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Livro de Ester

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Livro de Ester

 Capítulo 1

1. No tempo de Assuero, que reinava desde a Índia até a Etiópia sobre cento e vinte e sete províncias,
2. naqueles dias em que ele ocupava o trono real de Susa, sua capital,
3. no terceiro ano de seu reinado, deu um banquete a todos os cortesãos e a seus servos. Tinha reunido em sua presença os chefes do exército dos persas e dos medos, os príncipes e os governadores das províncias,
4. para fazer manifestação da riqueza e do esplendor de seu reino, da rara magnificência de sua grandeza, durante um tempo considerável, a saber, cento e oitenta dias.
5. Passado esse tempo, o rei ofereceu a toda a população de Susa, a capital, desde o maior até o menor, um banquete de sete dias no pátio do jardim, junto ao palácio.
6. Cortinas brancas de algodão e de púrpura violeta, presas por cordões brancos e purpúreos a anéis de prata e a colunas de mármore; leitos de ouro e prata sobre um pavimento de pórfiro, de mármore branco, de nácar e pedra preta;
7. bebida servida em copos de ouro de variadas formas; o vinho real em abundância oferecido pela liberalidade do rei.
8. Bebia-se sem ser importunado por ninguém, segundo uma ordem do rei, porque ele tinha recomendado a todos os chefes de sua casa que deixassem cada um proceder como lhe agradasse.
9. Por sua parte, a rainha Vasti ofereceu o banquete das mulheres no palácio do rei Assuero.
10. No sétimo dia, o rei cujo coração estava alegre pelo vinho, ordenou a Mauman, Bazata, Harbona, Bagata, Abgata, Zetar e Carcar – os sete eunucos a serviço, junto de Assuero –
11. que trouxessem à sua presença a rainha Vasti com o diadema real, para mostrar ao povo e aos grandes toda a sua beleza, porque era formosa de aspecto.
12. Mas a rainha Vasti recusou sujeitar-se à ordem do rei transmitida pelos eunucos, com o que se irritou grandemente o rei, acendendo-se o seu furor.
13. Consultou os sábios versados na ciência dos tempos. (Porque os assuntos reais eram tratados desse modo, com jurisconsultos,
14. e os mais considerados eram Carsena, Setar, Admata, Tarsis, Mares, Marsena e Memucan, sete príncipes da Pérsia e da Média, que contemplavam a face do rei e ocupavam o primeiro lugar no reino.)
15. Que lei, disse ele, se deve aplicar à rainha Vasti, por não ter obedecido a ordem que o rei Assuero lhe transmitiu pelos eunucos?
16. Não foi somente em relação ao rei, respondeu Memucan, que se comportou mal a rainha Vasti, mas também em relação a todos os príncipes e os povos das províncias do rei Assuero.
17. Porque o proceder da rainha será conhecido de todas as mulheres e as incitará a desprezar seus maridos. Dirão: O rei Assuero tinha mandado trazer à sua presença a rainha Vasti, mas ela não quis vir.
18. Daqui em diante, as senhoras da Pérsia e da Média, sabendo da conduta da rainha, responderão do mesmo modo a todos os grandes do rei e disso resultará, por toda parte, desprezo e irritação.
19. Se o rei achar bom, publique-se em seu nome um decreto real, que ficará consignado nas ordenações da Pérsia e da Média como irrevogável, em força do qual Vasti não apareça mais diante de Assuero e o rei confira o título de rainha a outra que seja mais digna.
20. Quando o edito for conhecido na imensidade de seu reino, todas as mulheres respeitarão seus maridos, desde o maior até o mais humilde.
21. Esse parecer agradou ao rei e aos príncipes, de modo que o rei seguiu o conselho de Memucan.
22. O rei expediu cartas para todas as províncias reais, a cada uma em sua escrita e a cada povo em sua língua própria: elas decretavam que todo homem devia ser o senhor em sua casa e fazer-se respeitar por sua mulher.

 
Capítulo 2

1. Quando, pouco depois, a cólera do rei se acalmou, pensou em Vasti, no que ela tinha feito e na decisão que tomara a respeito dela.
2. Então as pessoas do séquito do rei disseram:
3. Que se procurem para o rei donzelas virgens, belas de aspecto; que o rei envie pessoas a todas as províncias de seu reino, para reunir todas as jovens virgens de belo aspecto e trazê-las a Susa, sua capital, ao harém, sob a vigilância de Hegai, eunuco do rei e encarregado das mulheres, que providenciará às necessidades de seu toucador.
4. A jovem que souber agradar ao rei se tornará rainha em lugar de Vasti. Isso agradou ao rei que seguiu esse conselho.
5. Ora, havia em Susa, a capital, um judeu chamado Mardoqueu, filho de Jair, filho de Semei, filho de Cis, da tribo de Benjamim,
6. que tinha sido trazido de Jerusalém entre os cativos deportados com Jeconias, rei de Judá, por Nabucodonosor, rei de Babilônia.
7. Era o tutor de Edissa – isto é, Ester, – filha de seu tio, órfã de pai e mãe. A moça era de belo porte e agradável de aspecto; na morte de seus pais, Mardoqueu a tinha adotado por filha.
8. Logo que foi publicado o edito do rei, numerosas jovens foram reunidas em Susa, a capital, sob a guarda de Hegai. Ester também foi levada ao palácio e posta sob a guarda de Hegai, o encarregado das mulheres.
9. A jovem lhe agradou e ganhou suas graças; tanto que ele se apressou a lhe proporcionar ungüentos e perfumes para seu toucador e adorno. Deu-lhe sete companheiras, escolhidas na casa do rei, reservando a elas o melhor apartamento do gineceu.
10. Ester não tinha revelado sua raça nem sua família, porque Mardoqueu lhe tinha proibido falar disso.
11. Cada dia ele passeava diante do pátio do gineceu para ter notícias de Ester e saber o que lhe acontecia.
12. Toda jovem começava por sujeitar-se, durante doze meses, à lei das mulheres. Nesse período se purificavam seis meses com óleo de mirra, e seis meses com cosméticos e outros bálsamos em uso entre as mulheres.
13. Depois disso, quando chegava a vez de cada uma entrar junto ao rei, podia, ao passar do gineceu ao palácio, tomar consigo tudo o que queria.
14. Admitida à tarde, se retirava pela manhã a um outro palácio das mulheres, sob a guarda de Chaasgaz, o eunuco do rei posto à frente das concubinas. E não voltava mais junto ao rei, se ele não tivesse manifestado o desejo, chamando-a expressamente.
15. Chegou a vez de Ester entrar junto ao rei. A filha de Abigail (tio desse Mardoqueu que a tinha adotado por filha), não pediu nada além do que lhe foi dado por Hegai, eunuco do rei, encarregado das mulheres. Mas ela ganhava as boas graças de todos os que a viam.
16. Foi levada junto ao rei Assuero, a seu palácio. Era o décimo mês (mês de Tebet), do ano sétimo do seu reinado.
17. O rei amou-a mais que todas as outras mulheres; e ganhou ela as graças e o favor real mais que todas as demais jovens. Tanto que o rei colocou sobre sua cabeça o diadema real e a fez rainha em lugar de Vasti.
18. O rei deu um grande banquete a todos os seus príncipes e a seus servos em honra de Ester; concedeu um dia de descanso a seus Estados e fez benefícios verdadeiramente reais.
19. Na segunda vez que reuniram as jovens, Mardoqueu se achava sentado à porta do rei.
20. Obedecendo à proibição de seu tutor, Ester não tinha revelado nem sua família, nem sua raça. Obedecia ainda a Mardoqueu, como quando estava sob a sua tutela.
21. Naquele tempo, pois, Mardoqueu se sentava à porta do palácio. Ora, dois eunucos do rei, Bigtã e Tares, guardas da entrada, cedendo ao ressentimento, pensaram levantar sua mão contra o rei.
22. Mardoqueu o soube e deu parte à rainha Ester, e esta o referiu ao rei da parte de Mardoqueu.
23. Examinado o assunto e reconhecido como certo, foram os dois eunucos suspensos numa forca. E se consignou o fato nas Crônicas, em presença do rei.

 
Capítulo 3

1. Depois desses acontecimentos, o rei Assuero elevou em dignidade Amã, filho de Amedata, o agagita, e lhe deu um lugar acima de todos os grandes que o rodeavam.
2. Todos os servos do rei, que estavam à sua porta, dobravam o joelho e prostravam-se diante de Amã, por ordem expressa do rei; entretanto, Mardoqueu não queria nem dobrar o joelho, nem prostrar-se.
3. Por que, pois, lhe diziam os servos que estavam à porta real, desobedeces assim à ordem do rei?
4. E como lhe repetissem isso todos os dias, sem que ele fizesse conta, denunciaram-no a Amã, para ver se esse Mardoqueu persistia em sua resolução, pois ele lhes havia dito que era judeu.
5. Amã viu que Mardoqueu não queria nem inclinar-se, nem prostrar-se diante dele e isso o pôs em cólera.
6. Mas teve como pouco vingar-se só de Mardoqueu, cuja raça conhecia, e procurou um meio de exterminar a nação de Mardoqueu, todos os judeus do reino de Assuero.
7. No primeiro mês, chamado Nisã, do ano duodécimo do reinado de Assuero, foi lançado o pur, isto é, a sorte, diante de Amã, para cada dia e para cada mês, até o duodécimo mês, isto é, Adar.
8. Então Amã disse ao rei Assuero: Há em todas as províncias do teu reino uma nação dispersa e separada das outras; suas leis são diferentes das dos demais povos e se nega a observar as leis do rei. Não convém aos interesses do rei deixar essa gente em paz.
9. Se ao rei lhe parece bem, dê-se ordem de fazê-los perecer, e eu pesarei dez mil talentos de prata nas mãos dos funcionários, para que os recolham ao tesouro real.
10. Tirando o anel de seu dedo, o rei o entregou a Amã, filho de Amedata, o agagita, o opressor dos judeus.
11. Eu te entrego, lhe disse, esse dinheiro e ao mesmo tempo esse povo; faze dele o que quiseres.
12. No dia treze do primeiro mês foram convocados os escribas reais. Foram escritas pontualmente todas as ordens do rei aos sátrapas do rei, aos governadores de cada província e aos príncipes de cada nação, a cada província segundo sua escritura e a cada nação em sua língua própria. O edito estava assinado com o nome de Assuero e levava o selo real.
13. Foram expedidas cartas, por correios, para todas as províncias do rei, a fim de destruir, matar e exterminar todos os judeus, jovens, velhos, crianças e mulheres, num só dia, no dia treze do duodécimo mês chamado Adar e a fim de entregar ao saque os seus despojos.
14. Uma cópia do edito, que devia ser promulgado em cada província, foi enviada a todos os povos, para que todos estivessem preparados para o dia marcado.
15. Por ordem do rei, os correios partiram a toda a pressa. O edito fora publicado primeiro em Susa, a capital, e enquanto o rei bebia acompanhado de Amã, a consternação reinava na cidade de Susa.

 
Capítulo 4

1. Quando Mardoqueu soube o que se tinha passado, rasgou suas vestes, cobriu-se de saco e cinza, e percorreu a cidade, dando gritos de dor.
2. Veio desse modo até diante da porta do rei, pela qual ninguém tinha o direito de passar com vestes de luto.
3. Em cada província, em toda parte onde chegava a ordem do rei e seu edito, havia grande desolação entre os judeus. Jejuaram, choraram e fizeram lamentações; e muitos se deitavam sobre o saco e a cinza.
4. As criadas de Ester e seus eunucos vieram contar-lhe o que se passava, e isso lhe causou grande temor. Mandou roupas para revestir Mardoqueu, fazendo-lhe despir o saco de que estava coberto, mas ele não as aceitou.
5. Então Ester, chamando Atac, um dos eunucos que o rei pusera a seu serviço, encarregou-o de perguntar a Mardoqueu o que significavam aqueles sinais de dor.
6. Atac foi ter com Mardoqueu, que estava na praça da cidade, diante da porta do rei.
7. Soube dele tudo o que tinha acontecido e a quantia de dinheiro que Amã tinha prometido recolher ao tesouro real em troca da destruição dos judeus.
8. Mardoqueu lhe entregou também uma cópia do edito, publicado em Susa para exterminá-los. Devia mostrá-la a Ester, pô-la a par de tudo e movê-la a ir ter com o rei para implorar sua graça e interceder junto dele em favor do povo.
9. Atac veio referir a Ester as palavras de Mardoqueu,
10. mas a rainha mandou Atac responder-lhe:
11. Todos os servos do rei e o povo de suas províncias sabem bem que, para quem quer que seja, homem ou mulher, que penetrar sem ser chamado na câmara interior do palácio, há uma lei real condenando-o à morte, exceção feita somente àquele para o qual o rei estender seu cetro de ouro, conservando-lhe a vida. E eis que são já trinta dias que não sou chamada junto ao rei.
12. As palavras de Ester foram referidas a Mardoqueu, e este lhe mandou responder:
13. Não imagines que serás a única entre todos os judeus a escapar, por estares no palácio.
14. Se te calares agora, o socorro e a libertação virão aos judeus de outra parte; mas tu e a casa de teu pai perecereis. E quem sabe se não foi para essas circunstâncias que chegaste à realeza.
15. Ester mandou responder a Mardoqueu:
16. Vai reunir todos os judeus de Susa e jejuai por mim sem comer nem beber durante três dias e três noites. Eu farei a mesma coisa com as minhas criadas. Depois disso, apesar da lei, irei ter com o rei. Se houver de morrer, morrerei.
17. Mardoqueu se retirou e fez o que Ester pediu.

 
Capítulo 5

1. Três dias depois Ester se revestiu de seus trajes reais e se apresentou na câmara interior do palácio, diante do aposento real, onde estava o rei sentado sobre seu trono, diante da porta de entrada do edifício.
2. Logo que o rei viu a rainha Ester no átrio, esta conquistou suas boas graças, de sorte que ele estendeu o cetro de ouro que tinha na mão. E Ester se aproximou para tocá-lo.
3. O rei lhe disse: Que tens, rainha Ester e que queres? Mesmo a metade de meu reino eu te daria.
4. Se parecer bem ao rei, respondeu ela, venha hoje com Amã ao banquete que lhe preparo.
5. O rei disse então: Apressai-vos em fazer vir Amã para atender ao desejo de Ester. O rei foi, pois, com Amã ao banquete que Ester tinha preparado.
6. Enquanto se bebia o vinho, o rei disse à rainha: Qual é o teu pedido? Ser-te-á concedido. Que desejas? Mesmo que fosse a metade de meu reino, a receberias.
7. Eis, respondeu, meu pedido e meu desejo:
8. se achei graça aos olhos do rei, e se lhe agrada aceder ao meu pedido e cumprir o meu desejo, que o rei e Amã tornem a vir ao banquete que lhes mandarei preparar. Amanhã eu responderei à pergunta do rei.
9. Amã voltou naquele dia gozoso e alegre de coração. Mas à vista de Mardoqueu que, diante da porta do rei, não se levantava nem se movia à sua passagem, encheu-se de furor contra o judeu.
10. Soube, entretanto, conter-se e retirou-se para casa. Então, mandou buscar os seus amigos e Zarés, sua mulher, e
11. lhes falou do esplendor de suas riquezas, do número de seus filhos, de tudo o que tinha feito o rei para exaltá-lo e do lugar que lhe tinha conferido sobre todos os príncipes e todo o pessoal real.
12. Além disso, acrescentou, fui o único que a rainha Ester admitiu com o rei ao banquete que ela deu e sou ainda convidado para amanhã, com o rei.
13. Mas tudo isso o tenho por nada, enquanto vir esse judeu Mardoqueu na antecâmara do rei.
14. Zarés, sua mulher, e todos os seus amigos lhe disseram: Não há mais que preparar uma forca de cinqüenta côvados de altura. E amanhã cedo pede ao rei que nela seja suspenso Mardoqueu. Depois irás satisfeito ao banquete com o rei. Isso agradou a Amã, e este mandou levantar a forca.

 
Capítulo 6

1. Naquela noite o rei não pôde conciliar o sono. Mandou que lhe trouxessem o livro dos Anais, as Crônicas, que lhe foram lidas.
2. Achava-se aí consignada a narração da denúncia que tinha feito Mardoqueu (da conjuração) de Bigtã e Tares, os dois eunucos do rei que tinham querido levantar sua mão contra o rei.
3. Que honras, disse então o rei, e que distinções recebeu Mardoqueu por isso? – Nenhuma, responderam os servos do rei.
4. E o rei perguntou: Quem está no pátio? Ora, nesse mesmo instante entrava Amã no pátio exterior do palácio para pedir ao rei que mandasse suspender Mardoqueu na forca que tinha feito levantar.
5. Os servos do rei responderam: É Amã que está no pátio. – Que entre!, retornou o rei.
6. Entrou, pois, Amã e o rei lhe disse: Que se deveria fazer para um homem que o rei quer honrar? – A quem, senão a mim, quererá o rei honrar?, pensou Amã.
7. Por isso respondeu ao rei: Para um homem a quem o rei deseja honrar
8. convém que lhe tragam as vestes com que se adorna o rei, o cavalo que o rei monta, e sobre sua cabeça se coloque a coroa real.
9. As vestes e o cavalo se darão a um dos senhores da corte e este revestirá o homem a quem o rei quer honrar e o passeará a cavalo pela praça da cidade, dizendo em altas vozes diante dele: É assim que é tratado o homem a quem o rei quer honrar.
10. O rei replicou: Toma, pois, depressa as vestes e o cavalo, como disseste, e faze tudo isso para Mardoqueu, o judeu que está assentado em minha antecâmara. E que nada se omita de tudo o que disseste.
11. Amã tomou as vestes e o cavalo, revestiu Mardoqueu e o conduziu a cavalo pela praça da cidade, clamando diante dele: É assim que é tratado o homem a quem o rei quer honrar.
12. Depois Mardoqueu voltou à porta do palácio, enquanto Amã se retirava precipitadamente para casa, consternado e de cabeça coberta,
13. para contar a Zarés, sua mulher, e a todos os seus amigos o que lhe tinha acontecido. Seus conselheiros e sua mulher Zarés lhe responderam: Se Mardoqueu, diante do qual começou tua queda, pertence ao povo judeu, não o vencerás, mas sucumbirás diante dele.
14. Eles falavam ainda, quando sobrevieram os eunucos do rei para levá-lo imediatamente ao banquete que Ester tinha preparado.

 
Capítulo 7

1. O rei e Amã vieram, pois, ao banquete de Ester.
2. No segundo dia, bebendo vinho, disse ainda o rei a Ester: Qual é teu pedido, rainha Ester? Será atendido. Que é que desejas? Fosse mesmo a metade de meu reino, tu obterias.
3. A rainha respondeu: Se achei graça a teus olhos, ó rei, e se ao rei lhe parecer bem, concede-me a vida, eis o meu pedido; salva meu povo, eis o meu desejo.
4. Fomos votados, eu e meu povo, ao extermínio, à morte, ao aniquilamento. Se tivéssemos sido vendidos como escravos, eu me calaria, mas eis que agora o opressor não poderia compensar o prejuízo que causa ao mesmo rei.
5. Quem é, replicou o rei, e onde está quem maquina tal projeto em seu coração?
6. O opressor, o inimigo, disse a rainha, é Amã, eis aí o infame!
7. Amã ficou tomado de terror diante do rei e da rainha. O rei, aceso em cólera, levantou-se e deixou o banquete, dirigindo-se ao jardim do palácio, ao passo que Amã permanecia ali, para implorar a Ester o perdão de sua vida, porque via bem que no espírito do rei estava decretada sua perda.
8. Quando o rei voltou do jardim do palácio para a sala do banquete, viu Amã que se tinha deixado cair sobre o divã em que repousava Ester: Como!, exclamou. Ei-lo que quer fazer violência à rainha em minha casa, em meu palácio! Mal tinha saído essa palavra da boca do rei, quando cobriram a face de Amã.
9. Harbona, um dos eunucos, disse ao rei. A forca preparada por Amã para Mardoqueu, cuja denúncia em favor do rei tinha sido tão salutar, acha-se levantada na casa de Amã, alta de cinqüenta côvados.- Que o suspendam nela!, exclamou o rei.
10. E suspenderam Amã na forca que tinha preparado para Mardoqueu. Isso acalmou a cólera do rei.

 
Capítulo 8

1. Naquele mesmo dia Assuero fez presente à rainha Ester da casa de Amã, o opressor dos judeus; e Mardoqueu se apresentou diante do rei, porque Ester tinha manifestado o que ele era dela.
2. Tirando seu anel, que tinha retomado de Amã, o rei o presenteou a Mardoqueu, que foi colocado por Ester à frente da casa de Amã.
3. Ester voltou de novo à presença do rei e falou. Prostrada a seus pés, desfeita em lágrimas, lhe suplicava que destruísse as maquinações que Amã, o agagita, tinha perversamente urdido contra os judeus.
4. O rei estendeu o cetro de ouro a Ester, a qual se pôs em pé diante dele.
5. Se parecer bem ao rei, disse ela, e se achei graça diante dele, e se isso lhe parecer justo e se sou agradável a seus olhos, que revogue por escrito as cartas, que Amã, filho de Amedata, o agagita, tinha concebido o redigido para perder os judeus de todas as províncias do rei.
6. Como poderia eu ver a desgraça que aguarda meu povo, e como poderia assistir ao extermínio de minha raça?
7. O rei Assuero respondeu à rainha Ester e ao judeu Mardoqueu: Fiz presente a Ester da casa de Amã, e fiz perecer esse homem por ter levantado a mão contra os judeus.
8. Escrevei, portanto, vós mesmos, em nome do rei, em favor dos judeus, como bem vos parecer e selai com o selo real, porque toda ordem escrita em nome do rei e firmada com seu selo é irrevogável.
9. Foram então chamados os escribas do rei, no vigésimo terceiro dia do terceiro mês, chamado Sivã; e conforme as instruções de Mardoqueu, escreveram aos judeus, aos sátrapas, aos governadores e aos senhores das cento e vinte e sete províncias situadas entre a Índia e a Etiópia, a cada província em sua escritura, a cada nação em sua língua, e aos judeus na sua própria escritura e língua.
10. Redigiram-se, pois, em nome do rei Assuero e marcaram-se com o selo real as cartas, que foram expedidas por correios a cavalo, tendo como montarias cavalos procedentes das cavalariças reais.
11. Essas comunicações diziam que o rei outorgava aos judeus, em qualquer cidade em que residissem, o direito de se reunir para defender sua vida, de destruir, matar e fazer perecer, em cada província do reino, todos os que se armassem para atacá-los, com suas mulheres e filhos; igualmente o direito de se apoderarem de seus despojos.
12. (Tudo isso se faria) num só dia, em todas as províncias do rei Assuero, no dia treze do duodécimo mês, chamado Adar.
13. Uma cópia do edito, que devia ser promulgado como lei em cada província, foi enviada a todos os povos, a fim de que os judeus estivessem preparados, naquele dia, para tirar vingança de seus inimigos.
14. Os correios, montando cavalos das cavalariças reais, partiram apressadamente e cumpriram diligentemente a ordem do rei. O edito foi publicado primeiramente em Susa, a capital.
15. Saiu então Mardoqueu da casa do rei, com uma veste real, azul e branca, com uma grande coroa de ouro e um manto de linho e púrpura. A cidade de Susa alegrou-se com os gritos de júbilo.
16. Não havia para os judeus senão felicidade, alegria e cantos de triunfo.
17. Em cada província, em cada cidade, aonde quer que chegasse o edito real, havia entre os judeus transportes de gozo, banquetes e regozijo. Muitos no país se fizeram judeus, tanto era o temor que lhes inspiravam.

 
Capítulo 9

1. No duodécimo mês, que é o de Adar, no dia treze do mês, data em que entrava em vigor a ordem e o edito do rei, no mesmo dia em que os inimigos dos judeus contavam fazer-lhes mal, aconteceu tudo ao contrário, e os judeus dominaram seus inimigos.
2. Estavam reunidos em suas respectivas cidades, em todas as províncias do rei Assuero para levantarem a mão contra aqueles que desejavam sua perda. Ninguém pôde resistir-lhes, porque o terror se tinha apoderado de todos os povos.
3. Todos os senhores das províncias, os sátrapas, os governadores, os funcionários do rei tomaram o partido dos judeus, por temor de Mardoqueu.
4. Porque este ocupava um alto lugar no palácio real e sua fama se espalhava em todas as províncias, onde sua influência não cessava de crescer.
5. Os judeus, pois, feriram todos os seus inimigos a golpes de espada: massacre e extermínio de seus opressores, aos quais trataram como quiseram.
6. Em Susa, na capital, mataram quinhentos homens.
7. Fizeram igualmente perecer Farsandata, Delfon, Esfata,
8. Forata, Adalia, Aridata,
9. Fermesta, Arisai, Aridai e Jesata,
10. os dez filhos de Amã, filho de Amedata, o opressor dos judeus. Mas se abstiveram de toda pilhagem.
11. Nesse mesmo dia fizeram conhecer ao rei o número das vítimas em Susa, a capital.
12. E o rei disse a Ester: Em Susa, na capital, os judeus mataram quinhentos homens e os dez filhos de Amã. Que não terão feito nas outras províncias do rei! (Entretanto), tens ainda algum pedido? Ser-te-á concedido. Tens algum desejo? Será satisfeito.
13. Se parecer bem ao rei, respondeu Ester, seja permitido ainda amanhã, aos judeus de Susa, agir conforme ao decreto de hoje, e que se suspendam numa forca os dez filhos de Amã.
14. O rei deu ordem para que assim se fizesse. O edito foi publicado em Susa e suspenderam na forca os dez filhos de Amã.
15. Os judeus de Susa se reuniram de novo no dia quatorze do mês de Adar, e mataram na cidade trezentos homens, sem entretanto dar-se à pilhagem.
16. Os outros judeus que estavam disseminados pelas províncias do rei se juntaram para defender suas vidas e se pôr a salvo dos ataques de seus inimigos. Massacraram setenta e cinco mil, sem entretanto entregar-se à pilhagem.
17. Era o dia treze do mês de Adar. No dia quatorze repousaram e fizeram um dia de banquete de alegria.
18. Quanto aos judeus de Susa, que se juntaram no dia treze e catorze do mesmo mês, repousaram no dia quinze, fazendo-o um dia de alegre banquete
19. Eis por que os judeus do campo, que habitam nas cidades não fortificadas, fazem no dia catorze do mês de Adar, um dia de festa com banquetes de alegria, dia em que mandam presentes uns aos outros.
20. Mardoqueu consignou por escrito todos esses acontecimentos. Enviou cartas a todos os judeus das províncias do rei Assuero, próximas ou longínquas,
21. para lhes ordenar que celebrassem cada ano o dia catorze e o dia quinze do mês de Adar,
22. como sendo dias em que tinham sido postos a salvo dos ataques de seus inimigos, e mês em que sua angústia tinha sido trocada em alegria e sua dor em felicidade. Deviam, pois, nesses dias oferecer alegres banquetes, dar-se presentes e praticar generosidade com os pobres.
23. Os judeus erigiram em costume o que tinham feito na primeira vez e o que Mardoqueu lhes tinha mandado.
24. Porque Amã, filho de Amedata, o agagita, o opressor dos judeus, tinha resolvido perdê-los, e lançado (contra eles) o pur, isto é, a sorte, para exterminá-los e destruí-los.
25. Mas quando Ester se apresentou diante do rei, este ordenou por escrito que a perversa maquinação, tramada contra os judeus, recaísse sobre a cabeça de seu autor e que este e seus filhos fossem suspensos à forca.
26. É por isso que se chamam esses dias Purim, da palavra pur. Assim, conforme o conteúdo dessa carta, conforme o que eles mesmos tinham visto e o que lhes tinha acontecido,
27. os judeus instituíram e estabeleceram para si, para sua posteridade e para seus adeptos, o costume irrevogável de celebrar anualmente esses dois dias, segundo a forma prescrita e no tempo marcado.
28. Esses dias deviam ser recordados e celebrados de geração em geração, em cada família, em cada província e em cada cidade. Jamais poderiam ser abolidos esses dias dos Purim entre os judeus, nem sua recordação se apagar entre seus descendentes.
29. A rainha Ester, filha de Abigail, e o judeu Mardoqueu escreveram uma segunda vez com insistência para confirmar a carta sobre os Purim.
30. Depois enviaram a todos os judeus das cento e vinte e sete províncias do rei Assuero cartas com palavras de paz,
31. e a recomendação de celebrarem fielmente esses dias dos Purim no tempo marcado, como o judeu Mardoqueu e a rainha Ester os tinham instituído, e como eles tinham estabelecido, tanto para si mesmos, como para seus descendentes, com os jejuns e as lamentações.
32. Desse modo, a ordem de Ester confirmou a instituição dos Purim, e tudo isso foi consignado num livro.

 
Capítulo 10

1. O rei Assuero impôs um tributo sobre o continente e sobre as ilhas do mar.
2. Tudo o que concerne a seu poder e suas façanhas e os detalhes sobre a elevação de Mardoqueu pelo rei estão escritos no livro das Crônicas dos reis dos medos e dos persas.
3. Porque o judeu Mardoqueu era o primeiro depois do rei Assuero. Ele gozava de grande consideração entre os judeus e era amado pela multidão de seus irmãos. Procurava o bem de seu povo e falava a favor da felicidade de toda a sua nação.
4. E Mardoqueu disse: De Deus veio tudo isso.
5. Lembro-me de um sonho que tive a esse respeito. Nada foi omitido:
6. a pequena fonte tornada um rio, a luz, o sol, a massa de água. O rio é Ester que o rei tomou por esposa e a quem tornou rainha.
7. Amã e eu, eis as duas serpentes.
8. Os povos são aqueles que se reuniram para destruir o nome dos judeus.
9. Minha nação é Israel que invocou o Senhor e que foi salva; porque o Senhor salvou seu povo e nos livrou de todos esses males. Deus fez prodígios e maravilhas, como não fez semelhantes entre todas as nações.
10. Porque Deus preparou dois destinos: um para seu povo e outro para todas as nações.
11. E esses dois destinos se cumpriram na hora, no tempo e no dia marcados por Deus para todas as nações.
12. Então o Senhor lembrou-se dos seus e fez justiça à sua herança.
13. E esses dias do mês de Adar, o catorze e o quinze, serão celebrados em comum, no povo de Israel, com gozo e alegria diante de Deus, em todas as gerações, para sempre.

 
Capítulo 11

1. No quarto ano do reino de Ptolomeu e de Cleópatra, Dositeu que se dizia sacerdote e levita, e igualmente seu filho, Ptolomeu, trouxeram a presente carta concernente aos Purim, dizendo que ela tinha sido traduzida por Lisímaco, filho de Ptolomeu, em Jerusalém.
2. No segundo ano do reino de Assuero, o grande rei, no primeiro dia do mês de Nisã, Mardoqueu, filho de Jair, filho de Semei, filho de Cis, da tribo de Benjamim, teve um sonho.
3. Havia um judeu, estabelecido em Susa, grande personagem, adido à corte do rei.
4. Era do número dos cativos que Nabucodonosor, rei de Babilônia, tinha deportado de Jerusalém com o rei Jeconias, de Judá.
5. Esta foi sua visão: clamores repentinos, tumultos, trovões, um tremor de terra, o terror por toda a terra.
6. Em seguida, repentinamente, avançaram dois grandes dragões, dispostos para acometer um ao outro.
7. Ao grito que lançaram, as nações se comoveram para combater contra a nação dos justos.
8. Foi um dia de escuridão e trevas: tribulação, angústia, perigo e terror sobre toda a terra.
9. O povo inteiro dos justos, cheio de terror, temendo todos os males, julgou-se a ponto de perecer,
10. e clamou a Deus. Enquanto levantavam clamores, eis que uma pequenina fonte toma proporções de um grande rio, uma massa de água.
11. A luz apareceu com o sol; os que estavam na humilhação foram exaltados e devoraram os nobres.
12. Depois de ter visto esse sonho e o que Deus queria fazer, Mardoqueu se levantou. Até a noite conservou esse sonho gravado no seu espírito, procurando conhecer o seu sentido.

 
Capítulo 12

1. Morava então Mardoqueu na corte com Bigtã e Tares, dois eunucos do rei, porteiros do palácio.
2. Teve conhecimento de seus projetos e penetrou em seus desígnios; descobriu que eles se propunham a levantar a mão contra o rei Assuero e os denunciou.
3. O rei fez o inquérito. Eles confessaram e foram conduzidos ao suplício.
4. O rei mandou registrar esses acontecimentos na Crônica e Mardoqueu tomou também nota disso.
5. O rei lhe assinou uma função no seu palácio e em prêmio de seus serviços lhe fez presentes.
6. Mas Amã, filho de Amedata, o agagita, que gozava da consideração do rei, odiava Mardoqueu e seu povo por causa dos dois eunucos reais que tinham sido condenados à morte.

 
Capítulo 13

1. Assuero, o grande rei, a seus vassalos, os sátrapas e os governadores das cento e vinte e sete províncias, da Índia até a Etiópia, manda o que se segue:
2. Embora eu seja o chefe de numerosas nações e tenha submetido o mundo inteiro, não quero de modo algum abusar da grandeza de meu poder. Quero, por um governo de clemência e de doçura, oferecer a meus súditos uma existência de tranqüilidade perpétua; e, procurando para meu reino, até seus confins, a calma e a segurança, garantir a paz, cara a todos os mortais.
3. Tenho, pois, perguntado a meus conselheiros como isso se podia realizar, e um deles, chamado Amã, superior a todos por sua sabedoria e fidelidade, que ocupa o primeiro lugar depois do rei,
4. me fez conhecer que há um povo mal-intencionado, disperso entre os outros povos do mundo, de costumes contrários aos dos outros, que despreza continuamente as ordens dos reis, a ponto de ameaçar a concórdia que reina em nosso império.
5. Tendo, portanto, sabido que essa única nação, em oposição perpétua com o resto do gênero humano, destruindo os costumes por leis estranhas, malévola para com tudo o que nos diz respeito, comete as piores desordens e compromete assim a ordem pública do reino;
6. por essas razões, ordenamos que todos aqueles que vos são indicados pelas cartas de Amã (o homem que está à frente de nossos interesses e que nos é um segundo pai), sejam todos radicalmente exterminados, mesmo mulheres e crianças, pela espada de seus inimigos, sem nenhuma compaixão, nem clemência, no dia catorze do duodécimo mês, chamado de Adar, do presente ano.
7. Desse modo, esse povo, nosso inimigo de outrora e de agora, lançado violentamente, num mesmo dia, na região dos mortos, deixará para o futuro prosperarem em paz nossos negócios.
8. Então Mardoqueu orou ao Senhor, recordando tudo o que havia feito:
9. Senhor, disse, Senhor, rei todo-poderoso, tudo está realmente no vosso poder, e ninguém pode resistir à vossa vontade, se tendes resolvido salvar Israel.
10. Fizestes o céu e a terra e todas as maravilhas que se acham sob a abóbada celeste.
11. Sois o Senhor universal e ninguém poderia opor-se a vós, o Senhor.
12. Conheceis tudo e sabeis que não foi nem por espírito de soberba, nem por presunção, nem por vanglória que recusei prostrar-me diante do orgulhoso Amã.
13. Voluntariamente para salvar Israel, eu beijaria os vestígios de seus pés.
14. Mas procedi assim por temor de colocar a honra de um homem acima da honra de Deus; não adorarei jamais a ninguém senão vós. E, contudo, não farei isso por orgulho.
15. E agora, Senhor, que sois meu Deus e meu rei, Deus de Abraão, poupai vosso povo, pois nossos inimigos nos querem arruinar e destruir vossa antiga herança.
16. Não desprezeis a vossa porção, que vós resgatastes do Egito.
17. Ouvi minha oração! Sede propício para com a partilha de vossa herança, e mudai em gozo nossa dor, a fim de vivermos para celebrar vosso nome, Senhor, e não fecheis a boca daqueles que vos louvam, ó Senhor!
18. Todo o Israel clamava também ao Senhor, com grandes vozes, porque tinham a morte diante dos olhos.

 
Capítulo 14

1. Por sua parte, a rainha Ester, tomada de uma angústia mortal, recorreu ao Senhor.
2. Depôs suas vestes suntuosas e vestiu roupas de aflição e de pesar. Em lugar de essências preciosas, cobriu a cabeça de cinza e de lama; afligiu duramente seu corpo e por todos os lugares onde costumava alegrar-se espalhou os cabelos que se arrancava.
3. Dirigiu esta prece ao Senhor, Deus de Israel: Meu Senhor, nosso único rei, assisti-me no meu desamparo, porque não tenho outro socorro senão vós,
4. e o perigo que me ameaça eu o toco já com as mãos.
5. Ouvi desde criança, no seio da minha família, que vós, Senhor, tendes escolhido Israel entre todas as nações, e nossos pais, entre todos os seus antepassados, para deles fazer vossa herança perpétua e que tendes executado todas as vossas promessas.
6. Agora pecamos na vossa presença e nos tendes entregado nas mãos de nossos inimigos,
7. por termos adorado seus deuses. Vós sois justo, Senhor.
8. Ora, presentemente não lhes basta a amargura de nossa escravidão, mas colocaram suas mãos sobre as mãos dos ídolos,
9. em sinal de que querem abolir o que vossos lábios decretaram, aniquilar vossa herança, fechar a boca daqueles que vos louvam, extinguir a glória de vosso templo e de vosso altar,
10. a fim de proclamar pela boca dos povos pagãos o poder de seus ídolos e de magnificar eternamente um rei de carne.
11. Ó Senhor, não entregueis vosso cetro aos povos que são nada! Que não se riam de nossa ruína! Fazei cair sobre eles o seu projeto e tornai um escarmento para todo aquele que por primeiro nos atacou.
12. Lembrai-vos de nós, Senhor! Manifestai-vos no dia da tribulação! Dai-nos coragem, Senhor, rei dos deuses e dominador de todo principado!
13. Colocai em seus lábios palavras prudentes na presença do leão e fazei passar seu coração para o ódio daquele que nos é hostil, a fim de que ele pereça, ele e todos os seus parceiros.
14. E a nós, que a vossa mão nos livre! Assisti-me no meu abandono, a mim que não tenho senão a vós, Senhor. Conheceis tudo:
15. sabeis que detesto a glória dos ímpios e que tenho horror ao leito dos incircuncisos e estrangeiros.
16. Conheceis a necessidade a que estou reduzida e como abomino a insígnia da dignidade que está sobre minha cabeça nos dias em que devo aparecer em público. Sim, eu a abomino como um pano manchado e não a levo nos dias de meu retiro.
17. Vossa serva não comeu à mesa de Amã, nem honrou com sua presença os banquetes do rei, nem bebeu o vinho das libações.
18. Jamais, desde o dia de sua elevação até hoje, vossa serva não experimentou alegria a não ser em vós, Senhor, Deus de Abraão.
19. Ó Deus, que sois poderoso sobre todas as coisas, ouvi a voz daqueles que não têm outra esperança; livrai-nos das mãos dos malvados, e livrai-me de minha angústia.

 
Capítulo 15

1. Mardoqueu mandou pedir a Ester que fosse ter com o rei para lhe pedir graça e suplicar em favor de sua pátria.
2. Recorda-te, lhe mandou dizer, do tempo de tua humilhação, como eras alimentada por minhas mãos. Amã, o primeiro dignitário após o rei, falou contra nós para nossa ruína.
3. Roga, pois, ao Senhor e fala ao rei por nós; salva-nos da morte!
4. No terceiro dia, terminando sua prece, Ester despiu suas vestes de dor e revestiu suas vestiduras de cerimônia.
5. Assim adornada, depois de ter invocado a Deus, árbitro e salvador universal, tomou consigo suas duas servas.
6. Apoiava-se sobre uma, como uma pessoa delicada,
7. ao passo que a outra a seguia, levando a cauda de seu vestido.
8. Estava rosada como uma flor de beleza, de rosto alegre e atraente, mas com o coração angustiado pelo temor.
9. Passou, pois, todas as portas e se apresentou diante do rei. Assuero estava assentado em seu trono, revestido de todos os ornamentos de sua majestade, coberto de ouro e de pedrarias e seu aspecto era imponente.
10. Logo que o rei levantou a cabeça radiante de esplendor e dirigiu seu olhar cheio de cólera, a rainha, mudando de cor, desfaleceu e se deixou cair sobre os ombros da criada que a acompanhava.
11. Deus mudou, então, em doçura a cólera do rei. Todo perturbado, levantou-se precipitadamente de seu trono e a tomou nos braços até que ela voltou a si, procurando acalmar seu temor com doces palavras:
12. Que tens, Ester, lhe disse. Sou teu irmão. Não temas:
13. não morrerás, porque nossa ordem não concerne senão ao comum do povo.
14. Vem.
15. Levantou o cetro de ouro e o aproximou de seu pescoço e a beijou, dizendo: Fala-me.
16. Meu Senhor, eu te vi como um anjo de Deus e o temor de tua majestade pôs no avesso meu coração.
17. Porque és maravilhoso, Senhor, e teu rosto está cheio de graça.
18. Dizendo essas palavras, desfaleceu de novo sem sentidos,
19. o que encheu o rei de consternação, enquanto todos os seus servos procuravam reanimá-la.

 
Capítulo 16

1. Eis a cópia da carta: Assuero, o grande rei, aos cento e vinte e sete sátrapas, aos governadores das províncias, desde a Índia até a Etiópia, e a todos os que dirigem nossos negócios, saudação.
2. Há muitos que, cumulados de honras pela grande bondade de seus benfeitores, tornaram-se arrogantes.
3. Não somente se deram a oprimir nossos súditos, mas, incapazes de se contentar com as honras recebidas, urdiram maquinações contra aqueles que os tinham beneficiado.
4. E não contentes de banir do meio dos homens o sentimento de gratidão, chegam até a imaginar, na inchação faustosa de uma sorte inesperada, poder escapar à justa vingança do Deus que tudo vê.
5. Muitas vezes, as insinuações dos encarregados de administrar os interesses de seus amigos arrastaram a calamidades irremediáveis os que detêm o poder e os tornaram cúmplices da morte de inocentes,
6. abusando, por uma mentirosa malícia, da simplicidade e da probidade dos príncipes.
7. Isso é o que se pode verificar, não tanto pelas relações passadas que chegaram até nós, como acabamos de recordar, quando examinamos os fatos criminosos, de vós conhecidos, perpetrados por essa calamidade de homens indignamente revestidos de autoridade.
8. Em conseqüência disso, é necessário vigiar para assegurar no futuro, para todos, a tranqüilidade e a paz do reino,
9. realizando mudanças e julgando prudentemente os acontecimentos que se apresentam, para enfrentá-los sempre com eqüidade.
10. Ora, pois, é assim que o macedônio Amã, filho de Amedata, homem verdadeiramente estranho ao sangue dos persas e muito alheio à nossa bondade – embora gozasse de nossa hospitalidade e
11. fosse favorecido de nossa universal benevolência a ponto de ser chamado nosso pai e de ver todos se curvarem diante dele até a terra, como quem ocupa o lugar da segunda pessoa depois do trono real –
12. não soube conter sua presunção e intentou privar-nos tanto do poder como da vida.
13. Por insinuações cautelosas e sutis, procurou a morte de nosso salvador e grande benfeitor Mardoqueu, como também a de Ester, a irrepreensível companheira de nosso reino e de toda a sua nação.
14. Pensava surpreender-nos assim, isolados, para transferir o império dos persas aos macedônios.
15. Mas esses judeus que o criminoso votava à morte, verificamos que não eram de modo algum malfazejos, mas pelo contrário dirigidos por leis muito cheias de eqüidade,
16. e que eles são os filhos do Altíssimo Deus vivo, o qual nos conserva a nós, como a nossos antepassados, este reino em grande prosperidade.
17. Fareis, portanto, bem, não levando em conta as cartas enviadas por Amã, filho de Amedata,
18. visto que o autor desse crime foi suspenso numa forca diante das portas de Susa, com toda a sua família, tendo-lhe Deus, o Senhor universal, infligido prontamente o castigo que merecia.
19. Que uma cópia deste presente edito seja afixada por toda parte: deixai os judeus observar suas leis com toda a liberdade
20. e prestai-lhes assistência para que se possam defender contra todos os que os ataquem no dia marcado para a ruína deles, isto é, no dia treze do duodécimo mês, chamado Adar.
21. Porque esse dia, marcado para a perda da raça escolhida, Deus, o Senhor universal, o trocou em dia de alegria.
22. Por conseguinte, celebrareis esse dia memorável com grande alegria, como uma de vossas solenidades,
23. a fim de que agora e daqui em diante seja um dia de salvação para nós e para os persas de boa vontade e uma recordação da ruína dos que maquinaram contra nós.
24. Toda cidade e toda província que não observar estas ordens será entregue à furiosa devastação do ferro e do fogo; desse modo se tornará não somente inacessível aos homens, mas ainda horror perpétuo para os animais selvagens e para as aves.

 

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