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I Livro de Samuel

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I Livro de Samuel

 Capítulo 1

1. Havia em Ramataim-Sofim um homem das montanhas de Efraim, chamado Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliu, filho de Tolu, filho de Suf, o efraimita.
2. Tinha ele duas mulheres, uma chamada Ana e outra Fenena. Esta última tinha filhos; Ana, porém, não os tinha.
3. Cada ano subia esse homem de sua cidade para adorar o Senhor dos exércitos e oferecer-lhe um sacrifício em Silo, onde se encontravam os dois filhos de Heli, Ofini e Finéias, sacerdotes do Senhor.
4. Cada vez que Elcana oferecia um sacrifício, dava porções à sua mulher Fenena, bem como aos filhos e filhas que ela teve;
5. a Ana, porém, dava uma porção dupla, porque a amava, embora o Senhor a tivesse tornado estéril.
6. Sua rival afligia-a duramente, provocando-a a murmurar contra o Senhor que a tinha feito estéril.
7. Isto se repetia cada ano quando ela subia à casa do Senhor; Fenena continuava provocando-a. Então, Ana punha-se a chorar e não comia.
8. Seu marido dizia-lhe: Ana, por que choras? Por que não comes? Por que estás triste? Não valho eu para ti como dez filhos?
9. (Desta vez) Ana levantou-se, depois de ter comido e bebido em Silo. Ora, o sacerdote Heli estava sentado numa cadeira à entrada do templo do Senhor.
10. Ana, profundamente amargurada, orou ao Senhor e chorou copiosamente.
11. E fez um voto, dizendo: Senhor dos exércitos, se vos dignardes olhar para a aflição de vossa serva, e vos lembrardes de mim; se não vos esquecerdes de vossa escrava e lhe derdes um filho varão, eu o consagrarei ao Senhor durante todos os dias de sua vida, e a navalha não passará pela sua cabeça.
12. Prolongando ela sua oração diante do Senhor, Heli observava o movimento dos seus lábios.
13. Ana, porém, falava no seu coração, e apenas se moviam os seus lábios, sem se lhe ouvir a voz.
14. Heli, julgando-a ébria, falou-lhe: Até quando estarás tu embriagada? Vai-te e deixa passar o teu vinho.
15. Não é assim, meu Senhor, respondeu ela, eu sou uma mulher aflita: não bebi nem vinho, nem álcool, mas derramo a minha alma na presença do Senhor.
16. Não tomes a tua escrava por uma pessoa frívola, porque é a grandeza de minha dor e de minha aflição que me fez falar até aqui.
17. Heli respondeu: Vai em paz, e o Deus de Israel te conceda o que lhe pedes.
18. Encontre a tua serva graça aos teus olhos, ajuntou ela. A mulher se foi, comeu, e o seu rosto não era mais o mesmo.
19. No dia seguinte pela manhã, prostraram-se diante do Senhor, e voltaram para a sua casa em Ramá.
20. Elcana conheceu Ana, sua mulher, e o Senhor lembrou-se dela. Ana concebeu, e, passado o seu tempo, deu à luz um filho que chamou Samuel; porque, dizia, eu o pedi ao Senhor.
21. Elcana, seu marido, foi com toda a sua casa para oferecer ao Senhor o sacrifício anual.
22. Ana, porém, não foi, e disse ao seu marido: Quando o menino for desmamado, eu o levarei para apresentá-lo ao Senhor, e lá ficará para sempre.
23. Faze como achares melhor, respondeu-lhe Elcana; fica até que o tenhas desmamado e que o Senhor se digne confirmar a sua promessa. Ela ficou e aleitou o seu filho até que o desmamou.
24. Após tê-lo desmamado, tomou-o consigo, e levando também três touros, um efá de farinha e um odre de vinho, conduziu-o à casa do Senhor em Silo. O menino era ainda muito criança.
25. Imolaram o touro e conduziram o menino a Heli.
26. Ana disse-lhe: Ouve, meu Senhor, por tua vida, eu sou aquela mulher que esteve aqui em tua presença orando ao Senhor.
27. Eis aqui o menino por quem orei; o Senhor ouviu o meu pedido.
28. Portanto, eu também o dou ao Senhor: ele será consagrado ao Senhor para todos os dias de sua vida. E prostraram-se naquele lugar diante do Senhor.

 
Capítulo 2

1. Ana pronunciou esta prece: Exulta o meu coração no Senhor, nele se eleva a minha força; a minha boca desafia os meus adversários, porque me alegro na vossa salvação.
2. Ninguém é santo como o Senhor. Não existe outro Deus, além de vós, nem rochedo semelhante ao nosso Deus.
3. Não multipliqueis palavras orgulhosas, não saia da vossa boca linguagem arrogante, porque o Senhor é um Deus que tudo sabe; por ele são pesadas as ações.
4. Quebra-se o arco dos fortes, enquanto os fracos se revestem de vigor.
5. Os abastados se assalariam para ganharem o que comer, enquanto os famintos são saciados. Sete vezes dá à luz a estéril, enquanto a mãe de numerosos filhos enlanguesce.
6. O Senhor dá a morte e a vida, faz descer à habitação dos mortos e de lá voltar.
7. O Senhor empobrece e enriquece; humilha e exalta.
8. Levanta do pó o mendigo, do esterco retira o indigente, para fazê-los sentar-se entre os nobres e outorgar-lhes um trono de honra, porque do Senhor são as colunas da terra. Sobre elas estabeleceu o mundo.
9. Dirige os passos dos seus fiéis, enquanto os ímpios perecem nas trevas; porque homem algum vence pela força.
10. Ó Senhor, sejam esmagados os vossos adversários! Dos céus troveje o Altíssimo contra eles, o Senhor julgue os últimos confins da terra! Dará força ao seu rei, e engrandecerá o poder do seu ungido.
11. Elcana voltou para a sua casa em Ramá, e o menino ficou ao serviço do Senhor, junto do sacerdote Heli.
12. Os filhos de Heli eram maus; não conheciam o Senhor.
13. Eis como se comportavam para com o povo: Quando alguém imolava uma vítima, vinha o servo do sacerdote no momento em que se cozia a carne, com um garfo de três dentes,
14. e metia-o na caldeira, na marmita, na panela ou no tacho, e tudo o que o tridente trazia, tomava-o para o sacerdote. Assim faziam a todos os israelitas que vinham a Silo.
15. Antes que queimassem a gordura, vinha o servo do sacerdote dizer ao que sacrificava: Dá-me a carne de assar para o sacerdote; ele não aceitará carne cozida, mas unicamente a carne crua.
16. O homem respondia-lhe: É preciso que se queime antes a gordura; depois disto tomarás o que quiseres. Não, respondia o servo, dá-me logo, senão tomarei à força.
17. Era muito grande a iniqüidade desses moços aos olhos de Deus, porque atraíam o desprezo sobre as ofertas feitas ao Senhor.
18. Entretanto, Samuel, ainda criança, servia diante do Senhor, trajando um efod de linho.
19. Sua mãe fazia-lhe cada ano uma pequena túnica, que lhe levava quando subia com o seu marido para o sacrifício anual.
20. Heli abençoava Elcana e sua mulher: Conceda-te o Senhor filhos desta mulher, em recompensa do dom que ela lhe faz! E voltavam para a sua casa.
21. O Senhor visitou Ana, e ela concebeu, dando à luz três filhos e duas filhas. E o menino Samuel crescia na companhia do Senhor.
22. Heli era muito velho; sabia tudo o que faziam os seus filhos com os israelitas, e como eles dormiam com as mulheres que estavam de serviço à entrada da Tenda da Reunião.
23. Por que, dizia-lhes, procedeis desta forma? Sei que todo o povo fala de vossas desordens.
24. Não façais assim, meus filhos; não são boas as informações que me chegam a vossos respeito. Estais fazendo pecar o povo do Senhor.
25. Se um homem pecar contra outro, Deus o julga; se ele pecar, porém, contra o Senhor, quem intervirá a seu favor? Mas não ouviam a voz do seu pai, porque Deus os queria perder.
26. Entretanto, o menino Samuel ia crescendo, e era agradável tanto ao Senhor como aos homens.
27. Certo dia, um homem de Deus veio ter com Heli e disse-lhe da parte do Senhor: Não me revelei eu claramente à casa de teu pai, quando eles estavam no Egito ao serviço do faraó?
28. Escolhi os teus dentre todas as tribos de Israel para serem sacerdotes, subirem ao meu altar, queimarem o incenso e vestirem o efod diante de mim. Dei à casa de teu pai todos os sacrifícios oferecidos pelos israelitas.
29. Por que desprezais os meus sacrifícios e as minhas oblações que estabeleci em minha morada? Fazes mais caso dos teus filhos que de mim, engordando-vos com o melhor de todas as ofertas de meu povo de Israel.
30. Por isso, eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: Eu tinha dito que a tua casa e a casa de teu pai serviria para sempre diante de mim. Mas agora, diz o Senhor, não será mais assim. Eu honro aqueles que me honram e desprezo os que me desprezam.
31. Virão dias em que abaterei o teu vigor e o vigor da casa de teu pai, de tal modo que já não haverá ancião em tua casa.
32. Israel estará cumulado da alegria, e tu verás a angústia em tua casa. Não haverá jamais ancião em tua família!
33. Entretanto, não cortarei todos os teus do meu altar, para que se consumam de inveja os teus olhos e se desfaleça a tua alma; mas todos os outros morrerão na flor da idade.
34. O que vai acontecer aos teus dois filhos Ofni e Finéias, será para ti um sinal: morrerão ambos no mesmo dia.
35. Suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o meu coração e minha vontade. Edificar-lhe-ei uma casa durável, e ele andará sempre diante do meu ungido.
36. Os que sobreviverem de tua família irão prostrar-se diante dele por uma moeda de prata ou por um pedaço de pão, dizendo-lhe: Admiti-me para alguma função sacerdotal, a fim de que eu tenha um bocado de pão para comer.

 
Capítulo 3

1. O jovem Samuel servia ao Senhor sob os olhos de Heli. a palavra do Senhor era rara naqueles dias, e as visões não eram freqüentes.
2. Ora, aconteceu certo dia que Heli estava deitado (seus olhos tinham-se enfraquecido, e ele mal podia ver),
3. e a lâmpada de Deus ainda não se apagara. Samuel repousava no templo do Senhor, onde se encontrava a arca de Deus.
4. O Senhor chamou Samuel, o qual respondeu: Eis-me aqui.
5. Samuel correu para junto de Heli e disse: Eis-me aqui: chamaste-me. Não te chamei, meu filho, torna a deitar-te. Ele foi e deitou-se.
6. O Senhor chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio dizer a Heli: Eis-me aqui, tu me chamaste. Eu não te chamei, meu filho, torna a deitar-te.
7. Samuel ainda não conhecia o Senhor; a palavra do Senhor não lhe tinha sido ainda manifestada.
8. Pela terceira vez o Senhor chamou Samuel, que se levantou e foi ter com Heli: Eis-me aqui, tu me chamaste. Compreendeu então Heli que era o Senhor quem chamava o menino.
9. Vai e torna a deitar-te, disse-lhe ele, e se ouvires que te chamam de novo, responde: Falai, Senhor; vosso servo escuta! Voltou Samuel e deitou-se.
10. Veio o Senhor pôs-se junto dele e chamou-o como das outras vezes: Samuel! Samuel! Falai, respondeu o menino; vosso servo escuta!
11. O Senhor disse a Samuel: Eis que vou fazer uma tal coisa em Israel, que a todo o que a ouvir ficar-lhe-ão retinindo os ouvidos.
12. Naquele dia cumprirei contra Heli todas as ameaças que pronunciei contra a sua casa. Começarei e irei até o fim.
13. Anunciei-lhe que eu condenaria para sempre a sua família, por causa dos crimes que ele sabia que os seus filhos cometiam, e não os corrigiu.
14. Por isso jurei à casa de Heli que a sua culpa jamais seria expiada, nem com sacrifícios nem com oblações.
15. Samuel ficou deitado até pela manhã, quando abriu as portas da casa do Senhor. Ele temia contar a visão a Heli.
16. Heli, porém chamou-o e disse: Samuel, meu filho! Eis-me aqui, respondeu ele.
17. E Heli: Que te disse ele? Não me ocultes nada. Deus te trate com toda a severidade, se me encobrires algo de tudo o que ele te disse.
18. Então Samuel contou-lhe tudo, sem nada ocultar. Heli exclamou: O Senhor fará o que lhe parecer melhor.
19. Samuel crescia, e o Senhor estava com ele. Ele não negligenciava nenhuma de suas palavras.
20. Todo o Israel, desde Dã até Bersabéia, reconheceu que Samuel era um profeta do Senhor.
21. E o Senhor continuou a se manifestar em Silo. É ali que o Senhor aparecia a Samuel, descobrindo-lhe sua palavra.

 
Capítulo 4

1. A palavra de Samuel foi dirigida a todo o Israel. Israel saiu ao encontro dos filisteus para combatê-los. Acamparam junto de Eben-Ezer, enquanto os filisteus acampavam em Afec.
2. Os inimigos puseram-se em linha de batalha diante de Israel e começou o combate. Israel voltou as costas aos filisteus, e foram mortos naquele combate cerca de quatro mil homens.
3. O povo voltou ao acampamento e os anciãos de Israel disseram: Por que nos deixou o Senhor sermos batidos hoje pelos filisteus? Vamos a Silo e tomemos a arca da aliança do Senhor, para que ela esteja no meio de nós e nos livre da mão de nossos inimigos.
4. O povo mandou, pois, buscar em Silo a arca da aliança do Senhor dos exércitos, que se senta sobre querubins. Os dois filhos de Heli, Ofni e Finéias, acompanhavam a arca da aliança de Deus.
5. Quando a arca do Senhor entrou no acampamento, todo o Israel rompeu num grande clamor, que fez tremer a terra.
6. Os filisteus, ouvindo-o, disseram: Que significa esse grande clamor no acampamento dos hebreus? E souberam que a arca do Senhor tinha chegado ao acampamento.
7. Então tiveram medo e disseram: Deus chegou ao acampamento. Ai de nós! Até agora nunca se viu coisa semelhante!
8. Ai de nós! Quem nos salvará da mão destes deuses poderosos? São eles que feriram os egípcios com toda a sorte de pragas no deserto.
9. Coragem, ó filisteus! Portai-vos varonilmente, não suceda que sejais escravizados aos hebreus como eles o são a vós. Sede homens e combatei.
10. Começaram a luta e Israel foi derrotado, fugindo cada um para a sua tenda. Houve um espantoso massacre, tendo caído de Israel trinta mil homens de pé.
11. A arca de Deus foi tomada e os dois filhos de Heli, Ofni e Finéias, pereceram.
12. Um homem da tribo de Benjamim, tendo escapado à batalha, fugiu naquele mesmo dia para Silo. Trazia a roupa toda rasgada e a cabeça coberta de pó.
13. Chegou no momento em que Heli se encontrava sentado numa cadeira, à beira do caminho, inquieto e temeroso pela arca de Deus. Entrando aquele homem na cidade, espalhou-se por toda a parte a noticia, e de toda a cidade elevou-se um grande clamor.
14. Heli, ouvindo-o, perguntou: Que clamor é este? Nesse momento chegava o homem para dar-lhe a notícia.
15. (Heli tinha noventa e oito anos; seus olhos estavam parados e já não viam.)
16. O homem disse-lhe: Venho do campo de batalha, de onde escapei hoje mesmo. Que aconteceu, meu filho?
17. Israel, respondeu o mensageiro, fugiu diante dos filisteus; o povo sofreu uma grande derrota. Teus dois filhos, Ofni e Finéias, morreram, e a arca de Deus foi tomada.
18. Ao ouvi-lo mencionar a arca de Deus, Heli caiu de sua cadeira para trás, do lado da porta (do templo), fraturou o crânio e morreu, pois era um homem velho e pesado. Tinha sido juiz em Israel durante quarenta anos.
19. Sua nora, mulher de Finéias, estava grávida e próxima do parto. Tendo ouvido que a arca de Deus fora capturada, e que o seu sogro e seu marido tinham morrido, foi subitamente acometida pelas dores do parto e deu à luz.
20. E estando para expirar, disseram-lhe as mulheres que a cercavam: Não temas, pois nasceu-te um filho. Mas ela não respondeu, pois estava inconsciente.
21. Chamou o filho Icabod, porque, disse a ela, dissipou-se a glória de Israel, já que foi tomada a arca de Deus, e morreram o meu sogro e o meu marido.
22. Sim, disse ela, desapareceu a glória de Israel, foi tomada a arca de Deus.

 
Capítulo 5

1. Os filisteus apoderaram-se, pois, da arca de Deus e levaram-na de Eben-Ezer para Azot.
2. Tomaram a arca de Deus e meteram-na no templo de Dagon, colocando-a junto do ídolo.
3. No dia seguinte, levantando-se pela manhã, os habitantes de Azot viram Dagon estendido com o rosto por terra diante da arca do Senhor. Levantaram o ídolo e repuseram-no no seu lugar.
4. Na manhã seguinte, ao se levantarem, encontraram (de novo) Dagon estendido com o rosto por terra diante da arca do Senhor; a cabeça do deus e suas duas mãos estavam desprendidas e jaziam perto do limiar. Dele só restou o tronco.
5. É por isto que os sacerdotes de Dagon e todos os que entram no seu templo em Azot, evitam ainda hoje pôr o pé no limiar da porta.
6. A mão do Senhor pesava sobre os habitantes de Azot; ele os devastou e os feriu de hemorróidas na cidade e no seu território.
7. Vendo isto, os habitantes de Azot exclamaram: A arca do Deus de Israel não ficará conosco, porque a sua mão pesou sobre nós e sobre Dagon, nosso Deus.
8. Mandaram mensageiros que convocassem todos os príncipes dos filisteus e perguntaram-lhes: Que faremos nós da arca do Deus de Israel? Eles responderam: Transportem-na a Get. E a arca do Deus de Israel foi levada para ali.
9. Logo que o fizeram, a mão do Senhor foi contra a cidade, causando nela um grande terror. Feriu os habitantes desde o menor até ao maior com muitos tumores de hemorróidas.
10. Mandaram então a arca de Deus para Acaron. Chegando ela ali, os acaronitas clamaram, dizendo: Trouxeram-nos a arca do Deus de Israel, para nos matar como todo o povo!
11. Convocaram todos os príncipes dos filisteus e disseram-lhes: Devolvei a arca do Deus de Israel; que ela volte para o seu lugar, e não nos faça perecer com todo o povo.
12. Reinava na cidade um pavor mortal, e a mão de Deus fazia-se sentir rudemente. Aqueles que escapavam à morte, eram feridos de hemorróidas, e da cidade subia até ao céu um clamor angustiado.

 
Capítulo 6

1. Esteve a arca do Senhor na terra dos filisteus sete meses.
2. Estes convocaram os seus sacerdotes e adivinhos e perguntaram-lhes: Que faremos da arca do Senhor? Dizei-nos como havemos de a devolver ao seu lugar. Eles responderam:
3. Se devolveis a arca do Deus de Israel, não a mandeis vazia, mas juntai a ela uma oferta expiatória. Se fordes curados, sabereis então por que sua mão não cessou de pesar sobre vós.
4. Que oferta expiatória, perguntaram eles, devemos fazer? Responderam: Cinco tumores de ouro e cinco ratos de ouro, conforme o número dos príncipes dos filisteus, porque foi essa a praga que vos feriu a vós e aos vossos príncipes.
5. Fazei, pois, figuras de vossos tumores e figuras de ratos que devastam a terra. Dai assim glória ao Deus de Israel; talvez retire ele a sua mão de cima de vós, de vosso deus e de vossa terra.
6. Por que endureceis os vossos corações como os egípcios e o faraó? Estes só deixaram partir os israelitas quando o Senhor mandou os seus castigos sobre eles.
7. Fazei um carro novo, escolhei duas vacas que aleitam, e que não tenham ainda levado o jugo, e metei-as no carro, depois de terdes preso os seus bezerros no curral.
8. Colocareis no carro a arca do Senhor, juntamente com um cofre, no qual poreis todos os objetos de ouro que ofereceis como expiação; depois deixai-a partir.
9. Segui-a com os olhos: se ela subir pelo caminho de sua terra, para as bandas de Bet-Sames, é o Senhor quem nos enviou esta praga; do contrário, conheceremos que não foi a sua mão que nos feriu, mas que tudo isto foi um simples acidente.
10. Assim o fizeram. Tomaram duas vacas que aleitavam e prenderam-nas a um carro, pondo os seus bezerros no curral.
11. Puseram no carro a arca do Senhor com o cofre que continha os ratos de ouro e as figuras dos tumores.
12. As vacas tomaram diretamente o caminho que vai a Bet-Sames e seguiram sempre o mesmo caminho, mugindo, sem se desviarem nem para a direita nem para a esquerda. Os príncipes dos filisteus seguiram-nas até o limite de Bet-Sames.
13. Ora, os betsamitas segavam o trigo no vale. Levantando os olhos, viram a arca e alegraram-se.
14. O carro chegou à terra de Josué, o betsamita, onde se deteve. Havia ali uma grande pedra. Cortaram em pedaços a madeira do carro e ofereceram as vacas em holocausto ao Senhor.
15. Os levitas desceram a arca do Senhor, juntamente com o cofre que vinha junto, contendo os objetos de ouro, e colocaram-na sobre a grande pedra. Os betsamitas ofereceram holocaustos e sacrifícios ao Senhor naquele dia.
16. E os cinco príncipes dos filisteus, que tudo tinham visto, voltaram naquele mesmo dia para Acaron.
17. Eis o número das figuras de hemorróidas de ouro que os filisteus ofereceram ao Senhor como oferta expiatória: uma por Azot, uma por Gaza, uma por Ascalon, uma por Get, uma por Acaron.
18. Ofereceram, além disso, tantos ratos de ouro quantas cidades havia pertencentes aos cinco príncipes, cidades fortificadas e aldeias sem muros, Disto é testemunha a grande pedra, sobre a qual puseram a arca do Senhor, no campo de Josué, o betsamita, onde pode ser vista até o dia de hoje.
19. O Senhor feriu os habitantes de Bet-Sames, porque tinham olhado para dentro de sua arca: feriu setenta homens entre cinqüenta mil. O povo chorou por causa desse grande golpe com que o Senhor, o tinha ferido.
20. Os habitantes de Bet-Sames disseram: Quem poderá subsistir na presença do Senhor, deste Deus Santo? E para quem irá (a arca), afastando-se de nós?
21. Mandaram dizer aos habitantes de Cariatiarim: Os filisteus devolveram a arca do Senhor; vinde e levai-a para vós.

 
Capítulo 7

1. Vieram, pois, os habitantes de Cariatiarim, transportaram a arca do Senhor, puseram-na em casa de Aminadab, sobre a colina, e consagraram o seu filho Eleazar para que a guardasse.
2. E o tempo passou. Decorridos vinte anos desde o dia em que a arca fora levada para Cariatiarim, todo o Israel se lamentava, invocando o Senhor.
3. E Samuel falou a todo o povo de Israel, dizendo: Se voltardes de todo o vosso coração para o Senhor, tirando do meio de vós os deuses estranhos e as Astarot, se vos apegardes de todo o vosso coração ao Senhor e só a ele servirdes, então ele vos livrar das mãos dos filisteus.
4. Os israelitas afastaram os Baal e as Astarot, e serviram só ao Senhor.
5. Convocai todo o Israel em Masfa, disse Samuel, e orarei por vós ao Senhor.
6. Reuniram-se em Masfa, tiraram água, derramaram-na diante do Senhor, e jejuaram aquele dia, dizendo: Pecamos contra o Senhor. Samuel era juiz de Israel em Masfa.
7. Os filisteus foram informados de que os israelitas tinham-se juntado em Masfa, e os seus príncipes marcharam contra Israel. Os israelitas o souberam e ficaram aterrorizados.
8. Disseram a Samuel: Não cesses de clamar por nós ao Senhor, nosso Deus, para que ele nos salve das mãos dos filisteus.
9. Samuel tomou um cordeiro de leite e ofereceu-o inteiro em holocausto ao Senhor; depois clamou ao Senhor por Israel, e o Senhor o ouviu.
10. Enquanto Samuel oferecia o holocausto, os filisteus começaram o combate contra Israel; o Senhor, porém, trovejou com a sua a voz fortíssima sobre os filisteus naquele momento, e eles se dispersaram, sendo batidos pelos israelitas.
11. Os vencedores, saindo de Masfa, perseguiram os filisteus e feriram-nos até o lugar que está por baixo de Bet-Car.
12. Tomou Samuel uma pedra e pô-la entre Masfa e Sen, dando-lhe o nome de Eben-Ezer, pois disse: Até aqui nos socorreu o Senhor.
13. Humilhados dessa forma, os filisteus não tentaram mais voltar ao território de Israel. A mão do Senhor pesou sobre o filisteus durante toda a vida de Samuel.
14. Foram devolvidas a Israel as cidades que os filisteus lhes tinham tomado, desde Acaron até Get. Israel livrou sua terra das mãos dos filisteus, e havia paz entre Israel e os amorreus.
15. Samuel foi juiz em Israel durante toda a sua vida.
16. Ia a cada ano visitar Betel, Gálgala e Masfa, onde pronunciava os seus juízos em favor de todo o Israel.
17. Voltava depois para Ramá, onde habitava. Ali também julgava Israel, e edificou naquele lugar um altar ao Senhor.

 
Capítulo 8

1. Samuel, tendo envelhecido, estabeleceu os seus filhos juízes de Israel.
2. Seu filho primogênito chamava-se Joel, e o segundo Abia; e julgavam em Bersabéia.
3. Os filhos de Samuel, porém, não seguiram as suas pisadas, mas deixaram-se arrastar pela cobiça, recebendo presentes e violando o direito.
4. Todos os anciãos de Israel vieram em grupo ter com Samuel em Ramá,
5. e disseram-lhe: Estás velho e teus filhos não seguem as tuas pisadas. Dá-nos um rei que nos governe, como o têm todas as nações.
6. Estas palavras: Dá-nos um rei que nos governe, desagradaram a Samuel, que se pôs em oração diante do Senhor.
7. O Senhor disse-lhe: Ouve a voz do povo em tudo o que te disseram. Não é a ti que eles rejeitam, mas a mim, pois já não querem que eu reine sobre eles.
8. Fazem contigo como sempre o têm feito comigo, desde o dia em que os tirei do Egito até o presente: abandonam-me para servir a deuses estranhos.
9. Atende-os, agora; mas declara-lhes solenemente, dando-lhes a conhecer os direitos do rei que reinará sobre eles.
10. Referiu Samuel todas as palavras do Senhor ao povo que reclamava um rei:
11. Eis, disse ele, como vos há de tratar o vosso rei: tomará os vossos filhos para os seus carros e sua cavalaria, ou para correr diante do seu carro.
12. Fará deles chefes de mil e chefes de cinqüenta, empregá-los-á em suas lavouras e em suas colheitas, na fabricação de suas armas de guerra e de seus carros.
13. Fará de vossas filhas suas perfumistas, cozinheiras e padeiras.
14. Tomará também o melhor de vossos campos, de vossas vinhas e de vossos olivais, e dá-los-á aos seus servos.
15. Tomará também o dízimo de vossas semeaduras e de vossas vinhas para dá-los aos seus eunucos e aos seus servos.
16. Tomará também vossos servos e vossas servas, vossos melhores bois e vossos jumentos, para empregá-los no seu trabalho.
17. Tomará ainda o dízimo de vossos rebanhos, e vós mesmos sereis seus escravos.
18. E no dia em que clamardes ao Senhor por causa do rei, que vós mesmos escolhestes, o Senhor não vos ouvirá.
19. O povo recusou ouvir a voz de Samuel. Não, disseram eles; é preciso que tenhamos um rei!
20. Queremos ser como todas as outras nações; o nosso rei nos julgará, marchará à nossa frente e será nosso chefe na guerra.
21. Samuel ouviu todas as palavras do povo e referiu-as ao Senhor.
22. E respondeu-lhe o Senhor: Ouve-os; dá-lhes um rei. Samuel disse aos israelitas: Volte cada um para a sua cidade.

 
Capítulo 9

1. Havia um homem de Benjamim, chamado Cis, filho de Abiel, filho de Seror, filho de Becorat, filho de Afia, de família benjaminita, que era um homem valente.
2. Tinha um filho chamado Saul, que era jovem e belo. Não havia em Israel outro mais belo do que ele; dos ombros para cima sobressaía a todo o povo.
3. Tendo-se perdido as jumentas de Cis, pai de Saul, disse aquele ao seu filho: Toma um servo contigo e vai procurar as jumentas.
4. Saul atravessou a montanha de Efraim e entrou na terra de Salisa, sem nada encontrar; percorreu a terra de Salim, mas em vão. Na terra de Benjamim não as encontrou tampouco.
5. Tendo chegado à terra de Suf, Saul disse ao seu servo: Vem, voltemos. Meu pai poderia não mais pensar nas jumentas e ficar com cuidados por nós.
6. Nesta cidade, disse-lhe o servo, há um homem de Deus, varão muito considerado; tudo o que ele prediz se cumpre. Vamos lá; talvez ele nos mostrará o caminho que devemos tomar.
7. Saul respondeu: Está bem, vamos; mas o que havemos de oferecer-lhe? Nossos alforjes estão vazios, e não temos presente algum para dar ao homem de Deus. O que nos resta?
8. Tenho aqui um quarto de siclo de prata, respondeu o servo; dá-lo-ei ao homem de Deus para que ele nos mostre o caminho.
9. (Antigamente, em Israel, todo o que ia consultar a Deus, dizia: Vinde, vamos ao vidente. Chamava-se então vidente ao que hoje se chama profeta.)
10. Saul disse ao seu servo: Tens razão. Anda, vamos E foram à cidade onde estava o homem de Deus.
11. Subindo eles a encosta da cidade, encontraram umas moças que saíam a buscar água. Há um vidente aqui?, perguntaram-lhes.
12. Sim, responderam elas; ali diante de ti. Apressa-te; ele veio hoje à cidade, porque o povo oferece um sacrifício no lugar alto.
13. Ao entrar na cidade, encontrá-lo-eis seguramente antes que suba ao lugar alto para o festim. O povo não comerá antes que ele chegue, pois ele deverá abençoar o sacrifício; os convidados só comerão depois. Subi, pois; hoje o encontrareis.
14. Subiram à cidade. No momento em que entravam, encontraram Samuel que saía para subir ao lugar alto.
15. Ora, na véspera da chegada de Saul, o Senhor tinha revelado a Samuel:
16. Amanhã, e esta mesma hora, mandar-te-ei um homem da terra de Benjamim, e tu o ungirás para chefe do meu povo de Israel, para que ele livre o povo das mãos dos filisteus. Porque voltei os meus olhos para o meu povo, e o seu clamor chegou até a mim.
17. Quando Samuel viu Saul, Deus disse-lhe: Eis o homem de quem te falei: este reinará sobre o meu povo.
18. Saul aproximou-se de Samuel à porta da cidade e disse-lhe: Rogo-te que me digas onde é a casa do vidente.
19. Sou eu mesmo o vidente, respondeu Samuel; sobe na minha frente ao lugar alto; comereis hoje comigo. Amanhã te deixarei partir, depois de ter revelado a ti tudo o que tens no coração.
20. Quanto às jumentas perdidas há dois ou três dias, não te inquietes por isso, porque já foram encontradas. E de quem será toda a beleza de Israel? Não é porventura tua e de toda a casa de teu pai?
21. Saul respondeu: Eu sou um benjaminita, filho da menor tribo de Israel; e minha família é a menor de todas as famílias de Benjamim. Por que, pois, me falas assim?
22. Samuel, tomando Saul e o seu servo, levou-os para a sala do festim e deu-lhes o primeiro lugar entre os convidados, que eram em número de aproximadamente trinta pessoas.
23. Samuel disse ao cozinheiro: Serve a porção que te dei e que te mandei pôr à parte.
24. Tomou, pois, o cozinheiro a espádua com o que nela havia e a serviu a Saul. Samuel disse: Eis diante de ti a porção que te foi reservada. Come-a; reservei-a para este momento quando convidei o povo. Saul e Samuel comeram juntos naquele dia.
25. Do lugar alto desceram para a cidade e prepararam uma cama para Saul no terraço
26. e ele foi dormir. No dia seguinte, ao romper da aurora, Samuel chamou Saul ao terraço e disse-lhe: Levanta-te, e deixar-te-ei partir. Saul levantou-se e saíram os dois juntos.
27. Quando chegaram aos limites da cidade, Samuel disse a Saul: Dize ao teu servo que passe e vá adiante de nós, e o servo passou adiante; mas tu detém-te aqui para que eu te comunique uma palavra de Deus.

 
Capítulo 10

1. Samuel tomou um pequeno frasco de óleo e derramou-o na cabeça de Saul; beijou-o e disse: O Senhor te confere esta unção para que sejas chefe da sua herança.
2. Quando te apartares hoje de mim, encontrarás dois homens junto do túmulo de Raquel, na terra de Benjamim, em Selsac. Eles te dirão: As jumentas que foste procurar foram encontradas. Teu pai não se inquieta mais por elas, mas tem cuidado por vós, e aflige-se perguntando o que poderá fazer por vós.
3. Seguirás o teu caminho até o carvalho de Tabor, onde se apresentarão a ti três homens que sobem a adorar a Deus em Betel, levando um três cabritos, outro três fatias de pão, e o terceiro um odre de vinho.
4. Depois de te saudarem, dar-te-ão dois pães e tu os receberás de suas mãos.
5. Depois disso, chegarás a Gabaa-Eloim onde se encontra o governador dos filisteus. À entrada da cidade encontrarás um grupo de profetas descendo do lugar alto, precedidos de saltérios, de tímpanos, de flautas e de cítaras, profetizando.
6. O Espírito do Senhor virá também sobre ti, profetizarás com eles e tornar-te-ás um outro homem.
7. Quando vires acontecer todos esses sinais, faze o que a circunstância te ditar, porque Deus estará contigo.
8. Descerás antes de mim a Gálgala; irei ter contigo ali, para oferecer holocaustos e sacrifícios pacíficos. Esperarás sete dias até que eu chegue; então instruir-te-ei sobre o que deverás fazer.
9. Logo que Saul voltou as costas, despedindo-se de Samuel, Deus transformou-lhe o coração. Todos esses sinais se cumpriram no mesmo dia.
10. Chegando ele a Gabaa, veio-lhe ao encontro um grupo de profetas; o Espírito de Deus apoderou-se de Saul e ele pôs-se a profetizar no meio deles.
11. Todos os que o tinham conhecido antes, vendo-o cantar com os profetas, perguntavam uns aos outros: Que aconteceu ao filho de Cis? Porventura também Saul está entre os profetas?
12. Dentre a multidão, alguém perguntou: Quem é o pai dele? De onde o provérbio: Porventura também Saul está entre os profetas?
13. Acabados esses cânticos proféticos, foi Saul para o lugar alto.
14. Seu tio disse-lhe então, e ao seu servo: Aonde fostes? Saul respondeu: À procura das jumentas; mas não as encontramos e, por isso, fomos ter com Samuel.
15. Conta-me, replicou o tio, o que vos disse Samuel.
16. Saul disse-lhe: Declarou-nos que as jumentas tinham já sido encontradas; mas nada lhe contou do que tinha dito o vidente relativamente ao reino.
17. Samuel convocou o povo diante do Senhor, em Masfa:
18. Assim, disse ele aos israelitas, fala o Senhor, Deus de Israel: Eu vos tirei do Egito, livrei-vos das mãos dos egípcios e de todos os reis que vos oprimiam.
19. Vós, porém, rejeitastes hoje o vosso Deus que vos salvou de todos os males e de todas as tribulações, e dissestes: Estabelecei um rei sobre nós. Pois bem: ponde-vos por ordem de tribos e de milhares e apresentai-vos diante do Senhor.
20. Samuel mandou que se aproximassem todas as tribos de Israel, e a tribo de Benjamim foi designada (pela sorte).
21. Mandou vir a tribo de Benjamim por famílias, e a família de Metri foi designada. E a escolha caiu, enfim, sobre Saul, filho de Cis. Procuraram-no, mas não o encontraram.
22. Consultaram então de novo o Senhor: Haverá ainda alguém que tenha vindo aqui? O Senhor respondeu: Ele escondeu-se no meio das bagagens.
23. Correram a buscá-lo e colocaram-no no meio da multidão, a qual ele excedia em altura do ombro para cima.
24. Samuel disse ao povo: Vedes aquele que o Senhor escolheu? Não há em todo o povo quem lhe seja semelhante. E todos o aclamaram, dizendo: Viva o rei!
25. Samuel expôs em seguida ao povo os direitos do rei, consignou-os em um livro que depositou diante do Senhor, e despediu todo o povo, cada um para a sua casa.
26. Saul voltou também para sua casa, em Gabaa, acompanhado de homens valentes, cujos corações tinham sido tocados por Deus.
27. Houve, porém, alguns homens maus que disseram: Que poderá este fazer por nós? Por isso desprezaram-no e não lhe levaram presente algum. Mas Saul não fez caso disso.

 
Capítulo 11

1. Naas, o amonita, pôs-se em campanha e combateu contra Jabes, em Galaad. Os habitantes de Jabes disseram-lhe: Façamos aliança, e nós te serviremos.
2. Mas Naas, o amonita, respondeu-lhes: Só farei aliança convosco com a condição de vos furar a todos o olho direito, para impor assim um opróbrio a todo o Israel.
3. Concede-nos sete dias, disseram-lhe os anciãos de Jabes, para que enviemos mensageiros por toda a terra de Israel; se não houver quem nos ajude, entregar-nos-emos a ti.
4. Foram os mensageiros a Gabaa, cidade de Saul, e contaram isso ao povo, e todo o povo pôs-se a chorar em alta voz.
5. Saul voltava então do campo, atrás dos seus bois. Que tem o povo para chorar dessa forma? disse ele. E referiram-lhe as palavras dos habitantes de Jabes.
6. Ouvindo isso, o Espírito do Senhor apoderou-se de Saul, e ele encolerizou-se.
7. Tomando uma junta de bois, fê-la em pedaços e mandou-os por mão de mensageiros por todo o território de Israel, com este aviso: Assim será feito aos bois de todo aquele que se não puser em campanha com Saul e Samuel. O terror do Senhor apoderou-se do povo e este pôs-se em marcha como um só homem.
8. Saul passou-o em revista em Bezec: havia trezentos mil homens de Israel, e trinta mil de Judá.
9. Disseram aos mensageiros que tinham vindo: Dizei aos habitantes, de Jabes, em Galaad, que amanhã, quando o sol estiver na força do seu calor, serão socorridos. Voltando, deram os mensageiros essa notícia aos habitantes de Jabes, que se alegraram.
10. Esses disseram aos amonitas: Amanhã nos renderemos a vós, e fareis de nós o que vos parecer melhor.
11. No dia seguinte, Saul dividiu o povo em três partes; penetraram ao raiar do dia no acampamento inimigo e feriram os amonitas até que chegou o grande calor do dia. Os que escaparam foram dispersos de tal sorte, que não ficaram dois deles juntos.
12. O povo disse a Samuel: Quem é que disse: Saul não reinará sobre nós? Dai-nos esses homens para que os matemos.
13. Porém, Saul respondeu: Hoje não se matará ninguém, porque é o dia em que o Senhor libertou Israel.
14. Samuel disse ao povo: Vamos a Gálgala, e renovemos ali a realeza.
15. Partiu, pois, todo o povo para Gálgala para ali confirmar Saul, em presença do Senhor, no seu título de rei, e oferecer naquele lugar sacrifícios de ações de graças. E Saul, com todos os israelitas, alegraram-se grandemente.

 
Capítulo 12

1. Samuel disse a todo Israel: Obedeci à vossa voz em tudo o que me pedistes, e estabeleci um rei sobre vós.
2. Agora tendes o rei que vos governará doravante. Quanto a mim, estou velho e encanecido, e meus filhos estão no meio de vós. Estive à vossa frente desde a minha juventude até este dia.
3. Agora, aqui me tendes! Dai testemunho de mim em presença do Senhor e do seu ungido: tomei o boi ou o jumento de alguém? Oprimi ou prejudiquei alguém? Recebi presentes de alguém para fechar os olhos ao seu proceder? Restituirei.
4. Responderam-lhe: Tu não nos prejudicaste, nem nos oprimiste, nem recebeste coisa alguma da mão de ninguém.
5. Samuel replicou: O Senhor é testemunha contra vós, e também o seu ungido, de que vós não encontrastes coisa alguma nas minhas mãos. Sim, eles são testemunhas, responderam eles.
6. Samuel disse ao povo: É, pois, testemunha o Senhor que estabeleceu Moisés e Aarão, e tirou os vossos pais do Egito.
7. Agora, apresentai-vos. Vou pleitear convosco diante do Senhor a respeito de todos os benefícios que ele vos concedeu a vós e a vossos pais.
8. Depois que Jacó entrou no Egito, vossos pais invocaram o Senhor, e o Senhor enviou Moisés e Aarão para os tirar do Egito e colocá-los neste lugar.
9. Mas esqueceram-se do Senhor, seu Deus, e ele os entregou nas mãos de Sísara, general do exército de Hazor, nas mãos dos filisteus e na mão do rei de Moab, os quais combateram contra eles.
10. Depois clamaram ao Senhor, dizendo: Pecamos, porque abandonamos o Senhor para servir aos Baal e às Astarot: agora livrai-nos das mãos de nossos inimigos, e nós vos serviremos.
11. O Senhor enviou Jerobaal, Badã, Jefté e Samuel, para salvar-vos das mãos dos inimigos que vos cercavam, a fim de habitantes em segurança nas vossas casas.
12. Mas quando vistes Naas, rei dos amonitas, marchar contra vós, dissestes-me: Não! Um rei nos governará!, quando o Senhor, nosso Deus, era o vosso rei.
13. Eis, pois, o rei que escolhestes e pedistes. O Senhor estabeleceu-o sobre vós.
14. Esteja em vós o temor ao Senhor, para o servirdes, e obedecerdes à sua voz e não vos rebelardes contra as suas vontades! Que vós sejais, vós e o vosso rei, dóceis ao Senhor, vosso Deus.
15. Mas se não ouvirdes a sua voz, e vos revoltardes contra as suas ordens, a mão do Senhor pesará sobre vós como pesou sobre vossos pais.
16. Agora, ficai ainda um pouco aqui para assistirdes ao prodígio que o Senhor vai realizar aos vossos olhos.
17. Não é porventura agora a sega do trigo? Vou invocar o Senhor e ele fará trovejar e chover. Compreendereis então que fizestes mal aos seus olhos pedindo um rei.
18. Samuel pôs-se em oração e o Senhor mandou no mesmo instante trovões e chuva; todo o povo temeu grandemente ao Senhor e a Samuel.
19. E disseram todos a Samuel: Roga pelos teus servos ao Senhor, teu Deus, para que não morramos, porque a todos nossos pecados ajuntamos o mal de pedirmos um rei.
20. Não temais, respondeu Samuel. O mal está feito; agora não vos desvieis do Senhor e servi-o de todo o vosso coração.
21. Não vos afasteis dele para seguintes coisas vãs, que não salvam nem livram, porque são vãs.
22. O Senhor, por causa do seu grande nome, não abandonará o seu povo, porque foi do seu agrado fazer de vós uma nação.
23. Longe de mim também esse pecado contra o Senhor de cessar de orar por vós! Eu vos mostrarei o caminho bom e reto.
24. Temei, pois, ao Senhor e servi-o em verdade e de todo o vosso coração, considerando as maravilhas que ele fez por vós.
25. Se, porém, fizerdes o mal, perecereis vós e o vosso rei.

 
Capítulo 13

1. Saul tinha… anos quando se tornou rei. Ele reinou… dois anos sobre Israel.
2. Saul escolheu para si três mil israelitas: dois mil para ficar com ele em Macmas e no monte Betel, e mil com Jônatas em Gabaa de Benjamim. Quanto ao resto do povo, mandou que fosse cada um para a sua tenda.
3. Jônatas destruiu a guarnição dos filisteus de Guibea. E souberam-no os filisteus. Saul mandou por toda a terra tocar a trombeta, dizendo: Saibam-no os hebreus.
4. Todo o Israel ouviu esta notícia: Saul bateu a guarnição dos filisteus, e Israel atraiu sobre si o ódio deles. O povo foi convocado diante de Saul em Gálgala.
5. Juntaram-se os filisteus para combater contra Israel, com três mil carros, seis mil cavaleiros e uma multidão tão numerosa como a areia na praia do mar. Partiram e acamparam em Macmas, ao oriente de Bet-Aven.
6. Os israelitas, vendo o aperto em que se achavam, porque estavam cercados de perto, ocultaram-se nas cavernas, nos matos, nos rochedos, nos fortins e nas cisternas.
7. Vários deles atravessaram o Jordão e foram para a terra de Gad e de Galaad. Saul, entretanto, estava ainda em Gálgala, com todo o seu povo, que tremia de medo.
8. Esperou sete dias, prazo fixado por Samuel, mas este não chegava, e o povo começou a afastar-se.
9. Então Saul disse: Trazei-me o holocausto e os sacrifícios pacíficos. E ofereceu o holocausto.
10. Apenas acabava de o oferecer, chegou Samuel, e Saul saiu-lhe ao encontro para o saudar.
11. Que fizeste?, disse Samuel. Vendo que o povo se dispersava e que tu não chegavas no tempo fixado, e que os filisteus se tinham juntado em Macmas,
12. pensei comigo: Agora eles vão cair sobre mim em Gálgala, sem que eu tenha aplacado o Senhor. Por isso ofereci eu mesmo o holocausto.
13. Samuel replicou-lhe: Procedeste insensatamente, não observando o mandamento que te deu o Senhor, teu Deus, que estava pronto a confirmar para sempre o teu trono sobre Israel.
14. Agora o teu reino não subsistirá. O Senhor escolheu para si um homem segundo o seu coração e o fará chefe de seu povo, porque não observaste as suas ordens.
15. E Samuel partiu, subindo de Gálgala a Gabaa de Benjamim. Quanto a Saul, passando em revista o povo que estava com ele, achou que havia cerca de seiscentos homens.
16. Saul, Jônatas, seu filho, e o povo que tinha ficado com eles, postaram-se em Gabaa de Benjamim, enquanto os filisteus acampavam em Macmas.
17. Três destacamentos saíram do acampamento dos filisteus com o intuito de saquear: um tomou o caminho de Efra, para a terra de Saul;
18. o outro avançou pelo caminho de Bet-Horon; e o terceiro foi pelo caminho da fronteira que domina o vale de Seboim, do lado do deserto.
19. Ora, não se encontrava um ferreiro em toda a terra de Israel, porque os filisteus diziam: Não deixemos que os hebreus fabriquem espadas ou lanças.
20. E por isso todos os israelitas tinham que descer aos filisteus para afiar cada um a sua relha, o enxadão, o machado ou a foice,
21. quando o fio das relhas, dos enxadões, dos forcados ou das cunhas se embotava, e para aguçar os aguilhões.
22. E chegando o dia do combate, não se encontrou nem espada, nem lança nas mãos do povo que acompanhava Saul e Jônatas. Somente Saul e seu filho Jônatas estavam munidos dessas armas.
23. Um grupo de filisteus tinha-se postado no desfiladeiro de Macmas.

 
Capítulo 14

1. Um dia, Jônatas, filho de Saul, disse ao seu escudeiro: Vem, passemos até ao acampamento dos filisteus que está do outro lado. Mas nada disse ao seu pai.
2. Saul estava acampado na extremidade de Gabaa, debaixo da romãzeira de Magron, com uma tropa de seiscentos homens aproximadamente.
3. Aquias, filho de Aquitob, irmão de lcabod, filho de Finéias, filho de Heli, o sacerdote do Senhor em Silo, levava o efod. O povo ignorava a saída de Jônatas.
4. Ora, no desfiladeiro que Jônatas tentava atravessar para atingir a guarnição dos filisteus, havia rochedos altos, em forma de dentes, de um e outro lado, um dos quais se chamava Boses e o outro Sene.
5. Um desses se elevava ao norte, defronte de Macmas, e o outro ao sul, do lado de Gabaa.
6. Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Vem, ataquemos a guarnição desses incircuncisos; talvez o Senhor combaterá por nós. Nada impede que ele dê a vitória a poucos tão bem como a muitos.
7. Seu escudeiro respondeu-lhe: Faze como te aprouver; vai aonde quiseres, que eu te seguirei aonde deliberares.
8. Pois bem, replicou Jônatas; marchemos contra esses homens e mostremos-nos a eles.
9. Se nos disserem: Esperai até que vamos ter convosco, ficaremos em nosso posto, e não subiremos a eles.
10. Se, porém, nos disserem: Subi a nós – iremos, porque o Senhor no-los terá entregue nas mãos. Isso nos servirá de sinal.
11. Então, mostraram-se ambos à guarnição dos filisteus. Estes disseram: Eis os hebreus que saem das cavernas onde se tinham escondido.
12. E os homens da guarda gritaram a Jônatas e ao escudeiro: Subi a nós; queremos dizer-vos uma coisa. Jônatas disse ao escudeiro: Segue-me, porque o Senhor os entregou nas mãos de Israel.
13. Subiu, pois, Jônatas, trepando com as mãos e com os pés, seguido do escudeiro. Os filisteus caíram diante de Jônatas, e o seu escudeiro matava-os atrás dele.
14. Esse foi o primeiro massacre que fizeram Jônatas e o seu escudeiro, metade de uma jeira de terra.
15. Espalhou-se o terror no acampamento dos filisteus, assim como na região e entre todo o povo. A guarnição e os saqueadores ficaram tomados de espanto, e a terra ficou em pânico: pois aquilo era como um terror de Deus.
16. As sentinelas de Saul que estavam em Gabaa de Benjamim, viram a multidão de fugitivos que se dispersava por todos os lados.
17. Saul disse ao povo: Fazei uma chamada e vede quem saiu dentre nós. Fez-se a chamada e verificou-se a falta de Jônatas e de seu escudeiro.
18. Saul disse a Aquias: Faze aproximar a arca de Deus. (Porque a arca de Deus se encontrava naquele dia com os israelitas.)
19. Enquanto Saul falava ao sacerdote, o tumulto no acampamento dos filisteus crescia cada vez mais. Saul disse ao sacerdote: Retira a tua mão.
20. O rei e todo o povo que estavam com ele foram até o lugar do combate: os filisteus, numa extrema confusão, voltavam a espada uns contra os outros.
21. Os hebreus que tinham estado desde há muito tempo com os filisteus, e que os tinham seguido ao acampamento, voltaram e puseram-se do lado dos israelitas que estavam com Saul e Jônatas.
22. Igualmente todos os israelitas que se tinham escondido no monte de Efraim, sabendo que os filisteus tinham fugido, saíram a persegui-los para os ferir.
23. Naquele dia, o Senhor deu a vitória a Israel. O combate prosseguiu até além de Bet-Aven.
24. Os israelitas estavam extenuados naquele dia, porque Saul conjurara o povo, dizendo: Maldito seja o homem que tomar alimento antes do anoitecer, antes que eu me tenha vingado de meus inimigos. Por isso ninguém tinha comido.
25. Todos tinham entrado numa floresta, onde havia mel na superfície do solo.
26. o povo entrou, pois, na floresta e viu o mel que corria, mas ninguém levou a mão à boca, por respeito ao juramento.
27. Mas Jônatas, ignorando o juramento que o seu pai obrigara o povo a fazer, estendeu a ponta da vara que tinha na mão, mergulhou-a num favo de mel e o levou à boca. Então seus olhos (fatigados) brilharam.
28. Um homem do grupo disse-lhe: Teu pai fez jurar o povo, dizendo: Maldito o homem que hoje tomar alimento. E o povo estava esgotado.
29. Jônatas disse: Meu pai fez mal à terra. Vede como se me iluminaram os olhos, porque comi um pouco de mel.
30. Ah! se o povo tivesse hoje comido da presa tomada ao inimigo, não teria sido muito maior a derrota dos filisteus?
31. Eles bateram, naquele dia, os filisteus desde Macmas até Ajalon.
32. O povo, esgotado de fadiga, lançou-se sobre a presa e tomou as ovelhas, os bois e os bezerros, que degolou sobre a terra, comendo a carne juntamente com o sangue.
33. Eis que o povo está pecando contra o Senhor, vieram dizer a Saul, comendo carne com sangue. Isso é uma impiedade, exclamou o rei; revolvei-me já para aqui uma grande pedra.
34. Ide por todo o povo, ajuntou, e dizei-lhes que cada um me traga as suas ovelhas e os seus bois, para que sejam degolados aqui. Comê-los-eis então, sem pecar contra o Senhor, comendo carne com sangue. Cada um deles levou naquela noite o gado que tinha em mãos e o degolou ali.
35. Saul edificou um altar ao Senhor. Este foi o primeiro altar que ele levantou.
36. Depois Saul disse: Desçamos durante a noite contra os filisteus e despojemo-los até os primeiros albores do dia e não deixemos vivo um só homem deles. O povo disse: Faze tudo o que melhor te parecer. Então o sacerdote disse: Aproximemo-nos aqui de Deus.
37. Saul consultou a Deus: Perseguirei os filisteus? Entregá-los-eis nas mãos de Israel? Mas Deus não lhe respondeu dessa vez.
38. Saul disse: Fazei vir aqui todos os chefes do povo; investigar e dizei-me qual é o pecado que hoje se cometeu.
39. Pela vida do Senhor, libertador de Israel! Mesmo que fosse o meu filho Jônatas, ele morrerá! Mas ninguém na multidão lhe respondeu.
40. Ponde-vos de um lado, disse ele a todo o Israel; eu e meu filho Jônatas estaremos do outro. A multidão respondeu-lhe: Faze o que te parecer melhor.
41. Saul disse ao Senhor: Deus de Israel, dai-nos a conhecer a verdade! Jônatas e Saul foram designados pela sorte, e o povo ficou livre.
42. Então Saul disse: Lançai a sorte entre mim e Jônatas, meu filho. E caiu a sorte em Jônatas.
43. Confessa-me o que fizeste, disse Saul ao seu filho. Jônatas contou-lhe: Provei um pouco de mel com a ponta da vara que eu. tinha na mão. Eis que vou morrer!
44. Saul disse: Trate-me Deus com todo o rigor, se não morreres, Jônatas!
45. Mas o povo interveio: Como haveria de perecer Jônatas, ele que deu essa vitória tão grande a Israel? Isso não pode ser! Viva Deus! Nem um só cabelo de sua cabeça cairá por terra, porque foi por Deus que ele operou hoje dessa forma. Assim o povo salvou Jônatas, e ele não morreu.
46. Saul voltou e não perseguiu os filisteus, que foram para as suas terras.
47. Saul, depois de ter tomado posse do reino de Israel, combateu contra todos os inimigos da vizinhança: Moab, os amonitas, Edom, os reis de Soba, os filisteus; para onde quer que se voltava, ele vencia.
48. Portou-se valorosamente, feriu Amalec e livrou Israel das mãos dos que o devastavam.
49. Os filhos de Saul foram Jônatas, Jessui e Melquisua; a primogênita de suas duas filhas chamava-se Merob, a mais nova Micol.
50. Sua mulher chamava-se Aquinoã, filha de Aquimaas. O general de seu exército era Abner, filho de Ner, tio de Saul.
51. Cís, pai de Saul, e Ner, pai de Abner, eram filhos de Abiel.
52. Durante todo o tempo da vida de Saul a guerra foi encarniçada contra os filisteus. O rei, logo que descobria um homem forte e valente, tomava-o a seu serviço.

 
Capítulo 15

1. Samuel disse a Saul: O Senhor enviou-me para que te consagrasse rei de seu povo de Israel. Ouve agora o que diz o Senhor.
2. Assim fala o Senhor dos exércitos: Vou pedir contas a Amalec do que ele fez a Israel, opondo-se-lhe no caminho, quando saiu do Egito.
3. Vai, pois, fere Amalec e vota ao interdito tudo o que lhe pertence, sem nada poupar: matarás homens e mulheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos.
4. Saul comunicou isso ao povo e fez o seu recenseamento em Telaim: havia duzentos mil homens de Israel e dez mil de Judá.
5. Saul avançou até a cidade de Amalec e pôs-se de emboscada no vale.
6. Disse aos cineus: Retirai-vos, separai-vos dos amalecitas, não suceda que eu vos envolva com eles (no massacre), porque tratastes bem os israelitas quando saíram do Egito. E os cineus separaram-se dos amalecitas.
7. Saul bateu os amalecitas desde Hévila até Sur, que está ao oriente do Egito.
8. Tomou vivo Agag, rei de Amalec, e votou todo o povo ao interdito, passando-o ao fio da espada.
9. Mas Saul e seus homens pouparam a Agag assim como o melhor do rebanho miúdo e do grande, os animais cevados e os cordeiros, e tudo o que havia de melhor; não quiseram votá-los ao interdito. Só exterminaram o que era ordinário e sem valor.
10. O Senhor disse a Samuel:
11. Arrependo-me de ter feito rei a Saul; ele se desviou de mim e não executou as minhas ordens. Samuel irritou-se com isso, e clamou ao Senhor durante toda a noite.
12. Na manhã seguinte, indo ao encontro de Saul, alguém veio dizer-lhe: Saul chegou ao Carmelo e erigiu ali uma estela, retomando em seguida o seu caminho para Gálgala.
13. Samuel foi ter com ele; Saul disse-lhe: Deus te abençoe! Cumpri, a ordem do Senhor.
14. Samuel disse-lhe: Mas que balidos de ovelhas são esses que ressoam aos meus ouvidos, e esses mugidos de gado que ouço?
15. É a presa tomada aos amalecitas, respondeu Saul. O povo poupou o melhor das ovelhas e dos bois para os sacrificar ao Senhor, teu Deus; o resto, votamo-lo ao interdito.
16. Samuel disse-lhe: Basta! vou cientificar-te do que o Senhor me disse esta noite. Fala, disse Saul.
17. E Samuel: Por pequeno que foste aos teus próprios olhos, acaso não te tornaste o chefe das tribos de Israel, e não te consagrou o Senhor, rei de Israel?
18. O Senhor te havia dado uma ordem, e te havia dito que votasses ao interdito esses pecadores, os amalecitas, combatendo-os até o completo extermínio.
19. Por que não ouviste a sua voz? Por que te lançaste sobre os despojos fazendo o mal aos olhos do Senhor.?
20. Mas eu obedeci à voz do Senhor, replicou Saul; fui pelo caminho que ele me traçou, trouxe Agag, rei de Amalec, e votei ao interdito os amalecitas.
21. O povo somente tomou dos despojos algumas ovelhas e bois, à guisa de primícias do interdito, para os sacrificar ao Senhor, teu Deus, em Gálgala.
22. Samuel replicou-lhe: Acaso o Senhor se compraz tanto nos holocaustos e sacrifícios como na obediência à sua voz? A obediência é melhor que o sacrifício e a submissão vale mais que a gordura dos carneiros.
23. A rebelião é tão culpável quanto a superstição; a desobediência é como o pecado de idolatria. Pois que rejeitaste a palavra do Senhor, também ele te rejeita e te despoja da realeza!
24. Saul disse: Pequei! Transgredi a ordem do Senhor e as tuas instruções, pois tive medo do povo e ouvi a sua voz.
25. Agora, peço-te, perdoa o meu pecado, e volta comigo para que eu adore o Senhor.
26. Não voltarei contigo!, exclamou Samuel. Rejeitaste a palavra do Senhor, por isso o Senhor te rejeita, e não quer mais que sejas rei de Israel.
27. Samuel voltou-se e ia-se retirando, mas Saul agarrou-o pela ponta do manto, o qual se rasgou.
28. Samuel disse-lhe: Assim o Senhor arranca hoje de ti a realeza sobre Israel, a fim de dá-la a outro melhor do que tu.
29. Aquele que é a verdade de Israel não mente, nem se arrepende, pois não é um homem para se arrepender.
30. Saul respondeu: Pequei, mas rogo-te que (continues) a honrar-me na presença. dos anciãos de meu povo e diante de Israel. Volta comigo, para eu adorar o Senhor, teu Deus!
31. Samuel voltou, pois, com o rei, e este adorou o Senhor.
32. Samuel disse: Trazei-me Agag, rei de Amalec. Aproximou-se Agag, cheio de alegria, dizendo: Certamente passou a amargura da morte!
33. Tua espada, disse-lhe Samuel, privou as mulheres de seus filhos; agora, é tua mãe que será uma mulher sem filho. E Samuel fê-lo em pedaços diante do Senhor, em Gálgala.
34. Depois disso Samuel retirou-se para Ramá, e Saul voltou para a sua casa em Gabaa de Saul.
35. O profeta não tornou mais a ver Saul até o dia de sua morte.
36. Samuel afligia-se por causa de Saul, por se ter o Senhor arrependido de tê-lo feito rei de Israel.

 
Capítulo 16

1. O Senhor disse-lhe: Até quando chorarás tu Saul, tendo-o eu rejeitado da realeza de Israel? Enche o teu corno de óleo. Vai; envio-te a Isaí de Belém, porque escolhi um rei entre os seus filhos.
2. Samuel respondeu: Como hei de ir? Se Saul souber, matar-me-á. O Senhor disse: Levarás contigo uma novilha e dirás que vais oferecer um sacrifício ao Senhor.
3. Convidarás Isaí ao sacrifício, e eu te mostrarei o que deverás fazer. Ungirás para mim aquele que eu mandar.
4. Fez Samuel como o Senhor queria. Ao chegar a Belém, os anciãos da cidade vieram-lhe ao encontro, inquietos: É de paz a tua vinda?, perguntaram-lhe.
5. Sim, disse ele; venho oferecer um sacrifício ao Senhor; purificai-vos para a cerimônia. Ele mesmo purificou Isaí e seus filhos e os convidou ao sacrifício.
6. Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: Certamente é esse o ungido do Senhor.
7. Mas o Senhor disse-lhe: Não te deixes impressionar pelo seu belo aspecto, nem pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei. O que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração.
8. Isaí chamou Abinadab e fê-lo passar diante de Samuel. Não é tampouco este, pensou Samuel, que o Senhor escolheu.
9. Isaí fez passar Sama. Não é ainda este que escolheu o Senhor, pensou Samuel.
10. Isaí mandou vir assim os seus sete filhos diante do profeta, que lhe disse: O Senhor não escolheu nenhum deles.
11. E ajuntou: Estão aqui todos os teus filhos? Resta ainda o mais novo, confessou Isaí, que está .pastoreando as ovelhas. Samuel ordenou a Isaí: Manda buscá-lo, pois não nos poremos à mesa antes que ele esteja aqui.
12. E Isaí mandou buscá-lo. Ele era louro, de belos olhos e mui formosa aparência. O Senhor disse: Vamos, unge-o: é ele.
13. Samuel tomou o corno de óleo e ungiu-o no meio dos seus irmãos. E, a partir daquele momento, o Espírito do Senhor apoderou-se de Davi. Samuel, porém, retomou o caminho de Ramá.
14. O Espírito do Senhor retirou-se de Saul, e um espírito mau veio sobre ele, enviado pelo Senhor.
15. Os homens de Saul disseram-lhe: Eis que um mau espírito de Deus veio sobre ti.
16. Que nosso senhor ordene, e teus servos aqui presentes procurarão um homem que saiba tocar harpa e, quando o mau espírito de Deus estiver sobre ti, ele tocará o instrumento para acalmar-te.
17. Está bem, respondeu Saul, procurai-me um bom músico e trazei-mo.
18. Um dos servos declarou: Conheço um filho de Isaí de Belém que sabe tocar muito bem: é valente e forte, fala bem, tem um belo rosto, e o Senhor está com ele.
19. Saul mandou mensageiros a Isaí, para dizer-lhe: Manda-me o teu filho Davi, o pastor.
20. Isaí tomou um jumento carregado com pão, um odre de vinho e um cabrito, e mandou esses presentes a Saul, por seu filho.
21. Davi chegou à casa do rei e apresentou-se a ele. Saul afeiçoou-se a Davi e o fez seu escudeiro.
22. Mandou então dizer a Isaí: Peço-te que deixes Davi a meu serviço, porque ele me é simpático.
23. E sempre que o espírito mau de Deus acometia o rei, Davi tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau o deixava.

 
Capítulo 17

1. Mobilizaram os filisteus as suas tropas para a guerra e concentraram-se em Soco, em Judá. Acamparam entre Soco e Azeca, em Efes-Domim.
2. Saul e os israelitas mobilizaram-se de seu lado e acamparam no vale do Terebinto, pondo-se em linha de combate contra os filisteus.
3. Estes estavam num lado da montanha e Israel na colina defronte; o vale os separava.
4. Saiu do acampamento dos filisteus um campeão chamado Golias, de Get, cujo talhe era de seis côvados e um palmo.
5. Trazia na cabeça um capacete de bronze e no corpo uma couraça de escamas, cujo peso era de cinco mil siclos de bronze.
6. Tinha perneiras de bronze e um dardo de bronze entre os ombros.
7. O cabo de sua lança era como o cilindro de um tear, e sua ponta pesava seiscentos siclos de ferro. Um escudeiro o precedia.
8. Apresentou-se ele diante das tropas israelitas e gritou-lhes: Por que viestes dispostos a uma batalha? Não sou eu filisteu, e vós os escravos de Saul? Escolhei entre vós um homem que desça contra mim.
9. Se ele me vencer, batendo-se comigo, e matar-me, seremos vossos escravos; mas, se eu o vencer e o matar, então sois vós que sereis nossos escravos e nos servireis!
10. E ajuntou: Lanço hoje este desafio ao exército de Israel: dai-me um homem para lutarmos juntos!
11. Saul e todo o Israel ouviram essas palavras do filisteu, e ficaram consternados, cheios de medo.
12. Ora, Davi era um dos oito filhos de um efrateu de Belém de Judá, chamado Isaí, já idoso no tempo de Saul.
13. Seus três filhos mais velhos tinham seguido Saul na guerra. Chamavam-se: o primogênito Eliab, Abinadab o segundo e o terceiro Sama.
14. Davi era o mais novo. Os três mais velhos estavam com Saul,
15. e Davi ora ia ao acampamento de Saul, ora voltava para apascentar o rebanho de seu pai em Belém.
16. O filisteu aproximava-se pela manhã e pela tarde, e isso por quarenta dias seguidos.
17. Um dia, disse Isaí ao seu filho Davi: Toma para teus irmãos um efá de grão torrado e estes dez pães, e apressa-te a levá-los aos teus irmãos no acampamento.
18. Entrega estes dez queijos ao chefe dos mil. Informa-te se teus irmãos vão bem e traze algo de sua parte como prova.
19. Eles estavam com Saul e todos os homens de Israel no vale do Terebinto, em guerra com os filisteus.
20. No dia seguinte pela manhã, Davi, confiando o rebanho a um pastor, tomou sua bagagem e partiu, como lhe ordenara Isaí. Chegou ao acampamento no momento em que saía o exército para a batalha, levantando o grito de guerra.
21. Israel e os filisteus puseram-se em linha de combate, tropa contra tropa.
22. Davi entregou sua carga ao guarda das bagagens e correu às fileiras para informar-se de seus irmãos.
23. Enquanto lhes falava, eis que o campeão filisteu, Golias, de Get, avançou para fora das fileiras do seu exército, proferindo o mesmo desafio (como nos dias precedentes), que Davi escutou.
24. Todo o Israel recuava à vista do homem, tremendo de medo.
25. Vedes, diziam eles, esse homem que avança? Ele vem insultar Israel. Aquele que o matar, o rei o cumulará de favores, dar-lhe-á sua filha e isentará de impostos em Israel a casa de seu pai.
26. Davi perguntou aos que estavam perto dele: Que será feito àquele que ferir esse filisteu e tirar o opróbrio que pesa sobre Israel? E quem é esse filisteu incircunciso para insultar desse modo o exército do Deus vivo?
27. E deram-lhe a mesma resposta: Dar-se-á isto e isto a quem o ferir.
28. Eliab, seu irmão mais velho, ouvindo-o falar assim, encolerizou-se: Por que vieste aqui? Com quem deixaste tuas ovelhas no deserto? Conheço a tua pretensão e a tua má índole; foi para ver a batalha que vieste!
29. Que fiz eu de mal?, respondeu Davi. Nada mais fiz que uma simples pergunta!
30. E afastou-se de seu irmão, indo perguntar a outros, dos quais obteve sempre as mesmas respostas.
31. As palavras de Davi foram ouvidas e comunicadas a Saul, que o mandou vir à sua presença.
32. Davi disse-lhe: Ninguém desanime por causa desse filisteu! Teu servo irá combatê-lo.
33. Combatê-lo, tu?!, exclamou o rei. Não é possível. Não passas de um menino e ele é um homem de guerra desde a sua mocidade.
34. Davi respondeu a Saul: Quando o teu servo apascentava as ovelhas do seu pai e vinha um leão ou um urso roubar uma ovelha do rebanho,
35. eu o perseguia e o matava, tirando-lhe a ovelha da boca. E se ele se levantava contra mim, agarrava-o pela goela e estrangulava-o.
36. Assim como o teu servo matou o leão e o urso, assim fará ele a esse filisteu incircunciso, que insultou os exércitos do Deus vivo.
37. O Senhor, acrescentou, que me salvou das garras do leão e do urso, salvar-me-á também das mãos desse filisteu. Vai, disse Saul a Davi; e que o Senhor esteja contigo!
38. O rei revestiu Davi com sua armadura, pôs-lhe na cabeça um capacete de bronze e armou-o de uma couraça.
39. Davi cingiu a espada de Saul por cima de sua armadura e tentou andar com aquela equipagem inusitada. Mas disse a Saul: Não posso andar com isso, pois não estou habituado!
40. E, tirando a armadura, tomou seu cajado e escolheu no regato cinco pedras lisas, pondo-as no alforje de pastor que lhe servia de bolsa. Em seguida, com a sua funda na mão, avançou contra o filisteu.
41. De seu lado, o filisteu, precedido de seu escudeiro, aproximou-se de Davi,
42. mediu-o com os olhos, e, vendo que era jovem, louro e de delicado aspecto, desprezou-o.
43. Disse-lhe: Sou eu porventura um cão, para vires a mim com um cajado? E amaldiçoou-o em nome de seus deuses.
44. Vem, continuou ele, e eu darei a tua carne às aves do céu e aos animais da terra!
45. Davi respondeu: Tu vens contra mim com espada, lança e escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do Senhor dos exércitos, do Deus das fileiras de Israel, que tu insultaste.
46. Hoje o Senhor te entregará nas minhas mãos, e eu te matarei, cortar-te-ei a cabeça, e darei os cadáveres do exército dos filisteus às aves do céu e aos animais da terra. Toda a terra saberá que há um Deus em Israel;
47. e toda essa multidão saberá que não é com a espada nem com a lança que o Senhor triunfa, pois a batalha é do Senhor, e ele vos entregou em nossas mãos!
48. Levantou-se o filisteu e marchou contra Davi. Davi também correu para a linha inimiga ao encontro do filisteu.
49. Meteu a mão no alforje, tomou uma pedra e arremessou-a com a funda, ferindo o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe na fronte, e o gigante caiu com o rosto por terra.
50. Assim venceu Davi o filisteu, ferindo-o de morte com uma funda e uma pedra. E como não tinha espada na mão,
51. correu ao filisteu, subiu-lhe em cima, arrancou-lhe a espada da bainha e acabou de matá-lo, cortando-lhe a cabeça. Vendo morto o seu campeão, os filisteus fugiram.
52. Os homens de Israel e de Judá levantaram-se então, soltando gritos de guerra, e perseguiram os inimigos até a entrada de Get e até as portas de Acaron. Os cadáveres dos filisteus juncavam o caminho desde Saraim até Get e até Acaron.
53. Voltando da perseguição, os israelitas saquearam o acampamento dos inimigos.
54. Davi tomou a cabeça do filisteu e mandou levá-la para Jerusalém. Conservou, porém, em sua própria tenda a armadura de Golias.
55. Quando Saul viu Davi partir ao encontro do filisteu, disse a Abner, seu general: De quem é filho esse jovem, Abner? Por tua vida, ó rei, respondeu Abner, não o sei.
56. Disse-lhe o rei: Informa-te, pois, de quem é filho esse jovem.
57. E quando voltou Davi, depois de ter matado o filisteu, levou-o Abner à presença de Saul, tendo ainda na mão a cabeça de Golias.
58. Saul perguntou-lhe: Quem é o teu pai, ó jovem? Eu sou filho de Isaí de Belém, teu servo, respondeu Davi.

 
Capítulo 18

1. Tendo Davi acabado de falar com Saul, a alma de Jônatas apegou-se à alma de Davi, e Jônatas começou a amá-lo como a si mesmo.
2. Naquele mesmo dia Saul o reteve em sua casa e não o deixou voltar para a casa de seu pai.
3. Jônatas fez um pacto com Davi, que ele amava como a si mesmo.
4. Tirou o seu manto, deu-o a Davi, bem como a sua armadura, sua espada, seu arco e seu cinto.
5. Saul incumbiu Davi de diversas missões, e todas foram muito frutuosas. Colocou-o à frente dos seus guerreiros, e ele ganhou a simpatia de todo o povo, inclusive dos servos do rei.
6. Voltando o exército, depois de Davi ter matado o filisteu, de todas as cidades de Israel saíam as mulheres ao encontro do rei Saul, cantando e dançando alegremente, ao som de tamborins e címbalos.
7. E enquanto dançavam, diziam umas às outras: Saul matou seus milhares, e Davi seus dez milhares.
8. Saul irritou-se em extremo, e desagradou-lhe tal coisa. Dão dez mil a Davi, disse ele, e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa!
9. E a partir daquele dia, Saul olhou Davi com maus olhos.
10. No dia seguinte, apoderou-se dele o mau espírito de Deus, e teve um acesso de delírio em sua casa. Como nos outros dias, Davi pôs-se a tocar a cítara.
11. Saul, que tinha uma lança na mão, arremessou-a contra Davi, dizendo: Vou cravá-lo na parede! Mas Davi se desviou do golpe por duas vezes.
12. Saul temia Davi, porque o Senhor estava com o jovem, e tinha-se retirado dele.
13. Afastou-o então de si, estabelecendo-o chefe de mil homens, à frente dos quais Davi empreendia as suas expedições.
14. Saía-se bem em todas as suas empresas, porque o Senhor estava com ele.
15. Saul, vendo-o tão engenhoso, teve medo dele.
16. Mas todos em Israel e Judá o amavam, porque ele entrava e saía diante deles.
17. Saul disse a Davi: Eis minha filha mais velha, Merab, que eu te darei por mulher, contanto que sejas valoroso e combatas nas guerras do Senhor. Saul pensava: Não é bom que o fira a minha mão, mas antes a dos filisteus.
18. Davi respondeu: Quem sou eu? E o que é a minha vida ou a família de meu pai em Israel, para que me torne genro do rei?
19. Ora, tendo chegado o tempo em que Merab, filha de Saul, devia ser dada a Davi, deram-na em casamento a Hadriel, o molatita.
20. Ora, Micol, filha de Saul, amava Davi. E contaram-no a Saul, que se alegrou com isso.
21. Vou dar-lhe Micol, pensava Saul, para que ela lhe seja uma armadilha, e ele caia na mão dos filisteus. Saul disse, pois, a Davi pela segunda vez: Agora vais tornar-te meu genro.
22. E ordenou aos seus servos que dissessem em segredo a Davi: O rei afeiçoou-se a ti e todos os seus servos te amam. Torna-te genro do rei.
23. Os servos de Saul repetiram essas palavras aos ouvidos de Davi, mas este respondeu: Parece-vos pouca coisa ser genro do rei? Eu sou pobre e de condição humilde.
24. Os servos de Saul referiram-lhe as palavras de Davi.
25. Dir-lhe-eis, respondeu Saul, que o rei só pede como dote cem prepúcios de filisteus, para vingar-se dos seus inimigos. Seu desígnio era entregar Davi nas mãos dos filisteus.
26. Transmitiram os servos a Davi essa mensagem, o qual se agradou da proposta de tornar-se genro do rei.
27. Antes que expirasse o termo fixado, Davi partiu com seus homens; matou duzentos filisteus e trouxe os seus prepúcios, entregando-os integralmente ao rei, para se tornar seu genro. Saul deu-lhe por mulher sua filha Micol.
28. Ele compreendeu que o Senhor estava com Davi. Sua filha Micol o amava.
29. O rei sentiu com isso redobrar o seu medo. Durante todo o resto de sua vida ele detestou Davi.
30. Cada vez que os chefes dos filisteus faziam incursões, Davi era mais bem-sucedido que todos os homens de Saul, o que deu ao seu nome grande fama.

 
Capítulo 19

1. Saul falou ao seu filho Jônatas e a todos os servos, ordenando-lhes que matassem Davi. Mas Jônatas, que tinha grande afeição por Davi,
2. preveniu-o disso: Saul, meu pai, procura matar-te. Está de sobreaviso amanhã cedo; esconde-te.
3. Sairei em companhia de meu pai ao campo onde estiveres. Falar-lhe-ei de ti, para ver o que ele diz, e te avisarei depois.
4. Jônatas falou bem de Davi ao seu pai, e ajuntou: Que o rei não faça mal algum ao seu servo Davi, pois que ele nunca te fez mal algum. Ao contrário, prestou-te grandes serviços.
5. Arriscou a sua vida para matar o filisteu, e o Senhor deu uma grande vitória a Israel. Foste testemunha disso e te alegraste. Por que queres pecar contra o sangue inocente, matando Davi sem motivo?
6. Saul ouviu a voz de Jônatas, e fez este juramento: Pela vida do Senhor, Davi não morrerá!
7. Então Jônatas chamou Davi e contou-lhe tudo isso. Levou-o em seguida a Saul, para que ele retomasse o seu lugar como dantes.
8. Tendo recomeçado a guerra, marchou Davi contra os filisteus, combatendo-os e infligindo-lhes uma grande derrota, e eles fugiram diante dele.
9. O mau espírito do Senhor, porém, veio novamente sobre Saul. Estava ele sentado em sua casa, com a lança na mão; Davi tocava a cítara.
10. Saul, então, arremessou-lhe a lança, procurando cravá-lo na parede; Davi desviou-se e a lança foi cravar-se na parede. Davi esquivou-se e fugiu naquela mesma noite.
11. Ora, mandou o rei emissários à casa de Davi, para terem-no seguro e assassiná-lo pela manhã. Mas Micol, mulher de Davi, disse-lhe: Se não fugires esta noite, amanhã serás um homem morto.
12. Fê-lo, pois, descer pela janela, e ele fugiu são e salvo.
13. Micol tomou o terafim, meteu-o na cama, colocou-lhe em redor da cabeça uma cobertura de pele de cabra, e cobriu tudo com um manto.
14. Quando chegaram os enviados de Saul para prender Davi, ela disse-lhes: Ele está doente.
15. Saul mandou-os de novo, com ordem de vê-lo, dizendo: Trazei-mo com sua cama, e eu o matarei.
16. Tendo chegado os mensageiros, só encontraram na cama o terafim com uma cobertura de pele de cabra no lugar da cabeça.
17. Saul disse a Micol: Por que me enganaste assim, deixando escapar o meu inimigo? Micol respondeu: Porque ele me disse: deixa-me partir, senão te mato!
18. Davi fugiu, pois, e foi ocultar-se junto de Samuel, em Ramá; e contou-lhe tudo o que Saul lhe fizera. E foram ambos morar em Naiot.
19. Disseram a Saul: Davi está em Naiot, perto de Ramá.
20. Saul mandou homens para prendê-lo, mas quando viram a comunidade dos profetas em delírio, tendo Samuel à sua frente, o espírito de Deus veio sobre os enviados de Saul que começaram, também eles, a profetizar.
21. Contaram-no a Saul, que enviou outros mensageiros, mas também estes se puseram a cantar como os primeiros. Saul mandou um terceiro grupo, os quais também profetizaram.
22. Então ele foi pessoalmente a Ramá. Chegando à grande cisterna de Soco, perguntou: Onde estão Samuel e Davi? Estão em Naiot, responderam-lhe, perto de Ramá.
23. Mas, no caminho para Naiot, assaltou-o também o espírito de Deus, e Saul foi tomado de transes por todo o caminho até chegar a Naiot.
24. Despiu suas vestes, profetizando diante de Samuel e ficou assim despido, prostrado por terra durante todo o dia e toda a noite. Daí o ditado: Está Saul também entre os profetas?

 
Capítulo 20

1. Partiu Davi de Naiot, perto de Ramá e veio ter com Jônatas. Disse-lhe: Que fiz eu? Qual é o meu crime, e que mal fiz ao teu pai, para que ele queira matar-me?
2. Não, respondeu Jônatas, tu não morrerás! Meu pai não faz coisa alguma, grande ou pequena, sem me dizer. Por que me ocultaria isso? Não é possível!
3. Mas Davi insistiu com juramento: Teu pai bem sabe que eu te sou simpático, e por isso deve ter pensado: que Jônatas não o saiba, para que não se entristeça demasiado. Por Deus e pela tua vida, há apenas um passo entre mim e a morte!
4. Jônatas respondeu-lhe: Que queres que eu faça? Eu o farei.
5. Amanhã, disse Davi, é lua nova, e eu devia jantar à mesa do rei. Deixa-me partir; ocultar-me-ei no campo até a tarde do terceiro dia.
6. Se teu pai notar minha ausência, dir-lhe-ás que te pedi licença para ir até Belém, minha cidade natal, onde toda a minha família oferece um sacrifício anual.
7. Se ele disser que está bem, o teu servo nada terá a temer; mas se ele, ao contrário, se irritar, fica sabendo que ele decretou a minha perda.
8. Mostra-te amigo para com teu servo, pois que fizeste um pacto comigo em nome do Senhor. Se eu tenho alguma culpa, mata-me tu mesmo; por que fazer-me comparecer diante do teu pai?
9. Jônatas disse-lhe: Longe de ti tal coisa! Se eu souber que de fato meu pai resolveu perder-te, juro que te avisarei.
10. Mas quem me informará, perguntou Davi, se teu pai te responder duramente?
11. Vamos ao campo, disse-lhe Jônatas. E foram ambos ao campo.
12. Então Jônatas falou: Por Javé, Deus de Israel! Amanhã ou depois de amanhã sondarei meu pai. Se tudo for favorável a ti e eu não te avisar,
13. então o Senhor me trate com todo o seu rigor! E se meu pai te quiser fazer mal, avisar-te-ei da mesma forma; deixar-te-ei então partir e poderás estar tranqüilo. Que o Senhor esteja contigo, como esteve com meu pai!
14. Mais tarde, se eu for ainda vivo, conservar-me-ás tua amizade (em nome) do Senhor. Mas, se eu morrer,
15. não retires jamais tua benevolência de minha casa, nem mesmo quando o Senhor exterminar da face da terra todos os inimigos de Davi!
16. Foi assim que Jônatas fez aliança com a casa de Davi, e o Senhor vingou-se dos inimigos de Davi.
17. Jônatas conjurou ainda uma vez a Davi, em nome da amizade que lhe consagrava, pois o amava de toda a sua alma.
18. Amanhã, continuou Jônatas, é lua nova, e notarão tua ausência.
19. Descerás, pois, sem falta, depois de amanhã ao lugar onde te escondeste no dia do ajuste, e ficarás junto à pedra de Ezel.
20. Atirarei três flechas para o lado da pedra como se visasse a um alvo.
21. Depois mandarei meu servo buscar as flechas. Se eu lhe gritar: Olha! Estão atrás de ti, apanha-as! Então poderás vir, porque tudo te é favorável, e não há mal algum a temer, por Deus!
22. Se, porém, eu disser ao rapaz: Olha! As flechas estão diante de ti, um pouco mais longe. Então foge, porque essa é a vontade de Deus.
23. Quanto à palavra que nos demos um ao outro, o Senhor seja testemunha entre nós para sempre.
24. Davi escondeu-se no campo. No dia da lua nova, o rei pôs-se à mesa para comer,
25. sentando-se, como de costume, numa cadeira junto à parede. Jônatas levantou-se para que Abner pudesse sentar-se ao lado de Saul, e o lugar de Davi ficou desocupado.
26. Naquele dia Saul não disse nada. Algo aconteceu-lhe, pensou ele; provavelmente não está puro; deve ter contraído alguma impureza.
27. No dia seguinte, segundo dia da lua, o lugar de Davi continuava vazio. Saul disse ao seu filho Jônatas: Por que o filho de Isaí não veio comer, nem ontem nem hoje?
28. Davi pediu-me com instâncias, respondeu Jônatas, para ir a Belém.
29. Disse-me: deixa-me ir, rogo-te, porque temos na cidade um sacrifício de família, ao qual meu irmão me convidou. Se me queres dar um prazer, permite-me que vá rever meus irmãos. Por isso não veio ele à mesa do rei.
30. Então Saul encolerizou-se contra Jônatas: Filho de prostituta, disse-lhe, não sei eu porventura que és amigo do filho de Isaí, o que é uma vergonha para ti e para tua mãe?
31. Enquanto viver esse homem na terra, não estarás seguro, nem tu nem o teu trono. Vamos! Vai buscá-lo e traze-mo; ele merece a morte!
32. Jônatas respondeu ao seu pai: Por que deverá ele morrer? Que fez ele?
33. Saul brandiu sua lança para feri-lo, e Jônatas viu que a morte de Davi era coisa decidida pelo seu pai.
34. Furioso, deixou a mesa sem comer naquele segundo dia da lua. As injúrias que seu pai tinha proferido contra a Davi tinham-no afligido profundamente.
35. Na manhã seguinte, Jônatas saiu ao campo e foi ao lugar combinado com Davi, acompanhado de um jovem servo.
36. Vai, disse ele, e traze-me as setas que vou atirar. Mas, enquanto o rapaz corria, Jônatas atirou outra flecha mais para além dele.
37. Quando chegou ao lugar da flecha, Jônatas gritou-lhe: Não está a flecha mais para lá de ti?
38. E ajuntou: Vamos, apressa-te, não te demores. O servo apanhou a flecha e voltou ao seu senhor; e de nada suspeitou,
39. porque só Jônatas e Davi conheciam o ajuste.
40. Depois disso, entregou Jônatas suas armas ao rapaz, dizendo-lhe: Vai, leva-as para a cidade.
41. Logo que ele partiu, deixou Davi o seu esconderijo e curvou-se até a terra, prostrando-se três vezes; beijaram-se mutuamente, chorando, e Davi estava ainda mais comovido que o seu amigo.
42. Jônatas disse-lhe: Vai em paz, agora que demos um ao outro nossa palavra com este juramento: o Senhor seja para sempre testemunha entre ti e mim, entre a tua posteridade e a minha!
43. Davi partiu, e Jônatas voltou para a cidade.

 
Capítulo 21

1. Davi foi para Nobe. Chegando à casa do sacerdote Aquimelec, este saiu-lhe ao encontro muito inquieto, dizendo: Por que estás só? Não há ninguém contigo?
2. Davi respondeu-lhe: O rei confiou-me uma missão, com a ordem de não revelar a ninguém o motivo por que me enviou. Combinei com os meus servos um encontro em certo lugar.
3. E agora, se tens à mão alguma coisa, dá-me cinco pães ou qualquer outra coisa que tenhas disponível.
4. Aquimelec respondeu: Não tenho à mão o pão ordinário, mas só pães consagrados, com a condição, no entanto, de que teus servos se tenham abstido de mulheres.
5. Respondeu-lhe Davi: Não tivemos comércio com mulher alguma desde que parti, há três dias. Todos os objetos que pertencem aos meus servos estão puros; e, se nossa missão é profana, pode ser santificada por aquele que a cumpre.
6. Então o sacerdote deu-lhe os pães consagrados, porque não havia ali senão os pães da proposição, que tinham sido tirados da presença do Senhor e imediatamente substituídos por pães frescos.
7. Ora, achava-se em Nobe naquele dia, retido na presença do Senhor, um dos servos de Saul, chamado Doeg, o edomita, chefe dos pastores de Saul.
8. Disse Davi a Aquimelec: Tens aqui à mão uma lança ou uma espada? Nem sequer tive tempo de tomar minha lança e minhas armas, tão apressado estava o rei.
9. Tenho a espada do filisteu Golias, respondeu o sacerdote, que tu mesmo mataste no vale do Terebinto. Está embrulhada num pano, atrás do efod. Se quiseres, podes tomá-la, pois não há aqui nenhuma outra. Não há outra igual, replicou Davi; dá-ma.
10. Levantou-se Davi e prosseguiu sua fuga diante de Saul, indo para junto de Aquis, rei de Get.
11. Os servos de Aquis disseram ao rei: Não é este Davi, o rei da terra? Aquele de quem cantavam em coro: Saul matou seus milhares, mas Davi seus dez milhares?
12. Davi, impressionado com essas palavras, teve medo de Aquis, rei de Get.
13. Simulou loucura diante deles, comportando-se como demente: tamborilava nos batentes da porta e deixava correr saliva pela barba.
14. Aquis disse aos seus servos: Bem vedes que este homem está louco. Por que mo trouxestes?
15. Não tenho eu aqui loucos bastantes para me trazerdes ainda este, e me aborrecer com suas excentricidades? Ele não porá os pés na minha casa.

 
Capítulo 22

1. Davi partiu dali e refugiou-se na caverna de Odolão. Seus irmãos e toda a sua família, ouvindo isso, foram juntar-se a ele.
2. Todos os que se viam em miséria, os endividados, os descontentes, foram ter com Davi, e ele tornou-se o seu chefe. E estiveram com ele cerca de quatrocentos homens.
3. Dali foi Davi para Masfa, em Moab, e disse ao rei de Moab: Permiti que meu pai e minha mãe venham habitar no meio de vós, até que eu saiba o que o Senhor me reserva.
4. Apresentou-os, pois, ao rei de Moab, e ficaram com ele durante todo o tempo em que Davi permaneceu no fortim.
5. Mas o profeta Gad disse a Davi: Não fiques no fortim. Parte, volta à terra de Judá. Davi partiu e internou-se na floresta de Haret.
6. Saul foi informado de que haviam descoberto Davi e os seus. Estava o rei em Gabaa, sentado debaixo de uma tamareira, na colina, com a sua lança na mão, tendo todos os seus familiares em redor de si.
7. Saul disse-lhes: Escutai, benjaminitas: será que o filho de Isaí dará a todos vós campos e vinhas? Irá ele fazer de todos vós chefes de milhares e chefes de centenas?
8. Por que vos conjurastes contra mim? Ninguém de vós me informou que meu filho tinha feito aliança com o filho de Isaí, e ninguém se deu o trabalho de avisar-me que meu filho instigava meu servo contra mim, para armar-me ciladas, como ele o faz hoje!
9. Doeg, o edomita, que era o primeiro entre os domésticos de Saul, respondeu: Eu vi o filho de Isaí chegar a Nobe, à casa de Aquimelec, filho de Aquitob.
10. Este consultou o Senhor por ele e deu-lhe provisões, entregando-lhe também a espada do filisteu Golias.
11. O rei mandou chamar o sacerdote Aquimelec, filho de Aquitob, com toda a casa de seu pai, os sacerdotes que estavam em Nobe. Chegando eles à presença do rei,
12. Saul disse-lhes: Escuta, filho de Aquitob! Eis-me aqui, meu senhor, respondeu ele.
13. Por que, retomou Saul, conspiraste contra mim, tu e o filho de Isaí? Deste-lhe pão e uma espada, e consultaste Deus por ele, a fim de que ele se revolte contra mim e me arme ciladas como hoje acontece.
14. Aquimelec respondeu ao rei: Haverá entre todos os teus servos alguém mais fiel que Davi, genro do rei, teu conselheiro, um homem estimado por toda a tua casa?
15. Foi porventura hoje que comecei a consultar Deus por ele? Longe de mim (qualquer idéia de revolta)! Não impute o rei crime algum ao seu servo, nem à sua família! Teu servo nada soube de tudo isto, nem pouco nem muito.
16. O rei disse: Tu morrerás, Aquimelec, tu e toda a tua família!
17. E, dirigindo-se aos guardas que o cercavam: Ide, disse ele; matai os sacerdotes do Senhor, pois fizeram-se cúmplices de Davi: sabiam de sua fuga e não me preveniram. Mas os guardas do rei se recusaram a levantar a mão contra os sacerdotes do Senhor.
18. Então o rei ordenou a Doeg: Vamos, fere-os. E Doeg, o edomita, aproximou-se e foi ele quem matou os sacerdotes. Massacrou naquele dia oitenta e cinco homens que vestiam o efod de linho.
19. Ordenou também Saul que fosse passada ao fio da espada a cidade sacerdotal de Nobe: homens, mulheres, meninos, crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas.
20. Só escapou um filho de Aquimelec, filho de Aquitob, chamado Abiatar, que se refugiou junto de Davi.
21. Abiatar anunciou-lhe que Saul tinha massacrado os sacerdotes do Senhor.
22. Davi disse-lhe: Eu bem suspeitava naquele dia que, estando ali Doeg, o edomita, ele iria contar tudo a Saul. Sou eu o culpado da morte de toda a casa de teu pai.
23. Fica comigo; não temas. Aquele que odeia a minha vida, odeia igualmente a tua. Junto de mim estarás seguro.

 
Capítulo 23

1. Disseram a Davi: Os filisteus estão atacando Ceila e pilhando as eiras.
2. Davi consultou o Senhor: Devo ferir os filisteus? O Senhor respondeu: Vai; tu os ferirás e libertarás Ceila.
3. Os homens de Davi, porém, disseram-lhe: Mesmo aqui em Judá estamos cheios de medo; quanto mais se formos a Ceila contra as tropas dos filisteus?
4. Davi consultou novamente o Senhor, que lhe respondeu: Vai; desce a Ceila, porque entrego os filisteus nas tuas mãos.
5. Davi foi para Ceila com os seus homens e atacou os filisteus, tomando-lhes o gado e infligindo-lhes uma grande derrota. Assim libertou os habitantes de Ceila.
6. (Ora, quando Abiatar, filho de Aquimelec, fugira para junto de Davi a Ceila, levava consigo o efod.)
7. Saul foi informado de que Davi se encontrava em Ceila, e disse: Deus entregou-o nas minhas mãos, pois foi encerrar-se em uma cidade com portas e ferrolhos.
8. O rei convocou todo o povo às armas para descer a Ceila e sitiar Davi com sua tropa.
9. Mas Davi, sabendo que Saul maquinava perdê-lo, disse ao sacerdote Abiatar: Traze o efod!
10. E ajuntou: Senhor, Deus de Israel, vosso servo sabe que Saul pretende penetrar em Ceila para destruir a cidade por causa de mim.
11. Será que os habitantes de Ceila me entregarão nas suas mãos? Saul descerá como o vosso servo ouviu dizer? Senhor, Deus de Israel, fazei-o saber ao vosso servo. O Senhor respondeu: Ele descerá.
12. E Davi ajuntou: Os habitantes de Ceila entregar-me-ão a mim e a meus homens, nas mãos de Saul? O Senhor respondeu: Entregarão.
13. Então Davi partiu precipitadamente com a sua tropa, em número de aproximadamente seiscentos homens, e saíram de Ceila, marchando ao acaso. Saul, informado de que Davi deixara Ceila, renunciou à expedição.
14. Davi permaneceu no deserto, em lugares bem protegidos, e habitou no monte do deserto de Zif. Saul procurava-o sem cessar; mas Deus não o entregou nas suas mãos.
15. Davi, sabendo que Saul tinha saído para tirar-lhe a vida, ficou no deserto de Zif, em Horcha.
16. Então Jônatas, filho de Saul, foi ter com ele em Horcha. E confortou-o em Deus, dizendo:
17. Não temas, porque não te atingirá a mão de meu pai. Tu reinarás sobre Israel, e eu serei o teu segundo; meu pai bem o sabe.
18. Fizeram ambos aliança diante do Senhor. Davi ficou em Horcha e Jônatas voltou para a sua casa.
19. Alguns zifeus subiram a ter com Saul em Gabaa, e disseram-lhe: Davi está escondido entre nós no fortim de Horcha, na colina de Haquila, à direita do deserto.
20. Desce, pois, ó rei, já que tanto o desejas, e nós nos encarregamos de entregá-lo nas tuas mãos.
21. Que o Senhor vos abençoe, respondeu Saul, porque vos compadecestes de mim.
22. Ide, informai-vos diligentemente, e procurai saber o lugar onde ele se encontra, ou se alguém o viu, porque me foi dito que ele é muito astuto!
23. Explorai e descobri todos os seus esconderijos, e voltai a mim com notícias seguras, a fim de eu ir convosco, pois se ele estiver na terra, eu o descobrirei entre a multidão de Judá.
24. Partiram antes de Saul para Zif; mas Davi e os seus estavam já no deserto de Maon, na planície ao sul do deserto.
25. Saul partiu com seus homens à sua procura. Mas Davi, informado disso, desceu à Rocha e permaneceu no deserto de Maon. Saul o soube e foi persegui-lo ali.
26. Saul ia por um flanco da montanha, e Davi com os seus pelo outro, em fuga precipitada para escapar de Saul. No momento, porém, em que Saul com seus homens iam apoderar-se de Davi e sua gente,
27. veio um mensageiro anunciar ao rei: Vem depressa; os filisteus entraram na terra.
28. Saul abandonou a perseguição e foi combater os filisteus. Por isso, àquele lugar foi dado o nome de Rocha da Separação.

 
Capítulo 24

1. Subindo dali, veio Davi habitar nas alturas de Engadi.
2. Quando Saul voltou da perseguição aos filisteus, foi-lhe anunciado: Davi está no deserto de Engadi.
3. Tomou então Saul três mil israelitas de escol e foi em busca de Davi com sua gente nos rochedos dos Cabritos Monteses.
4. Chegando perto dos apriscos de ovelhas que havia ao longo do caminho, entrou Saul numa gruta para satisfazer suas necessidades. Ora, no fundo dessa mesma gruta se encontrava Davi com seus homens,
5. os quais disseram-lhe: Eis o dia anunciado pelo Senhor, que te prometeu entregar o teu inimigo à tua discrição. Davi, arrastando-se de mansinho, cortou furtivamente a ponta do manto de Saul.
6. E logo depois o seu coração bateu-lhe, porque tinha ousado fazer aquilo.
7. E disse aos seus homens: Deus me guarde de jamais cometer este crime, estendendo a mão contra o ungido do Senhor, meu senhor, pois ele é consagrado ao Senhor!
8. Davi conteve os seus homens com estas palavras e impediu que agredissem Saul. O rei levantou-se, deixou a gruta e prosseguiu o seu caminho.
9. Então Davi saiu por sua vez e bradou atrás de Saul: Ó rei, meu senhor! Saul voltou-se para ver, e Davi inclinou-se, prostrando-se até a terra.
10. E disse ao rei: Por que dás ouvidos aos que te dizem: Davi procura fazer-te mal?
11. Viste hoje com os teus olhos que o Senhor te entregou a mim na gruta. (Meus homens) insistiam comigo para que te matasse, mas eu te poupei, dizendo: Não levantarei a mão contra o meu senhor, porque é o ungido do Senhor.
12. Olha, meu pai, vê a ponta de teu manto em minha mão. Se eu cortei este pano do teu manto e não te matei, reconhece que não há perversidade nem revolta em mim. Jamais pequei contra ti, e tu procuras matar-me.
13. Que o Senhor julgue entre mim e ti! O Senhor me vingará de ti, mas eu não levantarei minha mão contra ti.
14. O mal vem dos malvados, como diz o provérbio; por isso não te tocará a minha mão.
15. Afinal, contra quem saiu o rei de Israel? A quem persegues? Um cão morto! Uma pulga!
16. Pois bem! O Senhor julgará e pronunciará entre mim e ti. Que ele olhe e defenda a minha causa, fazendo-me justiça contra ti!
17. Acabando Davi de falar, Saul disse-lhe: É esta a tua voz, ó meu filho Davi? E pôs-se a chorar.
18. Tu és mais justo do que eu, replicou ele; fizeste-me bem pelo mal que te fiz.
19. Provaste hoje a tua bondade para comigo, pois o Senhor tinha-me entregue a ti e não me mataste.
20. Qual é o homem que, encontrando o seu inimigo, o deixa ir embora tranqüilamente? Que o Senhor te recompense o que hoje me deste!
21. Agora eu sei que serás rei, e que nas tuas mãos será firmada a realeza.
22. Jura-me pelo Senhor que não eliminarás a minha posteridade, nem apagarás o meu nome da casa de meu pai.
23. Davi jurou-lho. Depois disso, Saul voltou para a sua casa e Davi com a sua gente voltaram ao seu refúgio.

 
Capítulo 25

1. Samuel morreu. Todo o Israel se juntou para chorá-lo. Sepultaram-no na sua propriedade em Ramá. E Davi retirou-se para o deserto de Farã.
2. Havia um homem em Maon cujas propriedades estavam em Carmelo. Era um homem muito rico: possuía três mil ovelhas e mil cabras. Ele encontrava-se então em Carmelo para a tosquia de suas ovelhas.
3. Chamava-se Nabal, e sua esposa Abigail, mulher de grande inteligência e formosura. Ele, porém, era grosseiro e mau; descendia de Caleb.
4. Davi, no deserto, sabendo que Nabal tosquiava o seu rebanho,
5. mandou-lhe dez homens com esta ordem: Subi a Carmelo e dirigi-vos a Nabal,
6. saudando-o em meu nome e dizendo-lhe: Pela vida! A paz seja contigo! Paz à tua casa e paz a todos os teus bens!
7. Soube que há tosquia em tua casa. Ora, os teus pastores estiveram perto de nós e nunca lhes fizemos mal algum. Nada lhes faltou durante todo o tempo que ficaram em Carmelo.
8. Pergunta-o aos teus servos e eles to dirão. Que os meus encontrem agora graça aos teus olhos, porque chegamos em um dia de festa. Rogo-te que dês aos teus servos e ao teu filho Davi o que tiveres à mão.
9. Os homens de Davi foram e repetiram a Nabal todas estas palavras em nome de Davi, e ficaram esperando.
10. Nabal, porém, respondeu-lhes: Quem é Davi? E quem é o filho de Isaí? Há hoje muitos escravos que fogem da casa de seus senhores!
11. Irei eu tomar meu pão, minha água e a carne que preparei para os meus tosquiadores, e dá-los a homens que vêm não se sabe de onde?
12. Os servos de Davi retomaram o caminho e voltaram. Ao chegarem, contaram tudo ao seu senhor.
13. Então disse Davi aos seus homens: Cinja cada um a sua espada! Todos o fizeram, inclusive Davi. Cerca de quatrocentos homens seguiram Davi, ficando duzentos com as bagagens.
14. Mas Abigail, mulher de Nabal, fora informada por um dos servos de seu marido: Davi mandou, do deserto, mensageiros para saudar o nosso amo, mas ele os recebeu mal.
15. No entanto, esses homens nos trataram sempre muito bem, e jamais nos fizeram mal algum, nem nos causaram prejuízo durante todo o tempo que estivemos com eles no campo.
16. Pelo contrário, serviram-nos de defesa, dia e noite, durante todo o tempo em que estivemos com eles apascentando os rebanhos.
17. Vê, pois, o que tens a fazer, porque nosso amo e toda a sua casa está ameaçada de ruína, e ele é um malvado com quem não se pode falar.
18. Apressou-se então Abigail, e tomou duzentos pães, dois odres de vinho, cinco cordeiros preparados, cinco medidas de grão torrado, cem tortas de uvas secas, duzentas de figos secos, colocando tudo em cima de jumentos.
19. E disse aos seus servos: Ide adiante de mim; eu vos seguirei. Mas não disse nada a Nabal, seu marido.
20. Quando descia por um caminho secreto da montanha, montada num jumento, encontrou Davi com os seus homens que vinham em sentido inverso.
21. Ora, Davi dissera: Em vão, pois, guardei tudo o que esse homem possuía no deserto, sem que lhe fosse tirada coisa alguma! E ele paga-me o bem com o mal.
22. Deus trate com todo o seu rigor os inimigos de Davi! E que ele não me poupe, se de hoje até amanhã eu deixar vivo um só homem de tudo o que pertence a Nabal!
23. Quando Abigail avistou Davi, desceu prontamente do jumento e prostrou-se com o rosto por terra diante dele.
24. Assim prostrada aos seus pés, disse-lhe: Sobre mim, meu senhor, caia a culpa! Deixa falar a tua serva e ouve suas palavras.
25. Que o meu senhor não faça caso desse malvado Nabal, pois ele é bem o que o seu nome indica: Nabal, louco; e ele o é. Mas eu, tua escrava, não vi os homens que o meu senhor mandou.
26. Agora, por Deus e por tua vida: foi o Senhor quem te impediu de derramar sangue e de te vingar por tua mão. Sejam como Nabal os teus inimigos e os que procuram fazer mal ao meu senhor.
27. Aceita, pois, este presente que tua serva trouxe ao meu senhor, e reparte-o entre os homens que te seguem.
28. Rogo-te que perdoes a culpa de tua serva. Certamente o Senhor dará à casa de meu senhor uma existência durável, porque o meu senhor combate nas guerras de Deus, e nenhum mal te atingirá em todos os dias de tua vida.
29. Se alguém te perseguir ou conspirar contra a tua vida, a alma de meu senhor será guardada no escrínio dos vivos junto do Senhor, teu Deus, enquanto a vida de teus inimigos será lançada pelo Senhor ao longe, como a pedra de uma funda.
30. Quando o Senhor tiver feito ao meu senhor todo o bem que lhe prometeu, e te tiver estabelecido chefe sobre Israel,
31. não terás no coração este pesar, nem este remorso de ter derramado sangue sem motivo e de se ter vingado por si mesmo! Quando o Senhor te tiver feito bem, ó meu Senhor, lembra-te de tua serva.
32. Davi respondeu a Abigail: Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que te mandou hoje ao meu encontro!
33. Bendita seja a tua prudência! E bendita sejas tu mesma, que me impediste hoje de derramar sangue e vingar-me pela minha mão!
34. Mas, pelo Senhor, Deus de Israel, que me impediu de te fazer mal, se não tivesses vindo tão depressa ao meu encontro, nada teria ficado de Nabal até amanhã cedo, nem mesmo o último homem!
35. Davi aceitou o que lhe trazia Abigail e ajuntou: Volta em paz para a tua casa. Vê que te ouvi e te fiz boa acolhida.
36. Quando Abigail chegou à casa de Nabal, havia em sua casa um grande banquete, um verdadeiro festim de rei. Nabal tinha o coração alegre e estava completamente ébrio. Por isso nada lhe disse, nem pouco nem muito, até ao amanhecer.
37. Mas pela manhã, tendo Nabal curtido o seu vinho, sua mulher contou-lhe tudo. Seu coração gelou-se no peito e ele tornou-se como uma pedra.
38. Dez dias depois Nabal, ferido pelo Senhor, morreu.
39. Tendo Davi notícia da morte de Nabal, exclamou: Bendito seja o Senhor que me fez justiça do ultraje recebido de sua mão, e impediu-me de fazer-lhe mal! O Senhor fez cair sobre sua cabeça a sua própria maldade! Depois disso Davi mandou propor a Abigail tornar-se sua mulher.
40. Seus servos, chegando a Carmelo, disseram-lhe: Davi mandou-nos a ti, porque deseja tomar-te por mulher.
41. Levantou-se então Abigail e prostrou-se com o rosto por terra, dizendo: Eis a tua serva, que será uma escrava para lavar os pés dos servos de meu Senhor.
42. Levantou-se depressa, montou num jumento e, seguida de cinco moças, partiu com os enviados de Davi para tornar-se sua mulher.
43. Davi desposara também Aquinoã, de Jezrael, e ambas foram suas mulheres.
44. Quanto à sua mulher Micol, filha de Saul, este a tinha dado por esposa a Falti, de Galim, filho de Lais.

 
Capítulo 26

1. Vieram os zifeus novamente ter com Saul, em Gabaa, e disseram-lhe: Davi está escondido na colina de Haquila, a oriente do deserto.
2. Saul desceu ao deserto de Zif com três mil homens de escol, de Israel, para ir em busca de Davi.
3. Acampou na colina de Haquila, a oriente do deserto, à beira do caminho. Davi, porém, que habitava no deserto, vendo que Saul o tinha seguido até ali,
4. mandou espiões e soube com certeza que ele tinha chegado.
5. Levantou-se então e foi ao lugar onde Saul estava acampado, chegando mesmo a descobrir o lugar onde o rei se deitava ao lado de Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. Saul dormia no acampamento, rodeado de toda a sua gente.
6. Davi disse então a Aquimelec, o hiteu, e a Abisaí, filho de Sarvia e irmão de Joab: Quem quer descer comigo ao acampamento de Saul? Eu, respondeu Abisaí, irei contigo.
7. Davi e Abisaí penetraram, pois, durante a noite no meio das tropas. Saul dormia no acampamento, tendo a sua lança cravada no chão ao lado de sua cabeceira. Abner e sua gente dormiam ao redor dele.
8. Abisaí disse a Davi: Deus entregou hoje em tuas mãos o teu inimigo; deixa-me cravá-lo por terra de um só golpe de lança, sem precisar de um segundo golpe.
9. Não o mates, respondeu Davi. Quem poderia impunemente estender a mão contra o ungido do Senhor?
10. E ajuntou: Por Deus! É o Senhor quem o há de ferir, seja que, chegando o seu dia, morra, seja que pereça em batalha.
11. Deus me livre de levantar a minha mão contra o ungido do Senhor! Agora, toma a lança que está à sua cabeceira com a bilha de água e vamo-nos.
12. Apanhou Davi a lança e a bilha de água que estavam à cabeceira de Saul e foram-se, sem que ninguém os tivesse visto, ou os advertisse mesmo de leve; mas todos dormiam, porque o Senhor os tinha sepultado em um profundo sono.
13. Davi passou para o outro lado e parou ao longe, no cimo do monte, separando-os uma grande distância.
14. Então bradou aos soldados de Saul e a Abner, filho de Ner: Não respondes, Abner? Quem és tu, replicou Abner, que gritas assim para o rei?
15. Davi disse a Abner: Afinal, não és tu um homem? Quem é igual a ti em Israel? Por que não guardas o rei, teu senhor, tendo entrado alguém aí para matá-lo?
16. Não é bonito o que fizeste. Por Deus! Mereceis a morte, porque não velastes sobre o vosso senhor, o ungido do Senhor! Olha um pouco onde estão a lança do rei e a bilha de água que estavam junto à sua cabeceira!
17. Reconheceu Saul a voz de Davi e disse: É tua esta voz, ó meu filho Davi? Davi respondeu: Sim, ó rei, meu senhor.
18. E ajuntou: Por que o meu senhor persegue o seu servo? Que fiz eu? Que crime cometi?
19. Que o rei, meu senhor, digne-se ouvir as palavras do seu servo: se é o Senhor quem te excita contra mim, receba ele o perfume de uma oferenda! Mas, se são homens, sejam eles malditos diante do Senhor; porque me expulsam para tirar minha parte da herança do Senhor! E dizem-me: vai servir a deuses estranhos!
20. Oh! Não corra o meu sangue sobre a terra longe da face do Senhor! O rei de Israel pôs-se em campanha contra uma pulga, como se persegue nos montes uma perdiz!
21. Saul disse: Fiz mal! Volta, meu filho Davi; não te farei mais mal algum, pois que neste dia respeitaste a minha vida. Procedi nesciamente; cometi um grandíssimo pecado.
22. Davi respondeu: Eis aqui a lança do rei: venha um de teus homens buscá-la!
23. O Senhor recompensará a cada um segundo a sua justiça e fidelidade. Ele te havia entregue hoje em meu poder, mas não quis estender a minha mão contra o seu ungido.
24. E assim como a tua vida foi preciosa diante de mim, assim seja a minha aos olhos do Senhor, e ele me salvará de toda a tribulação.
25. Saul disse a Davi: Bendito sejas, meu filho Davi! Tu triunfarás seguramente em todas as tuas empresas! Davi retomou o seu caminho e Saul voltou para a sua casa.

 
Capítulo 27

1. Dia virá, pensava Davi, em que perecerei pelas mãos de Saul! O melhor que posso fazer é refugiar-me na terra dos filisteus; Saul renunciará então a buscar-me por todo o território de Israel, e eu lhe escaparei.
2. Partiu, pois, Davi com seus seiscentos homens e foi para junto de Aquis, filho de Maoc, rei de Get.
3. Permaneceu junto de Aquis em Get, ele e sua gente, cada um com sua família. Levou consigo suas duas mulheres, Aquinoã, de Jezrael, e Abigail, de Carmelo, viúva de Nabal.
4. Saul, tendo sabido que Davi se refugiara em Get, renunciou a persegui-lo.
5. Davi disse a Aquis: Se achei graça aos teus olhos, dá-me um lugar nas cidades do campo, onde eu possa morar. Por que haveria o teu servo de morar contigo na cidade real?
6. Aquis deu-lhe Siceleg. Por isso Siceleg ficou pertencendo aos reis de Judá até o presente.
7. O tempo que Davi passou na terra dos filisteus foi um ano e quatro meses.
8. Davi e os seus homens saíam e faziam incursões entre os gessureus, os gerezeus e os amalecitas, populações que habitavam de longa data a região de Sur até a terra do Egito.
9. Davi assolava a região, sem deixar com vida homem ou mulher; tomava as ovelhas, os bois, os jumentos, os camelos, as vestes e voltava para Aquis.
10. Onde fizestes hoje incursão?, perguntava Aquis. E Davi respondia: Para o leste de Judá, ou para o sul dos jerameelitas, ou para o sul dos cineus.
11. Mas não deixava com vida homem ou mulher, para não ter de levá-los a Get, temendo que o denunciassem, contando a verdade do que ele fazia. Assim o fez durante todo o tempo que passou entre os filisteus.
12. Aquis confiava em Davi: Ele se torna odioso ao seu povo de Israel, pensava ele, e será para sempre o meu servo.

 
Capítulo 28

1. Por aquele tempo, os filisteus mobilizaram suas tropas em um só exército para combater contra Israel. Aquis disse a Davi: Sabe que virás comigo à guerra, tu e os teus homens.
2. Davi respondeu: Tu verás do que é capaz o teu servo. Pois bem, disse Aquis, confio-te para sempre a guarda de minha pessoa!
3. Samuel tinha falecido e todo o Israel o chorara. Tinham-no sepultado em Ramá, sua cidade. E Saul expulsara da terra os necromantes, os feiticeiros e os adivinhos.
4. Os filisteus mobilizados vieram acampar em Sunão, enquanto Saul ajuntava os israelitas, acampando em Gelboé.
5. Ao ver o acampamento dos filisteus, Saul inquietou-se e teve grande medo.
6. E consultou o Senhor, o qual não lhe respondeu nem por sonhos, nem pelo urim, nem pelos profetas.
7. O rei disse aos seus servos: Procurai-me uma necromante para que eu a consulte. Há uma em Endor, responderam-lhe.
8. Saul disfarçou-se, tomou outras vestes e pôs-se a caminho com dois homens. Chegaram à noite à casa da mulher. Saul disse-lhe: Predize-me o futuro, evocando um morto; faze-me vir aquele que eu te designar.
9. Respondeu-lhe a mulher: Tu bem sabes o que fez Saul, como expulsou da terra os necromantes e os adivinhos. Por que me armas ciladas para matar-me?
10. Saul, porém, jurou-lhe pelo Senhor: Por Deus, disse ele, não te acontecerá mal algum por causa disso.
11. Disse-lhe então a mulher: A quem evocarei? Evoca-me Samuel.
12. E a mulher, tendo visto Samuel, soltou um grande grito: Por que me enganaste?, disse ela ao rei. Tu és Saul!
13. E o rei: Não temas! Que vês? A mulher: Vejo um deus que sobe da terra.
14. Qual é o seu aspecto? É um ancião, envolto num manto. Saul compreendeu que era Samuel, e prostrou-se com o rosto por terra.
15. Samuel disse ao rei: Por que me incomodaste, fazendo-me subir aqui? Estou em grande angústia, disse o rei. Os filisteus atacam-me e Deus se retirou de mim, não me respondendo mais, nem por profetas, nem por sonhos. Chamei-te para que me indiques o que devo fazer.
16. Samuel disse-lhe: Por que me consultas, uma vez que o Senhor se retirou de ti, tornando-se teu adversário?
17. Fez o Senhor como tinha anunciado pela minha boca: ele tira a realeza de tua mão para dá-la a outro, a Davi.
18. Não obedeceste à voz do Senhor e não fizeste sentir a Amalec o fogo de sua cólera; eis por que o Senhor te trata hoje assim.
19. E mais: o Senhor vai entregar Israel, juntamente contigo, nas mãos dos filisteus. Amanhã, tu e teus filhos estareis comigo, e o Senhor entregará aos filisteus o acampamento de Israel.
20. Saul, atemorizado com as palavras de Samuel, caiu estendido por terra, pois estava extenuado, nada tendo comido todo aquele dia e toda aquela noite.
21. A mulher aproximou-se de Saul, e, vendo-o assim extremamente aterrado, disse-lhe: Tua serva obedeceu-te. Expus minha vida para obedecer à ordem que me deste.
22. Ouve agora, tu também, a voz de tua serva. Vou dar-te um pouco de alimento, para que o comas e tenhas força para retomar o teu caminho.
23. Saul, porém, recusou: Não comerei, disse ele. Entretanto, insistindo com ele seus servos e a mulher, cedeu; levantou-se do chão e sentou-se na cama.
24. A mulher tinha em casa um bezerro cevado. Matou-o depressa e, tomando farinha, amassou-a, fazendo com ela pães sem fermento.
25. Cozeu-os e levou-os a Saul e à sua gente. Tendo comido, levantaram-se e partiram naquela mesma noite.

 
Capítulo 29

1. Reuniram os filisteus todas as suas forças em Afec, estando os israelitas acampados junto à fonte de Jezrael.
2. Os príncipes dos filisteus iam à frente com suas tropas, divididas em companhias de cem e de mil homens. Davi e sua gente caminhavam na retaguarda com Aquis.
3. Os chefes dos filisteus disseram: Quem são esses hebreus? É Davi, respondeu Aquis, servo de Saul, rei de Israel, que está em minha companhia há muitos dias, e mesmo há muitos anos. Nada tenho a censurar-lhe desde o dia em que se refugiou junto de mim até hoje.
4. Furiosos, os chefes dos filisteus disseram-lhe: Vá-se embora esse homem; manda que ele volte ao lugar que lhe marcaste, mas que não desça conosco à batalha; não suceda que se volte contra nós no meio do combate. Pois como poderia ele ganhar melhor as graças de seu amo, do que ao preço das cabeças de nossos homens?
5. Não é ele porventura aquele Davi, do qual se cantava dançando: Saul matou seus milhares, e Davi seus dez milhares?
6. Aquis chamou Davi e disse-lhe: Viva Deus! Tu és um homem reto e teu proceder comigo no acampamento me parece justo. Até hoje nada tive a censurar-te desde que chegaste à minha casa. Mas não és bem visto pelos príncipes.
7. Retira-te, pois, e vai em paz, para não descontentar os príncipes dos filisteus.
8. Davi disse a Aquis: Mas, que fiz eu? Que achaste de censurável no teu servo, desde o dia em que cheguei à tua casa até hoje, para que eu não vá combater contra os inimigos do rei, meu senhor?
9. Eu o sei, respondeu Aquis; tens sido bom para comigo, como um anjo do Senhor. Mas os chefes dos filisteus é que não querem que vás com eles ao combate.
10. Amanhã cedo, portanto, parti, tu e os servos de teu senhor que te seguiram. Ide, parti bem cedo, ao clarear do dia.
11. Davi e os seus homens levantaram-se de madrugada e voltaram à terra dos filisteus. Estes, porém, subiram a Jezrael.

 
Capítulo 30

1. Tendo Davi e seus homens chegado a Siceleg ao terceiro dia, com sua tropa, tinham os amalecitas feito uma incursão no Negeb e em Siceleg, ferindo e incendiando a cidade.
2. Haviam tomado as mulheres e todos os que ali se achavam, desde o menor até o maior; não mataram ninguém, mas levaram todos cativos para a sua terra.
3. Davi e seus homens, ao chegarem, encontraram a cidade incendiada, e suas mulheres, filhos e filhas levados cativos.
4. Por isso choraram até não poder mais.
5. As duas mulheres de Davi, Aquinoã de Jezrael e Abigail de Carmelo, viúva de Nabal, estavam também presas.
6. Davi afligiu-se em extremo, porque os seus queriam apedrejá-lo, estando todos amargurados por causa da perda de seus filhos e filhas. Mas Davi se reconfortou no Senhor, seu Deus.
7. E disse ao sacerdote Abiatar, filho de Aquimelec: Traze-me o efod. Abiatar trouxe-lhe o efod.
8. Davi consultou o Senhor: Devo perseguir essa gente? Alcançá-la-ei? Persegue-os, respondeu o Senhor; tu os alcançarás certamente e os vencerás.
9. Davi pôs-se em marcha com os seiscentos homens de sua tropa, e chegaram à torrente de Besor, onde ficaram os que já estavam esgotados.
10. Davi prosseguiu a perseguição com quatrocentos homens, pois duzentos tinham ficado atrás, estando por demais cansados para poderem atravessar a torrente de Besor.
11. Encontraram no campo um egípco e levaram-no a Davi. Deram-lhe pão para comer, água para beber,
12. um pedaço de torta de figos secos e duas tortas de uvas secas. Ele comeu e recobrou as forças, porque havia três dias e três noites que nada tinha comido nem bebido.
13. Davi disse-lhe: Quem és tu, e de onde és? Eu sou um escravo egípcio, respondeu ele, a serviço de um amalecita. Meu senhor abandonou-me há três dias, porque caí doente.
14. Fizemos uma incursão no Negeb dos cereteus, no território de Judá, no Negeb de Caleb, e incendiamos Siceleg.
15. Davi disse-lhe: Queres conduzir-me a esse bando? Jura-me pelo nome de Deus, respondeu o homem, que não me matarás, nem me entregarás ao meu senhor, e eu te guiarei até esse bando.
16. Guiados pelo egípcio, alcançaram-nos. Os amalecitas estavam espalhados por todo o campo, comendo, bebendo e festejando por causa da enorme presa que tinham tomado na terra dos filisteus e de Judá.
17. Davi feriu-os do romper do dia à tarde do dia seguinte, e só escaparam quatrocentos homens, que fugiram montados em camelos.
18. Recobrou Davi tudo o que os amalecitas tinham tomado, salvando também as suas duas mulheres.
19. E não faltou ninguém, nem pequeno nem grande, nem filho nem filha, nem o que quer que seja do espólio que tinham levado: Davi reconduziu tudo de volta.
20. E tomou também todos os rebanhos e manadas, diante dos quais iam os homens, gritando: Eis a presa de Davi!
21. Foi, pois, Davi juntar-se aos duzentos homens deixados na torrente de Besor, por estarem cansados demais para segui-lo. E eles vieram ao encontro de Davi e de sua tropa, e Davi saudou-os ao chegar junto deles.
22. Todos os malvados, porém, todos os maus elementos que se encontravam na tropa de Davi, começaram a dizer: Visto que eles não foram conosco, nada lhes daremos do espólio recuperado, salvo, a cada um, a sua mulher e seus filhos. Que os tomem e se retirem!
23. Não façais assim, meus irmãos, interveio Davi, com o que o Senhor nos deu, depois de nos ter protegido e nos ter entregue nas mãos a tropa que se tinha levantado contra nós!
24. Quem poderia aceitar a proposta que fazeis? A parte dos que ficaram junto às bagagens será a mesma que a daqueles que foram ao combate. Eles compartilharão.
25. A partir daquele dia, estabeleceu Davi em Israel esse costume e esse direito que subsiste ainda hoje.
26. De volta a Siceleg, enviou Davi uma parte do espólio aos anciãos de Judá, seus amigos, com esta mensagem: Eis um presente para vós, proveniente do espólio tomado aos inimigos do Senhor.
27. Enviou igualmente uma parte aos de Betel, de Ramot, do Negeb,
28. de Jeter, de Aroer, de Sefamot, de Estamo,
29. de Racal, aos das cidades dos jerameelitas, aos das cidades dos cineus, aos de Arama,
30. de Cor-Asã, de Atac, de Hebron e de todos os lugares por onde Davi tinha passado com seus homens.

 
Capítulo 31

1. Entretanto, os filisteus atacaram Israel, e os israelitas fugiram diante deles, caindo feridos de morte no monte de Gelboé.
2. Os filisteus investiram contra Saul e seus filhos, matando Jônatas, Abinadab e Melquisua, filhos de Saul.
3. A violência do combate concentrou-se contra Saul. Os arqueiros descobriram-no e ele foi ferido no ventre.
4. Disse ao seu escudeiro: Tira a tua espada e traspassa-me, para que não o venham fazer esses incircuncisos, ultrajando-me! Mas o escudeiro não o quis fazer, porque se apoderou dele um grande terror. Então tomou Saul a sua espada e jogou-se sobre ela.
5. O escudeiro, vendo que Saul estava morto, arremessou-se também ele sobre a sua espada e morreu com ele.
6. Assim, morreram naquele mesmo dia, Saul e seus três filhos, seu escudeiro e todos os seus homens.
7. Os israelitas que moravam além do vale e além do Jordão, vendo a derrota do exército de Israel e a morte de Saul com seus filhos, abandonaram as suas cidades e fugiram; e os filisteus vieram e estabeleceram-se nelas.
8. No dia seguinte vieram os filisteus para despojar os cadáveres e encontraram Saul e seus três filhos caídos no monte Gelboé.
9. Cortaram-lhe a cabeça, despojaram-no de suas armas, e as enviaram por toda a terra dos filisteus, para que se publicasse essa boa nova nos templos de seus ídolos e entre o povo.
10. Puseram as armas de Saul no templo de Astarte e suspenderam o seu cadáver nos muros de Betsã.
11. Quando os habitantes de Jabes em Galaad souberam do que os filisteus tinham feito a Saul,
12. puseram-se a caminho os mais valentes dentre eles, e andaram toda a noite. Tiraram das muralhas de Betsã os cadáveres de Saul e de seus filhos, e voltaram a Jabes, onde os queimaram.
13. Tomaram os ossos e os enterraram debaixo da tamareira, em Jabes. Depois disso jejuaram sete dias.

 

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