaram Baal-Berit por seu deus.
34. Não se lembraram os israelitas do Senhor, seu Deus, que os tinha livrado das mãos de todos os inimigos que os cercavam,
35. nem testemunharam gratidão alguma pela casa de Jerobaal-Gedeão por todos os benefícios que ele tinha feito a Israel.

 
Capítulo 9

1. Abimelec, filho de Jerobaal, foi ter com os irmãos de sua mãe em Siquém, e disse-lhes, assim como a toda a família de sua mãe:
2. Dizei, vo-lo peço, a todos os habitantes de Siquém: o que é melhor para vós: serdes dominados por setenta homens, todos filhos de Jerobaal, ou que um só homem seja vosso rei? Lembrai-vos de que eu sou de vosso sangue e de vossa carne.
3. Os irmãos de sua mãe falaram dele aos habitantes de Siquém, referindo-lhes suas palavras, e inclinaram o seu coração para Abimelec, porque, diziam eles, é nosso irmão.
4. E deram-lhe setenta siclos de prata tomados do templo de Baal-Berit, com os quais assalariou homens miseráveis e aventureiros, que o seguiram.
5. Foi à casa de seu pai em Efra, e matou sobre uma pedra os seus irmãos, filhos de Jerobaal, setenta homens; escapou somente Joatão, filho mais novo de Jerobaal, porque se tinha escondido.
6. Juntaram-se então todos os siquemitas com todos os de Bet-Melo, e vieram junto do terebinto da estela que havia em Siquém, onde proclamaram rei Abimelec.
7. Sabendo disso, subiu Joatão ao cimo do monte Garizim e exclamou: Ouvi-me, homens de Siquém, para que Deus vos ouça!
8. As árvores resolveram um dia eleger um rei para governá-las e disseram à oliveira: reina sobre nós!
9. Mas ela respondeu: renunciarei, porventura, ao meu óleo que constitui minha glória aos olhos de Deus e dos homens, para colocar-me acima das outras árvores?
10. E as árvores disseram à figueira: vem tu, e reina sobre nós!
11. Mas a figueira disse-lhes: poderia eu, porventura, renunciar à doçura de meu delicioso fruto, para colocar-me acima das outras árvores?
12. E as árvores disseram à videira: vem tu, reina sobre nós!
13. Mas a videira respondeu: poderia eu renunciar ao meu vinho que faz a alegria de Deus e dos homens, para colocar-me acima das outras árvores?
14. E todas as árvores disseram ao espinheiro: vem tu, reina sobre nós!
15. E o espinheiro respondeu: se realmente me quereis escolher para reinar sobre vós, vinde e abrigai-vos debaixo de minha sombra; mas, se não o quereis, saia fogo do espinheiro e devore os cedros do Líbano!
16. Agora, pois, se com lealdade e boa-fé escolhestes Abimelec para vosso rei, se vos portastes bem com Jerobaal e sua casa, correspondendo aos benefícios que ele vos fez
17. porque meu pai combateu por vós e livrou-vos dos madianitas arriscando a própria vida;
18. vós, que agora vos levantastes contra a casa de meu pai, matastes todos os seus setenta filhos sobre uma pedra, e proclamastes rei dos habitantes de Siquém Abimelec, filho de sua escrava, sob o pretexto de que ele é vosso irmão,
19. se, pois, com lealdade e boa-fé, procedestes bem com Jerobaal e sua casa, então que Abimelec vos faça felizes, e que vós o façais feliz igualmente!
20. Do contrário, saia fogo de Abimelec, e devore os homens de Siquém com os de Bet-Melo; e saia fogo dos habitantes de Siquém e de Bet-Melo, e devore Abimelec!
21. Fugiu em seguida Joatão para Bera, onde habitou, longe de Abimelec, seu irmão.
22. Reinou Abimelec sobre Israel durante três anos.
23. E Deus suscitou um mau espírito entre ele e os habitantes de Siquém, que os fez se revoltarem.
24. Isso aconteceu para que fosse vingado o homicídio dos setenta filhos de Jerobaal, e seu sangue caísse sobre Abimelec, seu irmão, que os havia matado, e sobre os siquemitas que tinham sido seus cúmplices.
25. Os homens de Siquém armaram contra ele emboscadas no alto dos montes, e puseram-se a despojar todos aqueles que passavam por ali; e Abimelec foi informado disso.
26. Gaal, filho de Obed, foi com seus irmãos a Siquém e ganhou a confiança dos homens do lugar.
27. Saíram pelos campos, vindimaram as vinhas, pisaram as uvas, celebraram a festa. Foram ao templo do seu deus e ali fizeram um festim, amaldiçoando Abimelec.
28. Gaal, filho de Obed, disse: Quem é Abimelec, e o que é Siquém, para que lhe estejamos sujeitos? Não é ele filho de Jerobaal, e não é Zebul o seu lugar-tenente? Servi a família de Emor, pai de Siquém. Por que razão serviremos Abimelec?
29. Oxalá tivesse eu poder sobre esse povo! Eu arrasaria Abimelec e lhe diria: junta o teu exército, e vem!
30. Zebul, governador da cidade, sabendo o que dissera Gaal, filho de Obed, encolerizou-se,
31. e mandou secretamente dizer a Abimelec: Gaal, filho de Obed, veio a Siquém com seus irmãos, e anda sublevando a cidade contra ti.
32. Levanta-te de noite, tu e tua tropa, e põe-te de emboscada no campo;
33. amanhã cedo, ao nascer do sol, lança-te sobre a cidade; quando Gaal e sua tropa saírem contra ti, far-lhe-ás o que as circunstâncias te permitirem.
34. Abimelec, pois, partiu durante a noite com toda a sua gente, e pôs emboscadas em quatro grupos junto de Siquém.
35. Entretanto Gaal, filho de Obed, saiu e instalou-se diante das portas da cidade. Então Abimelec com todos os seus deixou a emboscada.
36. Vendo aquela tropa, Gaal disse a Zebul: Eis uma multidão que desce das colinas. Tu vês, respondeu Zebul, as sombras das colinas como se fossem homens.
37. Gaal replicou: Está descendo uma tropa do alto; e eis uma outra que vem pelo caminho do carvalho dos Adivinhos.
38. Zebul disse-lhe então: Onde está agora a tua arrogância, tu que dizias: quem é Abimelec para que nós o sirvamos? Eis o povo que tu desprezavas! Vai, agora, e combate contra ele!
39. Saiu Gaal à frente dos siquemitas e combateu contra Abimelec.
40. Mas foi derrotado por Abimelec e fugiu; muitos homens, que estavam mortalmente feridos, caíram antes de terem atingido o limiar da porta.
41. Abimelec deteve-se em Ruma; Zebul, porém, lançou Gaal e seus irmãos fora de Siquém.
42. No dia seguinte, o povo saiu ao campo. Tendo sabido disso, Abimelec
43. tomou sua tropa, dividiu-a em três grupos e os pôs de emboscada no campo. Ao ver que o povo saía da cidade, atacou-o e derrotou-o,
44. vindo em seguida com o seu grupo tomar posição à entrada da cidade, enquanto os dois outros grupos perseguiam os que estavam no campo e os massacravam.
45. Abimelec combateu a cidade durante todo aquele dia e tomou-a. Matou toda a população, arrasou a cidade e semeou-a de sal.
46. Ao ouvirem isso, todos os habitantes da torre de Siquém retiraram-se para a fortaleza do templo de El-Berit.
47. E foi noticiado a Abimelec que todos os habitantes da torre de Siquém se tinham retirado para esse lugar;
48. subiu então Abimelec com sua tropa ao monte Selmon, tomou um machado e cortou um galho de árvore. Pondo-o aos ombros, disse à sua gente: Vistes o que eu fiz? Apressai-vos a fazer o mesmo.
49. Cortou cada um deles um galho e todos seguiram Abimelec; puseram esses galhos contra a fortaleza e meteram-lhes fogo, sendo a fortaleza, com todos os seus ocupantes, devorada pelas chamas. Desse modo pereceram todos os que habitavam na torre de Siquém, cerca de mil pessoas, tanto homens como mulheres.
50. Depois disso, Abimelec marchou contra Tebes, que sitiou e tomou de assalto.
51. Havia no meio da cidade uma torre forte, na qual se tinham refugiado todos os habitantes, homens e mulheres. Fechando bem a porta, subiram ao terraço da torre.
52. Abimelec, chegando ao pé da torre, aproximou-se da porta para lhe pôr fogo.
53. Então uma mulher, lançando de cima uma pedra de moinho, feriu-lhe a cabeça, fraturando-lhe o crânio.
54. Chamou imediatamente seu escudeiro e disse-lhe: Tira a tua espada e acaba de matar-me, para que se não diga que fui morto por uma mulher! Seu escudeiro o feriu, e Abimelec morreu.
55. Morto Abimelec, todos os israelitas voltaram para suas casas.
56. Assim Deus fez recair sobre Abimelec o mal que tinha feito a seu pai, matando seus setenta irmãos.
57. E do mesmo modo Deus fez recair sobre os siquemitas os seus crimes. Assim se cumpriu sobre ele a maldição de Joatão, filho de Jerobaal.

 
Capítulo 10

1. Depois de Abimelec, Tola, filho de Fua, filho de Dodo, de Issacar, levantou-se para livrar Israel. Habitava em Samir, na montanha de Efraim,
2. e foi juiz em Israel durante vinte e três anos. Depois disso morreu e foi sepultado em Samir.
3. A este sucedeu Jair, de Galaad, que foi juiz em Israel durante vinte e dois anos.
4. Tinha trinta filhos que montavam em trinta jumentinhos, e possuíam trinta cidades que se chamam ainda hoje Havot-Jair, situadas em Galaad.
5. Jair morreu e foi sepultado em Camon.
6. Os filhos de Israel fizeram de novo o mal aos olhos do Senhor, servindo os baal e os astarot, os deuses da Síria, de Sidon, de Moab, os deuses dos amonitas e dos filisteus; e abandonaram o culto do Senhor.
7. A cólera do Senhor inflamou-se contra Israel, e ele entregou-os nas mãos dos filisteus e dos amonitas.
8. Estes últimos oprimiram e esmagaram os israelitas naquele ano; e a opressão estendeu-se por dezoito anos sobre os israelitas de além do Jordão, na terra dos amorreus, em Galaad.
9. Os amonitas, tendo passado o Jordão, combateram contra Judá, Benjamim e a tribo de Efraim, e Israel viu-se numa extrema aflição.
10. Os israelitas clamaram ao Senhor, dizendo: Pecamos contra vós, abandonando o nosso Deus e servindo aos Baal.
11. O Senhor respondeu-lhes: Porventura não vos tenho eu livrado dos egípcios, dos amorreus, dos amonitas, dos filisteus?
12. E quando os sidônios, os amalecitas e Maon vos oprimiam e vós clamastes a mim, não vos libertei?
13. Vós, porém, me abandonastes de novo para servir a outros deuses; por isso não mais vos livrarei.
14. Ide e invocai os deuses que escolhestes; eles que vos livrem de vossa angústia!
15. Os israelitas disseram ao Senhor: Pecamos; tratai-nos como melhor vos parecer. Somente, livrai-nos hoje.
16. Tiraram então do meio deles os deuses estranhos e serviram ao Senhor, que se compadeceu dos males de Israel.
17. Os amonitas juntaram-se e acamparam em Galaad, enquanto os israelitas faziam o mesmo em Masfa.
18. O povo e os chefes de Galaad diziam uns para os outros: Quem começará a pelejar contra os amonitas? Esse será o chefe de todo o povo de Galaad.

 
Capítulo 11

1. Jefté, o galaadita, era. um valente guerreiro, filho de Galaad e duma meretriz.
2. A mulher de Galaad deu-lhe filhos, e estes, tendo crescido, expulsaram Jefté, dizendo: Tu não herdarás nada na casa de nosso pai, porque és um bastardo.
3. Jefté afastou-se de seus irmãos e fixou-se na terra de Tob. Alguns homens miseráveis reuniram-se a ele e tomaram parte em suas incursões.
4. Algum tempo depois, os amonitas entraram em luta contra Israel.
5. Os habitantes de Galaad, vendo-se assim atacados, foram em busca de Jefté na terra de Tob
6. e disseram-lhe: Vem: serás o nosso chefe, e combateremos os amonitas.
7. Jefté, porém, respondeu: Vós, que sois meus inimigos, tendo-me expulsado da casa de meu pai, por que vindes a mim agora que estais em aperto?
8. Os anciãos de Galaad disseram-lhe: Foi (precisamente) por isso que viemos agora ter contigo, para que venhas conosco e combatas contra os filhos de Amon, e sejas o nosso chefe, o chefe de todo o povo de Galaad.
9. Jefté disse-lhes: Se vós me conduzirdes para lutar contra os amonitas, e o Senhor mos entregar nas mãos, serei o vosso chefe.
10. Os anciãos responderam-lhe: O Senhor seja testemunha entre nós de que faremos tudo o que disseste!
11. E Jefté partiu com os anciãos de Galaad. O povo proclamou-o seu chefe e general, e Jefté repetiu diante do Senhor, em Masfa, tudo o que acabara de dizer.
12. Jefté enviou mensageiros ao rei dos amonitas para lhe dizer: Que tens tu contra mim para que me venhas combater em minha terra?
13. O rei respondeu-lhes: Israel, vindo do Egito, tomou a minha terra desde o Arnon até Jaboc e até o Jordão. Devolve-mo agora, pois, pacificamente.
14. Jefté mandou nova embaixada ao rei dos amonitas,
15. dizendo-lhe: Assim fala Jefté: Israel não se apoderou nem do território de Moab, nem da terra dos filhos de Amon.
16. Quando saiu do Egito, Israel marchou pelo deserto até o mar Vermelho, e chegou a Cades.
17. Mandou então mensageiros ao rei de Edom, pedindo-lhe a permissão de passar pela sua terra; mas o rei de Edom não o consentiu. Fez o mesmo pedido ao rei de Moab, que tampouco lhe deu passagem. Israel deteve-se, pois, em Cades.
18. Retomou em seguida sua marcha pelo deserto, e contornou as terras de Edom e de Moab; chegando à parte oriental da terra de Moab, acampou na outra banda do Arnon, sem contudo penetrar na terra de Moab, cuja fronteira é o Arnon.
19. Dali, Israel mandou ainda mensageiros a Seon, rei dos amorreus, em Hesebon pedindo-lhe que os deixasse passar pela sua terra, para que chegassem à deles.
20. Seon, porém, não teve bastante confiança em Israel para deixá-lo atravessar o seu território; antes, ajuntando todas as suas tropas, acampou em Jasa, e atacou Israel.
21. O Senhor, Deus de Israel, entregou-o com todo o seu povo nas mãos de Israel, que o derrotou, e conquistou todas as terras dos amorreus que habitavam naquela região;
22. tomou toda a terra dos amorreus, desde o Arnon até Jaboc, e desde o deserto até o Jordão.
23. Agora que o Senhor, Deus de Israel, expulsou os amorreus diante de seu povo de Israel, tu pretendes possuir a sua terra?
24. Porventura não tens a posse do que te deu a conquistar o teu deus Camos? E nós, por que não possuiríamos tudo aquilo que o Senhor, nosso Deus, expulsou diante de nós?
25. Serias tu melhor do que Balac, filho de Sefor, rei de Moab? Porventura disputou ele com os israelitas, ou combateu contra eles?
26. Eis já trezentos anos que Israel habita em Hesebon e em suas aldeias, em Aroer e em suas aldeias, e em todas as cidades banhadas pelo Arnon. Por que não lhe tiraste estas terras durante todo esse tempo?
27. Não sou eu, pois, que te faço dano, mas és tu mesmo que te prejudicas, declarando-me guerra. Que o Senhor, o Juiz, se pronuncie hoje entre os israelitas e os amonitas!
28. Mas o rei dos amonitas não quis ouvir nada do que Jefté lhe mandara dizer.
29. O Espírito do Senhor desceu sobre Jefté, e ele, atravessando Galaad e Manassés, passou dali até Masfa de Galaad, de onde marchou contra os amonitas.
30. Jetfé fez ao Senhor este voto:
31. Se me entregardes nas mãos os amonitas, aquele que sair das portas de minha casa ao meu encontro, quando eu voltar vitorioso dos filhos de Amon, será consagrado ao Senhor, e eu o oferecerei em holocausto.
32. Jefté marchou contra os amonitas, e o Senhor lhos entregou.
33. Ele os derrotou desde Aroer até as proximidades de Menit, e até Abel-Queramim, tomando-lhes vinte aldeias. E os amonitas, com este terrível golpe, foram humilhados perante Israel.
34. Ora, voltando Jefté para a sua casa em Masfa, eis que sua filha saiu-lhe ao encontro com tamborins e danças. Era a sua única filha, porque, afora ela, não tinha filho nem filha.
35. Quando a viu, rasgou as suas vestes: Ah, minha filha, exclamou ele, tu me acabrunhas de dor, e estás no número daqueles que causam a minha infelicidade! Fiz ao Senhor um voto que não posso revogar.
36. Meu pai, disse ela, se fizeste um voto ao Senhor, trata-me segundo o que prometeste, agora que o Senhor te vingou de teus inimigos, os amonitas.
37. E ajuntou: Concede-me somente isto: Deixa-me que vá sobre as colinas durante dois meses, para chorar a minha virgindade com as minhas amigas.
38. Vai, disse-lhe ele. E deu-lhe dois meses de liberdade. Ela foi com as suas companheiras, e chorou a sua virgindade sobre as colinas.
39. Passado o prazo, voltou para seu pai, e ele cumpriu o voto que tinha feito. Ela não tinha conhecido varão.
40. Daqui veio este costume, em Israel, que todos os anos as jovens israelitas reúnem-se para chorar durante quatro dias a filha de Jefté, o galaadita.

 
Capítulo 12

1. Os efraimitas, tendo-se sublevado, passaram a Safon e disseram a Jefté: Por que saíste a combater os amonitas, sem nos chamar para irmos contigo? Por isso vamos queimar a tua casa.
2. Jefté respondeu: Eu e meu povo tivemos graves contendas com os amonitas; chamei-vos e vós não me livrastes de suas mãos.
3. Vendo que não podia contar convosco, arrisquei a minha vida marchando (sozinho) contra os amonitas, e o Senhor entregou-os nas minhas mãos. Por que, pois, viestes contender comigo?
4. Jefté reuniu todos os homens de Galaad e combateu contra Efraim. Os habitantes de Galaad derrotaram os de Efraim, que lhes haviam dito: Vós sois fugitivos de Efraim que habitais entre Efraim e Manassés!
5. Galaad ocupou os vaus do Jordão, e cada vez que um fugitivo de Efraim queria passar, perguntavam-lhe: És tu efraimita? Ele respondia: Não.
6. Pois bem, diziam eles então, dize: Chibólet. E ele dizia: Sibólet, não podendo pronunciar corretamente. Prendiam-no logo e o degolavam junto aos vaus do Jordão. Naquele dia pereceram quarenta e dois mil homens de Efraim.
7. Jefté, o galaadita, foi juiz em Israel durante seis anos; depois morreu, e foi sepultado em uma das cidades de Galaad.
8. Depois de Jefté, foi juiz de Israel Ibsã, de Belém,
9. o qual teve trinta filhos; casou suas trinta filhas fora de sua família, e mandou vir de fora trinta jovens para os seus filhos. Julgou Israel durante sete anos.
10. Morreu e foi enterrado em Belém.
11. Depois dele, Elon, de Zabulon, foi juiz em Israel, e sua judicatura durou dez anos.
12. Morreu, e foi enterrado em Ajalon, na terra de Zabulon.
13. Em seguida teve Israel por juiz Abdon, filho de Ilel, de Faraton.
14. Teve quarenta filhos e trinta netos, que montavam em setenta jumentinhos. Julgou Israel durante oito anos.
15. Depois disso, Abdon, filho de Ilel, de Faraton, morreu e foi sepultado em Faraton, na terra de Efraim, na montanha dos amalecitas.

 
Capítulo 13

1. Os israelitas continuaram a fazer o mal aos olhos do Senhor, que os entregou nas mãos dos filisteus durante quarenta anos.
2. Ora, havia em Sorá um homem da família dos danitas, chamado Manué. Sua mulher, sendo estéril, não tinha ainda gerado filhos.
3. O anjo do Senhor apareceu a esta mulher e disse-lhe: Tu és estéril, e nunca tiveste filhos; mas conceberás e darás à luz um filho.
4. Toma, pois, muito cuidado; não bebas doravante nem vinho, nem bebida forte, e não comas coisa alguma impura, porque vais conceber e dar à luz um filho.
5. A navalha não tocará a sua cabeça, porque esse menino será nazareno de Deus desde o seio de sua mãe, e será ele quem livrará Israel da mão dos filisteus.
6. A mulher foi ter com o seu marido: Apresentou-se a mim um homem de Deus, disse ela, que tinha o aspecto de um anjo de Deus, em extremo terrível. Não lhe perguntei de onde era, nem ele me deu o seu nome,
7. mas disse-me: Vais conceber e dar à luz um filho; não bebas, pois, nem vinho nem bebida forte e não comas coisa alguma impura, porque esse menino será nazareno desde o seio de sua mãe até o dia de sua morte.
8. Então Manué invocou o Senhor, dizendo: Rogo-vos, Senhor, que o homem de Deus que nos enviastes volte novamente e nos ensine o que devemos fazer acerca do menino que há de nascer.
9. Deus ouviu essa oração, e o anjo de Deus veio de novo visitar a mulher, quando esta se achava no campo; Manué, seu marido, não estava com ela.
10. Ela correu imediatamente a dar ao seu marido a notícia, dizendo: O homem que vi outro dia apareceu-me de novo.
11. Manué levantou-se e seguiu a sua mulher até junto do homem: És tu, disse ele, o homem que falou à minha mulher?
12. Sou eu mesmo, respondeu (o desconhecido). Manué replicou: Quando se cumprir a tua palavra, de que maneira havemos de criar esse menino, e o que teremos de fazer por ele?
13. O anjo do Senhor respondeu: Abstenha-se tua mulher de tudo o que eu lhe disse:
14. não prove nada do que venha da videira; não beba nem vinho, nem bebida forte, nada coma que seja impuro e observe tudo o que lhe prescrevi.
15. Manué disse ao anjo do Senhor: Rogo-te que te detenhas até que te ofereçamos um cabrito que vamos preparar.
16. Ainda que tu me retivesses, respondeu o anjo do Senhor, eu não comeria de tua mesa; mas se queres fazer um holocausto, oferece-o ao Senhor. Manué ignorava que era o anjo do Senhor.
17. Qual é o teu nome, perguntou-lhe ele, para que te honremos quando se cumprir tua promessa?
18. O anjo do Senhor respondeu-lhe: Por que me perguntas o meu nome? Ele é Magnífico.
19. Tomou, pois, Manué o cabrito com uma oferta e ofereceu-o ao Senhor sobre a rocha. Coisa maravilhosa! Enquanto Manué e sua mulher olhavam
20. subir para o céu a chama do sacrifício que estava sobre o altar, viu que o anjo do Senhor subia na chama. À vista disso, Manué e sua mulher caíram com o rosto por terra.
21. E o anjo do Senhor desapareceu diante dos olhos de Manué e sua mulher. Manué compreendeu logo que era o anjo do Senhor,
22. e disse à sua mulher: Vamos morrer seguramente, porque vimos Deus!
23. Sua mulher respondeu-lhe: Se o Senhor nos quisesse matar, não teria aceitado de nossas mãos o holocausto e a oferta; não nos teria mostrado tudo o que vimos, nem nos teria dito o que hoje nos revelou.
24. Ela deu à luz um filho e pôs-lhe o nome de Sansão. O menino cresceu e o Senhor o abençoou.
25. E o Espírito do Senhor começou a incitá-lo, em Mahanê-Dã, entre Sorea e Estaol.

 
Capítulo 14

1. Sansão desceu a Tamna e, vendo ali uma mulher das filhas dos filisteus,
2. voltou, e falou ao seu pai e à sua mãe, dizendo: Vi em Tamna uma filha dos filisteus: pedi-a para mim em casamento.
3. Seu pai e sua mãe disseram-lhe: Não há porventura ninguém entre as filhas de teus irmãos, e em todo o nosso povo, para que queiras escolher uma mulher entre os filisteus, estes incircuncisos? Sansão, porém, disse ao seu pai: Toma esta para mim, porque me agrada.
4. Seus pais não sabiam que isso se fazia por disposição do Senhor, e que ele buscava uma ocasião contra os filisteus que, naquele tempo, dominavam sobre Israel.
5. Sansão desceu com seu pai e sua mãe a Tamna. Quando chegaram às vinhas de Tamna, apareceu de repente um leão, rugindo, que arremeteu contra ele.
6. O Espírito do Senhor apossou-se de Sansão, e ele despedaçou o leão como se fosse um cabrito, sem ter coisa alguma na mão; e não quis contar isso aos seus pais.
7. Depois desceu a Tamna e falou à mulher que lhe agradava.
8. Voltando, alguns dias depois, para a desposar, afastou-se do caminho para ver o cadáver do leão. Mas eis que na boca do leão estava um enxame de abelhas com mel.
9. Tomou o mel nas mãos e o ia comendo pelo caminho; e tendo alcançado os seus pais, deu-lhes do mel e eles comeram, mas não lhes disse que aquele mel provinha da boca do leão.
10. Seu pai desceu à casa da mulher, onde Sansão deu um banquete, segundo o costume dos jovens.
11. Logo que o viram chegar, deram-lhe trinta companheiros para estarem com ele.
12. Sansão disse-lhes: Vou propor-vos um enigma; se o decifrardes dentro dos sete dias das bodas e descobri-lo, dar-vos-ei trinta túnicas e trinta vestes de festa;
13. mas, se o não puderdes decifrar, sois vós que me dareis trinta túnicas e outras tantas vestes de festa. Eles responderam-lhe: Propõe o teu enigma, para que o ouçamos.
14. Ele disse-lhes: Do que come saiu o que se come; do forte saiu doçura. Durante três dias não puderam decifrar o enigma.
15. Quando chegou o quarto dia, disseram à mulher de Sansão: Persuade o teu marido que nos explique o enigma, se não queres que te queimemos com a casa de teu pai. Será talvez para nos despojar que nos convidastes?
16. A mulher de Sansão, desfazendo-se em lágrimas junto dele, disse-lhe: Tu me odeias; tu não me amas. Propuseste um enigma aos filhos do meu povo e não mo explicaste! Nem sequer aos meus próprios pais eu o expliquei, respondeu ele, e haveria de explicá-lo a ti?
17. E ela chorava assim até o sétimo dia das bodas. Ao sétimo dia, enfim, importunado por sua mulher, deu-lhe a chave do enigma, e ela por sua vez (apressou-se) a declará-lo aos seus compatriotas.
18. Estes, no sétimo dia, antes do pôr-do-sol, disseram a Sansão: Que coisa é mais doce que o mel, que coisa é mais forte que o leão? Se vós não tivésseis lavrado com a minha novilha, respondeu Sansão, não teríeis descoberto o meu enigma.
19. Apoderou-se então dele o Espírito do Senhor, e desceu a Ascalon. Matou ali trinta homens, tomou os seus despojos, e deu trinta vestes de festas aos que tinham explicado o seu enigma, e voltou enfurecido para a casa paterna.
20. Sua mulher, porém, foi dada em casamento a um jovem que tinha sido seu companheiro nas bodas.

 
Capítulo 15

1. Passado algum tempo, estando próxima a ceifa do trigo, Sansão foi ver a sua mulher, levando-lhe um cabrito. Quero, dizia ele, entrar no quarto de minha mulher. O pai dela, porém, impediu-lhe a entrada:
2. Eu pensei, disse ele a Sansão, que a aborrecias, e por isso dei-a a um teu amigo. Não é, porventura, mais formosa do que ela sua irmã mais nova? Toma-a por mulher em seu lugar.
3. Desta vez, respondeu Sansão, não se me poderá censurar o mal que farei aos filisteus.
4. Ele se retirou, apanhou trezentas raposas e, tomando tochas, prendeu as raposas duas a duas pelas caudas e atou entre as duas caudas uma tocha.
5. Pôs-lhes fogo e soltou-as nas searas dos filisteus. Incendiou assim tanto o trigo que estava enfeixado como o que estava ainda em pé, queimando até mesmo as vinhas e os olivais.
6. Quem fez isso?, perguntaram os filisteus. Responderam: Foi Sansão, genro do tamneu, porque este tomou sua mulher e a deu a um de seus amigos. Então subiram os filisteus e queimaram a mulher juntamente com o seu pai.
7. Sansão disse-lhes: Ah, é assim que fazeis? Pois bem: não descansarei enquanto não me tiver vingado de vós.
8. E feriu-os vigorosamente, sem compaixão alguma. Depois disso, desceu e habitou na gruta da rocha de Etão.
9. Então subiram os filisteus e acamparam em Judá, espalhando-se até Lequi.
10. Os homens de Judá disseram: Por que subistes contra nós? Eles responderam: Subimos para prender Sansão e pagar-lhe o que ele nos fez.
11. Três mil homens de Judá desceram então à gruta do rochedo de Etão e disseram a Sansão: Não sabes que os filisteus nos dominam? Que é isso que nos fizeste? Eu tratei-os como eles mesmos me trataram a mim, respondeu Sansão.
12. Eles replicaram: Viemos prender-te para entregar-te aos filisteus. Jurai-me, disse Sansão, que não me haveis de matar.
13. Não te mataremos, mas entregar-te-emos a eles amarrado. Ligaram-no, pois, com duas cordas novas e tiraram-no da gruta.
14. Chegando a Lequi, os filisteus acolheram-no com gritos de alegria. Apoderou-se, porém, de Sansão o Espírito do Senhor, e as duas cordas que ligavam seus braços tornaram-se como fios de linho queimado, caindo de suas mãos as amarraduras.
15. Apanhando uma queixada ainda fresca de jumento, feriu com ela mil homens.
16. Sansão dizia: Com a queixada de um jumento, eu os destrocei! Com a queixada de um jumento mil homens feri!
17. Dito isso, lançou ao longe a queixada e deu àquele lugar o nome de Ramat-Lequi.
18. Sentindo uma sede intensa, clamou ao Senhor: Vós destes, disse ele, ao vosso servo esta grande vitória. Morrerei eu agora de sede e cairei nas mãos dos incircuncisos?
19. Então Deus fendeu a rocha côncava que está em Lequi, e dela jorrou água. Sansão, tendo bebido dessa água, recobrou ânimo e recuperou as forças. Daí o nome que traz essa fonte: En-Hacoré. Ainda hoje ela existe em Lequi.
20. Sansão foi juiz em Israel durante vinte anos no tempo dos filisteus.

 
Capítulo 16

1. Sansão foi a Gaza, onde viu uma mulher meretriz, e foi procurá-la.
2. E a notícia correu pela cidade: Sansão está aqui. Puseram-se de emboscada nos arredores durante toda a noite, junto às portas da cidade, e ficaram quietos toda a noite, dizendo: Ao romper do dia, matá-lo-emos.
3. Sansão dormiu até a meia-noite. E levantando-se pela meia-noite tomou os batentes da porta de Gaza, com os seus postes, arrancou-os juntamente com o ferrolho, pô-los sobre os ombros e levou-os até o alto da montanha que está defronte de Hebron.
4. Depois disto, enamorou-se de uma mulher que habitava no vale de Sorec, chamada Dalila.
5. Os príncipes dos filisteus foram ter com ela e disseram-lhe: Procura seduzi-lo e vê se descobres de onde lhe vem sua força e como o poderemos vencer, a fim de o amarrarmos para dominá-lo. Se fizeres isto, dar-te-emos cada um de nós mil e cem moedas de prata.
6. Dalila disse a Sansão: Dize-me, de onde vem tua força? E de que modo se precisaria ligar-te para que fosses dominado?
7. Sansão respondeu-lhe: Se me amarrassem com sete cordas de nervos ainda frescas e úmidas, eu me tornaria tão fraco como qualquer homem.
8. Os príncipes dos filisteus trouxeram a Dalila sete cordas de nervos bem frescas e úmidas, com as quais ela o ligou.
9. Ora, estando eles de emboscada no quarto, ela gritou: Sansão, os filisteus vêm contra ti! E ele rompeu as cordas com se rompe um cordão de estopa, mal se lhe chega o fogo. Assim, permaneceu oculto o segredo de sua força.
10. Dalila disse-lhe: Tu zombaste de mim, mentindo-me. Dize-me agora com que se precisaria ligar-te.
11. Se me amarrassem com cordas novas, disse ele, que ainda não tenham servido, eu me tornaria tão fraco como qualquer homem.
12. Dalila tomou, pois, cordas novas, amarrou-o com elas e gritou: Sansão, os filisteus vêm contra ti! Ora, estavam eles de emboscada no quarto, mas Sansão rompeu como se fossem um fio as cordas que lhe amarravam os braços.
13. Até ao presente, disse-lhe Dalila, só tens zombado de mim e só me tens dito mentiras. Dize-me com que será preciso amarrar-te. Bastará, respondeu Sansão, que teças as sete tranças de minha cabeça com a urdidura do teu tear.
14. Ela fixou-as com o torno do tear, e gritou: Sansão, os filisteus vêm contra ti! Ele, despertando do sono, arrancou o torno do tear com os liços.
15. Dalila disse-lhe: Como podes dizer que me amas, se o teu coração não está comigo? Eis já três vezes que me enganas, e não me queres dizer onde reside a tua força.
16. Ela o importunava cada dia com suas perguntas, instando com ele e molestando-o de tal sorte, que ele sentiu com isso uma impaciência mortal.
17. E Sansão acabou por confiar-lhe o seu segredo: Sobre minha cabeça, disse ele, nunca passou a navalha, porque sou nazareno de Deus desde o seio de minha mãe. Se me for rapada a cabeça, a minha força me abandonará e serei então fraco como qualquer homem.
18. Dalila sentiu que ele lhe tinha aberto todo o seu coração; e mandou dizer aos príncipes dos filisteus: Subi agora; porque ele me abriu todo o seu coração. E os príncipes dos filisteus foram ter com ela, levando o dinheiro em suas mãos.
19. Dalila fez que seu marido adormecesse nos seus joelhos, e chamando um homem, mandou-lhe que rapasse as sete tranças de sua cabeça. Ela começou a dominá-lo, pois sua força o deixou.
20. E disse: Sansão, os filisteus vêm contra ti! Despertando ele do sono, disse consigo mesmo: Desembaraçar-me-ei deles como das outras vezes e me livrarei. Ignorava Sansão que o Senhor se tinha retirado dele.
21. E os filisteus, tomando-o, furaram-lhe os olhos e levaram-no a Gaza ligado com uma dupla cadeia de bronze, e ali meteram-no na prisão, fazendo-o girar a mó.
22. Entretanto, os seus cabelos recomeçavam a crescer.
23. Ora, os príncipes dos filisteus reuniram-se para oferecer um grande sacrifício a Dagon, seu deus, e celebrar uma festa. Nosso deus, diziam eles, entregou-nos Sansão nosso inimigo.
24. Também o povo, vendo isso, louvava o seu deus, dizendo: O nosso deus entregou-nos o nosso inimigo, aquele que devastava nossa terra e matava tantos dos nossos.
25. E estando eles de coração alegre, exclamaram: Mandai vir Sansão para nos divertir! Tiraram-no da prisão, e Sansão teve que dançar diante deles. Tendo sido colocado entre as colunas,
26. Sansão disse ao jovem que o conduzia pela mão: Deixa que eu toque as colunas que sustêm o templo, e que me apóie a elas.
27. Ora, o templo estava repleto de homens e mulheres, e estavam ali todos os príncipes dos filisteus; havia cerca de três mil pessoas, homens e mulheres, que do teto olhavam o prisioneiro dançar.
28. Sansão, porém, invocando o Senhor, disse: Senhor Javé, rogo-vos que vos lembreis de mim. Dai-me, ó Deus, ainda esta vez, força para vingar-me dos filisteus pela perda de meus olhos.
29. Abraçando então as duas colunas centrais sobre as quais repousava todo o edifício, pegou numa com a mão direita e noutra com a mão esquerda, e gritou:
30. Morra eu com os filisteus! Dizendo isso, sacudiu com todas as suas forças o edifício, que ruiu sobre os príncipes e sobre todo o povo reunido. Desse modo, matou pela sua própria morte muito mais homens do que os que matara em toda a sua vida.
31. Então desceram a Gaza os seus irmãos e toda a sua família paterna, tomaram-no, e tendo voltado, sepultaram-no no túmulo de seu pai, entre Sorea e Estaol. Sansão fora juiz em Israel durante vinte anos.

 
Capítulo 17

1. Havia na montanha de Efraim um homem chamado Micas.
2. Ele disse (um dia) à sua mãe: Os mil e cem siclos de prata que te roubaram e pelos quais lançaste uma maldição aos meus ouvidos, esse dinheiro está em meu poder; fui eu que os roubei. Sua mãe respondeu: Abençoado seja o meu filho pelo Senhor!
3. Devolveu, pois, os mil e cem siclos de prata à sua mãe, que lhe disse: Da minha mão eu os consagro ao Senhor a favor de meu filho, para que se faça deles um ídolo fundido. Toma: ei-los aqui.
4. Micas entregou o dinheiro à sua mãe e ela tomou duzentos siclos de prata que mandou entregar ao fundidor. Fez o ourives com essa prata um ídolo fundido, que foi colocado na casa de Micas.
5. E Micas teve, assim, uma capela; mandou fazer um efod e uns terafim e consagrou um de seus filhos para servir-lhe de sacerdote.
6. Naquele tempo não havia rei em Israel, e cada um fazia o que lhe parecia melhor.
7. Ora, aconteceu que um adolescente de Belém de Judá, da tribo de Judá (o qual era levita, e morava ali),
8. partiu da cidade de Belém de Judá para procurar uma morada. Seguindo o seu caminho, chegou à montanha de Efraim, à casa de Micas.
9. De onde vens?, perguntou-lhe este. De Belém de Judá, respondeu o levita, e viajo em busca de um lugar onde me fixar.
10. Micas disse-lhe: Fica comigo. Serás para mim um pai e um sacerdote; dar-te-ei dez siclos de prata por ano, vestes suficientes e alimento.
11. O jovem levita condescendeu em habitar na casa daquele homem, que o tratou como um de seus filhos.
12. Micas pô-lo em suas funções e o jovem serviu-lhe de sacerdote, residindo em sua própria casa.
13. Agora, disse Micas, estou seguro de que o Senhor me abençoará, tendo eu esse levita por sacerdote.

 
Capítulo 18

1. Naquele tempo não havia rei em Israel. Por essa mesma época a tribo de Dá buscava uma possessão para habitar nela, porque até então nada tinha recebido entre as tribos de Israel.
2. Os danitas enviaram cinco dos seus, cinco homens valorosos escolhidos dentre todas as suas famílias de Sorea e de Estaol, para explorarem cuidadosamente a terra: Ide, disseram-lhes, e examinai bem a terra. Foram e chegaram à montanha de Efraim, e entraram na casa de Micas, onde passaram a noite.
3. Perto da casa de Micas ouviram a voz do jovem levita e, aproximando-se dele, disseram-lhe: Quem te trouxe aqui? Que fazes aqui? Por que te encontras neste lugar?
4. Respondeu-lhes o jovem: Micas fez-me isto e isso; deu-me um salário e eu sirvo-lhe, de sacerdote.
5. Consulta então, replicaram-lhe, o teu deus a fim de saber se nossa viagem será bem sucedida.
6. O sacerdote respondeu: Ide em paz: vossa viagem está sob o olhar de Deus.
7. Os cinco homens puseram-se a caminho e foram até Lais. Viram ali um povo que habitava seguro, pacífico e tranqüilo, segundo o costume dos sidônios. Não havia naquele terra nenhum rei que dominasse sobre os seus habitantes, ou que os molestasse em coisa alguma. Viviam longe dos sidônios e não tinham relações com ninguém.
8. Voltando para seus irmãos em Sorea e Estaol, estes disseram: Que pudestes fazer?
9. Eles responderam: Vamos, subamos contra eles. Vimos a sua terra que é excelente. Por que ficais aí sem nada dizer? Não demoreis a pôr-vos em marcha para tomar posse dessa terra.
10. Quando ali entrardes, encontrareis um povo que vive em segurança e uma terra espaçosa que Deus vos entregará nas mãos, uma região onde nada falta daquilo que a terra produz.
11. Seiscentos homens da família de Dá partiram, pois, de Sorea e de Estaol, munidos com armas de guerra
12. e acamparam em Cariatiarim, em Judá. Por isso deu-se àquele lugar o nome de Mahanê-Dã, o qual assim se chama ainda hoje, e está situado ao ocidente de Cariatiarim.
13. Dali passaram às montanhas de Efraim e chegaram à casa de Micas.
14. E os cinco homens que tinham sido enviados a explorar a terra de Lais disseram aos seus irmãos: Sabeis que há nessa casa um efod, uns terafim e um ídolo fundido? Considerai agora o que tendes a fazer.
15. Dirigiram-se para lá e entraram na casa do jovem levita, em casa de Micas, para saudá-lo e informar-se de como ia passando.
16. Entretanto, os seiscentos danitas, armados como estavam, ficaram à porta.
17. Os cinco exploradores penetraram (sozinhos) na capela e tomaram o ídolo com o efod e os terafim, enquanto o sacerdote se achava com os seiscentos homens armados à entrada da porta.
18. Tiraram, pois, da casa de Micas, o ídolo, o efod e os terafim. O sacerdote disse-lhes: Que fazeis vós?
19. Cala-te, responderam-lhe, põe a mão na boca e vem conosco; tu nos servirás de pai e de sacerdote. O que é melhor para ti: ser sacerdote na casa de um particular, ou numa tribo e numa família de Israel?
20. Alegrou-se o coração do sacerdote, e ele, tomando o efod, os terafim e o ídolo, foi com a tropa.
21. Puseram-se de novo a caminho, precedidos das crianças, do gado e das bagagens.
22. Estando eles já longe da casa de Micas, os vizinhos deste ajuntaram-se e perseguiram os danitas.
23. Interrogados, os filhos de Dã voltaram-se e disseram a Micas: Que queres tu, e por que trazes toda essa gente?
24. Ele respondeu: Tirastes os meus deuses que fiz para mim, tomastes o sacerdote e partistes. Que me resta agora? E como podeis perguntar o que quero?
25. Os danitas replicaram: Nem mais uma palavra diante de nós! Não suceda que alguns se impacientem contra vós e percais a vida, tu e tua família!
26. E os danitas continuaram o seu caminho. Micas, vendo que aqueles homens eram mais fortes que ele, voltou para a sua casa.
27. Desse modo, tomaram os danitas a obra que Micas tinha feito, juntamente com o seu sacerdote. Atacaram então Lais, um povo pacífico e seguro, passaram-no ao fio da espada e queimaram a cidade.
28. Não houve quem a salvasse, porque estava longe de Sidon e não tinham relações com ninguém. Essa cidade estava situada no vale pertencente a Bet-Roob. Os danitas reedificaram a cidade e habitaram-na,
29. chamando-a cidade de Dã, nome de seu pai, que tinha nascido de Israel; a cidade chamava-se primitivamente Lais.
30. E erigiram em seguida o ídolo. Jonatã, filho de Gersã filho de Moisés, e seus descendentes foram sacerdotes na tribo de Dã até o dia de sua deportação.
31. O ídolo de Micas foi conservado entre eles durante todo o tempo que o santuário de Deus ficou em Silo.

 
Capítulo 19

1. Naquele tempo, como não havia rei em Israel, aconteceu que um levita, vindo fixar-se no fundo das montanhas de Efraim, tomou ali por concubina uma jovem. de Belém de Judá.
2. Esta foi-lhe infiel, deixou-o e foi para junto de seu pai em Belém de Judá, onde ficou quatro meses.
3. Seu marido foi ter com ela para falar-lhe ao coração e reconduzi-la à sua casa, levando consigo um servo e dois jumentos. Ela o introduziu em casa de seu pai. Quando o pai da mulher o viu, saiu a recebê-lo alegremente.
4. Retido pelo sogro, pai da jovem, ficou o levita com ele durante três dias; comeram, beberam e passaram a noite.
5. Na manhã do quarto dia, quando se levantaram e se dispunham a partir, o pai da jovem disse ao genro: Restaura primeiro as tuas forças com um pouco de pão, e depois disto partireis.
6. Sentaram-se ambos, comeram e beberam. em seguida o pai da jovem disse ao genro: Peço-te que passes aqui ainda esta noite, e alegre-se o teu coração.
7. A instâncias do sogro, o homem que já se tinha levantado para partir, tornou a recostar-se e passou ali ainda aquela noite.
8. Chegada a manhã, preparando-se ele para se pôr a caminho, disse-lhe o pai da jovem: Peço-te que restaures as tuas forças. Deixai a vossa partida para o declinar do dia. E comeram ambos juntos.
9. Levantou-ser então o homem e dispunha-se a partir com a sua concubina e o seu servo. O sogro, porém, pai da jovem, disse-lhe de novo: Olha que o dia declina e a noite se aproxima. Passai a noite aqui. Sim, o dia se vai acabando, passa aqui a noite tranqüilamente. Amanhã vos levantareis cedo e partireis, a fim de voltardes para a vossa casa.
10. O levita, porém, não consentiu. Partiu e chegou a Jebus, que é Jerusalém, com a sua concubina e seus dois jumentos selados.
11. Quando chegaram, o dia ia declinando, e o criado disse a seu amo: Vem tomemos o caminho da cidade dos jebuseus para ali passarmos a noite.
12. Não, respondeu-lhe o amo, não entraremos numa cidade estrangeira, onde não há israelitas. Iremos até Gabaa.
13. Vamos, ajuntou ele, procuremos atingir um desses lugares, e nos alojaremos em Gabaa ou em Rama.
14. Prosseguiram, pois, o seu caminho, e o sol se punha, quando se encontravam perto de Gabaa de Benjamim.
15. Dirigiram-se para lá, a fim de passarem a noite. Tendo entrado na cidade, parou o levita na praça, e ninguém lhe ofereceu hospitalidade.
16. Nisto apareceu um homem idoso que voltava do seu trabalho no campo, ao anoitecer. Era também da montanha de Efraim e habitava como forasteiro em Gabaa, cujos habitantes eram benjaminitas.
17. O velho, levantando os olhos, viu o levita na praça da cidade: Aonde vais?, disse-lhe ele, e de onde vens?
18. Nós partimos, respondeu o levita, de Belém de Judá e vamos até ao fundo da montanha de Efraim, onde nasci. Acabo de deixar Belém de Judá para voltar à minha casa, mas ninguém me quer acolher,
19. embora tenhamos palha e feno para os nossos jumentos, pão e vinho para mim, tua serva e o jovem, teu servo; nada nos falta.
20. O velho respondeu: A paz seja contigo. Dar-te-ei tudo o que for necessário; somente não passarás a noite na praça.
21. Fê-lo entrar em sua casa, e deu de comer aos jumentos. Os viajantes lavaram os pés, e foi-lhes servida a refeição.
22. Enquanto restauravam as forças, vieram os habitantes da cidade, gente péssima, e, cercando a casa do velho, bateram violentamente à porta: Faze sair, gritaram eles ao velho, dono da casa, faze sair o homem que entrou em tua casa para que nós o conheçamos!
23. O velho saiu e foi ter com eles, dizendo: Não queirais, irmãos, cometer semelhante maldade, pois esse homem é hóspede de minha casa. Não pratiqueis tal infâmia.
24. Eis aqui a minha filha virgem, e a concubina desse homem. Eu vo-las trarei, e vós podereis violá-las e fazer delas o que quiserdes; somente vos peço que não cometais contra esse homem uma ação tão infame.
25. Eles, porém, não o quiseram ouvir. Então o levita, vendo isso, trouxe-lhes sua concubina; eles a conheceram e abusaram dela durante a noite até pela manhã, e despediram-na ao amanhecer.
26. Ao romper do dia, veio a mulher e caiu à porta da casa onde estava, o marido e ali ficou até que o dia clareasse.
27. Chegada a manhã, levantou-se o marido e, ao abrir a porta para continuar o seu caminho, eis que sua concubina jazia diante da porta, com as mãos estendidas sobre a soleira.
28. Levanta-te, disse-lhe ele, vamo-nos. Mas a mulher não lhe respondeu… tomou-a então, pô-la sobre o jumento e tomou o caminho de volta para a sua casa.
29. Chegando à sua casa, tomou um cutelo, dividiu o cadáver de sua concubina, membro por membro, em doze partes, e enviou-as por todo o território de Israel.
30. Todos os que testemunharam aquilo, disseram: Jamais se fez ou se viu tal coisa, desde que Israel subiu do Egito até este dia. Ponderai bem isto, deliberei e pronunciai-vos!

 
Capítulo 20

1. Movimentaram-se, pois, todos os israelitas como um só homem, desde Dã até Bersabéia, e até a terra de Galaad. E a assembléia reuniu-se diante do Senhor em Masfa.
2. os chefes de todo o povo e todas as tribos de Israel apresentaram-se diante da assembléia do povo de Deus: havia quatrocentos mil homens de pé, armados com a espada.
3. E os filhos de Benjamim souberam que os israelitas tinham subido a Masfa. Os israelitas disseram: Dizei-nos de que modo se cometeu esse crime?
4. O levita, marido da mulher que foi morta, tomou a palavra: Eu cheguei a Gabaa de Benjamiml, disse ele, com minha concubina para ali passar a noite.
5. Os homens de Gabaa, porém, amotinaram-se contra mim e cercaram de noite a casa, querendo matar-me; violentaram a minha concubina, e ela morreu.
6. Tomei-a então e cortei-a em pedaços, que mandei distribuir por todo o território da herança de Israel, porque cometeram uma atrocidade e uma infâmia em Israel.
7. Vós todos, ó israelitas que aqui estais, dai o vosso parecer e tomai uma decisão.
8. Levantou-se então todo o povo como um só homem, dizendo: Ninguém dentre nós irá à sua tenda, e ninguém voltará à sua casa.
9. Eis o que agora vamos fazer a Gabaa: lancemos a sorte contra ela!
10. Tomemos dentre todas as tribos de Israel dez homens de cada cem, cem de cada mil, e mil de cada dez mil, que irão procurar víveres para o abastecimento do povo. É preciso, quando eles voltarem, tratarmos a Gabaa de Benjamim como ela merece pela infâmia que cometeu em Israel.
11. Assim se coligou contra a cidade todo o Israel, como se fora um só homem.
12. Mandaram mensageiros a todas as famílias de Benjamim, para que lhe dissessem: Que maldade é essa que se cometeu no meio de vós?
13. Entregai-nos sem demora os celerados de Gabaa, para que os matemos e tiremos o mal do meio de Israel. Mas os benjaminitas não quiseram dar ouvidos aos seus irmãos israelitas.
14. Juntaram-se em Gabaa de todas as suas cidades para combater os israelitas.
15. Contaram-se naquele dia os benjaminitas que acorreram de todas as cidades: vinte e seis mil homens, armados de espada, sem contar os habitantes de Gabaa, que eram setecentos homens de escol.
16. Entre todo esse povo havia setecentos homens de escol que não se serviam da mão direita, e todos capazes de atirar pedras com a funda num cabelo, sem errar o alvo.
17. O número de israelitas recenseados, excluindo Benjamim, era de quatrocentos mil homens armados de espada, todos aptos para o combate.
18. Os israelitas subiram a Betel para consultar o Senhor; perguntaram.: Quem de nós subirá primeiro para começar a luta contra os benjaminitas? O Senhor respondeu-lhes: Judá será o primeiro a subir.
19. Partiram os israelitas no dia seguinte pela manhã e acamparam perto de Gabaa.
20. Começaram o combate contra os filhos de Benjamim, e puseram-se em ordem de batalha perto da cidade.
21. Saindo os benjaminitas infligiram a Israel naquele dia uma perda de vinte e dois mil homens, que juncavam o solo.
22. A multidão dos filhos de Israel, recobrando nova coragem, pôs-se outra vez em ordem de batalha no mesmo lugar onde estiveram na véspera.
23. Até a tarde estiveram os filhos de Israel chorando diante do Senhor, e o consultaram, dizendo: Devo continuar ainda a combater contra os filhos de Benjamim, meu irmão? O Senhor respondeu: Marchai contra ele.
24. Os israelitas avançaram segunda vez contra os benjaminitas,
25. que saíram de Gabaa ao seu encontro e lançaram-nos de novo por terra, matando dezoito mil israelitas, todos homens que manejavam a espada.
26. Então todo o povo dos israelitas subiu a Betel, e ali, sentados, lamentavam-se diante do Senhor, jejuando naquele dia até a tarde; e ofereceram holocaustos e sacrifícios pacíficos diante do Senhor.
27. E consultaram-no. Naquele tempo a arca da aliança de Deus estava lá, com Finéias, filho de Eleazar, filho de Aarão, que se conservava junto dela.
28. Disseram, pois: Devo continuar ou devo cessar a guerra contra Benjamim, meu irmão? O Senhor respondeu: lde, porque amanhã eu os entregarei nas vossas mãos.
29. Israel pôs emboscadas em volta de Gabaa e,
30. ao terceiro dia, recomeçou o combate contra os benjaminitas na mesma ordem de batalha que antes.
31. Saindo contra eles, os benjaminitas deixaram-se atrair para longe da cidade, e puseram-se, como das outras vezes, a ferir e a matar alguns homens de Israel, uns trinta aproximadamente, nos caminhos que sobem para Betel e para Gabaa através do campo.
32. Os filhos de Benjamim disseram entre si: Ei-los batidos diante de nós como dantes. Os filhos de Israel, porém, diziam: Fujamos e atraiamo-los para longe da cidade por esses caminhos.
33. Então, saindo todos os israelitas dos seus postos, ordenaram-se em batalha em Baal-Tamar, enquanto os homens de emboscada deixavam os seus esconderijos na planície da Gabaa.
34. Surgiram assim diante de Gabaa dez mil homens de escol do exército de Israel. A batalha foi rude: mas os benjaminitas não supunham que a derrota ia atingi-los.
35. O Senhor destruiu Benjamim à vista dos filhos de Israel, os quais mataram naquele dia vinte e cinco mil e cem benjaminitas, todos homens de armas.
36. OS filhos de Benjamim foram derrotados. Os israelitas tinham-lhes cedido terreno para fugir, porque confiavam na emboscada que tinham posto junto de Gabaa.
37. Saindo, pois, os homens dessa emboscada, cercaram a cidade e passaram tudo ao fio da espada.
38. Ora, os homens de Israel tinham combinado com os da emboscada que fizessem subir da cidade como sinal uma nuvem de fumo.
39. Os homens de Israel simularam a fuga no combate, e Benjamim pôs-se a ferir e a matar cerca de trinta homens, dizendo: Sem dúvida, estão derrotados diante de nós como no primeiro combate.
40. Mas quando a nuvem de fumo começou a subir da cidade, os benjaminitas olharam para trás e viram o incêndio de Gabaa subir até o céu.
41. Os homens de Israel deram volta e os benjaminitas ficaram pasmados ante o desastre que vinha sobre eles.
42. Voltaram as costas diante dos israelitas e tomaram o caminho do deserto; o exército, porém, os perseguiu de perto, e os das cidades foram massacrados cada um em seu próprio lugar.
43. Cercaram os benjaminitas, perseguiram-nos e esmagaram-nos em todas as suas paragens até defronte de Gabaa, para as bandas do levante.
44. Dessa sorte, caíram dezoito mil valentes guerreiros benjaminitas,
45. enquanto o resto se pôs a fugir para o deserto até o rochedo de Remon. Nessa fuga foram ainda mortos cinco mil homens pelos caminhos; e perseguindo-os de perto até Gedeão, mataram ainda dois mil.
46. Naquele dia foram mortos vinte e cinco mil homens de Benjamim, guerreiros valentes que manejavam a espada.
47. Seiscentos homens tinham chegado, em sua fuga para o deserto, ao rochedo de Remon, onde ficaram quatro meses.
48. (Entrementes), os israelitas tinham-se voltado contra os filhos de Benjamim e passaram ao fio da espada tudo o que lhes caía nas mãos nas cidades, desde os homens até os animais. Incendiaram também todas as cidades que encontraram.

 
Capítulo 21

1. Os filhos de Israel tinham jurado em Masfa, dizendo: Ninguém dentre nós dará sua filha em casamento a um benjaminita.
2. Dirigiu-se o povo a Betel, onde ficou até a tarde em presença do Senhor, e levantaram a voz com grandes lamentações:
3. Por que, diziam eles, ó Senhor, Deus de Israel, aconteceu essa desgraça que nos falte hoje uma tribo de Israel?
4. No dia seguinte pela manhã, o povo levantou naquele lugar um altar, sobre o qual ofereceu holocaustos e sacrifícios pacíficos.
5. E disseram: Haverá alguém dentre todas as tribos de Israel que não tenha comparecido à assembléia em presença do Eterno? Com efeito, fora pronunciado a seguinte juramento solene contra aquele que não subisse a Masfa junto do Senhor: Será punido de morte.
6. Os filhos de Israel tiveram pena de Benjamim, seu irmão: Assim, diziam eles, foi hoje uma tribo cortada de Israel?
7. Aonde vamos buscar mulheres para os que restam, pois que juramos pelo Senhor não lhes dar nossas filhas em casamento?
8. Por isso perguntavam se não havia alguma tribo de Israel que não tivesse subido para o Senhor em Masfa. Ora, ninguém de Jabes em Galaad tinha vindo ao acampamento ou comparecido à assembléia.
9. Fez-se o recenseamento do povo e não se encontrou, com efeito, homem algum de Jabes em Galaad.
10. Então a assembléia enviou para lá doze mil guerreiros valentes com a ordem seguinte: Ide e passai ao fio da espada todos os habitantes de Jabes em Galaad com as mulheres e as crianças.
11. Eis como deveis fazer: votareis ao interdito todo homem, bem como toda mulher que se houver deitado com homem.
12. Encontraram entre os habitantes de Jabes em Galaad quatrocentas moças virgens, que não tinham conhecido varão, e levaram-nas ao acampamento de Silo, na terra de Canaã.
13. Toda a assembléia enviou mensagens de paz aos benjaminitas que tinham se refugiado no rochedo de Remon.
14. Voltaram eles para as suas casas, e foram-lhes dadas por mulheres as filhas de Jabes em Galaad que tinham sido poupadas, mas não chegaram para todos.
15. O povo teve pena de Benjamim, porque o Senhor tinha feito uma brecha nas tribos de Israel.
16. Os anciãos da assembléia disseram: Que faremos para dar mulheres aos que restam, pois todas as mulheres de Benjamim foram exterminadas?
17. E ajuntaram: Fique para Benjamim a herança dos que sobreviveram, para que não seja cortada uma tribo de Israel.
18. Mas não podemos dar-lhes nossas filhas em casamento, pois os filhos de Israel lançaram a maldição a todo aquele que desse a sua filha por mulher a um benjaminita.
19. E disseram: Eis que se celebra a festa anual do Senhor em Silo (Silo está situada ao norte de Betel, ao oriente do caminho que vai de Betel a Siquém, e ao sul de Lebona).
20. Depois deram este conselho aos filhos de Benjamim: Ide e escondei-vos nas vinhas.
21. Quando virdes as filhas de Silo saírem para dançar em coro, saí de repente das vinhas e cada um tome uma para mulher entre as filhas de Silo; depois disso voltai para a terra de Benjamim.
22. Quando seus pais ou seus irmãos vierem queixar-se junto de nós, responder-lhes-emos: Deixai-as vir conosco, pois durante a guerra não pudemos tomar uma mulher para cada um. Aliás, não sois vós quem lhas destes, e nem tendes culpa nisso.
23. Assim fizeram os benjaminitas: tomaram entre as dançarinas mulheres segundo o seu número; tomaram-nas e voltaram para a sua casa. Depois construíram cidades e habitaram nelas.
24. Voltaram também os israelitas, cada um para a sua tribo e sua família, e para a terra de sua herança.
25. Naquele tempo não havia rei em Israel, e cada um fazia o que lhe parecia melhor.

 

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