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I Livro dos Reis

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I Livro dos Reis

 Capítulo 1

1. O rei Davi estava velho, avançado em anos, e por mais que o cobrissem de roupas, não se aquecia.
2. Seus familiares disseram-lhe: Busquemos para nosso senhor, o rei, uma donzela virgem que sirva o rei e tenha cuidado dele, e durma em seu seio para que ele se aqueça.
3. Procuraram, pois, em toda a terra de Israel, uma donzela formosa; encontraram Abisag, a sunamita, e levaram-na ao rei.
4. Essa donzela era muito formosa. Ela cuidava do rei e o servia, mas o rei não a possuiu.
5. Ora, Adonias, filho de Hagit, encheu-se de orgulho e exclamou: Sou eu quem reinará. Adquiriu para si um carro e cavalos, e tomou uma escolta de cinqüenta homens.
6. Nunca seu pai o contrariou, dizendo: Por que fazes isso? Além disso, ele era muito belo e (na idade) seguia imediatamente a Absalão.
7. Tendo feito reuniões com Joab, filho de Sarvia, e com o sacerdote Abiatar, esses tornaram-se seus adeptos.
8. O sacerdote Sadoc, porém, bem como Banaías, filho de Jojada, o profeta Natã, Semei, Rei e os valentes de Davi, não abraçaram o seu partido.
9. Adonias, tendo imolado ovelhas, bois e bezerros cevados junto à pedra de Zoelet, ao lado de En-Rogel, convidou todos os seus irmãos, filhos do rei, e todos os de Judá que estavam a serviço do rei.
10. Mas não convidou o profeta Natã, nem Banaías, nem os valentes, nem o seu irmão Salomão.
11. Disse Natã a Betsabé, mãe de Salomão: Não soubeste que Adonias, filho de Hagit, se proclamou rei, sem que o saiba Davi, nosso senhor?
12. Escuta: vou dar-te um conselho, para que salves a tua vida e a de teu filho Salomão.
13. Vai ter com o rei Davi e dize-lhe: Ó rei, meu senhor, não juraste à tua serva que Salomão, meu filho, reinaria depois de ti, e se sentaria no teu trono? Por que então Adonias se proclamou rei?
14. Enquanto estiveres falando assim ao rei, entrarei e confirmarei o que tiveres dito.
15. Foi Betsabé ter com o rei no seu quarto. (O rei estava já muito velho, e Abisag, a sunamita, cuidava dele.)
16. Betsabé inclinou-se e prostrou-se diante do rei. Este disse-lhe: Que queres?
17. Ela respondeu: Meu senhor, prometeste com juramento à tua serva que meu filho Salomão reinaria depois de ti, e se sentaria no teu trono.
18. Ora, eis que Adonias se proclamou rei, sem que o saiba o rei, meu senhor.
19. Imolou bois, bezerros cevados e grande quantidade de ovelhas, e convidou todos os príncipes, o sacerdote Abiatar e o general Joab; mas não convidou o teu servo Salomão.
20. Ó rei, meu senhor, todo o Israel tem os olhos postos em ti, esperando que declares quem há de tomar o teu lugar no trono depois de ti.
21. Do contrário, logo que o rei, meu senhor, dormir com os seus pais, eu e meu filho Salomão seremos tratados como criminosos.
22. Falava ela ainda ao rei, quando se apresentou o profeta Natã.
23. Disseram ao rei: Está aí o profeta Natã. Ele entrou e prostrou-se com o rosto por terra diante do rei.
24. Em seguida disse: Ó rei, meu senhor, porventura declaraste: Adonias reinará depois de mim e se sentará no meu trono?
25. Pois ele desceu hoje para imolar bois, bezerros cevados e grande quantidade de ovelhas, tendo convidado todos os príncipes, os generais e o sacerdote Abiatar, os quais estão comendo e bebendo com ele, e gritando: Viva o rei Adonias!
26. Não fomos, porém, convidados nem eu, teu servo, nem o sacerdote Sadoc, nem Banaías, filho de Jojada, nem teu servo Salomão.
27. Será do agrado de meu senhor e rei que assim se faça? Porque não deste a conhecer a teus servos quem deverá sentar-se depois de ti no trono do rei, meu senhor.
28. O rei respondeu: Chamai-me Betsabé. Ela entrou e ficou de pé diante dele;
29. o rei fez-lhe este juramento: Pela vida de Deus que me livrou de toda a angústia,
30. o que te jurei pelo Senhor, Deus de Israel, dizendo: Teu filho Salomão reinará depois de mim e sentar-se-á no meu trono em meu lugar, isso vou cumprir hoje.
31. Betsabé inclinou-se diante do rei, prostrando-se com a face por terra, e disse: Viva o rei Davi, meu senhor, para sempre!
32. O rei Davi disse: Chamai-me o sacerdote Sadoc, o profeta Natã, e Banaías, filho de Jojada. Tendo-se eles apresentado diante do rei, este disse-lhes:
33. Tomai convosco os servos de vosso amo, fazei montar na minha mula o meu filho Salomão, e levai-o a Gião.
34. Ali o sacerdote Sadoc e o profeta Natã o ungirão rei de Israel. Tocareis então a trombeta e direis: Viva o rei Salomão!
35. Voltareis depois atrás dele, e ele virá sentar-se no meu trono para reinar em meu lugar; pois é a ele que estabeleço chefe de Israel e de Judá.
36. Banaías, filho de Jojada, respondeu ao rei: Assim seja; assim queira ordenar o Senhor, o Deus de meu senhor e rei!
37. Esteja ele com Salomão assim como esteve com o rei, meu senhor, e eleve o seu trono ainda acima do trono de meu senhor o rei Davi!
38. O sacerdote Sadoc desceu com o profeta Natã, Banaías, filho de Jojada, os cereteus e os feleteus; fizeram montar Salomão na mula de Davi e conduziram-no a Gião.
39. Tomou o sacerdote Sadoc no tabernáculo o chifre de óleo e ungiu com ele Salomão. A trombeta soou e todo o povo pôs-se a gritar: Viva o rei Salomão!
40. Depois toda a gente voltou atrás dele, tocando flauta e fazendo grandes festas, de modo que a terra vibrava com suas aclamações.
41. Adonias e seus convivas, tendo terminado o seu banquete, ouviram aquela algazarra. Joab, ouvindo soar a trombeta, disse: Por que esse barulho de cidade alvoroçada?
42. Falava ainda, quando sobreveio Jônatas, filho do sacerdote Abiatar. Adonias disse-lhe: Vem: tu és um homem valente e trazes certamente boas notícias.
43. Sim, respondeu Jônatas; é verdade que o rei Davi, meu senhor, proclamou rei a Salomão.
44. Enviou com ele o sacerdote Sadoc, o profeta Natã, Banaías, filho de Jojada, os cereteus e os feleteus e estes fizeram-no montar na mula do rei.
45. O sacerdote Sadoc e o profeta Natã ungiram-no rei em Gião. Dali voltaram cheios de alegria, e a cidade está em alvoroço: essa é a algazarra que ouviste.
46. E Salomão até já está sentado no trono do reino.
47. Além disso, os servos do rei foram felicitar o rei Davi, meu senhor, dizendo: Que o teu Deus torne o nome de Salomão maior que o teu, e eleve o seu trono ainda acima do teu! O rei prostrou-se então sobre o seu leito e disse:
48. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que hoje pôs sobre o meu trono um sucessor, vendo-o eu com os meus próprios olhos!
49. Os convidados de Adonias, aterrorizados, levantaram-se e foram cada um para o seu lado.
50. Adonias, temendo Salomão, levantou-se também e foi abraçar-se com os cornos do altar.
51. Disseram-no a Salomão, nestes termos: Eis que Adonias, temendo o rei Salomão, foi abraçar-se com os cornos do altar, dizendo: Jure-me hoje o rei Salomão que ele não fará morrer o seu servo à espada!
52. Se ele se mostrar um homem valente, respondeu Salomão, não lhe cairá por terra um só de seus cabelos; mas se nele se encontrar maldade, morrerá.
53. O rei Salomão mandou mensageiros, e o fizeram descer do altar. Ele veio e prostrou-se diante do rei, que lhe disse: Volta para a tua casa.

 
Capítulo 2

1. Aproximando-se o fim de Davi, deu ele ao seu filho Salomão as suas (últimas) instruções:
2. Eu me vou, disse ele, pelo caminho que segue toda a terra. Sê corajoso: porta-te como homem.
3. Guarda os preceitos do Senhor, teu Deus; anda em seus caminhos, observa suas leis, seus mandamentos, seus preceitos e seus ensinamentos, tais como estão escritos na lei de Moisés. Desse modo serás bem-sucedido em tudo o que fizeres e em tudo o que empreenderes,
4. e o Senhor cumprirá a promessa que me fez, isto é, que eu terei sempre um de meus descendentes no trono de Israel, se meus filhos guardarem seus caminhos e andarem diante dele com fidelidade, de todo o seu coração e de toda a sua alma.
5. Tu sabes tão bem como eu o que me fez Joab, filho de Sarvia, como ele assassinou os dois chefes do exército de Israel, Abner, filho de Ner, e Amasa, filho de Jeter, derramando assim em pleno tempo de paz o sangue da guerra, e manchando com o sangue da guerra o cinto de seus rins e o calçado de seus pés.
6. Farás como julgares prudente, e não deixarás que as suas cãs desçam em paz à habitação dos mortos.
7. Por outro lado, tratarás com benevolência os filhos de Berzelai, o galaadita; faze-os comer à tua mesa, porque foi esse o gesto que tiveram para comigo quando eu fugia diante de teu irmão Absalão.
8. Tens também perto de ti Semei, filho de Gera, o benjaminita de Baurim, que me insultou tão violentamente no dia em que eu ia para Maanaim. Mas como ele veio ao meu encontro até o Jordão, jurei-lhe por Deus que o não mataria pela espada.
9. Tu, porém, não o deixarás impune; és bastante sensato para saber como o terás de tratar; farás descer, com sangue, as suas cãs à habitação dos mortos.
10. Davi adormeceu com seus pais e foi sepultado na cidade de Davi.
11. Reinou quarenta anos sobre Israel: sete anos em Hebron e trinta e três em Jerusalém.
12. Salomão sentou-se no trono de Davi, seu pai, e seu reino foi solidamente estabelecido.
13. Adonias, filho de Hagit, foi ter com Betsabé, mãe de Salomão. Ela disse-lhe: Vens como amigo?
14. Sim, disse ele, preciso falar-te. Fala.
15. Ele continuou: Sabes que o reino era meu, e que todo o Israel me considerava como o seu futuro rei. Mas o trono foi transferido a outro, passando para o meu irmão, porque o Senhor lho deu.
16. Tenho a esse respeito um pedido a fazer-te; não mo recuses. Fala.
17. Pede ao rei Salomão, que nada te recusa, que me dê Abisag, a sunamita, por mulher.
18. Está bem, respondeu Betsabé, falarei por ti ao rei.
19. Betsabé foi, pois, ter com o rei para falar-lhe em favor de Adonias. O rei levantou-se para ir-lhe ao encontro, fez-lhe uma profunda reverência e sentou-se no trono. Mandou colocar um trono para a sua mãe, e ela sentou-se à sua direita:
20. Tenho um pequeno pedido a fazer-te, disse ela; não mo recuses. Pede, minha mãe, respondeu o rei, porque nada te recusarei.
21. Disse Betsabé: Peço-te que Abisag, a sunamita, seja dada por mulher ao teu irmão Adonias.
22. E o rei Salomão disse à sua mãe: Por que queres que Abisag, a sunamita, seja dada a Adonias? Pede também para ele o reino, que é meu irmão primogênito, assim como para o sacerdote Abiatar e para Joab, filho de Sarvia…
23. Jurou então o rei Salomão em nome de Deus, dizendo: Deus me trate com o último rigor, se Adonias não pagar esta palavra com a sua própria vida!
24. Pela vida de Deus que me estabeleceu solidamente no trono de Davi, meu pai, e que fundou a minha casa como tinha prometido, Adonias será morto hoje mesmo.
25. O rei Salomão enviou Banaías, filho de Jojada, para o matar; e Adonias morreu.
26. Disse também o rei ao sacerdote Abiatar: Vai para as tuas terras, em Anatot, porque és digno de morte. Entretanto, não te matarei agora, porque levaste a arca do Senhor Javé diante de Davi, meu pai, e compartilhaste todas as suas provações.
27. Salomão destituiu Abiatar de suas funções sacerdotais, cumprindo-se assim a palavra pronunciada por Deus em Silo contra a casa de Heli.
28. Quando chegou esta notícia a Joab, que tinha seguido o partido de Adonias, embora não tivesse seguido o de Absalão, ele fugiu e refugiou-se no tabernáculo do Senhor, agarrando-se aos cornos do altar.
29. Foram dizer ao rei Salomão: Joab refugiou-se no tabernáculo do Senhor, e está junto do altar. Salomão mandou Banaías, filho de Jojada dizendo-lhe: Vai e mata-o.
30. Banaías, chegando ao tabernáculo do Senhor, disse a Joab: O rei ordena que saias daqui. Não saio, respondeu Joab; quero morrer aqui. Banaías foi ao rei e disse-lhe: Eis o que me disse Joab, e o que me respondeu.
31. O rei disse-lhe: Faze como ele disse. Mata-o e enterra-o, para que assim se afaste de mim e da casa de meu pai o sangue que ele derramou sem motivo.
32. O Senhor fará cair esse sangue sobre a sua própria cabeça, porque ele matou, feriu à espada, sem que o soubesse Davi, meu pai, dois homens mais justos e melhores do que ele: Abner, filho de Ner, general do exército de Israel, e Amasa, filho de Jeter, general do exército de Judá.
33. O sangue deles recairá para sempre sobre a cabeça de Joab e de sua posteridade; mas a Davi, à sua raça e ao seu trono, dará o Senhor paz para sempre.
34. Banaías, filho de Jojada, voltou ao tabernáculo e feriu de morte a Joab. Sepultaram-no em sua casa, no deserto.
35. Em seu lugar pôs o rei à frente do exército Banaías, filho de Jojada, e em lugar de Abiatar, estabeleceu Sadoc como sacerdote.
36. Depois mandou o rei chamar Semei e disse-lhe: Faze para ti uma casa em Jerusalém e habita aí; dela não sairás para ir aonde quer que seja.
37. No dia em que o fizeres e passares a torrente do Cedron, sabes que serás morto: serás responsável pelo que acontecer.
38. Semei respondeu ao rei: Está bem; teu servo fará como ordenou o rei, meu senhor. E Semei habitou longo tempo em Jerusalém.
39. Três anos depois, aconteceu que dois escravos de Semei fugiram para junto de Aquis, filho de Maaca, rei de Get. Vieram avisar a Semei, dizendo: Teus escravos estão em Get.
40. Semei levantou-se, selou o jumento e foi ter com Aquis a Get, em busca de seus escravos.
41. Disseram a Salomão que Semei fora de Jerusalém a Get e estava de volta.
42. O rei chamou-o e disse-lhe: Não te fiz eu jurar em nome de Deus, não te avisei formalmente, dizendo-te que em qualquer dia que saísses para onde quer que fosse, haverias de morrer? E não me respondeste: Está bem; eu compreendi?
43. Por que não guardaste tu o juramento do Senhor e a ordem que eu te havia dado?
44. Tu sabes, ajuntou o rei, todo o mal que fizeste a Davi, meu pai; tens consciência disso. Por isso o Senhor faz recair a tua malícia sobre a tua cabeça.
45. O rei Salomão será abençoado e o trono de Davi será consolidado para sempre diante do Senhor.
46. Ordenou o rei a Banaías, filho de Jojada, o qual saiu e feriu Semei, e este morreu. E o reino foi consolidado nas mãos de Salomão.

 
Capítulo 3

1. Salomão aliou-se por casamento, ao faraó, rei do Egito, tomando sua filha por mulher. Levou-a para a cidade de Davi, até que acabasse de construir o seu palácio, o templo do Senhor e o muro em volta de Jerusalém.
2. O povo continuava sacrificando nos lugares altos, porque até aquele dia não tinha ainda sido edificado o templo ao nome do Senhor.
3. Salomão amava o Senhor e seguia os preceitos de Davi, seu pai. Todavia, continuava sacrificando e queimando incenso nos lugares altos.
4. Foi o rei a Gabaon para ali oferecer um sacrifício, porque esse era o lugar alto mais importante, e ofereceu mil holocaustos sobre o altar de Gabaon.
5. O Senhor apareceu-lhe em sonhos em Gabaon durante a noite, e disse-lhe: Pede-me o que queres que eu te dê.
6. Salomão disse: Vós destes com liberdade vossa graça ao vosso servo Davi, meu pai, porque ele andou em vossa presença com fidelidade, na justiça e retidão de seu coração para convosco; em virtude dessa grande benevolência, destes-lhe um filho que hoje está sentado no seu trono.
7. Sois vós, portanto, ó Senhor meu Deus, que fizestes reinar o vosso servo em lugar de Davi, meu pai. Mas eu não passo de um adolescente, e não sei como me conduzir.
8. E, sem embargo, vosso servo se encontra no meio de vosso povo escolhido, um povo imenso, tão numeroso que não se pode contar, nem calcular.
9. Dai, pois, ao vosso servo um coração sábio, capaz de julgar o vosso povo e discernir entre o bem e o mal; pois sem isso, quem poderia julgar o vosso povo, um povo tão numeroso?
10. O Senhor agradou-se dessa oração, e disse a Salomão:
11. Pois que me fizeste esse pedido, e não pediste nem longa vida, nem riqueza, nem a morte de teus inimigos, mas sim inteligência para praticar a justiça,
12. vou satisfazer o teu desejo; dou-te um coração tão sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti e nem haverá depois de ti.
13. Dou-te, além disso, o que não me pediste: riquezas e glória, de tal modo que não haverá quem te seja semelhante entre os reis durante toda a tua vida.
14. E, se andares em meus caminhos e observares os meus preceitos e mandamentos como o fez Davi, teu pai, prolongarei a tua vida.
15. Salomão despertou: foi um sonho. Voltando a Jerusalém, apresentou-se diante da arca da aliança do Senhor e ofereceu holocaustos e sacrifícios pacíficos; e deu um banquete a todos os seus servos.
16. Vieram duas prostitutas apresentar-se ao rei.
17. Uma delas disse: Ouve, meu senhor: Esta mulher e eu habitamos na mesma casa, e eu dei à luz junto dela no mesmo aposento.
18. Três dias depois, deu também ela à luz. Ora, nós vivemos juntas, e não havia nenhum estranho conosco nessa casa, pois somente nós duas estávamos ali.
19. Durante a noite morreu o filho dessa mulher, porque o abafou enquanto dormia.
20. Levantou-se ela então, no meio da noite, e enquanto a tua serva dormia, tomou o meu filho que estava junto de mim e o deitou em seu seio, deixando no meu o seu filho morto.
21. Quando me levantei pela manhã para amamentar o meu filho, encontrei-o morto; mas, examinando-o atentamente à luz, verifiquei que não era o filho que eu dera à luz.
22. É mentira!, replicou a outra mulher, o que está vivo é meu filho; o teu é que morreu. A primeira contestou: Não é assim; o teu filho é o que morreu, o que está vivo é o meu. E assim disputavam diante do rei.
23. O rei disse então: Tu dizes: é o meu filho que está vivo, e o teu é o que morreu; e tu replicas: não é assim; é o teu filho que morreu, e o meu é o que está vivo.
24. Vejamos, continuou o rei; trazei-me uma espada. Trouxeram ao rei uma espada.
25. Cortai pelo meio o menino vivo, disse ele, e dai metade a uma e metade à outra.
26. Mas a mulher, mãe do filho vivo, sentiu suas entranhas enternecerem-se e disse ao rei: Rogo-te, meu senhor, que dês a ela o menino vivo; não o mateis; a outra, porém, dizia: Ele não será nem teu, nem meu; seja dividido!
27. Então o rei pronunciou o seu julgamento: Dai, disse ele, o menino vivo a essa mulher; não o mateis, pois é ela a sua mãe.
28. Todo o Israel, ouvindo o julgamento pronunciado pelo rei, encheu-se de respeito por ele, pois via-se que o inspirava a sabedoria divina para fazer justiça.

 
Capítulo 4

1. O rei Salomão reinava sobre todo o Israel.
2. Estes são os ministros que o assistiam: Azarias, filho do sacerdote Sadoc;
3. Elioref e Aia, filhos de Sisa, escribas; Josafá, filho de Ailud, cronista;
4. Banaías, filho de Jojada, general do exército; Sadoc e Abiatar, sacerdotes;
5. Azarias, filho de Natã, chefe dos intendentes; Zabud, filho de Natã, conselheiro privado do rei;
6. Aisar, prefeito do palácio; e Adonirão, filho de Abda, dirigente dos trabalhos.
7. Salomão tinha doze intendentes estabelecidos sobre todo o Israel, que proviam às necessidades do rei e de sua casa, cada um durante um mês do ano.
8. Estes são os seus nomes: …, filho de Hur, na montanha de Efraim;
9. … (filho de Decar, em Maces, em Salebim, em Betsames e em Elon de Betanã;
10. …, filho de Hesed, em Harubot, do qual dependia Soco e toda a terra de Eíer;
11. …, filho de Abinadab, que tinha os altos de Dor (e era casado com Tafet, filha de Salomão);
12. Bana, filho de Ailud, que tinha Tanac e Magedo, e todo o Betsã, perto de Sartana, debaixo de Jezrael, desde Betsã, até Abelmeula, e até além de Jecmaã;
13. …, filho de Gaber, em Ramot de Galaad, que tinha as aldeias de Jair, filho de Manassés, situadas em Galaad, toda a região de Argob em Basã, sessenta cidades grandes e muradas, que tinham fechaduras de bronze;
14. Ainadab, filho de Ado, em Maanaim;
15. Aquimaas, em Neftali, casado também com uma filha de Salomão, chamada Basemat;
16. Baana, filho de Husi, em Haser e em Halot;
17. Josafá, filho de Farué, em Issacar;
18. Semei, filho de Ela, em Benjamim;
19. Gabar, filho de Uri, na terra de Galaad, pátria de Seon, rei dos amorreus e de Og, rei de Basã; (havia um só intendente para toda essa região).
20. A população de Judá e de Israel era tão numerosa como a areia na praia do mar; comiam, bebiam e alegravam-se.
21. Salomão dominava sobre todos os reinos, desde o Eufrates até a terra dos filisteus, e até a fronteira do Egito. Esses reinos pagavam tributo e ficaram-lhe sujeitos durante todo o tempo de sua vida.
22. (A casa de) Salomão consumia diariamente para o seu sustento trinta coros de flor de farinha e sessenta de farinha,
23. dez bois cevados e vinte de pasto, cem cordeiros, além de veados, gazelas, gamos e as aves cevadas.
24. Salomão dominava em toda a terra além do Rio, e sobre todos os reis dessas regiões, desde Tafsa até Gaza, e estava em paz com todos os povos vizinhos.
25. Judá e Israel, desde Dã até Bersabéia, viviam sem temor algum, cada qual debaixo de sua vinha e de sua figueira, durante todo o tempo que reinou Salomão.
26. Salomão tinha quatro mil manjedouras para os cavalos de seus carros, e doze mil cavalos de sela.
27. Os intendentes, cada um no seu mês, proviam às necessidades de Salomão e de todos os que se sentavam com ele à mesa real, de modo que nada lhes faltava.
28. Por seu turno, levavam também ao lugar onde fosse preciso, cevada e palha para os cavalos de carga e de montaria.
29. Deus deu a Salomão a sabedoria, uma inteligência penetrante e um espírito de uma visão tão vasta como as areias que estão à beira do mar.
30. Sua sabedoria excedia a de todos os orientais e a de todo o Egito.
31. Ele era o mais sábio de todos os homens, mais sábio do que Etã, o ezraíta, do que Hemã, Chacol e Dorda, filhos de Maol; e sua fama espalhou-se por todos os povos vizinhos.
32. Pronunciou três mil sentenças e compôs mil e cinco poemas.
33. Falou das árvores, desde o cedro do Líbano até o hissopo que brota dos muros; falou dos animais, das aves, dos répteis e dos peixes.
34. De todos os povos vinham pessoas ouvir a sabedoria de Salomão, da parte de todos os reis da terra que tinham ouvido falar de sua sabedoria.

 
Capítulo 5

1. Quando Hirão, rei de Tiro, soube que Salomão fora ungido rei em lugar de seu pai, enviou-lhe os seus servos, pois Hirão fora sempre amigo de Davi.
2. Salomão, de seu lado, mandou a Hirão a mensagem seguinte:
3. Sabes que Davi, meu pai, não pôde edificar um templo em nome do Senhor seu Deus, por causa das guerras que teve de sustentar até o dia em que o Senhor pôs os seus inimigos sob a planta de seus pés.
4. Agora, porém, o Senhor deu-me paz de todos os lados: não há mais inimigos nem calamidades.
5. Por isso penso em edificar um templo em nome do Senhor, meu Deus. O Senhor, com efeito, falara disso a Davi, meu pai, nestes termos: Teu filho, que eu farei sentar em teu lugar no trono, este edificará um templo em meu nome.
6. Dá ordem, pois, aos teus servos, que me cortem cedros do Líbano. Meus operários trabalharão com os teus, e pagarei a estes o salário que pedires, pois sabes que não há ninguém entre nós que saiba cortar árvores como os sidônios.
7. Hirão, ouvindo a mensagem de Salomão, encheu-se de grande alegria, e disse: Bendito seja o Senhor, que deu a Davi um filho cheio de sabedoria para governar esse grande povo!
8. Em seguida, mandou responder a Salomão: Recebi tua mensagem. Farei tudo o que desejas acerca das madeiras de cedro e de cipreste.
9. Meus servos as descerão do Líbano até o mar, e dali as farei conduzir em jangadas até o lugar que me designares. Ali as desatarão, e tu as mandarás receber. De teu lado, corresponderás aos meus desejos, fornecendo víveres à minha casa.
10. Hirão deu, pois, a Salomão, tanta madeira de cedro e de cipreste quanta ele quis.
11. E Salomão deu-lhe vinte mil coros de trigo para o sustento de sua casa, bem como vinte coros de óleo bruto. Isso fornecia Salomão a Hirão cada ano.
12. O Senhor tinha dado sabedoria a Salomão, conforme prometera. Houve paz entre Hirão e Salomão, e fizeram aliança entre si.
13. O rei Salomão escolheu trinta mil operários em todo o Israel.
14. Ele os mandava por seu turno ao Líbano, dez mil cada mês; passavam assim um mês no Líbano e dois meses em sua casa. Adonirão dirigia os trabalhos.
15. Salomão tinha ainda setenta mil carregadores e oitenta mil cortadores de pedras na montanha,
16. sem contar três mil e trezentos contramestres que presidiam os vários trabalhos, os quais davam ordens ao povo e aos operários.
17. O rei ordenou que extraíssem grandes e belas pedras, que deviam ser talhadas para os alicerces do templo.
18. Os operários de Salomão e os de Hirão talharam as pedras, enquanto os giblieus preparavam as madeiras e as pedras para a construção da casa.

 
Capítulo 6

1. No ano quatrocentos e oitenta depois da saída dos filhos de Israel do Egito, Salomão, no quarto ano do seu reinado, no mês de Ziv, que é o segundo mês, empreendeu a construção do templo do Senhor.
2. O templo que o rei Salomão edificou ao Senhor tinha sessenta côvados de comprimento, vinte de largura e trinta de altura.
3. O pórtico, à entrada do templo, tinha vinte côvados de comprimento, o que igualava a largura do templo, e dez côvados de largura na frente do edifício.
4. O rei fez no templo janelas com grades de madeira.
5. Construiu, encostados às paredes do edifício, andares que rodeavam o templo e o santuário. Cercou assim o edifício de quartos laterais.
6. O andar inferior tinha cinco côvados de largura, o do meio seis e o terceiro sete, porque se tinham posto encostas nos muros exteriores do templo para evitar que as vigas entrassem nas paredes do edifício.
7. Na construção do templo só se empregaram pedras lavradas na pedreira, de sorte que não se ouvia durante os trabalhos da construção barulho algum de martelo, de cinzel ou de outro qualquer instrumento de ferro.
8. A entrada do andar inferior encontrava-se do lado direito do edifício. Subia-se por uma escada em espiral ao andar do meio, e deste ao terceiro.
9. Terminado o edifício, Salomão recobriu-o de tábuas e de forros de cedro.
10. Os andares que construiu encostados em todo o edifício eram de cinco côvados de altura cada um e foram ligados ao templo por traves de cedro.
11. A palavra do Senhor foi então dirigida a Salomão nestes termos:
12. Esta casa que tu edificas… se obedeceres às minhas leis, praticares os meus mandamentos e observares todos os meus preceitos, seguindo-os cuidadosamente, eu cumprirei em ti as promessas que fiz ao teu pai Davi:
13. permanecerei no meio dos israelitas e não abandonarei Israel, meu povo.
14. Salomão terminou a construção do templo.
15. Forrou o interior das paredes do edifício com placas de cedro, desde o pavimento até o teto; revestiu assim de madeira todo o interior e cobriu o pavimento com tábuas de cipreste.
16. Revestiu de tábuas de cedro, a partir do fundo do templo, desde o pavimento até o teto, um espaço de vinte côvados, que destinou ao santuário, ou santo dos santos.
17. Os quarenta côvados restantes constituíam a parte anterior do templo.
18. Dentro do edifício o cedro era esculpido de coloquíntidas e flores abertas; tudo era de cedro; não se via a pedra.
19. Salomão dispôs o santuário no interior do templo, bem ao fundo, para ali colocar a arca da aliança do Senhor.
20. O santuário tinha por dentro vinte côvados de comprimento, vinte de largura e vinte de altura. Salomão revestiu-o de ouro fino, e cobriu o altar de cedro.
21. Revestiu de ouro fino o interior do edifício e fechou com cadeias de ouro a frente do santuário, que era também revestido de ouro.
22. A casa ficou assim inteiramente coberta de ouro, como também toda a superfície do altar que estava diante do santuário.
23. Fez no santuário dois querubins de pau de oliveira, que tinham dez côvados de altura.
24. Cada uma das asas dos querubins tinha cinco côvados, o que fazia dez côvados da extremidade de uma asa à extremidade da outra.
25. O segundo querubim tinha também dez côvados; os dois tinham a mesma forma e as mesmas dimensões.
26. Um e outro tinham dez côvados de altura.
27. Salomão pô-los no fundo do templo, no santuário. Tinham as asas estendidas, de sorte que uma asa do primeiro tocava uma das paredes e uma asa do segundo tocava a outra parede, enquanto as outras duas asas se encontravam no meio do santuário.
28. Revestiu também de ouro os querubins.
29. Mandou esculpir em relevo em todas as paredes da casa, ao redor, no santuário como no templo, querubins, palmas e flores abertas.
30. Cobriu de ouro o pavimento do edifício, tanto o do santuário como o do templo.
31. Pôs à porta do santuário vigas de pau de oliveira; o seu enquadramento com as ombreiras ocupava a quinta parte da parede.
32. Nos dois batentes de pau de oliveira mandou esculpir querubins, palmas e flores desabrochadas, e cobriu-as de ouro; cobriu de ouro tanto os querubins como as palmas.
33. Para a porta do templo fez vigas de pau de oliveira que ocupavam a quarta parte da parede,
34. bem como dois batentes de madeira de cipreste, sendo cada batente formado de duas folhas móveis.
35. Mandou esculpir nelas querubins, palmas e flores desabrochadas, e cobriu tudo de ouro, ajustado às esculturas.
36. Construiu, ao redor do átrio interior, um muro de três ordens de pedras talhadas e uma fileira de traves de cedro.
37. No mês de Ziv do quarto ano de reinado, foram lançados os fundamentos do templo do Senhor,
38. e no ano undécimo, no mês de Bul, que é o oitavo mês, foi o templo acabado em todas as suas partes e em todos os seus pormenores. O templo foi construído em sete anos.

 
Capítulo 7

1. Salomão levou treze anos a terminar a construção do seu palácio.
2. Edificou primeiro a Casa da Floresta do Líbano, que tinha cem côvados de comprimento, cinqüenta de largo e trinta de alto, repousando sobre quatro fileiras de colunas de cedro, com traves de cedro sobre as colunas.
3. Forrou de cedro o teto dos quartos, que se apoiavam nas colunas, em número de quarenta e cinco, ou seja, quinze colunas por fileira.
4. Havia três fileiras de quartos, cujas janelas se correspondiam três vezes.
5. Todas as portas e suas vigas eram retangulares, e as janelas se correspondiam três vezes.
6. Fez um pórtico de colunas, com cinqüenta côvados de comprido e trinta de largo, precedido de um segundo pórtico de colunas com degraus.
7. Salomão mandou fazer a sala do trono, onde estava o tribunal, o pórtico do juízo, e revestiu-o de cedro desde o pavimento até ao teto.
8. Sua residência, construída no segundo pátio, atrás do pórtico, era de trabalho semelhante. Enfim, mandou construir para a filha do faraó, que ele tinha desposado, uma casa do mesmo gênero que este pórtico.
9. Todas essas construções eram feitas com pedras escolhidas, talhadas sob medida, e serradas tanto por dentro como por fora, desde os fundamentos até o alto das cornijas, inclusive o muro do grande pátio.
10. Os fundamentos eram também feitos de pedras escolhidas de grande dimensão, pedras de dez e de oito côvados.
11. Por cima havia ainda pedras escolhidas, talhadas sob medida, e traves de cedro.
12. O muro, que cercava o grande pátio, tinha três ordens de pedras talhadas e uma fileira de vigas de cedro, assim como no pátio interior do templo do Senhor e no pórtico do palácio.
13. O rei Salomão mandara vir de Tiro um homem que trabalhava em bronze, Hirão,
14. filho de uma viúva da tribo de Neftali, cujo pai era de Tiro. Hirão era talentoso, cheio de inteligência e habilidade para fazer toda espécie de trabalhos em bronze. Apresentou-se ao rei Salomão e executou todos os seus trabalhos.
15. Fez duas colunas de bronze: a primeira tinha dezoito côvados de altura; a sua periferia media-se com um fio de doze côvados. Tinham quatro dedos de espessura e eram ocas. A segunda coluna era semelhante a esta.
16. Fundiu dois capitéis para pô-los no alto das colunas; ambos tinham cinco côvados de altura,
17. e eram ornados de redes de malhas e grinaldas em forma de cadeias; havia sete grinaldas para cada capitel.
18. Dispôs em círculo ao redor de cada uma das malhas duas fileiras de romãs, para ornar cada um dos capitéis que cobriam as colunas.
19. Os capitéis, que sobremontavam as colunas no pórtico, tinham a forma de lírios, com quatro côvados de altura.
20. Os capitéis colocados sobre as duas colunas elevavam-se acima da parte mais grossa da coluna, além da rede; em volta dos dois capitéis, havia duzentas romãs dispostas em círculo.
21. Hirão levantou as colunas no pórtico do templo; a coluna direita, que chamou Jaquin, e a esquerda, que chamou Boaz.
22. Por cima das colunas pôs um trabalho em forma de lírio. E assim foi acabada a obra das colunas.
23. Hirão fez também o mar de bronze, que tinha dez côvados de uma borda à outra, perfeitamente redondo, e com altura de cinco côvados; sua circunferência media-se com um fio de trinta côvados.
24. Por baixo de sua borda havia coloquíntidas em número de dez por côvado; elas rodeavam o mar, dispostas em duas ordens, formando com o mar uma só peça.
25. Este apoiava-se sobre doze bois, dos quais três olhavam para o norte, três para o ocidente, três para o sul e três para o oriente. O mar repousava sobre eles, e suas ancas estavam para o lado de dentro.
26. A espessura do mar era de um palmo; sua borda assemelhava-se à de um copo em forma de lírio; sua capacidade era de dois mil batos.
27. Fez também duas bases de bronze, tendo cada uma quatro côvados de comprimento, quatro de largura e três de altura.
28. Eis como eram feitas essas bases: eram formadas de painéis e enquadradas de molduras.
29. Nos painéis enquadrados de molduras, havia leões, bois e querubins, assim como nas travessas igualmente. Por cima e por baixo dos leões e dos bois pendiam grinaldas em forma de festões.
30. Cada base tinha quatro rodas de bronze, com seus eixos de bronze, e nos quatro cantos havia suportes fundidos que sustinham a bacia, os quais estavam por baixo das grinaldas.
31. A abertura para a bacia era no interior dos suportes, e os ultrapassava de um côvado de altura; era cilíndrica e seu diâmetro era de um côvado e meio; e era também ornada de esculturas. Os painéis eram quadrados e não redondos.
32. Debaixo destes estavam as quatro rodas, cujos eixos eram fixados à base. Cada roda tinha um côvado e meio de altura,
33. e era feita como as de um carro. Eixos, cambas, raios e cubos, tudo era fundido.
34. Nos quatro ângulos de cada base encontravam-se quatro suportes que faziam parte da mesma base.
35. A parte superior da base era de forma circular, tendo meio côvado de altura; seus esteios formavam com os painéis uma só peça.
36. Nas placas dos seus esteios e dos painéis assim como no espaço livre entre estas, esculpiu querubins, leões, palmas e grinaldas circulares.
37. Desse modo fez as dez bases, todas do mesmo molde, da mesma dimensão e modelo.
38. Fez também dez bacias de bronze, contendo cada uma quarenta batos. Cada uma tinha quatro côvados e repousava sobre um dos dez pedestais.
39. Pôs cinco pedestais do lado direito do templo e cinco do lado esquerdo. O mar foi colocado do lado direito do edifício, para o sudoeste.
40. Hirão fez também caldeirões, pás e bacias. Hirão concluiu, pois, toda a obra que o rei Salomão lhe mandara fazer para o templo do Senhor:
41. duas colunas, dois capitéis esféricos para o alto das colunas, duas redes para cobrir os capitéis esféricos que estão sobre as colunas;
42. quatrocentas romãs para as redes, duas fileiras de romãs para cada rede, para cobrir os dois capitéis esféricos que estão no alto das colunas;
43. dez pedestais e dez bacias sobre os pedestais;
44. o mar, único, com os doze bois por baixo do mar;
45. os caldeirões, pás e bacias. Todos esses objetos que Hirão fez por ordem do rei Salomão para o templo do Senhor, eram de bronze polido.
46. O rei mandou-os fundir na planície do Jordão, numa terra argilosa, entre Socot e Sartã.
47. Era tão grande o número desses objetos, que Salomão não pesou o bronze.
48. Salomão mandou ainda fabricar todos os utensílios que estariam no templo do Senhor: o altar de ouro, a mesa de ouro sobre a qual se colocavam os pães de proposição;
49. os candelabros de ouro fino, cinco à direita e cinco à esquerda, diante do santuário, com as flores, as lâmpadas e as espevitadeiras de ouro,
50. os copos, as facas, as bacias, as colheres e os cinzeiros de ouro fino, e os gonzos de ouro para os batentes da porta do santuário, o Santo dos Santos, e da porta do templo, o Santo.
51. Assim foram concluídos todos os trabalhos empreendidos pelo rei Salomão para o templo do Senhor. E Salomão mandou então que se trouxesse tudo o que Davi, seu pai, tinha consagrado: a prata, o ouro e os utensílios, e colocou-os nas reservas do templo do Senhor.

 
Capítulo 8

1. Então convocou Salomão junto de si em Jerusalém os anciãos de Israel e todos os chefes das tribos e os chefes das famílias israelitas, para irem buscar na cidade de Davi, em Sião, a arca da aliança do Senhor.
2. Todos os israelitas se reuniram junto do rei Salomão no mês de Etanim, que é o sétimo, durante a festa.
3. Vieram todos os anciãos de Israel e os sacerdotes tomaram a arca do Senhor.
4. Levaram-na, assim como a Tenda de Reunião e todos os utensílios sagrados que havia no tabernáculo: foram os sacerdotes e os levitas que os levaram.
5. O rei Salomão e toda a assembléia de Israel reunida junto dele conservavam-se diante da arca. Sacrificavam tão grande quantidade de ovelhas e bois que não se podia contar.
6. Os sacerdotes levaram a arca da aliança do Senhor para seu lugar, no santuário do templo, no Santo dos Santos, debaixo das asas dos querubins.
7. Pois os querubins estendiam as suas asas sobre o lugar da arca, e cobriam por cima a arca e os seus varais.
8. Estes varais eram de tal forma compridos, que se podiam ver as suas extremidades do lugar santo, diante do santuário, mas não de fora, e ali ficaram até o dia de hoje.
9. Na arca só havia as duas tábuas de pedra que Moisés ali depusera no monte Horeb, quando o Senhor fez aliança com os israelitas, depois que saíram da terra do Egito.
10. Quando os sacerdotes saíram do lugar santo, a nuvem encheu o templo do Senhor,
11. de modo tal que os sacerdotes não puderam ali ficar para exercer as funções de seu ministério; porque a glória do Senhor enchia o templo do Senhor.
12. Então disse Salomão: O Senhor declarou que habitaria na obscuridade.
13. Por isso, edifiquei uma casa para vossa residência, um lugar onde habitareis para sempre.
14. Depois o rei virou-se para a assembléia de Israel, que se conservava de pé, e a abençoou.
15. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, disse ele, que falou pela sua boca ao meu pai Davi e que, pela sua mão, acaba de cumprir a promessa que ele fez, quando disse:
16. Desde o dia em que tirei do Egito o meu povo de Israel, não escolhi cidade alguma entre as tribos de Israel, para que aí me fosse edificada uma casa onde residisse o meu nome; mas escolhi Davi para reinar sobre o meu povo de Israel.
17. Davi, meu pai, tinha a intenção de construir um templo ao nome do Senhor, Deus de Israel;
18. mas o Senhor disse-lhe: Quando tiveste a intenção de edificar um templo ao meu nome, fizeste bem.
19. Tu, porém, não edificarás esse templo; será o teu filho, saído de ti, quem construirá um templo ao meu nome.
20. O Senhor cumpriu, pois, a palavra que pronunciou. Como o Senhor o disse, eu me sentei sobre o trono de Israel, sucedendo ao meu pai Davi, e construí esse templo ao nome do Senhor, Deus de Israel.
21. Preparei um lugar para a arca, onde se encontra a aliança do Senhor, aliança que fez com nossos pais quando os tirou do Egito.
22. Em seguida, pôs-se Salomão diante do altar do Senhor, em presença de toda a assembléia de Israel, estendeu as mãos para o céu e disse:
23. Senhor, Deus de Israel, não há Deus semelhante a vós, nem no mais alto dos céus, nem aqui embaixo, na terra; vós sois fiel à vossa misericordiosa aliança com os vossos servos, que caminham diante de vós de todo o seu coração.
24. Cumpristes a promessa que fizestes a vosso servo Davi, meu pai: o que vossa boca falou, realizou-o vossa mão, como hoje se vê.
25. Agora, Senhor, Deus de Israel, realizai a promessa que fizestes a vosso servo Davi, meu pai, quando lhe dissestes: Não te faltará jamais diante de mim um sucessor ocupando o trono de Israel, contanto que teus filhos guardem cuidadosamente os teus caminhos, andando diante de mim, como tu mesmo o fizeste.
26. Cumpra-se, pois, presentemente, ó Deus de Israel, a promessa que fizestes ao vosso servo Davi, meu pai.
27. Mas, será verdade que Deus habite sobre a terra? Se o céu e os céus dos céus não vos podem conter quanto menos esta casa que edifiquei!
28. Entretanto, Senhor Deus meu, atendei à oração e às súplicas de vosso servo; ouvi o clamor e a prece que hoje vos dirijo.
29. Que vossos olhos estejam dia e noite abertos sobre este templo, sobre este lugar, do qual dissestes: O meu nome residirá ali. Ouvi a oração que vosso servo vos faz neste lugar.
30. Ouvi a súplica de vosso servo e de vosso povo de Israel, quando orarem neste lugar. Ouvi-os do alto de vossa morada no céu, ouvi-os e perdoai!
31. Se alguém pecar contra o seu próximo e, fazendo-o jurar, for tomado juramento diante de vosso altar, neste templo,
32. vós, do alto dos céus, fareis justiça aos vossos servos, condenando o culpado, fazendo cair sobre ele o seu pecado, e justificando o inocente, tratando-o segundo a sua inocência.
33. Quando vosso povo de Israel for derrotado por seus inimigos por ter pecado contra vós, se se voltarem para vós, dando glória ao vosso nome, e vierem orar e vos suplicar neste templo,
34. ouvi-os do alto dos céus, perdoai o pecado de vosso povo de Israel, e reconduzi-o à terra que destes a seus pais.
35. Quando o céu se fechar e não cair mais a chuva, por terem pecado contra vós, se vierem orar neste lugar, dando glória ao vosso nome, e se converterem de seus pecados por causa de sua aflição,
36. ouvi-os do alto dos céus, perdoai o pecado de vossos servos e de vosso povo de Israel. Mostrai-lhes o bom caminho que devem seguir, e mandai chuva sobre a terra que destes ao vosso povo como herança.
37. Quando vierem sobre a terra a fome, a peste, a ferrugem, a mangra, os gafanhotos; quando o inimigo cercar o povo nas cidades; quando houver qualquer flagelo ou epidemia,
38. se um homem, se todo o vosso povo recorrer a vós com orações e súplicas, e se cada um, reconhecendo a chaga de seu coração, levantar as mãos para este templo,
39. ouvi-os desde vossa morada no alto dos céus, e perdoai-lhes. Fazei de modo a dar a cada um segundo o que fez, vós que conheceis o seu coração, porque só vós conheceis o coração de todos os filhos dos homens;
40. e desta sorte eles vos temerão durante todos os dias de sua vida na terra que destes a seus pais.
41. Quanto ao estrangeiro, que não pertence ao vosso povo de Israel, quando vier de uma terra longínqua por causa de vosso nome, –
42. porque se ouvirá falar da grandeza de vosso nome, da força de vossa mão e do poder de vosso braço, – quando vier orar neste templo,
43. ouvi-o do alto dos céus, do alto de vossa morada, ouvi-o e fazei tudo o que esse estrangeiro vos pedir. Então todos os povos da terra conhecerão o vosso nome, vos temerão como o vosso povo de Israel, e saberão que o vosso nome é invocado sobre esta casa que edifiquei.
44. Quando o vosso povo partir para a guerra contra os seus inimigos, seguindo o caminho que lhe indicardes, se vos invocarem com o rosto voltado para a cidade que escolhestes, para o templo que edifiquei ao vosso nome,
45. ouvi do alto dos céus as suas preces e súplicas, e fazei-lhes justiça.
46. Quando pecarem contra vós – porque não há homem que não peque – e quando em vossa ira os entregardes nas mãos de seus inimigos, de sorte que sejam levados cativos pelos seus vencedores a uma terra inimiga, longínqua ou próxima,
47. se, na terra de seu exílio, entrando em si mesmos, se arrependerem de seus pecados e vos suplicarem no seu cativeiro desta forma: Nós pecamos, cometemos a iniqüidade, procedemos mal,
48. se eles se voltarem para vós de todo o seu coração e de toda a sua alma, na terra de seus inimigos para onde forem levados cativos, e se orarem a vós com o rosto voltado para a terra que destes a seus pais, para esta cidade que escolhestes, para este templo que construí ao vosso nome,
49. ouvi, do alto dos céus, do alto de vossa morada, as suas preces e súplicas, e fazei-lhes justiça.
50. Perdoai ao vosso povo os seus pecados e as ofensas que cometeu contra vós. Tornai-os simpáticos aos seus vencedores, de sorte que tenham compaixão deles;
51. porque Israel é o vosso povo e a vossa herança, que tirastes do Egito, duma fornalha de ferro.
52. Estejam os vossos olhos abertos às súplicas de vosso servo e de vosso povo de Israel, para ouvi-los quando vos invocarem.
53. Porque vós, ó Senhor Javé, os separastes dentre todos os povos da terra para vossa herança, como o declarastes pela boca de vosso servo Moisés, quando tirastes nossos pais do Egito!
54. Quando Salomão acabou de fazer ao Senhor esta prece e esta súplica, levantou-se de diante do altar do Senhor, onde estava ajoelhado com as mãos levantadas para o céu.
55. De pé, abençoou toda a assembléia de Israel, dizendo em alta voz:
56. Bendito seja o Senhor, que, como havia prometido, deu a paz ao seu povo de Israel! Não falhou uma palavra sequer de todas as boas palavras que dissera pela boca de seu servo Moisés.
57. Que o Senhor, nosso Deus, esteja convosco como esteve com nossos pais; não nos deixe, nem nos abandone,
58. mas incline os nossos corações para ele, a fim de que andemos em todos os seus caminhos, e guardemos os mandamentos e os preceitos que ele prescreveu a nossos pais.
59. Oxalá fiquem estas minhas palavras, com que supliquei ao Senhor, presentes à sua memória de dia e de noite, para que, dia por dia, ele faça justiça ao seu servo e ao seu povo de Israel.
60. Assim, todos os povos da terra reconhecerão que é o Senhor que é Deus, e que não há outro fora dele.
61. Que o vosso coração seja todo para o Senhor, nosso Deus, sem reserva, a fim de que andeis segundo as suas leis e observeis os seus preceitos, como hoje o fazeis.
62. O rei e todo o Israel com ele imolaram vítimas diante do Senhor.
63. Salomão imolou, para o sacrifício pacífico que ofereceu ao Senhor, vinte e dois mil bois e cento e vinte mil ovelhas. Assim o rei e todos os israelitas fizeram a dedicação do templo do Senhor.
64. Naquele dia o rei consagrou o interior do átrio, que se encontra diante do templo do Senhor, pois ofereceu ali os holocaustos e as ofertas, bem como a gordura dos sacrifícios pacíficos, porque o altar de bronze, levantado diante do santuário do Senhor, não bastava para conter os holocaustos, as ofertas e a gordura dos sacrifícios pacíficos.
65. Tal foi a festa que Salomão celebrou naquele tempo, e todo o Israel com ele, tendo concorrido uma imensa assembléia vinda desde Emat até a torrente do Egito, diante do Senhor, nosso Deus, durante duas vezes sete dias, isto é, quatorze dias.
66. Ao oitavo dia despediu o povo, e todos voltaram para as suas casas, abençoando o rei, com o coração alegre e contente por todos os bens que o Senhor tinha feito a Davi, seu servo, e ao seu povo de Israel.

 
Capítulo 9

1. Quando Salomão acabou de construir o templo do Senhor, o palácio real e tudo o que desejou fazer,
2. o Senhor apareceu-lhe pela segunda vez, como tinha aparecido em Gabaon.
3. O Senhor disse-lhe: Ouvi a tua oração e a súplica que me dirigiste; consagrei esta casa que me construíste, a fim de nela fixar o meu nome para sempre; meus olhos e meu coração aí estarão perpetuamente.
4. E tu, se andares diante de mim como o fez Davi, na sinceridade e retidão de teu coração, pondo em prática tudo o que te ordenei, observando os meus preceitos e minhas leis,
5. eu firmarei para sempre o trono de teu reino sobre Israel, como o declarei a Davi, teu pai, nestes termos: Não te faltará jamais um descendente sobre o trono de Israel.
6. Mas se vos desviardes de mim, vós e vossos filhos, e não observardes os preceitos e ordens que vos prescrevi, se vos retirardes e prestardes culto a deuses estranhos, prostrando-vos diante deles,
7. eu exterminarei Israel da terra que lhe dei, lançarei de minha presença o templo que consagrei ao meu nome, e Israel será objeto de sarcasmo e zombaria para todos os povos.
8. Embora seja tão alto esse templo, todo o que passar diante dele ficará pasmado, e assobiará, dizendo: Por que tratou o Senhor assim esta terra e este templo?
9. E responder-lhe-ão: Porque abandonaram o Senhor, seu Deus, que tirou os seus pais do Egito, e seguiram a outros deuses, prostrando-se diante deles e adorando-os; por isso o Senhor mandou sobre eles todos esses males.
10. Quando, passados vinte anos, Salomão acabou de construir os dois edifícios, o templo do Senhor e o palácio real,
11. tendo-lhe Hirão, rei de Tiro, fornecido madeira de cedro e de cipreste, e também ouro, o quanto ele quis, Salomão deu a Hirão vinte cidades da Galiléia.
12. Hirão veio de Tiro para ver as cidades que Salomão lhe tinha dado, mas elas não lhe agradaram,
13. e disse: Que cidades são estas que me deste, irmão meu? E chamou-as terra de Cabul, nome que conservam até o dia de hoje.
14. (Hirão tinha também mandado ao rei cento e vinte talentos de ouro.)
15. Eis o que se refere aos trabalhos organizados pelo rei Salomão para a construção do templo do Senhor e de seu próprio palácio, de Milo, do muro de Jerusalém, de Hezer, de Magedo e de Gazer.
16. O faraó, rei do Egito, subiu, tomou Gazer e queimou-a, depois de ter matado os cananeus que a habitavam; deu-a em seguida em dote à sua filha: mulher de Salomão.
17. Salomão construiu, pois, Gazer, Betoron-a-Baixa,
18. Baalat e Tadmor, na terra do deserto;
19. e, enfim, todas as cidades entrepostos de Salomão, cidades para os carros, para a cavalaria, e tudo o que lhe aprouve edificar em Jerusalém, no Líbano e em toda a terra de seu domínio.
20. Tudo o que subsistia dos amorreus, dos hiteus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus, que não faziam parte dos israelitas,
21. todos os seus descendentes que tinham ficado na terra e que os israelitas não tinham exterminado, Salomão os empregou como escravos de trabalhos pesados, o que são ainda hoje.
22. Quanto aos filhos de Israel, determinou que nenhum servisse como escravo, mas que fossem seus guerreiros, servos, chefes, oficiais, comandantes de seus carros e de sua cavalaria.
23. Havia quinhentos e cinqüenta contramestres nos trabalhos de Salomão, os quais dirigiam a multidão dos operários.
24. Subiu a filha do faraó da cidade de Davi, e veio para a casa que lhe tinha construído Salomão; foi então que ele edificou Milo.
25. Três vezes por ano, Salomão oferecia holocaustos e sacrifícios pacíficos sobre o altar que tinha levantado ao Senhor, e queimava perfumes sobre o altar que estava diante do Senhor. E assim acabou ele a construção do templo.
26. Equipou também o rei Salomão uma frota em Asiongaber, perto de Ailat, na praia do mar Vermelho, na terra de Edom.
27. Hirão mandou seus próprios servos nessa frota, marinheiros experimentados em náutica, para ajudar os homens de Salomão.
28. Foram a Ofir, de onde trouxeram quatrocentos e vinte talentos de ouro, e os apresentaram ao rei Salomão.

 
Capítulo 10

1. A rainha de Sabá, tendo ouvido falar de Salomão e da glória do Senhor, veio prová-lo com enigmas.
2. Chegou a Jerusalém com uma numerosa comitiva, com camelos carregados de aromas, e uma grande quantidade de ouro e pedras preciosas. Apresentou-se diante do rei Salomão e disse-lhe tudo o que tinha no espírito.
3. A tudo respondeu o rei. Nenhuma de suas perguntas lhe pareceu obscura, e deu solução a todas.
4. Quando a rainha de Sabá viu toda a sabedoria de Salomão, a casa que ele tinha feito,
5. os manjares de sua mesa, os apartamentos de seus servos, as habitações e uniformes de seus oficiais, os copeiros do rei e os holocaustos que ele oferecia no templo do Senhor, ficou estupefata,
6. e disse ao rei: É bem verdade o que ouvi a teu respeito e de tua sabedoria, na minha terra.
7. Eu não quis acreditar no que me diziam, antes de vir aqui e ver com os meus próprios olhos. Mas eis que não contavam nem a metade: tua sabedoria e tua opulência são muito maiores do que a fama que havia chegado até mim.
8. Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria!
9. Bendito seja o Senhor, teu Deus, a quem aprouve colocar-te sobre o trono de Israel. Porque o Senhor amou Israel para sempre, por isso constituiu-te rei para governares com justiça e eqüidade.
10. Presenteou o rei com cento e vinte talentos de ouro e grande quantidade de perfumes e pedras preciosas. Não apareceu jamais uma quantidade de aromas tão grande como a que a rainha de Sabá deu ao rei Salomão.
11. A frota de Hirão, que trazia o ouro de Ofir, trouxe também grande quantidade de madeira de sândalo e pedras preciosas.
12. Com este sândalo fez o rei balaustradas para o templo do Senhor, assim como harpas e flautas para os músicos do palácio real. E desde então não se transportou mais dessa madeira de sândalo, e não se viu mais até o dia de hoje.
13. O rei Salomão deu à rainha de Sabá tudo o que ela desejou e pediu, além dos presentes que ele mesmo lhe fez com real liberalidade. E a rainha retomou o caminho de volta com a sua comitiva.
14. O peso de ouro, que era levado anualmente a Salomão, era de seiscentos e sessenta e seis talentos,
15. sem contar o que ele recebia dos vendedores ambulantes e do tráfico dos negociantes, dos reis da Arábia e de todos os governadores da terra.
16. O rei Salomão mandou fazer duzentos escudos de ouro batido, empregando em cada um seiscentos siclos de ouro,
17. e trezentos escudos menores de ouro batido, empregando em cada um três minas de ouro. E colocou-os no pavilhão da Floresta do Líbano.
18. Mandou fazer também um grande trono de marfim, revestido de ouro fino.
19. O trono tinha seis degraus; a parte superior do espaldar era arredondada; havia de cada lado do assento dois braços, junto dos quais se achavam figuras de dois leões;
20. havia outros doze leões postos nos degraus, seis de cada lado. Nunca se fez coisa semelhante em nenhum outro reino.
21. Todas as taças do rei Salomão eram de ouro, assim como todo o vasilhame do pavilhão da Floresta do Líbano. Não havia nada feito de prata, porque não se fazia caso algum dela no tempo de Salomão.
22. O rei tinha no mar navios de Társis, que acompanhavam a frota de Hirão. De três em três anos, a frota de Társis trazia ouro, prata, marfim, macacos e pavões.
23. O rei Salomão sobrepujou todos os reis da terra em riquezas e opulência.
24. Todos buscavam a presença de Salomão para ouvir a sabedoria que o Senhor lhe tinha dado.
25. E cada um lhe trazia presentes: objetos de prata e ouro, vestes, armas, aromas, cavalos e burros. Assim, cada ano.
26. Contou Salomão os seus carros e cavaleiros: havia mil e quatrocentos carros e doze mil cavaleiros, que distribuiu pelas cidades-entrepostos dos carros e por Jerusalém, junto dele.
27. Graças ao rei, tornou-se a prata em Jerusalém tão comum como as pedras, e os cedros tão numerosos como os sicômoros que crescem na planície.
28. Vinham do Egito os cavalos de Salomão; uma caravana de mercadores do rei ia comprá-los ali por um preço estabelecido.
29. Uma quadriga trazida do Egito custava-lhe seiscentos siclos de prata, e um cavalo cento e cinqüenta siclos. Do mesmo modo exportavam cavalos para todos os reis dos hiteus e da Síria.

 
Capítulo 11

1. O rei Salomão, além da filha do faraó, amou muitas mulheres estrangeiras: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hitéias,
2. pertencentes às nações das quais o Senhor dissera aos israelitas: Não tereis relações com elas, nem elas tampouco convosco, porque certamente vos seduziriam os corações arrastando-os para os seus deuses.
3. A estas nações uniu-se Salomão por seus amores. Teve setecentas esposas de classe principesca e trezentas concubinas. E suas mulheres perverteram-lhe o coração.
4. Sendo já velho, elas seduziram o seu coração para seguir outros deuses. E o seu coração já não pertencia sem reservas ao Senhor, seu Deus, como o de Davi, seu pai.
5. Salomão prestou culto a Astarte, deusa dos sidônios, e a Melcom, o abominável ídolo dos amonitas.
6. Fez o mal aos olhos do Senhor, não lhe foi inteiramente fiel como o fora seu pai Davi.
7. Por esse tempo edificou Salomão no monte, que está a oriente de Jerusalém, um lugar alto a Camos, deus de Moab, e a Moloc, abominação dos amonitas.
8. E o mesmo fez para todas as suas mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e sacrificavam aos seus deuses.
9. O Senhor irritou-se contra Salomão, por se ter seu coração desviado do Senhor, Deus de Israel, que lhe aparecera por duas vezes,
10. e lhe tinha proibido expressamente que se unisse a deuses estranhos. Mas não seguira as ordens do Senhor.
11. O Senhor disse-lhe então: Já que procedeste assim, e não guardaste a minha aliança, nem as leis que te prescrevi, vou tirar-te o reino e dá-lo ao teu servo.
12. Todavia, em atenção ao teu pai Davi, não o farei durante a tua vida. Tirá-lo-ei, sim, mas da mão de teu filho.
13. Não lhe tirarei o reino todo, mas deixarei ao teu filho uma tribo, por amor de meu servo Davi, e por amor de Jerusalém, a cidade que escolhi.
14. O Senhor suscitou um inimigo a Salomão: Hadad, o edomita, da linhagem real de Edom.
15. No tempo em que Davi estava em guerra contra Edom, quando Joab, general do exército, foi sepultar os mortos e matou todos os varões de Edom
16. (Joab, com efeito, demorou-se ali seis meses com todo o Israel, até exterminar todos os varões de Edom.)
17. Hadad fugiu com os edomitas, servos de seu pai, na direção do Egito.
18. Hadad era então muito criança. Partiram de Madiã e foram a Farã; dali, levando consigo homens de Farã, entraram no Egito e foram ter com o faraó, rei do Egito. Este deu-lhes casa, proveu ao seu sustento e doou-lhes terras.
19. Hadad ganhou a simpatia do faraó, que lhe deu por mulher sua cunhada, irmã da rainha Tafnes.
20. Desta irmã de Tafnes teve Hadad um filho, Genubat, que Tafnes criou na casa do faraó. E Genubat habitou no palácio com os filhos do faraó.
21. Quando Hadad ouviu dizer, no Egito, que Davi adormecera com seus pais, e que Joab, general do exército, estava morto, disse ao faraó: Deixa-me voltar para a minha terra.
22. O faraó respondeu-lhe: Falta-te algo em minha casa, para que queiras voltar para a tua terra? Nada me falta, respondeu; mas deixa-me partir assim mesmo. Hadad voltou, pois, para a sua terra. E eis o mal que fez: tornou-se rei de Edom e tratou Israel como inimigo.
23. Deus suscitou outro inimigo a Salomão: Razon, filho de Eliada, que fugira de seu senhor Hadadezer, rei de Soba.
24. Após os massacres de Davi, juntara homens em torno de si, tornando-se chefe de quadrilha. Atacaram Damasco, onde se estabeleceram, e constituíram-no rei em Damasco.
25. Foi inimigo de Israel durante toda a vida de Salomão.
26. Também Jeroboão, filho de Nabat, efrateu de Sareda (filho de uma viúva chamada Sarva), que estava a serviço de Salomão, revoltou-se contra o rei.
27. Eis em que circunstâncias ele se revoltou contra o rei: Salomão construía Milo para fechar a brecha da cidade de Davi, seu pai.
28. Ora, Jeroboão era um jovem enérgico, e Salomão, vendo-o tão laborioso, confiou-lhe a superintendência de todos os trabalhadores da casa de José.
29. E aconteceu que um dia, saindo Jeroboão de Jerusalém, encontrou-se em caminho com o profeta Aías de Silo, vestido com um manto novo. Estavam os dois sós no campo.
30. Então Aías, tomando o manto novo que trazia, rasgou-o em doze pedaços.
31. Toma para ti dez pedaços, disse ele a Jeroboão, pois isto diz o Senhor, Deus de Israel: Vou arrancar o reino das mãos de Salomão, e dar-te-ei dez tribos.
32. Mas, em atenção ao meu servo Davi e à cidade de Jerusalém, que escolhi dentre todas as tribos de Israel, ficar-lhe-á ainda uma tribo.
33. Abandonaram-me, prostraram-se diante de Astarte, deusa dos sidônios, diante de Camos, deus de Moab e diante de Melcom, deus dos amonitas. Não andaram em meus caminhos, para fazer o que é bom diante de meus olhos e observar minhas leis e ordens, como o fez Davi, pai de Salomão.
34. Contudo, não lhe tirarei todo o reino, mas deixá-lo-ei governar todos os dias de sua vida, por amor de meu servo Davi, a quem escolhi, o qual guardou os meus mandamentos e os meus preceitos.
35. Tirarei, porém, o reino das mãos do filho de Salomão, para dar-te dez tribos.
36. Deixarei uma tribo ao seu filho, para que meu servo Davi tenha sempre uma lâmpada diante de mim em Jerusalém, cidade que escolhi para estabelecer nela o meu nome.
37. Tomo-te, pois, para reinares sobre tudo o que possas desejar. Serás rei de Israel.
38. E se obedeceres a todas as minhas ordens, se andares pelos meus caminhos, se fizeres o bem diante de mim, observando os meus preceitos e os meus mandamentos, como fez meu servo Davi, eu estarei contigo. Edificar-te-ei uma casa estável, como edifiquei para Davi, e te entregarei Israel.
39. Humilharei assim a descendência de Davi, mas não para sempre.
40. Salomão procurou matar Jeroboão, mas este fugiu para junto do rei Sesac, no Egito, onde permaneceu até a morte de Salomão.
41. O resto da história de Salomão, todos os seus atos, a sua sabedoria, tudo está escrito no livro dos Atos de Salomão.
42. Salomão reinou sobre todo o Israel durante quarenta anos, em Jerusalém. Depois adormeceu com seus pais e foi enterrado na cidade de seu pai Davi. Roboão, seu filho, tornou-se rei em seu lugar.

 
Capítulo 12

1. Roboão foi a Siquém, porque todo o Israel se tinha juntado ali para proclamá-lo rei.
2. E chegou essa notícia aos ouvidos de Jeroboão no Egito, onde ainda estava refugiado para escapar à face do rei Salomão.
3. Mandaram, pois, buscá-lo no Egito, onde habitava. Então Jeroboão foi com toda a assembléia de Israel e disseram a Roboão:
4. Teu pai impôs-nos um jugo pesado; alivia agora a rude servidão e o pesado jugo que teu pai nos impôs, e seremos teus servos.
5. Ele respondeu-lhes: Ide-vos e voltai à minha presença dentro de três dias. E o povo retirou-se.
6. O rei Roboão consultou os anciãos que tinham servido ao seu pai Salomão durante a sua vida. Disse-lhes: Que me aconselhais responder a esse povo?
7. Se hoje fores amável com esse povo, responderam-lhe, e cederes, se lhe falares com benevolência, eles serão para sempre teus servos.
8. O rei, porém, deixando de lado o conselho dos anciãos, foi consultar os jovens que tinham crescido com ele e eram seus familiares.
9. Disse-lhes: E vós, que me aconselhais responder ao povo? Ele pede-me que eu alivie o jugo que lhe impôs meu pai.
10. Os jovens que tinham crescido com ele, responderam-lhe: Assim dirás a esse povo que te falou, dizendo: Teu pai tornou o nosso jugo pesado; tu, porém, alivia-nos – assim lhe dirás: Meu dedo mínimo é mais grosso que os rins de meu pai.
11. Se meu pai vos impôs um jugo pesado, eu o farei ainda mais pesado. Se ele vos castigou com açoites, eu vos castigarei com escorpiões.
12. Chegou o terceiro dia. Jeroboão, seguido de uma grande multidão, apresentou-se diante de Roboão, pois ele dissera: Voltai a mim dentro de três dias.
13. O rei falou com dureza ao povo. Sem fazer caso algum do conselho dos anciãos,
14. respondeu ao povo como lhe aconselharam os jovens: Meu pai impôs-vos um jugo pesado? Pois eu o tornarei ainda mais pesado. Meu pai vos castigou com açoites? Pois eu vos castigarei com escorpiões.
15. E o rei não atendeu ao povo, porque assim o dispusera o Senhor, para realizar a palavra que tinha dito a Jeroboão, filho de Nabat, por meio de Aías, de Silo.
16. Vendo que o rei não os atendia, o povo respondeu-lhe: Que temos nós a ver com Davi? Que temos nós de comum com o filho de Isaí? Vai, pois, para as tuas tendas, ó Israel! Cabe a ti tratar de tua casa, ó Davi! E os israelitas retiraram-se para as suas tendas.
17. Roboão reinou, no entanto, sobre os israelitas que habitavam em Judá.
18. O rei Roboão enviou Adurão, superintendente dos trabalhos, mas os israelitas apedrejaram-no e ele morreu. O rei subiu então precipitadamente no seu carro e fugiu para Jerusalém.
19. Desse modo, separou-se Israel da casa de Davi até o dia de hoje.
20. Ouvindo os filhos de Israel que Jeroboão tinha voltado, convidaram-no à sua assembléia e aclamaram-no rei de todo o Israel. Só a tribo de Judá ficou fiel à casa de Davi.
21. Roboão, quando chegou a Jerusalém, reuniu toda a casa de Judá e a tribo de Benjamim, cento e oitenta mil guerreiros de escol, a fim de pelejar contra a casa de Israel, e restituir todo o reino a Roboão, filho de Salomão.
22. Mas Deus falou a Seméias, homem de Deus:
23. Fala a Roboão, filho de Salomão, rei de Judá, bem como a toda a casa de Judá e de Benjamim, e a todo o resto do povo. Dize-lhes: Eis o que diz o Senhor:
24. Não façais guerra aos vossos irmãos, os israelitas. Volte cada um para a sua casa. Tudo isto se fez por minha vontade. Eles obedeceram à palavra do Senhor e voltaram, como lhes ordenara.
25. Jeroboão construiu Siquém na montanha de Efraim, e residiu ali. Depois deixou Siquém para edificar Fanuel.
26. E disse consigo mesmo: Pode bem ser que o reino volte para a casa de Davi.
27. Se o povo subir a Jerusalém para oferecer sacrifícios no templo do Senhor, e o seu coração se voltar para o seu senhor, Roboão, rei de Judá, matar-me-ão e se voltarão para Roboão, rei de Judá.
28. Depois de ter refletido bem, o rei mandou fazer dois bezerros de ouro e disse ao povo: Basta de peregrinações a Jerusalém! Eis aqui, ó Israel, o teu Deus que te tirou do Egito.
29. Pôs um bezerro em Betel e outro em Dã.
30. Isso foi uma ocasião de pecado, porque o povo ia até Dã para adorar um desses bezerros.
31. Jeroboão construiu também templos em lugares altos, onde estabeleceu como sacerdotes homens tirados do meio do povo, e que não eram levitas.
32. Instituiu também uma festa no oitavo mês, no décimo quinto dia do mês, à semelhança da que se celebrava em Judá, e subiu ao altar. Fez o mesmo em Betel, sacrificando aos bezerros que tinha mandado fazer. Estabeleceu igualmente em Betel sacerdotes para os lugares altos que tinha edificado.
33. No décimo quinto dia do oitavo mês, isto é, no mês que tinha escolhido a seu bel-prazer, subiu ao altar que tinha edificado em Betel para celebrar a festa com os israelitas. Subiu ao altar para queimar o incenso.

 
Capítulo 13

1. Ora, estando ele de pé diante do altar para queimar o incenso, eis que sobreveio um homem de Deus, vindo de Judá por ordem do Senhor;
2. este se pôs a clamar contra o altar da parte do Senhor, nestes termos: Altar! Altar! Eis o que diz o Senhor: Na casa de Davi nascerá um filho que se chamará Josias; ele imolará sobre ti os sacerdotes dos lugares altos, que agora queimam ofertas sobre ti, e queimar-se-ão sobre ti ossos humanos.
3. Ao mesmo tempo anunciou o homem de Deus um prodígio, dizendo: Eis a prova de que é o Senhor quem fala: o altar vai-se fender e a cinza que está por cima se derramará por terra.
4. Ao ouvir a ameaça que o homem de Deus proferia contra o altar de Betel, o rei Jeroboão levantou a mão do altar, e disse: Prendei-o. Secou-se-lhe, porém, a mão que estendera contra o homem, de modo que não a pôde trazer a si.
5. O altar fendeu-se e espalhou-se a cinza que estava sobre ele, assim como o dissera o homem de Deus da parte do Senhor.
6. Então disse o rei ao homem de Deus: Aplaca o Senhor, teu Deus, e roga por mim para que me seja restituída a mão. O homem de Deus aplacou o Senhor, e o rei pôde trazer de novo a si a mão, que se tornou tal como era antes.
7. O rei disse ao homem de Deus: Vem comigo a minha casa para restaurar as tuas forças, e dar-te-ei um presente.
8. Mas o homem de Deus respondeu ao rei: Ainda que me desses a metade de tua casa, eu não iria contigo. Não comerei pão, nem beberei água nesse lugar,
9. porque o Senhor me ordenou que não comesse pão, nem bebesse água, e tampouco voltasse pelo mesmo caminho por onde vim.
10. Partiu, pois, de Betel por outro caminho e não tomou aquele por onde viera.
11. Ora, habitava em Betel um profeta já idoso, a quem seus filhos contaram tudo o que o homem de Deus fizera naquele dia em Betel, e o que ele dissera ao rei. O pai disse-lhes: Por onde se foi ele?
12. Seus filhos mostraram-lhe o caminho que tomara o homem de Deus vindo de Judá, ao partir.
13. Ele disse aos seus filhos: Selai o meu jumento. Tendo-o eles selado, montou nele o profeta,
14. e partiu em busca do homem de Deus. Encontrou-o sentado ao pé de um terebinto, e disse-lhe: És tu o homem de Deus que veio de Judá?
15. Sim, respondeu ele. O velho profeta continuou: Vem comigo para comeres em minha casa.
16. Não posso voltar, respondeu ele, nem ir contigo à tua casa. Não comerei pão, nem beberei água contigo nesse lugar,
17. porque recebi do Senhor a ordem de não comer pão, nem beber água, nem tampouco voltar pelo mesmo caminho por onde vim.
18. Mas eu sou também profeta como tu, insistiu o outro. Ora, um anjo me falou da parte do Senhor: Leva-o contigo à tua casa e dá-lhe de comer. Era mentira.
19. O homem de Deus voltou com ele e comeu em sua casa.
20. Enquanto estavam à mesa, o Senhor falou ao profeta que o tinha feito voltar,
21. e este interpelou o homem de Deus, vindo de Judá, nestes termos: Eis o que diz o Senhor: Desobedeceste à palavra do Senhor e não cumpriste a ordem que o Senhor, teu Deus, te havia dado:
22. voltaste e comeste num lugar do qual Deus te dissera: Não comerás pão ali, nem beberás água. Por isso teu cadáver não será levado ao sepulcro de teus pais.
23. Depois de ter comido, o velho profeta mandou selar um jumento para o seu hóspede, e este partiu.
24. Enquanto caminhava, o homem de Deus encontrou no caminho um leão, que o matou. Seu cadáver ficou estendido no caminho, tendo ao seu lado o jumento e o leão.
25. Alguns que passavam por ali, vendo o cadáver estendido por terra e junto dele o leão, foram e divulgaram a notícia na cidade onde morava aquele velho profeta.
26. Ouvindo isto, o velho profeta, que tinha levado à sua casa o homem de Deus, exclamou: É o homem de Deus que foi desobediente à ordem do Senhor; e o Senhor o entregou a um leão que o despedaçou e matou, como o Senhor lho predissera.
27. E disse em seguida aos seus filhos: Selai o meu jumento. Eles selaram-no,
28. o profeta partiu, e encontrou o cadáver estendido no caminho, tendo ao seu lado o jumento e o leão. O leão não tinha devorado o cadáver, nem dilacerado o jumento.
29. Tomou então o profeta o cadáver do homem de Deus, pô-lo em cima do seu jumento, e levou-o para a cidade a fim de pranteá-lo e dar-lhe sepultura.
30. Depositou-o em seu próprio túmulo, e pranteou-o, dizendo: Ai, meu irmão!
31. Depois do enterro disse o ancião aos seus filhos: Quando eu morrer, sepultar-me-eis no túmulo onde repousa o homem de Deus; depositareis os meus ossos junto do seus.
32. Porque se cumprirá a ameaça que ele fez da parte do Senhor contra o altar de Betel e contra todos os templos dos lugares altos das cidades da Samaria.
33. Depois dessas coisas, Jeroboão não se converteu de sua péssima vida, mas continuou a tomar homens do meio do povo e constituí-los sacerdotes dos lugares altos: a todo o que desejasse, investia no cargo sacerdotal e o estabelecia nos lugares altos.
34. Isto tornou-se para a casa de Jeroboão um ocasião de pecado, que causou a sua perda e o seu extermínio da face da terra.

 
Capítulo 14

1. Por aquele tempo, Abias, filho de Jeroboão, caiu doente. Jeroboão disse à sua mulher:
2. Disfarça-te, para que não conheçam que és minha mulher, e vai a Silo, onde está o profeta Aías, o qual me predisse que eu reinaria sobre este povo.
3. Toma contigo dez pães, bolos e um pote de mel, e vai ter com ele. Ele te dirá o que vai acontecer com o menino.
4. Assim fez a mulher de Jeroboão: pôs-se a caminho para Silo, e foi à casa de Aías. Este já não podia ver, porque a velhice lhe tinha obscurecido os olhos.
5. Mas o Senhor disse-lhe: Eis que aí vem a mulher de Jeroboão para consultar-te a respeito de seu filho doente. Dir-lhe-ás isto e isto. Ao chegar, ela se fará passar por outra.
6. Ouvindo o ruído dos seus passos, ao entrar pela porta, Aías disse-lhe: Entra, mulher de Jeroboão; por que te queres fazer passar por outra? Tenho uma triste mensagem para ti.
7. Vai e dize a Jeroboão: Eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: Elevei-te do meio do povo, para fazer de ti o príncipe de meu povo de Israel.
8. Dividi o reino da casa de Davi para dar-te uma parte. Tu, porém, não seguiste o exemplo de meu servo Davi, que guardava os meus mandamentos e me seguia de todo o seu coração, fazendo sempre o que me era agradável.
9. Fizeste maiores males que todos os que te precederam, e chegaste até a fazer para ti deuses estranhos e figuras fundidas, provocando a minha ira; lançaste-me para trás das costas!
10. Por isso farei vir males maiores sobre a casa de Jeroboão; exterminarei de Israel toda a sua família, até o último dos varões, escravo ou livre; varrerei a casa de Jeroboão como se varre o lixo, até que não fique mais nada.
11. Todo membro da casa de Jeroboão que morrer na cidade será devorado pelos cães; e os que morrerem no campo serão comidos pelas aves do céu. É o Senhor quem o diz.
12. Volta, pois, para a tua casa. Logo que puseres os pés na cidade, o menino morrerá.
13. Todo o Israel o chorará e o sepultará, porque este será o único da família de Jeroboão que terá uma sepultura, visto ter sido o único desta família em quem o Senhor, Deus de Israel, encontrou algo de bom.
14. O Senhor suscitará em Israel um rei que exterminará a casa de Jeroboão. Mas que digo? Isto já acontece!
15. O Senhor vai ferir Israel. Como o caniço é levado pelas águas, assim o Senhor os tirará dessa boa terra que ele deu aos seus pais e os dispersará para além do Eufrates, porque fabricaram para si ídolos que provocam a cólera do Senhor.
16. O Senhor abandonará Israel, por causa dos pecados de Jeroboão, que pecou e arrastou também Israel ao seu pecado.
17. A mulher de Jeroboão levantou-se e partiu. Ao entrar em Tersa, no momento em que entrava pela porta da casa, o menino morreu.
18. Sepultaram-no e todo o Israel o pranteou, assim como o Senhor o predisse pelo seu servo, o profeta Aías.
19. O resto das ações de Jeroboão, a história de suas campanhas e de seu governo, tudo isto está consignado no livro das crônicas dos reis de Israel.
20. O seu reinado durou vinte e dois anos. Depois disso, adormeceu com seus pais, e seu filho Nadab sucedeu-lhe no trono.
21. Roboão, filho de Salomão, reinou sobre Judá. Tinha quarenta e um anos quando começou a reinar, e reinou dezessete anos em Jerusalém, a cidade que o Senhor escolheu entre todas as tribos de Israel para ali estabelecer o seu nome. Sua mãe chamava-se Naama, a amonita.
22. O povo de Judá fez o mal diante do Senhor, e com os seus pecados excitaram-lhe o zelo mais do que tinham feito os seus pais.
23. Edificaram para si lugares altos, estelas e ídolos asserás sobre todas as colinas e debaixo de tudo que fosse árvore verde.
24. Até prostitutas (sagradas) houve na terra. Imitaram todas as abominações dos povos que o Senhor tinha expulsado de diante dos israelitas.
25. No quinto ano do reinado de Roboão, Sesac, rei do Egito, atacou Jerusalém
26. e tomou os tesouros do templo do Senhor, os do palácio real, roubou tudo, até mesmo os escudos de ouro que Salomão tinha mandado fazer.
27. Em sua substituição, o rei Roboão mandou fazer escudos de bronze, e os entregou aos chefes da guarda da porta do palácio real.
28. Cada vez que o rei se dirigia ao templo do Senhor, os guardas levavam esses escudos; depois tornavam a colocá-los no corpo da guarda.
29. O resto da história de Roboão e seus atos, tudo está consignado no livro das Crônicas dos reis de Judá.
30. Jeroboão e Roboão estiveram continuamente em hostilidades.
31. Roboão adormeceu com os seus pais e foi sepultado com eles na cidade de Davi. Sua mãe chamava-se Naama, a amonita. Seu filho Abião sucedeu-lhe no trono.

 
Capítulo 15

1. No décimo oitavo ano do reinado de Jeroboão, filho de Nabat, Abião tornou-se rei de Judá.
2. Reinou três anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Maaca, filha de Absalão.
3. Abião entregou-se a todos os pecados que seu pai tinha cometido antes dele. Seu coração não era inteiramente fiel ao Senhor, como o de seu pai Davi.
4. Todavia, o Senhor, seu Deus, em atenção a Davi, conservou-lhe uma lâmpada em Jerusalém: deu-lhe um filho que lhe sucedeu, e deixou subsistir Jerusalém.
5. Porque Davi tinha feito o que era reto aos olhos do Senhor, e não se tinha jamais desviado em toda a sua vida de um só dos mandamentos que recebera, exceto o que se passou com Urias, o hiteu.
6. Houve hostilidades contínuas entre Roboão e Jeroboão durante toda a sua vida.
7. O resto da história de Abião e seus atos, tudo se acha consignado no livro das Crônicas dos reis de Judá. Abião e Jeroboão guerrearam também entre si.
8. Depois disso, Abião adormeceu com seus pais e foi sepultado na cidade de Davi. Seu filho Asa sucedeu-lhe no trono.
9. No vigésimo ano de Jeroboão, rei de Israel, Asa tornou-se rei de Judá, e reinou quarenta e um anos em Jerusalém.
10. Sua mãe chamava-se Maaca, filha de Absalão.
11. Asa fez o que é reto aos olhos do Senhor, como Davi, seu pai.
12. Expulsou da terra as prostitutas (sagradas) e acabou com todos os ídolos que seus pais tinham feito.
13. Além disso, destituiu da dignidade de rainha sua própria mãe Maaca, por ter feito essa vergonha de asserá. Asa despedaçou esse ídolo e queimou-o no vale de Cedron.
14. Embora não tenham desaparecido os lugares altos, o coração de Asa foi inteiramente devotado ao Senhor durante toda a sua vida.
15. Pôs no templo do Senhor todos os objetos consagrados por seu pai e por ele mesmo, a prata, o ouro e os utensílios.
16. Asa e Baasa, rei de Israel, guerrearam-se mutuamente durante toda a sua vida.
17. Baasa, rei de Israel, atacou Judá e fortificou Ramá, a fim de bloquear todas as suas comunicações com Asa, rei de Judá.
18. Asa, porém, tomando toda a prata e o ouro que restavam nas reservas do templo do Senhor e do palácio real, pô-los nas mãos de seus servos que enviou a Ben-Hadad, filho de Tabremon, filho de Hezion, rei da Síria, que residia em Damasco, com esta mensagem:
19. Façamos aliança, assim como foram aliados o teu pai e o meu. Mando-te um presente de prata e ouro, e peço-te que rompas tua aliança com Baasa, rei de Israel, para que ele cesse de me importunar.
20. Ben-Hadad acedeu ao desejo do rei Asa; mandou seus generais contra as cidades de Israel, e devastou Aion, Dã, Abel, Bet-Maaca, todo o Cenerot com a terra de Neftali.
21. Ao saber disso, Baasa abandonou a fortificação de Ramá e retirou-se para Tersa.
22. Então o rei Asa convocou toda a tribo de Judá, sem exceção de ninguém, para tirar as pedras e a madeira de que Baasa se tinha servido para as fortificações de Ramá. Com esse material, Asa fortificou Gabaa de Benjamim e Masfa.
23. O resto da história de Asa, seus grandes feitos, seus atos e as cidades que construiu, tudo isso se acha consignado no livro das Crônicas dos reis de Judá. Com a velhice sobreveio-lhe a gota nos pés.
24. Adormeceu com seus pais e foi sepultado com eles na cidade de Davi, seu pai. Seu filho Josafá sucedeu-lhe no trono.
25. No segundo ano de Asa, rei de Judá, Nadab, filho de Jeroboão, tornou-se rei de Israel. Reinou dois anos em Israel.
26. Ele fez o mal aos olhos do Senhor, imitou o seu pai, entregando-se ao pecado ao qual Jeroboão havia arrastado Israel.
27. Baasa, filho de Aías, da casa de Issacar, conspirou contra ele, e assassinou-o diante de Gebeton dos filisteus, no tempo em que Nadab e todo o Israel sitiavam essa cidade.
28. Baasa, no terceiro ano de Asa, rei de Judá, cometeu esse crime e sucedeu-lhe no trono.
29. Logo que subiu ao trono, exterminou toda a casa de Jeroboão, não deixando alma viva. Exterminou-os completamente, como havia predito o Senhor pelo seu servo Aías, de Silo,
30. por causa dos pecados que Jeroboão cometeu e levou Israel a cometer, provocando assim a cólera do Senhor, Deus de Israel.
31. O resto da história de Nadab e suas ações, tudo está consignado no livro das Crônicas dos reis de Israel.
32. Asa e Baasa, rei de Israel, guerrearam-se mutuamente durante todo o tempo de sua vida.
33. No terceiro ano de Asa, rei de Judá, Baasa, filho de Aías, tornou-se rei de Israel. Residia em Tersa, e reinou vinte e quatro anos.
34. Baasa fez o mal diante do Senhor; andou no caminho de Jeroboão, e entregou-se ao pecado ao qual Jeroboão arrastara Israel.

 
Capítulo 16

1. A palavra do Senhor foi dirigida a Jeú, filho de Hanani, contra Baasa, nestes termos:
2. Levantei-te do pó e estabeleci-te príncipe do meu povo de Israel; tu, porém, andaste pelo caminho de Jeroboão, e levaste meu povo de Israel a cometer pecados que excitam a minha cólera.
3. Por isso vou varrer Baasa e sua casa, e farei da sua casa o que fiz da casa de Jeroboão, filho de Nabat.
4. Todo membro da família de Baasa que morrer na cidade, será comido pelos cães; o que morrer no campo, comê-lo-ão as aves do céu.
5. O resto da história de Baasa, suas ações e seus grandes feitos, tudo isso se acha consignado no livro das Crônicas dos reis de Israel.
6. Baasa adormeceu com seus pais e foi enterrado em Tersa. Seu filho Ela sucedeu-lhe no trono.
7. O oráculo do Senhor, transmitido pelo profeta Jeú, filho de Hanani, fora pronunciado contra Baasa e sua casa, não só por causa de todo o mal que ele tinha feito aos olhos do Senhor, irritando-o com o seu proceder e imitando a casa de Jeroboão, mas também porque Baasa tinha destruído essa casa.
8. No vigésimo sexto ano de Asa, rei de Judá, Ela, filho de Baasa, tornou-se rei de Israel. Residia em Tersa e reinou dois anos.
9. Seu servo Zambri, que comandava a metade de sua cavalaria, conspirou contra ele. Numa ocasião em que ele bebia e se embriagava em Tersa, na casa de Arsa, intendente de seu palácio nessa cidade,
10. entrou Zambri e o assassinou, sucedendo-lhe no trono, no vigésimo sétimo ano de Asa, rei de Judá.
11. Logo que ficou rei e sentou-se no trono, mandou exterminar toda a casa de Baasa, não deixando vivo nenhum filho varão, nenhum parente, nenhum amigo.
12. Desse modo, exterminou toda a casa de Baasa, assim como o Senhor o predissera contra Baasa pela boca do profeta Jeú.
13. Tal foi o castigo de todos os pecados que Baasa e seu filho Ela tinham cometido e levado Israel a cometer, provocando com o culto dos ídolos a cólera do Senhor, Deus de Israel.
14. resto da história de Ela e suas ações, tudo está consignado no livro das Crônicas dos reis de Israel.
15. No vigésimo sétimo ano de Asa, rei de Judá, Zambri reinou em Tersa durante sete dias. O exército sitiava Gebeton dos filisteus.
16. Quando o exército, que estava acampado ali, ouviu dizer que Zambri tinha conspirado contra o rei e o assassinara, todo o Israel constituiu imediatamente como seu rei o general Amri.
17. Este partiu de Gebeton com todo o Israel e veio sitiar Tersa.
18. Zambri, vendo a cidade tomada, retirou-se para o fortim do palácio real e incendiou o palácio. Morreu assim
19. pelos pecados que tinha cometido, fazendo o mal aos olhos do Senhor, imitando o proceder de Jeroboão e entregando-se ao pecado ao qual Jeroboão arrastara Israel.
20. O resto da história de Zambri e sua conjuração, tudo está consignado no livro das Crônicas dos reis de Israel.
21. Então se dividiu o povo de Israel em duas facções: metade era por Tebni, filho de Ginet, e queria fazê-lo rei, e metade por Amri.
22. O partido de Amri prevaleceu contra o de Tebni, filho de Ginet. Tebni morreu, e reinou Amri.
23. No trigésimo primeiro ano de Asa, rei de Judá, Amri tornou-se rei de Israel e reinou durante doze anos. Depois de ter reinado seis anos em Tersa,
24. comprou o monte de Samaria a Somer por duzentos talentos de prata. Construiu uma cidade nesse monte e chamou-a Samaria, do nome de Somer, a quem pertencera o monte.
25. Amri fez o mal aos olhos do Senhor, mais ainda que todos os seus predecessores.
26. Andou por todo o caminho de Jeroboão, filho de Nabat, e nos pecados com que este fizera pecar Israel, provocando com seus ídolos a cólera do Senhor, Deus de Israel.
27. O resto da história de Amri, suas ações e seus grandes feitos, tudo isso se acha consignado no livro das Crônicas dos reis de Israel.
28. Amri adormeceu com seus pais e foi sepultado em Samaria. Seu filho Acab sucedeu-lhe no trono.
29. No trigésimo oitavo ano de Asa, rei de Judá, Acab, filho de Amri, tornou-se rei de Israel e reinou vinte e dois anos sobre Israel em Samaria.
30. Acab, filho de Amri, fez o mal aos olhos do Senhor, e mais ainda que todos os seus predecessores.
31. Como se lhe não bastasse o andar nos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, desposou ainda Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, e chegou até a render culto a Baal, prostrando-se diante dele.
32. Erigiu um altar a Baal no templo que lhe edificou em Samaria.
33. Acab fez também a asserá, irritando assim o Senhor, Deus de Israel, mais ainda que todos os seus predecessores no trono de Israel.
34. No tempo de Acab, Hiel de Betel reconstruiu Jericó. Lançou-lhe os alicerces ao preço de Abirão, seu primogênito, e pôs-lhe as portas ao preço de Segub, seu último filho, assim como o Senhor o predissera pela boca de Josué, filho de Num.

 
Capítulo 17

1. Elias, o tesbita, um habitante de Galaad, veio dizer a Acab: Pela vida do Senhor, Deus de Israel, a quem sirvo, não haverá nestes anos orvalho nem chuva, senão quando eu o disser.
2. Em seguida, a palavra do Senhor foi-lhe dirigida nestes termos:
3. Vai-te daqui; retira-te para as bandas do oriente e vai esconder-te na torrente de Carit, que está defronte do Jordão.
4. Beberás da torrente, e ordenei aos corvos que te alimentem.
5. Elias partiu, pois, segundo a palavra do Senhor, e estabeleceu-se junto à torrente de Carit, defronte do Jordão.
6. Os corvos traziam-lhe pão e carne, pela manhã e pela tarde, e ele bebia a água da torrente.
7. Passado algum tempo, secou-se a torrente, porque não chovia mais na terra.
8. Então o Senhor disse-lhe:
9. Vai para Sarepta de Sidon e fixa-te ali: ordenei a uma viúva desse lugar que te sustente.
10. Elias pôs-se a caminho para Sarepta. Chegando à porta da cidade, viu uma viúva que ajuntava lenha. Chamou-a e disse-lhe: Por favor, vai buscar-me um pouco de água numa vasilha para que eu beba.
11. E indo ela buscar-lhe a água, gritou-lhe Elias: Traze-me também um pedaço de pão.
12. Pela vida de Deus, respondeu a mulher, não tenho pão cozido: só tenho um punhado de farinha na panela e um pouco de óleo na ânfora; estava justamente apanhando dois pedaços de lenha para preparar esse resto para mim e meu filho, a fim de o comermos, e depois morrermos.
13. Elias replicou: Não temas; volta e faze como disseste; mas prepara-me antes com isso um pãozinho, e traze-mo; depois prepararás o resto para ti e teu filho.
14. Porque eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: a farinha que está na panela não se acabará, e a ânfora de azeite não se esvaziará, até o dia em que o Senhor fizer chover sobre a face da terra.
15. A mulher foi e fez o que disse Elias. Durante muito tempo ela teve o que comer, e a sua casa, e Elias.
16. A farinha não se acabou na panela nem se esgotou o óleo da ânfora, como o Senhor o tinha dito pela boca de Elias.
17. Algum tempo depois, o filho desta mulher, dona da casa, adoeceu, e seu mal era tão grave que já não respirava.
18. A mulher disse a Elias: Que há entre nós dois, homem de Deus? Vieste, pois, à minha casa para lembrar-me os meus pecados e matar o meu filho?
19. Dá-me o teu filho, respondeu-lhe Elias. Ele tomou-o dos braços de sua mãe e levou-o ao quarto de cima onde dormia e deitou-o em seu leito.
20. Em seguida, orou ao Senhor, dizendo: Senhor, meu Deus, até a uma viúva, que me hospeda, quereis afligir, matando-lhe o filho?
21. Estendeu-se em seguida sobre o menino por três vezes, invocando de novo o Senhor: Senhor, meu Deus, rogo-vos que a alma deste menino volte a ele.
22. O Senhor ouviu a oração de Elias: a alma do menino voltou a ele, e ele recuperou a vida.
23. Elias tomou o menino, desceu do quarto superior ao interior da casa e entregou-o à mãe, dizendo: Vê: teu filho vive.
24. A mulher exclamou: Agora vejo que és um homem de Deus e que a palavra de Deus está verdadeiramente em teus lábios.

 
Capítulo 18

1. Passado muito tempo, foi a palavra de Deus dirigida a Elias no terceiro ano, nestes termos: Vai apresentar-te diante de Acab, eu vou fazer chover sobre a terra.
2. Elias partiu e foi apresentar-se a Acab. A fome devastava violentamente a Samaria.
3. Acab mandou chamar Abdias, seu intendente. Abdias era um homem fervoroso adorador do Senhor.
4. Quando Jezabel massacrou os profetas do Senhor, Abdias tomou cem profetas e escondeu-os em duas cavernas, cinqüenta numa e cinqüenta noutra, onde lhes tinha providenciado o que comer e beber.
5. Acab disse-lhe: Percorre a terra; vai a todas as fontes e a todas as torrentes; talvez encontremos erva para conservar a vida aos cavalos e aos burros, evitando assim abater uma parte de nossos animais.
6. E repartiram entre si a terra para percorrê-la. Acab foi por um lado, sozinho, e Abdias tomou uma direção contrária.
7. Enquanto Abdias caminhava, eis que veio Elias ao seu encontro. Abdias reconheceu-o e prostrou-se com o rosto por terra, dizendo: És tu, meu senhor Elias?
8. Sim, sou eu. Vai dizer ao teu amo: Elias está aí.
9. Abdias replicou: Que pecado cometi eu, para que entregues assim o teu servo nas mãos de Acab, para ele me matar?
10. Pela vida de Deus, não há nação, nem reino aonde meu amo não te tenha mandado buscar. E diziam: Elias não está aqui; e ele fazia jurar reino e povo que não te haviam achado.
11. E agora tu me dizes: Vai dizer ao teu amo: Elias está aí.
12. Mas quando eu me apartar de ti, o Espírito do Senhor te levará para não sei onde, e Acab, informado por mim, não te encontrando, matar-me-á. Ora, o teu servo teme o Senhor desde a sua juventude.
13. Porventura não foi dito ao meu senhor o que eu fiz quando Jezabel massacrava os profetas do Senhor? Escondi cem deles, cinqüenta numa caverna e cinqüenta noutra, e os sustentei ali.
14. E agora tu me dizes: Vai dizer ao teu amo: Elias está aí! Ele me matará!
15. Elias respondeu-lhe: Pela vida do Senhor dos Exércitos a quem sirvo, hoje mesmo me apresentarei diante de Acab.
16. Abdias correu para junto de Acab e deu-lhe a nova. Acab saiu ao encontro de Elias.
17. Ao vê-lo, Acab lhe disse: Eis-te aqui, o perturbador de Israel!
18. Não sou eu o perturbador de Israel, respondeu Elias, mas tu, sim, e a casa de teu pai, porque abandonastes os preceitos do Senhor e tu seguiste aos Baal.
19. Convoca, pois, à montanha do Carmelo, junto de mim, todo o Israel com os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas de asserá, que comem à mesa de Jezabel.
20. Mandou Acab avisar a todos os israelitas e reuniu os profetas no monte Carmelo.
21. Elias, aproximando-se de todo o povo, disse: Até quando claudicareis dos dois pés? Se o Senhor é Deus, segui-o, mas se é Baal, segui a Baal! O povo nada respondeu.
22. Elias continuou: Eu sou o único dos profetas do Senhor que fiquei, enquanto os de Baal são quatrocentos e cinqüenta.
23. Dê-se-nos, portanto, um par de novilhos: eles escolherão um, fá-lo-ão em pedaços, e o colocarão sobre a lenha, mas sem meter fogo por baixo; eu tomarei o outro novilho e pô-lo-ei sobre a lenha, sem meter fogo por baixo.
24. Depois disso, invocareis o nome de vosso deus, e eu invocarei o nome do Senhor. Aquele que responder pelo fogo, esse será reconhecido como o (verdadeiro) Deus. Todo o povo respondeu: É boa a proposta.
25. Então disse Elias aos profetas de Baal: Escolhei vós primeiro um novilho e preparai-o, porque sois mais numerosos, e invocai o vosso deus, mas não ponhais fogo.
26. Eles tomaram o novilho que lhes foi dado e fizeram-no em pedaços. Em seguida, puseram-se a invocar o nome de Baal desde a manhã até o meio-dia, gritando: Baal, responde-nos! Mas não houve voz, nem resposta. E dançavam ao redor do altar que tinham levantado.
27. Sendo já meio-dia, Elias escarnecia-os, dizendo: Gritai com mais força, pois (seguramente!) ele é deus; mas estará entretido em alguma conversa, ou ocupado, ou em viagem, ou estará dormindo… e isso o acordará.
28. Eles gritavam, com efeito, em alta voz, e retalhavam-se segundo o seu costume, com espadas e lanças, até se cobrirem de sangue.
29. Passado o meio-dia, enquanto continuavam em seus transes proféticos, chegou a hora da oblação. Mas não houve voz, nem resposta, nem sinal algum de atenção.
30. Então Elias disse ao povo: Aproximai-vos de mim, e todos se aproximaram. Elias reparou o altar demolido do Senhor.
31. Tomou doze pedras, segundo o número das doze tribos saídas dos filhos de Jacó, a quem o Senhor dissera: Tu te chamarás Israel.
32. E erigiu com essas pedras um altar ao Senhor. Fez em volta do altar uma valeta, com a capacidade de duas medidas de semente.
33. Dispôs a lenha e colocou sobre ela o boi feito em pedaços.
34. E disse: Enchei quatro talhas de água e derramai-a em cima do holocausto e da lenha. Depois disse: Fazei isso segunda vez. Tendo-o eles feito, disse: Ainda uma terceira vez. Eles obedeceram.
35. A água correu em volta do altar e a valeta ficou cheia.
36. Chegou a hora da oblação. O profeta Elias adiantou-se e disse: Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, saibam todos hoje que sois o Deus de Israel, que eu sou vosso servo e que por vossa ordem fiz todas estas coisas.
37. Ouvi-me, Senhor, ouvi-me: que este povo reconheça que vós, Senhor, sois Deus, e que sois vós que converteis os seus corações!
38. Então, subitamente, o fogo do Senhor baixou do céu e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a poeira e até mesmo a água da valeta.
39. Vendo isso, o povo prostrou-se com o rosto por terra, e exclamou: O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!
40. Elias disse-lhes: Tomai agora os profetas de Baal; não deixeis escapar um só deles! Tendo-os o povo agarrado, Elias levou-os ao vale de Cison e ali os matou.
41. Então Elias disse a Acab: Vai, come e bebe, porque já ouço o ruído de uma grande chuva.
42. Voltou Acab para comer e beber, enquanto Elias subiu ao cimo do monte Carmelo, onde se encurvou por terra, pondo a cabeça entre os joelhos.
43. Disse ao seu servo: Sobe um pouco, e olha para as bandas do mar. Ele subiu, olhou (o horizonte) e disse: Nada. Por sete vezes, Elias disse-lhe: Volta e (olha).
44. Na sétima vez o servo respondeu: Eis que, sobe do mar uma pequena nuvem, do tamanho da palma da mão. Elias disse-lhe: Vai dizer a Acab que prepare o seu carro e desça, para que a chuva não o detenha.
45. Num instante, o céu se cobriu de nuvens negras, soprou o vento e a chuva caiu torrencialmente. Acab subiu ao seu carro e partiu para Jezrael.
46. A mão do Senhor veio sobre Elias, o qual, tendo cingido os rins, passou adiante de Acab e chegou à entrada de Jezrael.

 
Capítulo 19

1. Quando Acab contou a Jezabel tudo o que fizera Elias, e como ele passara ao fio da espada todos os profetas de Baal,
2. a rainha mandou um mensageiro a Elias para dizer-lhe: Que os deuses me tratem com o último rigor, se amanhã, a esta mesma hora, eu não fizer de tua vida o que fizeste da deles.
3. Elias teve medo, e partiu para salvar a sua vida. Chegando a Bersabéia, em Judá, deixou ali o seu servo,
4. e andou pelo deserto um dia de caminho. Sentou-se debaixo de um junípero e desejou a morte: Basta, Senhor, disse ele; tirai-me a vida, porque não sou melhor do que meus pais.
5. Deitou-se por terra, e adormeceu debaixo do junípero. Mas eis que um anjo tocou-o, e disse: Levanta-te e come.
6. Elias olhou e viu junto à sua cabeça um pão cozido debaixo da cinza, e um vaso de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir.
7. Veio o anjo do Senhor uma segunda. vez, tocou-o e disse: Levanta-te e come, porque tens um longo caminho a percorrer.
8. Elias levantou-se, comeu e bebeu e, com o vigor daquela comida, andou quarenta dias e quarenta noites, até Horeb, a montanha de Deus.
9. Chegando ali, passou a noite numa caverna. Então a palavra do Senhor foi-lhe dirigida: Que fazes aqui, Elias?
10. Ele respondeu: Estou devorado de zelo pelo Senhor, o Deus dos exércitos. Porque os israelitas abandonaram a vossa aliança, derrubaram os vossos altares e passaram os vossos profetas ao fio da espada. Só eu fiquei, e querem tirar-me a vida.
11. O Senhor desse-lhe: Sai e conserva-te em cima do monte na presença do Senhor: ele vai passar. Nesse momento passou diante do Senhor um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos; mas o Senhor não estava naquele vento. Depois do vento, a terra tremeu; mas o Senhor não estava no tremor de terra.
12. Passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira.
13. Tendo Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna. Uma voz disse-lhe: Que fazes aqui, Elias?
14. Ele respondeu: Consumo-me de zelo pelo Senhor, Deus dos exércitos. Porque os israelitas abandonaram a vossa aliança, derrubaram os vossos altares e passaram os vossos profetas ao fio da espada. Só eu fiquei, e agora querem tirar-me a vida.
15. O Senhor disse-lhe: Retoma o caminho do deserto, na direção de Damasco. Ali chegando, ungirás Hazael como rei da Síria,
16. Jeú, filho de Namsi, como rei de Israel, e Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meula, como profeta em teu lugar.
17. Todo o que escapar à espada de Hazael, será morto por Jeú, e o que escapar à de Jeú, será morto por Eliseu.
18. Mas reservarei em Israel sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal, e cujos lábios não o beijaram.
19. Elias, partindo dali, encontrou Eliseu, filho de Safat, lavrando com doze juntas de bois diante dele; ele mesmo conduzia a duodécima junta. Elias aproximou-se e jogou o seu manto sobre ele.
20. Eliseu, deixando imediatamente os seus bois, correu atrás de Elias, e disse: Deixa-me ir beijar meu pai e minha mãe, depois te seguirei. Vai, disse-lhe Elias, mas volta, porque sabes o que te fiz.
21. Eliseu, deixando Elias, tomou uma junta de bois e imolou-os. Com a lenha do arado cozeu as carnes e deu-as a comer à sua gente. Em seguida partiu e seguiu Elias, para servi-lo.

 
Capítulo 20

1. Ben-Hadad, rei da Síria, mobilizou todo o seu exército. Tinha com ele trinta e dois reis, cavalos e carros. Subiu, pôs o cerco diante de Samaria e atacou-a.
2. Mandou mensageiros a Acab, rei de Israel, na cidade, com esta mensagem:
3. Eis o que diz Ben-Hadad: Tua prata e teu ouro são meus. São minhas as tuas mulheres e os mais belos de teus filhos.
4. Como tu dizes, meu senhor e rei, respondeu Acab, eu sou teu com tudo o que me pertence.
5. Mas os mensageiros voltaram e disseram: Isto diz Ben-Hadad: Mandou-te dizer: dá-me tua prata e teu ouro, tuas mulheres e teus filhos.
6. Amanhã, pois, a esta mesma hora, mandarei os meus servos à tua casa; eles a revistarão, assim como as casas de teus servos; tomarão com as suas mãos tudo o que lhes aprouver.
7. Então o rei de Israel convocou todos os anciãos da terra e disse-lhes: Considerai e vede que esse homem quer a nossa perda. Quando me mandou pedir minhas mulheres, meus filhos, minha prata e meu ouro, nada lhe recusei.
8. Os anciãos e todo o povo disseram-lhe: Não lhe dês ouvidos, nem o atendas em nada.
9. Acab respondeu aos mensageiros de Ben-Hadad: Dizei ao rei, meu senhor: estou pronto a fazer o que pediste ao teu servo da primeira vez; mas o que agora exiges, não o posso consentir. Os mensageiros foram-se e deram tal resposta ao rei.
10. Ben-Hadad mandou dizer a Acab: Que os deuses me tratem com o mais extremo rigor, se o pó da Samaria bastar para encher o côncavo da mão dos guerreiros que me seguem!
11. O rei de Israel, respondendo, disse: Dizei-lhe que aquele que põe o seu cinturão não deve gloriar-se como aquele que o tira.
12. Recebendo esta resposta, Ben-Hadad, que estava bebendo nas suas tendas com os reis, disse à sua gente: Aos vossos postos! E eles ordenaram as tropas para o ataque à cidade.
13. Nesse momento, um profeta aproximou-se de Acab, rei de Israel, e disse-lhe: Eis o que diz o Senhor: Vês esta imensa multidão? Pois declaro-te que hoje te entrego nas mãos, para que saibas que eu sou o Senhor.
14. Acab perguntou: Por quem será ela entregue? O profeta respondeu: Assim fala o Senhor: Por meio dos servos dos chefes de províncias. Quem começará o combate? Tu mesmo.
15. Acab passou em revista os servos dos chefes de províncias, e encontrou duzentos e trinta e dois. Depois contou todo o povo dos israelitas, e viu que eram sete mil.
16. Saíram ao meio-dia, quando Ben-Hadad bebia e se embriagava nas tendas com os trinta e dois reis, seus auxiliares.
17. Os servos dos chefes de províncias tinham saído em primeiro lugar. Ben-Hadad mandou ver o que se passava. Disseram-lhe: São alguns homens que saem de Samaria.
18. O rei disse: Venham eles para tratar de paz, ou venham para combater, capturai-os vivos.
19. Os servos dos chefes de províncias saíram, pois, da cidade, seguidos do exército.
20. Cada um deles feriu o seu homem. Os sírios fugiram, perseguidos por Israel; Ben-Hadad, rei da Síria, fugiu a cavalo com alguns cavaleiros.
21. Então o rei de Israel saiu e feriu cavalos e carros, causando uma grande ruína aos sírios.
22. O profeta foi ter com o rei de Israel e disse-lhe: Vai, cobra ânimo e examina o que te é preciso fazer, porque no próximo ano voltará o rei da Síria para atacar-te.
23. Os servos do rei da Síria disseram ao seu soberano: O seu deus é um deus dos montes; por isso foram mais fortes do que nós. Se os atacarmos na planície, veremos se não somos os mais fortes.
24. Eis o que tens de fazer: Destitui todos os reis e substitui-os por governadores.
25. Levanta um exército semelhante ao que perdeste, uma cavalaria equivalente e outro tanto de carros. Combateremos na planície e com toda a certeza seremos mais fortes do que eles. O rei ouviu e seguiu o seu conselho.
26. No ano seguinte, Ben-Hadad, depois de ter passado em revista os sírios, avançou até Afec para combater Israel.
27. Os israelitas recenseados e providos de víveres foram contra os sírios e acamparam diante deles. Eram como dois pequenos rebanhos de cabras, enquanto os sírios cobriam toda a terra.
28. Então o homem de Deus aproximou-se do rei de Israel e disse-lhe: Isto diz o Senhor: Porque os sírios disseram: O Senhor é um deus dos montes e não das planícies – vou entregar-te nas mãos essa imensa multidão, a fim de que saibas que eu sou o Senhor.
29. Durante sete dias ficaram acampados um em face do outro. No sétimo dia deu-se a batalha; os israelitas mataram num só dia cem mil sírios.
30. O resto fugiu para a cidade de Afec, mas as muralhas caíram sobre os vinte e sete mil sobreviventes. Ben-Hadad, que se refugiara na cidade, escondia-se de quarto em quarto.
31. Seus servos disseram-lhe: Ouve: nós temos ouvido dizer que os reis de Israel são clementes. Ponhamos sacos sobre nossos rins e cordas ao nosso pescoço, e vamos ter com o rei de Israel; talvez ele te poupe a vida.
32. Cingiram-se, pois, com sacos pelos rins, puseram cordas em volta do pescoço, e apresentaram-se ao rei de Israel, dizendo: Teu servo Ben-Hadad roga-te: Concede-me a vida! Ele está ainda vivo?, perguntou Acab; mas ele é meu irmão!
33. Tomando bom augúrio dessas palavras, os sírios tomaram logo a palavra de sua boca e disseram-lhe: Ben-Hadad é teu irmão! Trazei-mo, disse o rei. Veio Ben-Hadad à presença de Acab, e este mandou-o subir ao seu carro.
34. Vou restituir-te, disse Ben-Hadad, as cidades que meu pai tomou do teu. Terás um quarteirão em Damasco, como meu pai o tinha em Samaria. Eu, disse Acab, feita esta aliança, te deixarei partir. Acab fez um tratado com Ben-Hadad e deixou-o ir livre.
35. Então um dos filhos dos profetas disse ao seu companheiro, por ordem do Senhor: Fere-me. Mas o outro recusou.
36. Porque não ouviste a voz do Senhor, disse-lhe o primeiro, logo que me tiveres deixado, serás morto por um leão. Mal se havia afastado, um leão o encontrou e o matou.
37. O profeta, encontrando depois outro homem, disse-lhe: Fere-me. Este homem lançou-se contra ele e o feriu.
38. Então postou-se o profeta no caminho por onde devia passar o rei, pondo nos olhos uma faixa que o tornava irreconhecível.
39. Tendo o rei passado, ele pôs-se a gritar-lhe: Teu servo estava em pleno combate, quando alguém lhe trouxe um homem, dizendo: Guarda este homem! Se ele desaparecer, a tua vida responderá pela sua, ou então pagarás um talento de prata.
40. Mas andando o teu servo ocupado daqui e dali, o prisioneiro desapareceu. O rei de Israel disse-lhe: Esta é a tua sentença; tu mesmo a pronunciaste.
41. Então o outro tirou subitamente a faixa que lhe cobria os olhos, e o rei viu que ele era um dos profetas.
42. Ele disse ao rei: Eis o que diz o Senhor: Pois que deixaste escapar de tuas mãos o homem que eu tinha votado ao interdito, tua vida responderá pela sua, e teu povo pelo seu povo.
43. O rei de Israel voltou para a sua casa sombrio e irritado, e chegou a Samaria.

 
Capítulo 21

1. Passado tudo isso, aconteceu o seguinte: Nabot de Jezrael possuía uma vinha nessa cidade, ao lado do palácio de Acab, rei de Samaria.
2. Acab disse a Nabot: Cede-me tua vinha, para que eu a transforme numa horta, porque está junto de minha casa. Dar-te-ei em troca uma vinha melhor, ou se o preferires, pagar-te-ei em dinheiro o seu valor.
3. Nabot, porém, respondeu a Acab: Deus me livre de ceder-te a herança de meus pais!
4. Acab voltou para a sua casa sombrio e irritado, por ter Nabot de Jezrael recusado ceder-lhe a herança de seus pais. Estendeu-se na cama com o rosto voltado para a parede, e não quis comer.
5. Jezabel, sua mulher, veio ter com ele e disse-lhe: Por que estás de mau humor e não queres comer?
6. Ele respondeu: Falei a Nabot de Jezrael, propondo-lhe que me vendesse a sua vinha, ou, se o preferisse, que a trocasse comigo por outra melhor; mas ele respondeu-me: Não te cederei a minha vinha.
7. Jezabel, sua mulher, disse-lhe: Não és tu, porventura, o rei de Israel? Vamos! Come, não te incomodes. Eu te darei a vinha de Nabot de Jezrael.
8. Escreveu ela, então, uma carta em nome do rei, selou-a com o selo real, e mandou-a aos anciãos e aos notáveis da cidade, concidadãos de Nabot.
9. Eis o que dizia na carta: Promulgai um jejum, fazei sentar Nabot num lugar de honra,
10. e mandai vir diante dele dois homens inescrupulosos que o acusem, dizendo: Este amaldiçoou a Deus e ao rei. – Conduzi-o em seguida para fora da cidade e apedrejai-o até que morra!
11. Os homens da cidade, os anciãos e os notáveis, concidadãos de Nabot, fizeram o que ordenava Jezabel, segundo o conteúdo da carta que lhes tinha mandado.
12. Promulgaram um jejum e fizeram Nabot sentar-se num lugar de honra.
13. Vieram então os dois miseráveis, colocaram-se diante dele e fizeram publicamente a deposição seguinte contra ele: Nabot amaldiçoou a Deus e ao rei. Depois disto, levaram-no para fora da cidade, onde foi apedrejado e morreu.
14. E mandaram dizer a Jezabel: Nabot foi apedrejado e morto.
15. Quando ela soube que Nabot fora apedrejado e morto, foi dizer a Acab: Vai e toma posse da vinha que Nabot de Jezrael te recusara vender. Ele já não vive; está morto.
16. Acab, tendo ouvido dizer que Nabot morrera, levantou-se e dirigiu-se para a sua vinha, para tomar posse dela.
17. Então a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tesbita:
18. Vai; desce ao encontro de Acab, rei de Israel, que mora em Samaria, ei-lo que desce a tomar posse da vinha de Nabot.
19. Dir-lhe-ás: Isto diz o Senhor: Mataste, e agora usurpas! – E ajuntarás: Eis o que diz o Senhor: No mesmo lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabot, lamberão também o teu.
20. Acab exclamou: Encontraste-me de novo, ó meu inimigo? Sim!, respondeu Elias. Porque te vendeste para fazer o mal aos olhos do Senhor.
21. Farei cair o mal sobre ti, varrer-te-ei, exterminarei da família de Acab em Israel todo varão, seja escravo ou livre.
22. Farei de tua casa o que fiz da de Jeroboão, filho de Nabat, e da de Baasa, filho de Aías, porque me provocaste à ira e arrastaste Israel ao pecado.
23. E eis agora o que diz o Senhor contra Jezabel: Os cães devorarão Jezabel na terra de Jezrael.
24. Todo membro da família de Acab que morrer na cidade será devorado pelos cães, e o que morrer no campo será comido pelas aves do céu.
25. Com efeito, não houve ninguém que praticasse tanto o mal aos olhos do Senhor como Acab, excitado como era por sua mulher Jezabel.
26. Levou a abominação ao extremo, seguindo os ídolos dos amorreus, que o Senhor tinha expulsado de diante dos israelitas.
27. Ouvindo estas palavras, Acab rasgou suas vestes, cobriu-se com um saco e jejuou; dormia, envolto no saco e andava a passos lentos.
28. Então a Palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tesbita, nestes termos:
29. Viste como Acab se humilhou diante de mim? Pois que ele assim procedeu, não mandarei o castigo durante a sua vida, mas nos dias de seu filho farei vir a catástrofe sobre a sua casa.

 
Capítulo 22

1. Três anos se passaram sem lutas entre a Síria e Israel.
2. No terceiro ano, Josafá, rei de Judá, veio ter com o rei de Israel.
3. Este tinha dito aos seus servos: Sabeis porventura que Ramot de Galaad é nossa, e que nós temos descuidado de retomá-la do rei da Síria?
4. E disse a Josafá; Queres vir comigo à guerra contra Ramot de Galaad? Josafá respondeu: Farei o que fizeres: meu povo fará o que fizer o teu, e minha cavalaria fará o que fizer a tua.
5. E continuando a falar ao rei de Israel, Josafá ajuntou: Consulta antes de tudo, eu te peço, o oráculo do Senhor.
6. O rei de Israel, tendo reunido os profetas, que eram em número de quatrocentos, perguntou-lhes: Devo eu ir atacar Ramot de Galaad, eu devo-me abster? Eles responderam: Vai; o Senhor a entregará nas mãos do rei.
7. Mas Josafá replicou: Haverá porventura algum outro profeta do Senhor por aqui, a quem possamos consultar?
8. Sim, respondeu o rei de Israel, há ainda outro por quem poderíamos consultar o Senhor; mas eu o detesto, porque ele não profetiza jamais o bem, e sim sempre o mal: é Miquéias, filho de Jemla. Josafá disse: Não fale o rei assim.
9. Chamou então o rei de Israel um eunuco e deu-lhe esta ordem: Traze-me aqui depressa Miquéias, filho de Jemla.
10. O rei de Israel e Josafá, rei de Judá, sentaram cada um no seu trono, revestidos de suas insígnias reais, na praça que está à entrada da porta de Samaria, e todos os profetas profetizavam diante deles.
11. Sedecias, filho de Canaana, fez para si uns chifres de ferro, e disse: Eis o que diz o Senhor: com estes chifres ferirás os sírios até que sejam exterminados.
12. E todos os profetas profetizavam da mesma maneira, dizendo: Sobe a Ramot de Galaad: serás vencedor, porque o Senhor entregará a cidade nas mãos do rei.
13. Entretanto, o mensageiro que fora buscar Miquéias dizia-lhe: Os profetas são unânimes em predizer a vitória do rei. Que o teu oráculo seja conforme o deles. Predize bom êxito.
14. Miquéias, porém, respondeu: Por Deus que eu só direi o que o Senhor me disser.
15. Quando ele se apresentou ao rei, este disse-lhe: Miquéias, devemos nós ir atacar Ramot de Galaad, ou não? Vai, respondeu Miquéias, serás vencedor; o Senhor a entregará nas mãos do rei.
16. O rei disse-lhe: Quantas vezes será preciso conjurar-te a que só digas a verdade em nome do Senhor?
17. Ao que Miquéias respondeu: Vejo todo o Israel espalhado pelas montanhas como um rebanho sem pastor. O Senhor disse: Essa gente não tem um guia; volte cada um em paz para a sua casa!
18. O rei de Israel disse a Josafá: Não te disse eu que ele nunca profetiza o bem, mas sempre o mal?
19. Miquéias replicou: Ouve o oráculo do Senhor: Eu, vi o Senhor sentado no seu trono e todo o exército dos céus ao redor dele, à direita e à esquerda.
20. O Senhor disse: Quem seduzirá Acab, para que ele suba e pereça em Ramot de Galaad? Um disse uma coisa e outro, outra.
21. Então um espírito adiantou-se e apresentou-se diante do Senhor, dizendo: Eu irei seduzi-lo. O Senhor perguntou: De que modo?
22. Ele respondeu: Irei e serei um espírito de mentira na boca de seus profetas. – É isto, replicou o Senhor. Conseguirás seduzi-lo. Vai e faze como disseste.
23. O Senhor pôs um espírito de mentira na boca de todos os profetas aqui presentes, mas é a tua perda que o Senhor decretou.
24. Nesse momento, Sedecias, filho de Canaana, aproximou-se de Miquéias e deu-lhe uma bofetada, dizendo: Por onde saiu de mim o espírito do Senhor para falar a ti?
25. Tu o verás, respondeu Miquéias, no dia em que fores de quarto em quarto para te esconder.
26. Então o rei de Israel ordenou: Prende Miquéias; leva-o à casa de Amon, governador da cidade, e de Joás, filho do rei.
27. Dize-lhes: Esta é a ordem do rei: Metei este homem na prisão e alimentai-o com um pão de miséria, até que eu volte são e salvo.
28. Ao que respondeu Miquéias: Se voltares são e salvo, será um sinal de que o Senhor não falou por mim. E ajuntou: Ouvi, povo, tudo isso!
29. O rei de Israel subiu com Josafá, rei de Judá, a Ramot de Galaad.
30. Disse-lhe: Vou disfarçar-me para ir ao combate; tu, porém, conserva as tuas vestes. E o rei de Israel disfarçou-se antes de entrar em combate.
31. Ora, o rei da Síria tinha dado aos seus trinta e dois chefes de carros a seguinte ordem: Não atacareis ninguém, pequeno ou grande, mas unicamente o rei de Israel.
32. Os chefes de carros, tendo visto Josafá, disseram entre si: Aquele é seguramente o rei de Israel. E o atacaram. Josafá soltou o seu grito (de guerra),
33. e os chefes de carros, vendo que não era o rei de Israel, afastaram-se dele.
34. Nesse momento, estirando um homem o seu arco ao acaso, feriu o rei de Israel entre as junturas da couraça. O rei disse ao condutor de seu carro: Volta a rédea, leva-me para fora do campo de batalha, porque estou ferido.
35. Mas o combate foi naquele dia tão violento, que o rei teve que ficar de pé em seu carro diante dos sírios. Morreu ao cair da tarde. O sangue corria de sua ferida e inundava o seu carro.
36. Ao pôr-do-sol, ouviu-se um clamor que corria por todo o exército: Volte cada um para a sua cidade e para a sua casa!
37. Morreu o rei! Levaram-no para Samaria e enterraram-no ali.
38. Quando lavaram o carro na piscina de Samaria, os cães lamberam o sangue do rei, e as prostitutas banhavam-se ali, conforme o oráculo do Senhor.
39. O resto da história de Acab, suas ações, o palácio de marfim que construiu, as cidades que edificou, tudo isso se acha consignado no livro das Crônicas dos reis de Israel.
40. Acab adormeceu com os seus pais, e seu filho Ocozias sucedeu-lhe no trono.
41. No quarto ano de Acab, rei de Israel, Josafá, filho de Asa, tornou-se rei de Judá.
42. Tinha trinta e cinco anos quando começou a reinar, e reinou vinte e cinco anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Azuba, filha de Salai.
43. Andou em todos os caminhos de Asa, seu pai, e não se desviou deles. Fez o que é bom aos olhos do Senhor.
44. Todavia, não desapareceram os lugares altos, onde o povo continuava sacrificando e queimando incenso.
45. Josafá viveu em paz com o rei de Israel.
46. O resto da história de Josafá, seus grandes feitos e suas campanhas, tudo se acha consignado no livro das Crônicas dos reis de Judá.
47. Expulsou da terra as prostitutas (sagradas) que ainda restavam do tempo de seu pai.
48. Não havia então rei em Edom, mas um governador que exercia as funções de rei.
49. Josafá construiu um navio de Társis para ir buscar ouro em Ofir. Mas não pôde ir, porque o seu navio naufragou em Asiongaber.
50. Ocozias, filho de Acab, disse a Josafá: Deixa os meus servos embarcar com os teus. Mas Josafá não quis.
51. Josafá adormeceu com os seus pais, e foi sepultado com eles na cidade de Davi. Seu filho Jorão sucedeu-lhe no trono.
52. No décimo sétimo ano de Josafá, rei de Judá, Ocozias, filho de Acab, tornou-se rei de Israel em Samaria, e reinou dois anos sobre Israel.
53. Fez o mal aos olhos do Senhor: seguiu os caminhos de seu pai e de sua mãe, e de Jeroboão, filho de Nabat, que tinha arrastado Israel ao pecado.
54. Prestou culto a Baal e prostrou-se diante dele, provocando desse modo a cólera do Senhor, Deus de Israel, como o fizera seu pai.

 

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