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Evangelho segundo São Mateus

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 Evangelho segundo São Mateus
Capítulo 1

1. Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
2. Abraão gerou Isaac. Isaac gerou Jacó. Jacó gerou Judá e seus irmãos.
3. Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara. Farés gerou Esron. Esron gerou Arão.
4. Arão gerou Aminadab. Aminadab gerou Naasson. Naasson gerou Salmon.
5. Salmon gerou Booz, de Raab. Booz gerou Obed, de Rute. Obed gerou Jessé. Jessé gerou o rei Davi.
6. O rei Davi gerou Salomão, daquela que fora mulher de Urias.
7. Salomão gerou Roboão. Roboão gerou Abias. Abias gerou Asa.
8. Asa gerou Josafá. Josafá gerou Jorão. Jorão gerou Ozias.
9. Ozias gerou Joatão. Joatão gerou Acaz. Acaz gerou Ezequias.
10. Ezequias gerou Manassés. Manassés gerou Amon. Amon gerou Josias.
11. Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no cativeiro de Babilônia.
12. E, depois do cativeiro de Babilônia, Jeconias gerou Salatiel. Salatiel gerou Zorobabel.
13. Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliacim. Eliacim gerou Azor.
14. Azor gerou Sadoc. Sadoc gerou Aquim. Aquim gerou Eliud.
15. Eliud gerou Eleazar. Eleazar gerou Matã. Matã gerou Jacó.
16. Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo.
17. Portanto, as gerações, desde Abraão até Davi, são quatorze. Desde Davi até o cativeiro de Babilônia, quatorze gerações. E, depois do cativeiro até Cristo, quatorze gerações. Nascimento de Jesus
18. Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo.
19. José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente.
20. Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo.
21. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados.
22. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta:
23. Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7, 14), que significa: Deus conosco.
24. Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa.
25. E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus.

 
Capítulo 2

1. Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.
2. Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.
3. A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.
4. Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo.
5. Disseram-lhe: Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta:
6. E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo(Miq 5,2).
7. Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido.
8. E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo.
9. Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou.
10. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.
11. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.
12. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho.
13. Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar.
14. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito.
15. Ali permaneceu até a morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: Eu chamei do Egito meu filho (Os 11,1).
16. Vendo, então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos magos.
17. Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias:
18. Em Ramá se ouviu uma voz, choro e grandes lamentos: é Raquel a chorar seus filhos; não quer consolação, porque já não existem (Jer 31,15)!
19. Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse:
20. Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino.
21. José levantou-se, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel.
22. Ao ouvir, porém, que Arquelau reinava na Judéia, em lugar de seu pai Herodes, não ousou ir para lá. Avisado divinamente em sonhos, retirou-se para a província da Galiléia
23. e veio habitar na cidade de Nazaré para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: Será chamado Nazareno.

 
Capítulo 3

1. Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia.
2. Dizia ele: Fazei penitência porque está próximo o Reino dos céus.
3. Este é aquele de quem falou o profeta Isaías, quando disse: Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas (Is 40,3).
4. João usava uma vestimenta de pêlos de camelo e um cinto de couro em volta dos rins. Alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.
5. Pessoas de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a circunvizinhança do Jordão vinham a ele.
6. Confessavam seus pecados e eram batizados por ele nas águas do Jordão.
7. Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham ao seu batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera vindoura?
8. Dai, pois, frutos de verdadeira penitência.
9. Não digais dentro de vós: Nós temos a Abraão por pai! Pois eu vos digo: Deus é poderoso para suscitar destas pedras filhos a Abraão.
10. O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo.
11. Eu vos batizo com água, em sinal de penitência, mas aquele que virá depois de mim é mais poderoso do que eu e nem sou digno de carregar seus calçados. Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo.
12. Tem na mão a pá, limpará sua eira e recolherá o trigo ao celeiro. As palhas, porém, queimá-las-á num fogo inextinguível.
13. Da Galiléia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser batizado por ele.
14. João recusava-se: Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim!
15. Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa. Então João cedeu.
16. Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus.
17. E do céu baixou uma voz: Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição.

 
Capítulo 4

1. Em seguida, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo demônio.
2. Jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome.
3. O tentador aproximou-se dele e lhe disse: Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães.
4. Jesus respondeu: Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus (Dt 8,3).
5. O demônio transportou-o à Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do templo e disse-lhe:
6. Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: Ele deu a seus anjos ordens a teu respeito; proteger-te-ão com as mãos, com cuidado, para não machucares o teu pé em alguma pedra (Sl 90,11s).
7. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16).
8. O demônio transportou-o uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe:
9. Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me adorares.
10. Respondeu-lhe Jesus: Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás (Dt 6,13).
11. Em seguida, o demônio o deixou, e os anjos aproximaram-se dele para servi-lo.
12. Quando, pois, Jesus ouviu que João fora preso, retirou-se para a Galiléia.
13. Deixando a cidade de Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, à margem do lago, nos confins de Zabulon e Neftali,
14. para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías:
15. A terra de Zabulon e de Neftali, região vizinha ao mar, a terra além do Jordão, a Galiléia dos gentios,
16. este povo, que jazia nas trevas, viu resplandecer uma grande luz; e surgiu uma aurora para os que jaziam na região sombria da morte (Is 9,1).
17. Desde então, Jesus começou a pregar: Fazei penitência, pois o Reino dos céus está próximo.
18. Caminhando ao longo do mar da Galiléia, viu dois irmãos: Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores.
19. E disse-lhes: Vinde após mim e vos farei pescadores de homens.
20. Na mesma hora abandonaram suas redes e o seguiram.
21. Passando adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam com seu pai Zebedeu consertando as redes. Chamou-os,
22. e eles abandonaram a barca e seu pai e o seguiram.
23. Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas as doenças e enfermidades entre o povo.
24. Sua fama espalhou-se por toda a Síria: traziam-lhe os doentes e os enfermos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos. E ele curava a todos.
25. Grandes multidões acompanharam-no da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e dos países do outro lado do Jordão.

 
Capítulo 5

1. Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele.
2. Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:
3. Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!
4. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!
5. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
6. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
7. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!
8. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
9. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
10. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus!
11. Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.
12. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
13. Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens.
14. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha
15. nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa.
16. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.
17. Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.
18. Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei.
19. Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus.
20. Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus.
21. Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás, mas quem matar será castigado pelo juízo do tribunal.
22. Mas eu vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão será castigado pelos juízes. Aquele que disser a seu irmão: Raca, será castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe disser: Louco, será condenado ao fogo da geena.
23. Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
24. deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta.
25. Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão.
26. Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo.
27. Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.
28. Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração.
29. Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo todo seja lançado na geena.
30. E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo inteiro seja atirado na geena.
31. Foi também dito: Todo aquele que rejeitar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio.
32. Eu, porém, vos digo: todo aquele que rejeita sua mulher, a faz tornar-se adúltera, a não ser que se trate de matrimônio falso; e todo aquele que desposa uma mulher rejeitada comete um adultério.
33. Ouvistes ainda o que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás para com o Senhor os teus juramentos.
34. Eu, porém, vos digo: não jureis de modo algum, nem pelo céu, porque é o trono de Deus;
35. nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei.
36. Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes fazer um cabelo tornar-se branco ou negro.
37. Dizei somente: Sim, se é sim; não, se é não. Tudo o que passa além disto vem do Maligno.
38. Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente.
39. Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra.
40. Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa.
41. Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil.
42. Dá a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir emprestado.
43. Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo.
44. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem.
45. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.
46. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos?
47. Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?
48. Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.

 
Capítulo 6

1. Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu.
2. Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
3. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita.
4. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.
5. Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
6. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.
7. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras.
8. Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais.
9. Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu, santificado seja o vosso nome;
10. venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
11. O pão nosso de cada dia nos dai hoje;
12. perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam;
13. e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
14. Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará.
15. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará.
16. Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
17. Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto.
18. Assim, não parecerá aos homens que jejuas, mas somente a teu Pai que está presente ao oculto; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.
19. Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam.
20. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam.
21. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração.
22. O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado.
23. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas!
24. Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza.
25. Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes?
26. Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas?
27. Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?
28. E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam.
29. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua glória não se vestiu como um deles.
30. Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
31. Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos?
32. São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso.
33. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo.
34. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado.

 
Capítulo 7

1. Não julgueis, e não sereis julgados.
2. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos.
3. Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu?
4. Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu?
5. Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão.
6. Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e, voltando-se contra vós, vos despedacem.
7. Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto.
8. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á.
9. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão?
10. E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente?
11. Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem.
12. Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas.
13. Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.
14. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram.
15. Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores.
16. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos?
17. Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos.
18. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos.
19. Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo.
20. Pelos seus frutos os conhecereis.
21. Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.
22. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres?
23. E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!
24. Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha.
25. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha.
26. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia.
27. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.
28. Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou impressionada com a sua doutrina.
29. Com efeito, ele a ensinava como quem tinha autoridade e não como os seus escribas.

 
Capítulo 8

1. Tendo Jesus descido da montanha, uma grande multidão o seguiu.
2. Eis que um leproso aproximou-se e prostrou-se diante dele, dizendo: Senhor, se queres, podes curar-me.
3. Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: Eu quero, sê curado. No mesmo instante, a lepra desapareceu.
4. Jesus então lhe disse: Vê que não o digas a ninguém. Vai, porém, mostrar-te ao sacerdote e oferece o dom prescrito por Moisés em testemunho de tua cura.
5. Entrou Jesus em Cafarnaum. Um centurião veio a ele e lhe fez esta súplica:
6. Senhor, meu servo está em casa, de cama, paralítico, e sofre muito.
7. Disse-lhe Jesus: Eu irei e o curarei.
8. Respondeu o centurião: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado.
9. Pois eu também sou um subordinado e tenho soldados às minhas ordens. Eu digo a um: Vai, e ele vai; a outro: Vem, e ele vem; e a meu servo: Faze isto, e ele o faz…
10. Ouvindo isto, cheio de admiração, disse Jesus aos presentes: Em verdade vos digo: não encontrei semelhante fé em ninguém de Israel.
11. Por isso, eu vos declaro que multidões virão do Oriente e do Ocidente e se assentarão no Reino dos céus com Abraão, Isaac e Jacó,
12. enquanto os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.
13. Depois, dirigindo-se ao centurião, disse: Vai, seja-te feito conforme a tua fé. Na mesma hora o servo ficou curado.
14. Foi então Jesus à casa de Pedro, cuja sogra estava de cama, com febre.
15. Tomou-lhe a mão, e a febre a deixou. Ela levantou-se e pôs-se a servi-los.
16. Pela tarde, apresentaram-lhe muitos possessos de demônios. Com uma palavra expulsou ele os espíritos e curou todos os enfermos.
17. Assim se cumpriu a predição do profeta Isaías: Tomou as nossas enfermidades e sobrecarregou-se dos nossos males (Is 53,4).
18. Certo dia, vendo-se no meio de grande multidão, ordenou Jesus que o levassem para a outra margem do lago.
19. Nisto aproximou-se dele um escriba e lhe disse: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores.
20. Respondeu Jesus: As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.
21. Outra vez um dos seus discípulos lhe disse: Senhor, deixa-me ir primeiro enterrar meu pai.
22. Jesus, porém, lhe respondeu: Segue-me e deixa que os mortos enterrem seus mortos.
23. Subiu ele a uma barca com seus discípulos.
24. De repente, desencadeou-se sobre o mar uma tempestade tão grande, que as ondas cobriam a barca. Ele, no entanto, dormia.
25. Os discípulos achegaram-se a ele e o acordaram, dizendo: Senhor, salva-nos, nós perecemos!
26. E Jesus perguntou: Por que este medo, gente de pouca fé? Então, levantando-se, deu ordens aos ventos e ao mar, e fez-se uma grande calmaria.
27. Admirados, diziam: Quem é este homem a quem até os ventos e o mar obedecem?
28. No outro lado do lago, na terra dos gadarenos, dois possessos de demônios saíram de um cemitério e vieram-lhe ao encontro. Eram tão furiosos que pessoa alguma ousava passar por ali.
29. Eis que se puseram a gritar: Que tens a ver conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?
30. Havia, não longe dali, uma grande manada de porcos que pastava.
31. Os demônios imploraram a Jesus: Se nos expulsas, envia-nos para aquela manada de porcos.
32. Ide, disse-lhes. Eles saíram e entraram nos porcos. Nesse instante toda a manada se precipitou pelo declive escarpado para o lago, e morreu nas águas.
33. Os guardas fugiram e foram contar na cidade o que se tinha passado e o sucedido com os endemoninhados.
34. Então a população saiu ao encontro de Jesus. Quando o viu, suplicou-lhe que deixasse aquela região.

 
Capítulo 9

1. Jesus tomou de novo a barca, passou o lago e veio para a sua cidade.
2. Eis que lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé daquela gente, disse ao paralítico: “Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados.”
3. Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: “Este homem blasfema.”
4. Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: “Por que pensais mal em vossos corações?
5. Que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou: Levanta-te e anda?
6. Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados: Levanta-te – disse ele ao paralítico -, toma a tua maca e volta para tua casa.”
7. Levantou-se aquele homem e foi para sua casa.
8. Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus por ter dado tal poder aos homens.
9. Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, que estava sentado no posto do pagamento das taxas. Disse-lhe: Segue-me. O homem levantou-se e o seguiu.
10. Como Jesus estivesse à mesa na casa desse homem, numerosos publicanos e pecadores vieram e sentaram-se com ele e seus discípulos.
11. Vendo isto, os fariseus disseram aos discípulos: “Por que come vosso mestre com os publicanos e com os pecadores?”
12. Jesus, ouvindo isto, respondeu-lhes: “Não são os que estão bem que precisam de médico, mas sim os doentes.
13. Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício (Os 6,6). Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.”
14. Então os discípulos de João, dirigindo-se a ele, perguntaram: “Por que jejuamos nós e os fariseus, e os teus discípulos não?”
15. Jesus respondeu: Podem os amigos do esposo afligir-se enquanto o esposo está com eles? Dias virão em que lhes será tirado o esposo. Então eles jejuarão.
16. Ninguém põe um remendo de pano novo numa veste velha, porque arrancaria uma parte da veste e o rasgão ficaria pior.
17. Não se coloca tampouco vinho novo em odres velhos; do contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se perdem. Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos, e assim tanto um como outro se conservam.
18. Falava ele ainda, quando se apresentou um chefe da sinagoga. Prostrou-se diante dele e lhe disse: Senhor, minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe-lhe as mãos e ela viverá.
19. Jesus levantou-se e o foi seguindo com seus discípulos.
20. Ora, uma mulher atormentada por um fluxo de sangue, havia doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe a orla do manto.
21. Dizia consigo: Se eu somente tocar na sua vestimenta, serei curada.
22. Jesus virou-se, viu-a e disse-lhe: Tem confiança, minha filha, tua fé te salvou. E a mulher ficou curada instantaneamente.
23. Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus os tocadores de flauta e uma multidão alvoroçada. Disse-lhes:
24. Retirai-vos, porque a menina não está morta; ela dorme. Eles, porém, zombavam dele.
25. Tendo saído a multidão, ele entrou, tomou a menina pela mão e ela levantou-se.
26. Esta notícia espalhou-se por toda a região.
27. Partindo Jesus dali, dois cegos o seguiram, gritando: Filho de Davi, tem piedade de nós!
28. Jesus entrou numa casa e os cegos aproximaram-se dele. Disse-lhes: Credes que eu posso fazer isso? Sim, Senhor, responderam eles.
29. Então ele tocou-lhes nos olhos, dizendo: Seja-vos feito segundo vossa fé.
30. No mesmo instante, os seus olhos se abriram. Recomendou-lhes Jesus em tom severo: Vede que ninguém o saiba.
31. Mas apenas haviam saído, espalharam a sua fama por toda a região.
32. Logo que se foram, apresentaram-lhe um mudo, possuído do demônio.
33. O demônio foi expulso, o mudo falou e a multidão exclamava com admiração: Jamais se viu algo semelhante em Israel.
34. Os fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios.
35. Jesus percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda enfermidade.
6. Vendo a multidão, ficou tomado de compaixão, porque estava enfraquecida e abatida como ovelhas sem pastor.
37. Disse, então, aos seus discípulos: A messe é grande, mas os operários são poucos.
38. Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie operários para sua messe.

 
Capítulo 10

1. Jesus reuniu seus doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de expulsar os espíritos imundos e de curar todo mal e toda enfermidade.
2. Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão.
3. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu.
4. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor.
5. Estes são os Doze que Jesus enviou em missão, após lhes ter dado as seguintes instruções: Não ireis ao meio dos gentios nem entrareis em Samaria;
6. ide antes às ovelhas que se perderam da casa de Israel.
7. Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo.
8. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai!
9. Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro em vossos cintos,
10. nem mochila para a viagem, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão; pois o operário merece o seu sustento.
11. Nas cidades ou aldeias onde entrardes, informai-vos se há alguém ali digno de vos receber; ficai ali até a vossa partida.
12. Entrando numa casa, saudai-a: Paz a esta casa.
13. Se aquela casa for digna, descerá sobre ela vossa paz; se, porém, não o for, vosso voto de paz retornará a vós.
14. Se não vos receberem e não ouvirem vossas palavras, quando sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi até mesmo o pó de vossos pés.
15. Em verdade vos digo: no dia do juízo haverá mais indulgência com Sodoma e Gomorra que com aquela cidade.
16. Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas.
17. Cuidai-vos dos homens. Eles vos levarão aos seus tribunais e açoitar-vos-ão com varas nas suas sinagogas.
18. Sereis por minha causa levados diante dos governadores e dos reis: servireis assim de testemunho para eles e para os pagãos.
19. Quando fordes presos, não vos preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer: naquele momento ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer.
20. Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso Pai que falará em vós.
21. O irmão entregará seu irmão à morte. O pai, seu filho. Os filhos levantar-se-ão contra seus pais e os matarão.
22. Sereis odiados de todos por causa de meu nome, mas aquele que perseverar até o fim será salvo.
23. Se vos perseguirem numa cidade, fugi para uma outra. Em verdade vos digo: não acabareis de percorrer as cidades de Israel antes que volte o Filho do Homem.
24. O discípulo não é mais que o mestre, o servidor não é mais que o patrão.
25. Basta ao discípulo ser tratado como seu mestre, e ao servidor como seu patrão. Se chamaram de Beelzebul ao pai de família, quanto mais o farão às pessoas de sua casa!
26. Não os temais, pois; porque nada há de escondido que não venha à luz, nada de secreto que não se venha a saber.
27. O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados.
28. Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena.
29. Não se vendem dois passarinhos por um asse? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade de vosso Pai.
30. Até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados.
31. Não temais, pois! Bem mais que os pássaros valeis vós.
32. Portanto, quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus.
33. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus.
34. Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada.
35. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra,
36. e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa.
37. Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim.
38. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.
39. Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por minha causa, reencontrá-la-á.
40. Quem vos recebe, a mim recebe. E quem me recebe, recebe aquele que me enviou.
41. Aquele que recebe um profeta, na qualidade de profeta, receberá uma recompensa de profeta. Aquele que recebe um justo, na qualidade de justo, receberá uma recompensa de justo.
42. Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade eu vos digo: não perderá sua recompensa.

 
Capítulo 11

1. Após ter dado instruções aos seus doze discípulos, Jesus partiu para ensinar e pregar nas cidades daquela região.
2. Tendo João, em sua prisão, ouvido falar das obras de Cristo, mandou-lhe dizer pelos seus discípulos:
3. Sois vós aquele que deve vir, ou devemos esperar por outro?
4. Respondeu-lhes Jesus: Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes:
5. os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres…
6. Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de queda!
7. Tendo eles partido, disse Jesus à multidão a respeito de João: Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?
8. Que fostes ver, então? Um homem vestido com roupas luxuosas? Mas os que estão revestidos de tais roupas vivem nos palácios dos reis.
9. Então por que fostes para lá? Para ver um profeta? Sim, digo-vos eu, mais que um profeta.
10. É dele que está escrito: Eis que eu envio meu mensageiro diante de ti para te preparar o caminho (Ml 3,1).
11. Em verdade vos digo: entre os filhos das mulheres, não surgiu outro maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos céus é maior do que ele.
12. Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam.
13. Porque os profetas e a lei tiveram a palavra até João.
14. E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar.
15. Quem tem ouvidos, ouça.
16. A quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos sentados nas praças que gritam aos seus companheiros:
17. Tocamos a flauta e não dançais, cantamos uma lamentação e não chorais.
18. João veio; ele não bebia e não comia, e disseram: Ele está possesso de um demônio.
19. O Filho do Homem vem, come e bebe, e dizem: É um comilão e beberrão, amigo dos publicanos e dos devassos. Mas a sabedoria foi justificada por seus filhos.
20. Depois Jesus começou a censurar as cidades, onde tinha feito grande número de seus milagres, por terem recusado arrepender-se:
21. Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e a cinza.
22. Por isso vos digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Tiro e para Sidônia que para vós!
23. E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Não! Serás atirada até o inferno! Porque, se Sodoma tivesse visto os milagres que foram feitos dentro dos teus muros, subsistiria até este dia.
24. Por isso te digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Sodoma do que para ti!
25. Por aquele tempo, Jesus pronunciou estas palavras: Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos.
26. Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu agrado.
27. Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo.
28. Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei.
29. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas.
30. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve.

 
Capítulo 12

1. Atravessava Jesus os campos de trigo num dia de sábado. Seus discípulos, tendo fome, começaram a arrancar as espigas para comê-las.
2. Vendo isto, os fariseus disseram-lhe: Eis que teus discípulos fazem o que é proibido no dia de sábado.
3. Jesus respondeu-lhes: Não lestes o que fez Davi num dia em que teve fome, ele e seus companheiros,
4. como entrou na casa de Deus e comeu os pães da proposição? Ora, nem a ele nem àqueles que o acompanhavam era permitido comer esses pães reservados só aos sacerdotes.
5. Não lestes na lei que, nos dias de sábado, os sacerdotes transgridem no templo o descanso do sábado e não se tornam culpados?
6. Ora, eu vos declaro que aqui está quem é maior que o templo.
7. Se compreendêsseis o sentido destas palavras: Quero a misericórdia e não o sacrifício… não condenaríeis os inocentes.
8. Porque o Filho do Homem é senhor também do sábado.
9. Partindo dali, Jesus entrou na sinagoga.
10. Encontrava-se lá um homem que tinha a mão seca. Alguém perguntou a Jesus: É permitido curar no dia de sábado? Isto para poder acusá-lo.
11. Jesus respondeu-lhe: Há alguém entre vós que, tendo uma única ovelha e se esta cair num poço no dia de sábado, não a irá procurar e retirar?
12. Não vale o homem muito mais que uma ovelha? É permitido, pois, fazer o bem no dia de sábado.
13. Disse, então, àquele homem: Estende a mão. Ele a estendeu e ela tornou-se sã como a outra.
14. Os fariseus saíram dali e deliberaram sobre os meios de o matar.
15. Jesus soube disso e afastou-se daquele lugar. Uma grande multidão o seguiu, e ele curou todos os seus doentes.
16. Proibia-lhes formalmente falar disso,
17. para que se cumprisse o anunciado pelo profeta Isaías:
18. Eis o meu servo a quem escolhi, meu bem-amado em quem minha alma pôs toda sua a afeição. Farei repousar sobre ele o meu Espírito e ele anunciará a justiça aos pagãos.
19. Ele não disputará, não elevará sua voz; ninguém ouvirá sua voz nas praças públicas.
20. Não quebrará o caniço rachado, nem apagará a mecha que ainda fumega, até que faça triunfar a justiça.
21. Em seu nome as nações pagãs porão sua esperança (Is 42,1-4).
22. Apresentaram-lhe, depois, um possesso cego e mudo. Jesus o curou de tal modo, que este falava e via.
23. A multidão, admirada, dizia: Não será este o filho de Davi?
24. Mas, ouvindo isto, os fariseus responderam: É por Beelzebul, chefe dos demônios, que ele os expulsa.
25. Jesus, porém, penetrando nos seus pensamentos, disse: Todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa dividida contra si mesma não pode subsistir.
26. Se Satanás expele Satanás, está dividido contra si mesmo. Como, pois, subsistirá o seu reino?
27. E se eu expulso os demônios por Beelzebul, por quem é que vossos filhos os expulsam? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes.
28. Mas, se é pelo Espírito de Deus que expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus.
29. Como pode alguém penetrar na casa de um homem forte e roubar-lhe os bens, sem ter primeiro amarrado este homem forte? Só então pode roubar sua casa.
30. Quem não está comigo está contra mim; e quem não ajunta comigo, espalha.
31. Por isso, eu vos digo: todo pecado e toda blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não lhes será perdoada.
32. Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século vindouro.
33. Ou dizeis que a árvore é boa e seu fruto bom, ou dizeis que é má e seu fruto, mau; porque é pelo fruto que se conhece a árvore.
34. Raça de víboras, maus como sois, como podeis dizer coisas boas? Porque a boca fala do que lhe transborda do coração.
35. O homem de bem tira boas coisas de seu bom tesouro. O mau, porém, tira coisas más de seu mau tesouro.
36. Eu vos digo: no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido.
37. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado.
38. Então alguns escribas e fariseus tomaram a palavra: Mestre, quiséramos ver-te fazer um milagre.
39. Respondeu-lhes Jesus: Esta geração adúltera e perversa pede um sinal, mas não lhe será dado outro sinal do que aquele do profeta Jonas:
40. do mesmo modo que Jonas esteve três dias e três noites no ventre do peixe, assim o Filho do Homem ficará três dias e três noites no seio da terra.
41. No dia do juízo, os ninivitas se levantarão com esta raça e a condenarão, porque fizeram penitência à voz de Jonas. Ora, aqui está quem é mais do que Jonas.
42. No dia do juízo, a rainha do Sul se levantará com esta raça e a condenará, porque veio das extremidades da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. Ora, aqui está quem é mais do que Salomão.
43. Quando o espírito impuro sai de um homem, ei-lo errante por lugares áridos à procura de um repouso que não acha.
44. Diz ele, então: Voltarei para a casa donde saí. E, voltando, encontra-a vazia, limpa e enfeitada.
45. Vai, então, buscar sete outros espíritos piores que ele, e entram nessa casa e se estabelecem aí; e o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro. Tal será a sorte desta geração perversa.
46. Jesus falava ainda à multidão, quando veio sua mãe e seus irmãos e esperavam do lado de fora a ocasião de lhe falar.
47. Disse-lhe alguém: Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te.
48. Jesus respondeu-lhe: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?
49. E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: Eis aqui minha mãe e meus irmãos.
50. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.

 
Capítulo 13

1. Naquele dia, saiu Jesus e sentou-se à beira do lago.
2. Acercou-se dele, porém, uma tal multidão, que precisou entrar numa barca. Nela se assentou, enquanto a multidão ficava à margem.
3. E seus discursos foram uma série de parábolas.
4. Disse ele: Um semeador saiu a semear. E, semeando, parte da semente caiu ao longo do caminho; os pássaros vieram e a comeram.
5. Outra parte caiu em solo pedregoso, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque a terra era pouco profunda.
6. Logo, porém, que o sol nasceu, queimou-se, por falta de raízes.
7. Outras sementes caíram entre os espinhos: os espinhos cresceram e as sufocaram.
8. Outras, enfim, caíram em terra boa: deram frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um.
9. Aquele que tem ouvidos, ouça.
10. Os discípulos aproximaram-se dele, então, para dizer-lhe: Por que lhes falas em parábolas?
11. Respondeu Jesus: Porque a vós é dado compreender os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não.
12. Ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem será tirado até mesmo o que tem.
13. Eis por que lhes falo em parábolas: para que, vendo, não vejam e, ouvindo, não ouçam nem compreendam.
14. Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo profeta Isaías: Ouvireis com vossos ouvidos e não entendereis, olhareis com vossos olhos e não vereis,
15. porque o coração deste povo se endureceu: taparam os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda; para que não se convertam e eu os sare (Is 6,9s).
16. Mas, quanto a vós, bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem! Ditosos os vossos ouvidos, porque ouvem!
17. Eu vos declaro, em verdade: muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não ouviram.
18. Ouvi, pois, o sentido da parábola do semeador:
19. quando um homem ouve a palavra do Reino e não a entende, o Maligno vem e arranca o que foi semeado no seu coração. Este é aquele que recebeu a semente à beira do caminho.
20. O solo pedregoso em que ela caiu é aquele que acolhe com alegria a palavra ouvida,
21. mas não tem raízes, é inconstante: sobrevindo uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra, logo encontra uma ocasião de queda.
22. O terreno que recebeu a semente entre os espinhos representa aquele que ouviu bem a palavra, mas nele os cuidados do mundo e a sedução das riquezas a sufocam e a tornam infrutuosa.
23. A terra boa semeada é aquele que ouve a palavra e a compreende, e produz fruto: cem por um, sessenta por um, trinta por um.
24. Jesus propôs-lhes outra parábola: O Reino dos céus é semelhante a um homem que tinha semeado boa semente em seu campo.
25. Na hora, porém, em que os homens repousavam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e partiu.
26. O trigo cresceu e deu fruto, mas apareceu também o joio.
27. Os servidores do pai de família vieram e disseram-lhe: – Senhor, não semeaste bom trigo em teu campo? Donde vem, pois, o joio?
28. Disse-lhes ele: – Foi um inimigo que fez isto! Replicaram-lhe: – Queres que vamos e o arranquemos?
29. – Não, disse ele; arrancando o joio, arriscais a tirar também o trigo.
30. Deixai-os crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifadores: arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para o queimar. Recolhei depois o trigo no meu celeiro.
31. Em seguida, propôs-lhes outra parábola: O Reino dos céus é comparado a um grão de mostarda que um homem toma e semeia em seu campo.
32. É esta a menor de todas as sementes, mas, quando cresce, torna-se um arbusto maior que todas as hortaliças, de sorte que os pássaros vêm aninhar-se em seus ramos.
33. Disse-lhes, por fim, esta outra parábola. O Reino dos céus é comparado ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha e que faz fermentar toda a massa.
34. Tudo isto disse Jesus à multidão em forma de parábola. De outro modo não lhe falava,
35. para que se cumprisse a profecia: Abrirei a boca para ensinar em parábolas; revelarei coisas ocultas desde a criação (Sl 77,2).
36. Então despediu a multidão. Em seguida, entrou de novo na casa e seus discípulos agruparam-se ao redor dele para perguntar-lhe: Explica-nos a parábola do joio no campo.
37. Jesus respondeu: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem.
38. O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno.
39. O inimigo, que o semeia, é o demônio. A colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos.
40. E assim como se recolhe o joio para jogá-lo no fogo, assim será no fim do mundo.
41. O Filho do Homem enviará seus anjos, que retirarão de seu Reino todos os escândalos e todos os que fazem o mal
42. e os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes.
43. Então, no Reino de seu Pai, os justos resplandecerão como o sol. Aquele que tem ouvidos, ouça.
44. O Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo.
45. O Reino dos céus é ainda semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas.
46. Encontrando uma de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra.
47. O Reino dos céus é semelhante ainda a uma rede que, jogada ao mar, recolhe peixes de toda espécie.
48. Quando está repleta, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e separam nos cestos o que é bom e jogam fora o que não presta.
49. Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus do meio dos justos
50. e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes.
51. Compreendestes tudo isto? Sim, Senhor, responderam eles.
52. Por isso, todo escriba instruído nas coisas do Reino dos céus é comparado a um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas.
53. Após ter exposto as parábolas, Jesus partiu.
54. Foi para a sua cidade e ensinava na sinagoga, de modo que todos diziam admirados: Donde lhe vem esta sabedoria e esta força miraculosa?
55. Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?
56. E suas irmãs, não vivem todas entre nós? Donde lhe vem, pois, tudo isso?
57. E não sabiam o que dizer dele. Disse-lhes, porém, Jesus: É só em sua pátria e em sua família que um profeta é menosprezado.
58. E, por causa da falta de confiança deles, operou ali poucos milagres.

 
Capítulo 14

1. Por aquela mesma época, o tetrarca Herodes ouviu falar de Jesus.
2. E disse aos seus cortesãos: É João Batista que ressuscitou. É por isso que ele faz tantos milagres.
3. Com efeito, Herodes havia mandado prender e acorrentar João, e o tinha mandado meter na prisão por causa de Herodíades, esposa de seu irmão Filipe.
4. João lhe tinha dito: Não te é permitido tomá-la por mulher!
5. De boa mente o mandaria matar; temia, porém, o povo que considerava João um profeta.
6. Mas, na festa de aniversário de nascimento de Herodes, a filha de Herodíades dançou no meio dos convidados e agradou a Herodes.
7. Por isso, ele prometeu com juramento dar-lhe tudo o que lhe pedisse.
8. Por instigação de sua mãe, ela respondeu: Dá-me aqui, neste prato, a cabeça de João Batista.
9. O rei entristeceu-se, mas como havia jurado diante dos convidados, ordenou que lha dessem;
10. e mandou decapitar João na sua prisão.
11. A cabeça foi trazida num prato e dada à moça, que a entregou à sua mãe.
12. Vieram, então, os discípulos de João transladar seu corpo, e o enterraram. Depois foram dar a notícia a Jesus.
13. A essa notícia, Jesus partiu dali numa barca para se retirar a um lugar deserto, mas o povo soube e a multidão das cidades o seguiu a pé.
14. Quando desembarcou, vendo Jesus essa numerosa multidão, moveu-se de compaixão para ela e curou seus doentes.
15. Caía a tarde. Agrupados em volta dele, os discípulos disseram-lhe: Este lugar é deserto e a hora é avançada. Despede esta gente para que vá comprar víveres na aldeia.
16. Jesus, porém, respondeu: Não é necessário: dai-lhe vós mesmos de comer.
17. Mas, disseram eles, nós não temos aqui mais que cinco pães e dois peixes. _
18. Trazei-mos, disse-lhes ele.
19. Mandou, então, a multidão assentar-se na relva, tomou os cinco pães e os dois peixes e, elevando os olhos ao céu, abençoou-os. Partindo em seguida os pães, deu-os aos seus discípulos, que os distribuíram ao povo.
20. Todos comeram e ficaram fartos, e, dos pedaços que sobraram, recolheram doze cestos cheios.
21. Ora, os convivas foram aproximadamente cinco mil homens, sem contar as mulheres e crianças.
22. Logo depois, Jesus obrigou seus discípulos a entrar na barca e a passar antes dele para a outra margem, enquanto ele despedia a multidão.
23. Feito isso, subiu à montanha para orar na solidão. E, chegando a noite,
estava lá sozinho.
24. Entretanto, já a boa distância da margem, a barca era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário.
25. Pela quarta vigília da noite, Jesus veio a eles, caminhando sobre o mar.
26. Quando os discípulos o perceberam caminhando sobre as águas, ficaram com medo: É um fantasma! disseram eles, soltando gritos de terror.
27. Mas Jesus logo lhes disse: Tranqüilizai-vos, sou eu. Não tenhais medo!
28. Pedro tomou a palavra e falou: Senhor, se és tu, manda-me ir sobre as águas até junto de ti!
29. Ele disse-lhe: Vem! Pedro saiu da barca e caminhava sobre as águas ao encontro de Jesus.
30. Mas, redobrando a violência do vento, teve medo e, começando a afundar, gritou: Senhor, salva-me!
31. No mesmo instante, Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e lhe disse: Homem de pouca fé, por que duvidaste?
32. Apenas tinham subido para a barca, o vento cessou.
33. Então aqueles que estavam na barca prostraram-se diante dele e disseram: Tu és verdadeiramente o Filho de Deus.
34. E, tendo atravessado, chegaram a Genesaré.
35. As pessoas do lugar o reconheceram e mandaram anunciar por todos os arredores. Apresentaram-lhe, então, todos os doentes,
36. rogando-lhe que ao menos deixasse tocar na orla de sua veste. E, todos aqueles que nele tocaram, foram curados.

 
Capítulo 15

1. Alguns fariseus e escribas de Jerusalém vieram um dia ter com Jesus e lhe disseram:
2. Por que transgridem teus discípulos a tradição dos antigos? Nem mesmo lavam as mãos antes de comer.
3. Jesus respondeu-lhes: E vós, por que violais os preceitos de Deus, por causa de vossa tradição?
4. Deus disse: Honra teu pai e tua mãe; aquele que amaldiçoar seu pai ou sua mãe será castigado de morte (Ex 20,12; 21,17).
5. Mas vós dizeis: Aquele que disser a seu pai ou a sua mãe: aquilo com que eu vos poderia assistir, já ofereci a Deus,
6. esse já não é obrigado a socorrer de outro modo a seus pais. Assim, por causa de vossa tradição, anulais a palavra de Deus.
7. Hipócritas! É bem de vós que fala o profeta Isaías:
8. Este povo somente me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim.
9. Vão é o culto que me prestam, porque ensinam preceitos que só vêm dos homens (Is 29,13).
10. Depois, reuniu os assistentes e disse-lhes:
11. Ouvi e compreendei. Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele. Eis o que mancha o homem.
12. Então se aproximaram dele seus discípulos e disseram-lhe: Sabes que os fariseus se escandalizaram com as palavras que ouviram?
13. Jesus respondeu: Toda planta que meu Pai celeste não plantou será arrancada pela raiz.
14. Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, tombarão ambos na mesma vala.
15. Tomando então a palavra, Pedro disse: Explica-nos esta parábola.
16. Jesus respondeu: Sois também vós de tão pouca compreensão?
17. Não compreendeis que tudo o que entra pela boca vai ao ventre e depois é lançado num lugar secreto?
18. Ao contrário, aquilo que sai da boca provém do coração, e é isso o que mancha o homem.
19. Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias.
20. Eis o que mancha o homem. Comer, porém, sem ter lavado as mãos, isso não mancha o homem.
21. Jesus partiu dali e retirou-se para os arredores de Tiro e Sidônia.
22. E eis que uma cananéia, originária daquela terra, gritava: Senhor, filho
de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio.
23. Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos vieram a ele e lhe disseram com insistência: Despede-a, ela nos persegue com seus gritos.
24. Jesus respondeu-lhes: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.
25. Mas aquela mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: Senhor, ajuda-me!
26. Jesus respondeu-lhe: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. _
27. Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos…
28. Disse-lhe, então, Jesus: Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada.
29. Jesus saiu daquela região e voltou para perto do mar da Galiléia. Subiu a uma colina e sentou-se ali.
30. Então numerosa multidão aproximou-se dele, trazendo consigo mudos, cegos, coxos, aleijados e muitos outros enfermos. Puseram-nos aos seus pés e ele os curou,
31. de sorte que o povo estava admirado ante o espetáculo dos mudos que falavam, daqueles aleijados curados, de coxos que andavam, dos cegos que viam; e glorificavam ao Deus de Israel.
32. Jesus, porém, reuniu os seus discípulos e disse-lhes: Tenho piedade esta multidão: eis que há três dias está perto de mim e não tem nada para comer. Não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho.
33. Disseram-lhe os discípulos: De que maneira procuraremos neste lugar deserto pão bastante para saciar tal multidão?
34. Pergunta-lhes Jesus: Quantos pães tendes? Sete, e alguns peixinhos, responderam eles.
35. Mandou, então, a multidão assentar-se no chão,
36. tomou os sete pães e os peixes e abençoou-os. Depois os partiu e os deu aos discípulos, que os distribuíram à multidão.
37. Todos comeram e ficaram saciados, e, dos pedaços que restaram, encheram sete cestos.
38. Ora, os que se alimentaram foram quatro mil homens, sem contar as mulheres e as crianças.
39. Jesus então despediu o povo, subiu para a barca e retornou à região de Magadã.

 
Capítulo 16

1. Os fariseus e os saduceus achegaram-se a Jesus para submetê-lo à prova e pediram-lhe que lhes mostrasse um milagre do céu.
2. Ele lhes respondeu: Quando vem a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado.
3. E de manhã: Hoje haverá tormenta, porque o céu está de um vermelho sombrio.
4. Hipócritas! Sabeis distinguir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Essa raça perversa e adúltera pede um milagre! Mas não lhe será dado outro sinal senão o de Jonas! Depois, deixando-os, partiu.
5. Ora, passando para a outra margem do lago, os discípulos haviam esquecido de levar pão.
6. Jesus disse-lhes: Guardai-vos com cuidado do fermento dos fariseus e dos saduceus.
7. Eles pensavam: É que não trouxemos pão…
8. Jesus, penetrando nos seus pensamentos, disse-lhes: Homens de pouca fé! Por que julgais que vos falei por não terdes pão?
9. Ainda não compreendeis? Nem vos lembrais dos cinco pães e dos cinco mil homens, e de quantos cestos recolhestes?
10. Nem dos sete pães para os quatro mil homens e de quantos cestos enchestes?
11. Por que não compreendeis que não é do pão que eu vos falava, quando vos disse: Guardai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus?
12. Então entenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus.
13. Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?
14. Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas.
15. Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou?
16. Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!
17. Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus.
18. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
19. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.
20. Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo.
21. Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia.
22. Pedro então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: Que Deus não permita isto, Senhor! Isto não te acontecerá!
23. Mas Jesus, voltando-se para ele, disse-lhe: Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!
24. Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.
25. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á.
26. Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a prejudicar a sua vida? Ou que dará um homem em troca de sua vida?…
27. Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai com seus anjos, e então recompensará a cada um segundo suas obras.
28. Em verdade vos declaro: muitos destes que aqui estão não verão a morte, sem que tenham visto o Filho do Homem voltar na majestade de seu Reino.

 
Capítulo 17

1. Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha.
2. Lá se transfigurou na presença deles: seu rosto brilhou como o sol, suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura.
3. E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com ele.
4. Pedro tomou então a palavra e disse-lhe: Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, farei aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias. Falava ele ainda, quando veio uma nuvem luminosa e os envolveu. E daquela nuvem fez-se ouvir uma voz que dizia: Eis o meu Filho muito amado, em quem pus toda minha afeição; ouvi-o.
6. Ouvindo esta voz, os discípulos caíram com a face por terra e tiveram medo.
7. Mas Jesus aproximou-se deles e tocou-os, dizendo: Levantai-vos e não temais.
8. Eles levantaram os olhos e não viram mais ninguém, senão unicamente Jesus.
9. E, quando desciam, Jesus lhes fez esta proibição: Não conteis a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.
10. Em seguida, os discípulos o interrogaram: Por que dizem os escribas que Elias deve voltar primeiro?
11. Jesus respondeu-lhes: Elias, de fato, deve voltar e restabelecer todas as coisas.
12. Mas eu vos digo que Elias já veio, mas não o conheceram; antes, fizeram com ele quanto quiseram. Do mesmo modo farão sofrer o Filho do Homem.
13. Os discípulos compreenderam, então, que ele lhes falava de João Batista.
14. E, quando eles se reuniram ao povo, um homem aproximou-se deles e prostrou-se diante de Jesus,
15. dizendo: Senhor, tem piedade de meu filho, porque é lunático e sofre muito: ora cai no fogo, ora na água…
16. Já o apresentei a teus discípulos, mas eles não o puderam curar.
17. Respondeu Jesus: Raça incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Até quando hei de aturar-vos? Trazei-mo.
18. Jesus ameaçou o demônio e este saiu do menino, que ficou curado na mesma hora.
19. Então os discípulos lhe perguntaram em particular: Por que não pudemos nós expulsar este demônio?
20. Jesus respondeu-lhes: Por causa de vossa falta de fé. Em verdade vos digo: se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a esta montanha: Transporta-te daqui para lá, e ela irá; e nada vos será impossível. Quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum.
21. Enquanto caminhava pela Galiléia, Jesus lhes disse: O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos homens.
22. Matá-lo-ão, mas ao terceiro dia ressuscitará. E eles ficaram profundamente aflitos.
23. Logo que chegaram a Cafarnaum, aqueles que cobravam o imposto da didracma aproximaram-se de Pedro e lhe perguntaram: Teu mestre não paga a didracma?
24. Paga sim, respondeu Pedro. Mas quando chegaram à casa, Jesus preveniu-o, dizendo: Que te parece, Simão? Os reis da terra, de quem recebem os tributos ou os impostos? De seus filhos ou dos estrangeiros?
25. Pedro respondeu: Dos estrangeiros. Jesus replicou: Os filhos, então, estão isentos.
26. Mas não convém escandalizá-los. Vai ao mar, lança o anzol, e ao primeiro peixe que pegares abrirás a boca e encontrarás um estatere. Toma-o e dá-o por mim e por ti.

 
Capítulo 18

1. Neste momento os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: Quem é o maior no Reino dos céus?
2. Jesus chamou uma criancinha, colocou-a no meio deles e disse:
3. Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus.
4. Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos céus.
5. E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe.
6. Mas, se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar.
7. Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas ai do homem que os causa!
8. Por isso, se tua mão ou teu pé te fazem cair em pecado, corta-os e lança-os longe de ti: é melhor para ti entrares na vida coxo ou manco que, tendo dois pés e duas mãos, seres lançado no fogo eterno.
9. Se teu olho te leva ao pecado, arranca-o e lança-o longe de ti: é melhor para ti entrares na vida cego de um olho que seres jogado com teus dois olhos no fogo da geena.
10. Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai que está nos céus.
11. [Porque o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido.]
12. Que vos parece? Um homem possui cem ovelhas: uma delas se desgarra. Não deixa ele as noventa e nove na montanha, para ir buscar aquela que se desgarrou?
13. E se a encontra, sente mais júbilo do que pelas noventa e nove que não se desgarraram.
14. Assim é a vontade de vosso Pai celeste, que não se perca um só destes pequeninos.
15. Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão.
16. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas.
17. Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano.
18. Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu.
19. Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus.
20. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.
21. Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?
22. Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.
23. Por isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis ajustar contas com seus servos.
24. Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos.
25. Como ele não tinha com que pagar, seu senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus bens para pagar a dívida.
26. Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo!
27. Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida.
28. Apenas saiu dali, encontrou um de seus companheiros de serviço que lhe devia cem denários. Agarrou-o na garganta e quase o estrangulou, dizendo: Paga o que me deves!
29. O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: Dá-me um prazo e eu te pagarei!
30. Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que tivesse pago sua dívida.
31. Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes, vieram contar a seu senhor o que se tinha passado.
32. Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste.
33. Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti?
34. E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida.
35. Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração.

 
Capítulo 19

1. Após esses discursos, Jesus deixou a Galiléia e veio para a Judéia, além do Jordão.
2. Uma grande multidão o seguiu e ele curou seus doentes.
3. Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer?
4. Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse:
5. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne?
6. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu.
7. Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la?
8. Jesus respondeu-lhes: É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim.
9. Ora, eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso, e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério.
10. Seus discípulos disseram-lhe: Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar!
11. Respondeu ele: Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado.
12. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda.
13. Foram-lhe, então, apresentadas algumas criancinhas para que pusesse as mãos sobre elas e orasse por elas. Os discípulos, porém, as afastavam.
14. Disse-lhes Jesus: Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham.
15. E, depois de impor-lhes as mãos, continuou seu caminho.
16. Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus:
17. Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos.
18. Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho,
19. honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo.
20. Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda?
21. Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!
22. Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens.
23. Jesus disse então aos seus discípulos: Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos céus!
24. Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.
25. A estas palavras seus discípulos, pasmados, perguntaram: Quem poderá então salvar-se?
26. Jesus olhou para eles e disse: Aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível.
27. Pedro então, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que deixamos tudo para te seguir. Que haverá então para nós?
28. Respondeu Jesus: Em verdade vos declaro: no dia da renovação do mundo, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da glória, vós, que me haveis seguido, estareis sentados em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.
29. E todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna.
30. Muitos dos primeiros serão os últimos e muitos dos últimos serão os primeiros.

 
Capítulo 20

1. Com efeito, o Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para sua vinha.
2. Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para sua vinha.
3. Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada.
4. Disse-lhes ele: – Ide também vós para minha vinha e vos darei o justo salário.
5. Eles foram. À sexta hora saiu de novo e igualmente pela nona hora, e fez o mesmo.
6. Finalmente, pela undécima hora, encontrou ainda outros na praça e perguntou-lhes: – Por que estais todo o dia sem fazer nada?
7. Eles responderam: – É porque ninguém nos contratou. Disse-lhes ele, então: – Ide vós também para minha vinha.
8. Ao cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: – Chama os operários e paga-lhes, começando pelos últimos até os primeiros.
9. Vieram aqueles da undécima hora e receberam cada qual um denário.
10. Chegando por sua vez os primeiros, julgavam que haviam de receber mais. Mas só receberam cada qual um denário.
11. Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo:
12. – Os últimos só trabalharam uma hora… e deste-lhes tanto como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor.
13. O senhor, porém, observou a um deles: – Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um denário?
14. Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti.
15. Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me apraz? Porventura vês com maus olhos que eu seja bom?
16. Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. [ Muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos.]
17. Subindo para Jerusalém, durante o caminho, Jesus tomou à parte os Doze e disse-lhes:
18. Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte.
19. E o entregarão aos pagãos para ser exposto às suas zombarias, açoitado e crucificado; mas ao terceiro dia ressuscitará.
20. Nisso aproximou-se a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos e prostrou-se diante de Jesus para lhe fazer uma súplica.
21. Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu: Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda.
22. Jesus disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu devo beber? Sim, disseram-lhe.
23. De fato, bebereis meu cálice. Quanto, porém, ao sentar-vos à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim vo-lo conceder. Esses lugares cabem àqueles aos quais meu Pai os reservou.
24. Os dez outros, que haviam ouvido tudo, indignaram-se contra os dois irmãos.
25. Jesus, porém, os chamou e lhes disse: Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade.
26. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo.
27. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo.
28. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão.
29. Ao sair de Jericó, uma grande multidão o seguiu.
30. Dois cegos, sentados à beira do caminho, ouvindo dizer que Jesus passava, começaram a gritar: Senhor, filho de Davi, tem piedade de nós!
31. A multidão, porém, os repreendia para que se calassem. Mas eles gritavam ainda mais forte: Senhor, filho de Davi, tem piedade de nós!
32. Jesus parou, chamou-os e perguntou-lhes: Que quereis que eu vos faça?
33. Senhor, que nossos olhos se abram!
34. Jesus, cheio de compaixão, tocou-lhes os olhos. Instantaneamente recobraram a vista e puseram-se a segui-lo.

 
Capítulo 21

1. Aproximavam-se de Jerusalém. Quando chegaram a Betfagé, perto do monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos,
2. dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte. Encontrareis logo uma jumenta amarrada e com ela seu jumentinho. Desamarrai-os e trazei-mos.
3. Se alguém vos disser qualquer coisa, respondei-lhe que o Senhor necessita deles e que ele sem demora os devolverá.
4. Assim, neste acontecimento, cumpria-se o oráculo do profeta:
5. Dizei à filha de Sião: Eis que teu rei vem a ti, cheio de doçura, montado numa jumenta, num jumentinho, filho da que leva o jugo (Zc 9,9).
6. Os discípulos foram e executaram a ordem de Jesus.
7. Trouxeram a jumenta e o jumentinho, cobriram-nos com seus mantos e fizeram-no montar.
8. Então a multidão estendia os mantos pelo caminho, cortava ramos de árvores e espalhava-os pela estrada.
9. E toda aquela multidão, que o precedia e que o seguia, clamava: Hosana ao filho de Davi! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!
10. Quando ele entrou em Jerusalém, alvoroçou-se toda a cidade, perguntando: Quem é este?
11. A multidão respondia: É Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia.
12. Jesus entrou no templo e expulsou dali todos aqueles que se entregavam ao comércio. Derrubou as mesas dos cambistas e os bancos dos negociantes de pombas,
13. e disse-lhes: Está escrito: Minha casa é uma casa de oração (Is 56,7), mas vós fizestes dela um covil de ladrões (Jr 7,11)!
14. Os cegos e os coxos vieram a ele no templo e ele os curou,
15. com grande indignação dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas que assistiam a seus milagres e ouviam os meninos gritar no templo: Hosana ao filho de Davi!
16. Disseram-lhe eles: Ouves o que dizem eles? Perfeitamente, respondeu-lhes Jesus. Nunca lestes estas palavras: Da boca dos meninos e das crianças de peito tirastes o vosso louvor (Sl 8,3)?
17. Depois os deixou e saiu da cidade para hospedar-se em Betânia.
18. De manhã, voltando à cidade, teve fome.
19. Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas só achou nela folhas; e disse-lhe: Jamais nasça fruto de ti!
20. E imediatamente a figueira secou. À vista disto, os discípulos ficaram estupefatos e disseram: Como ficou seca num instante a figueira?!
21. Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos declaro que, se tiverdes fé e não hesitardes, não só fareis o que foi feito a esta figueira, mas ainda se disserdes a esta montanha: Levanta-te daí e atira-te ao mar, isso se fará…
22. Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o alcançareis.
23. Dirigiu-se Jesus ao templo. E, enquanto ensinava, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se e perguntaram-lhe: Com que direito fazes isso? Quem te deu esta autoridade?
24. Respondeu-lhes Jesus: Eu vos proporei também uma questão. Se responderdes, eu vos direi com que direito o faço.
25. Donde procedia o batismo de João: do céu ou dos homens? Ora, eles raciocinavam entre si: Se respondermos: Do céu, ele nos dirá: Por que não crestes nele?
26. E se dissermos: Dos homens, é de temer-se a multidão, porque todo o mundo considera João como profeta.
27. Responderam a Jesus: Não sabemos. Pois eu tampouco vos digo, retorquiu Jesus, com que direito faço estas coisas.
28. Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: – Meu filho, vai trabalhar hoje na vinha.
29. Respondeu ele: – Não quero. Mas, em seguida, tocado de arrependimento, foi.
30. Dirigindo-se depois ao outro, disse-lhe a mesma coisa. O filho respondeu: – Sim, pai! Mas não foi.
31. Qual dos dois fez a vontade do pai? O primeiro, responderam-lhe. E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo: os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus!
32. João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os publicanos, porém, e as prostitutas creram nele. E vós, vendo isto, nem fostes tocados de arrependimento para crerdes nele.
33. Ouvi outra parábola: havia um pai de família que plantou uma vinha. Cercou-a com uma sebe, cavou um lagar e edificou uma torre. E, tendo-a arrendado a lavradores, deixou o país.
34. Vindo o tempo da colheita, enviou seus servos aos lavradores para recolher o produto de sua vinha.
35. Mas os lavradores agarraram os servos, feriram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro.
36. Enviou outros servos em maior número que os primeiros, e fizeram-lhes o mesmo.
37. Enfim, enviou seu próprio filho, dizendo: Hão de respeitar meu filho.
38. Os lavradores, porém, vendo o filho, disseram uns aos outros: Eis o herdeiro! Matemo-lo e teremos a sua herança!
39. Lançaram-lhe as mãos, conduziram-no para fora da vinha e o assassinaram.
40. Pois bem: quando voltar o senhor da vinha, que fará ele àqueles lavradores?
41. Responderam-lhe: Mandará matar sem piedade aqueles miseráveis e arrendará sua vinha a outros lavradores que lhe pagarão o produto em seu tempo.
42. Jesus acrescentou: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra angular; isto é obra do Senhor, e é admirável aos nossos olhos (Sl 117,22)?
43. Por isso vos digo: ser-vos-á tirado o Reino de Deus, e será dado a um povo que produzirá os frutos dele.
44. [Aquele que tropeçar nesta pedra, far-se-á em pedaços; e aquele sobre quem ela cair será esmagado.]
45. Ouvindo isto, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus compreenderam que era deles que Jesus falava.
46. E procuravam prendê-lo; mas temeram o povo, que o tinha por um profeta.

 
Capítulo 22

1. Jesus tornou a falar-lhes por meio de parábolas:
2. O Reino dos céus é comparado a um rei que celebrava as bodas do seu filho.
3. Enviou seus servos para chamar os convidados, mas eles não quiseram vir.
4. Enviou outros ainda, dizendo-lhes: Dizei aos convidados que já está preparado o meu banquete; meus bois e meus animais cevados estão mortos, tudo está preparado. Vinde às bodas!
5. Mas, sem se importarem com aquele convite, foram-se, um a seu campo e outro para seu negócio.
6. Outros lançaram mãos de seus servos, insultaram-nos e os mataram.
7. O rei soube e indignou-se em extremo. Enviou suas tropas, matou aqueles assassinos e incendiou-lhes a cidade.
8. Disse depois a seus servos: O festim está pronto, mas os convidados não foram dignos.
9. Ide às encruzilhadas e convidai para as bodas todos quantos achardes.
10. Espalharam-se eles pelos caminhos e reuniram todos quantos acharam, maus e bons, de modo que a sala do banquete ficou repleta de convidados.
11. O rei entrou para vê-los e viu ali um homem que não trazia a veste nupcial.
12. Perguntou-lhe: Meu amigo, como entraste aqui, sem a veste nupcial? O homem não proferiu palavra alguma.
13. Disse então o rei aos servos: Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes.
14. Porque muitos são os chamados, e poucos os escolhidos.
15. Reuniram-se então os fariseus para deliberar entre si sobre a maneira de surpreender Jesus nas suas próprias palavras.
16. Enviaram seus discípulos com os herodianos, que lhe disseram: Mestre, sabemos que és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus em toda a verdade, sem te preocupares com ninguém, porque não olhas para a aparência dos homens.
17. Dize-nos, pois, o que te parece: É permitido ou não pagar o imposto a César?
18. Jesus, percebendo a sua malícia, respondeu: Por que me tentais, hipócritas?
19. Mostrai-me a moeda com que se paga o imposto! Apresentaram-lhe um denário.
20. Perguntou Jesus: De quem é esta imagem e esta inscrição?
21. De César, responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
22. Esta resposta encheu-os de admiração e, deixando-o, retiraram-se.
23. Naquele mesmo dia, os saduceus, que negavam a ressurreição, interrogaram-no:
24. Mestre, Moisés disse: Se um homem morrer sem filhos, seu irmão case-se com a sua viúva e dê-lhe assim uma posteridade (Dt 25,5).
25. Ora, havia entre nós sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu. Como não tinha filhos, deixou sua mulher ao seu irmão.
26. O mesmo sucedeu ao segundo, depois ao terceiro, até o sétimo.
27. Por sua vez, depois deles todos, morreu também a mulher.
28. Na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, uma vez que todos a tiveram?
29. Respondeu-lhes Jesus: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus.
30. Na ressurreição, os homens não terão mulheres nem as mulheres, maridos; mas serão como os anjos de Deus no céu.
31. Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos disse:
32. Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Ex 3,6)? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos.
33. E, ouvindo esta doutrina, as turbas se enchiam de grande admiração.
34. Sabendo os fariseus que Jesus reduzira ao silêncio os saduceus, reuniram-se
35. e um deles, doutor da lei, fez-lhe esta pergunta para pô-lo à prova:
36. Mestre, qual é o maior mandamento da lei?
37. Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5).
38. Este é o maior e o primeiro mandamento.
39. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18).
40. Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas.
41. Como os fariseus se agrupassem, Jesus interrogou-os:
42. Que pensais vós de Cristo? De quem é filho? Responderam: De Davi!
43. Como então, prosseguiu Jesus, Davi, falando sob inspiração do Espírito, chama-o Senhor, dizendo:
44. O Senhor disse a meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos por escabelo dos teus pés (Sl 109,1)?
45. Se, pois, Davi o chama Senhor, como é ele seu filho?
46. Ninguém pôde responder-lhe nada. E, depois daquele dia, ninguém mais ousou interrogá-lo.

 
Capítulo 23

1. Dirigindo-se, então, Jesus à multidão e aos seus discípulos,disse:
2. Os escribas e os fariseus sentaram-se na cadeira de Moisés.
3. Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem.
4. Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo.
5. Fazem todas as suas ações para serem vistos pelos homens, por isso trazem largas faixas e longas franjas nos seus mantos.
6. Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das primeiras cadeiras nas sinagogas.
7. Gostam de ser saudados nas praças públicas e de ser chamados rabi pelos homens.
8. Mas vós não vos façais chamar rabi, porque um só é o vosso preceptor, e vós sois todos irmãos.
9. E a ninguém chameis de pai sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus.
10. Nem vos façais chamar de mestres, porque só tendes um Mestre, o Cristo.
11. O maior dentre vós será vosso servo.
12. Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado.
13. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Vós fechais aos homens o Reino dos céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar.
14. [Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Devorais as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso, sereis castigados com muito maior rigor.]
15. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos.
16. Ai de vós, guias cegos! Vós dizeis: Se alguém jura pelo templo, isto não é nada; mas se jura pelo tesouro do templo, é obrigado pelo seu juramento.
17. Insensatos, cegos! Qual é o maior: o ouro ou o templo que santifica o ouro?
18. E dizeis ainda: Se alguém jura pelo altar, não é nada; mas se jura pela oferta que está sobre ele, é obrigado.
19. Cegos! Qual é o maior: a oferta ou o altar que santifica a oferta?
20. Aquele que jura pelo altar, jura ao mesmo tempo por tudo o que está sobre ele.
21. Aquele que jura pelo templo, jura ao mesmo tempo por aquele que nele habita.
22. E aquele que jura pelo céu, jura ao mesmo tempo pelo trono de Deus, e por aquele que nele está sentado.
23. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, sem contudo deixar o restante.
24. Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo.
25. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais por fora o copo e o prato e por dentro estais cheios de roubo e de intemperança.
26. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo.
27. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão.
28. Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.
29. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Edificais sepulcros aos profetas, adornais os monumentos dos justos
30. e dizeis: Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos manchado nossas mãos como eles no sangue dos profetas…
31. Testemunhais assim contra vós mesmos que sois de fato os filhos dos assassinos dos profetas.
32. Acabai, pois, de encher a medida de vossos pais!
33. Serpentes! Raça de víboras! Como escapareis ao castigo do inferno?
34. Vede, eu vos envio profetas, sábios, doutores. Matareis e crucificareis uns e açoitareis outros nas vossas sinagogas. Persegui-los-eis de cidade em cidade,
35. para que caia sobre vós todos o sangue inocente derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o templo e o altar.
36. Em verdade vos digo: todos esses crimes pesam sobre esta raça.
37. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas… e tu não quiseste!
38. Pois bem, a vossa casa vos é deixada deserta.
39. Porque eu vos digo: já não me vereis de hoje em diante, até que digais: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor.

 
Capítulo 24

1. Ao sair do templo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e fizeram-no apreciar as construções.
2. Jesus, porém, respondeu-lhes: Vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro: não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído.
3. Indo ele assentar-se no monte das Oliveiras, achegaram-se os discípulos e, estando a sós com ele, perguntaram-lhe: Quando acontecerá isto? E qual será o sinal de tua volta e do fim do mundo?
4. Respondeu-lhes Jesus: Cuidai que ninguém vos seduza.
5. Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu o Cristo. E seduzirão a muitos.
6. Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerra. Atenção: que isso não vos perturbe, porque é preciso que isso aconteça. Mas ainda não será o fim.
7. Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares.
8. Tudo isto será apenas o início das dores.
9. Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objeto de ódio para todas as nações.
10. Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão.
11. Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos.
12. E, ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de muitos esfriará.
13. Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo.
14. Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim.
15. Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel (9,27) – o leitor entenda bem –
16. então os habitantes da Judéia fujam para as montanhas.
17. Aquele que está no terraço da casa não desça para tomar o que está em sua casa.
18. E aquele que está no campo não volte para buscar suas vestimentas.
19. Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentarem naqueles dias!
20. Rogai para que vossa fuga não seja no inverno, nem em dia de sábado;
21. porque então a tribulação será tão grande como nunca foi vista, desde o começo do mundo até o presente, nem jamais será.
22. Se aqueles dias não fossem abreviados, criatura alguma escaparia; mas por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados.
23. Então se alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo! Ou: Ei-lo acolá!, não creiais.
24. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão milagres a ponto de seduzir, se isto fosse possível, até mesmo os escolhidos.
25. Eis que estais prevenidos.
26. Se, pois, vos disserem: Vinde, ele está no deserto, não saiais. Ou: Lá está ele em casa, não o creiais.
27. Porque, como o relâmpago parte do oriente e ilumina até o ocidente, assim será a volta do Filho do Homem.
28. Onde houver um cadáver, aí se ajuntarão os abutres.
29. Logo após estes dias de tribulação, o sol escurecerá, a lua não terá claridade, cairão do céu as estrelas e as potências dos céus serão abaladas.
30. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu cercado de glória e de majestade.
31. Ele enviará seus anjos com estridentes trombetas, e juntarão seus escolhidos dos quatro ventos, duma extremidade do céu à outra.
32. Compreendei isto pela comparação da figueira: quando seus ramos estão tenros e crescem as folhas, pressentis que o verão está próximo.
33. Do mesmo modo, quando virdes tudo isto, sabei que o Filho do Homem está próximo, à porta.
34. Em verdade vos declaro: não passará esta geração antes que tudo isto aconteça.
35. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão.
36. Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai.
37. Assim como foi nos tempos de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem.
38. Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca.
39. E os homens de nada sabiam, até o momento em que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho do Homem.
40. Dois homens estarão no campo: um será tomado, o outro será deixado.
41. Duas mulheres estarão moendo no mesmo moinho: uma será tomada a outra será deixada.
42. Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor.
43. Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa.
44. Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes.
45. Quem é, pois, o servo fiel e prudente que o Senhor constituiu sobre os de sua família, para dar-lhes o alimento no momento oportuno?
46. Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, na sua volta, encontrar procedendo assim!
47. Em verdade vos digo: ele o estabelecerá sobre todos os seus bens.
48. Mas, se é um mau servo que imagina consigo:
49. – Meu senhor tarda a vir, e se põe a bater em seus companheiros e a comer e a beber com os ébrios,
50. o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e na hora em que ele não sabe,
51. e o despedirá e o mandará ao destino dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.

 
Capítulo 25

1. Então o Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que saíram com suas lâmpadas ao encontro do esposo.
2. Cinco dentre elas eram tolas e cinco, prudentes.
3. Tomando suas lâmpadas, as tolas não levaram óleo consigo.
4. As prudentes, todavia, levaram de reserva vasos de óleo junto com as lâmpadas.
5. Tardando o esposo, cochilaram todas e adormeceram.
6. No meio da noite, porém, ouviu-se um clamor: Eis o esposo, ide-lhe ao encontro.
7. E as virgens levantaram-se todas e prepararam suas lâmpadas.
8. As tolas disseram às prudentes: Dai-nos de vosso óleo, porque nossas lâmpadas se estão apagando.
9. As prudentes responderam: Não temos o suficiente para nós e para vós; é preferível irdes aos vendedores, a fim de o comprardes para vós.
10. Ora, enquanto foram comprar, veio o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para a sala das bodas e foi fechada a porta.
11. Mais tarde, chegaram também as outras e diziam: Senhor, senhor, abre-nos!
12. Mas ele respondeu: Em verdade vos digo: não vos conheço!
13. Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora.
14. Será também como um homem que, tendo de viajar, reuniu seus servos e lhes confiou seus bens.
15. A um deu cinco talentos; a outro, dois; e a outro, um, segundo a capacidade de cada um. Depois partiu.
16. Logo em seguida, o que recebeu cinco talentos negociou com eles; fê-los produzir, e ganhou outros cinco.
17. Do mesmo modo, o que recebeu dois, ganhou outros dois.
18. Mas, o que recebeu apenas um, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor.
19. Muito tempo depois, o senhor daqueles servos voltou e pediu-lhes contas.
20. O que recebeu cinco talentos, aproximou-se e apresentou outros cinco: – Senhor, disse-lhe, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco que ganhei.’
21. Disse-lhe seu senhor: – Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor.
22. O que recebeu dois talentos, adiantou-se também e disse: – Senhor, confiaste-me dois talentos; eis aqui os dois outros que lucrei.
23. Disse-lhe seu senhor: – Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor.
24. Veio, por fim, o que recebeu só um talento: – Senhor, disse-lhe, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste.
25. Por isso, tive medo e fui esconder teu talento na terra. Eis aqui, toma o que te pertence.
26. Respondeu-lhe seu senhor: – Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei.
27. Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o que é meu.
28. Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez.
29. Dar-se-á ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem, tirar-se-á mesmo aquilo que julga ter.
30. E a esse servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.
31. Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso.
32. Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.
33. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
34. Então o Rei dirá aos que estão à direita: – Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo,
35. porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes;
36. nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim.
37. Perguntar-lhe-ão os justos: – Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber?
38. Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos?
39. Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar?
40. Responderá o Rei: – Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.
41. Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: – Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos.
42. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;
43. era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes.
44. Também estes lhe perguntarão: – Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te socorremos?
45. E ele responderá: – Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.
46. E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna.

 
Capítulo 26

1. Quando Jesus acabou todos esses discursos, disse a seus discípulos:
2. Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa, e o Filho do Homem será traído para ser crucificado.
3. Então os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se no pátio do sumo sacerdote, chamado Caifás,
4. e deliberaram sobre os meios de prender Jesus por astúcia e de o matar.
5. E diziam: Sobretudo, não seja durante a festa. Poderá haver um tumulto entre o povo.
6. Encontrava-se Jesus em Betânia, na casa de Simão, o leproso.
7. Estando à mesa, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, cheio de perfume muito caro, e derramou-o na sua cabeça.
8. Vendo isto, os discípulos disseram indignados: Para que este desperdício?
9. Poder-se-ia vender este perfume por um bom preço e dar o dinheiro aos pobres.
10. Jesus ouviu-os e disse-lhes: Por que molestais esta mulher? É uma ação boa o que ela me fez.
11. Pobres vós tereis sempre convosco. A mim, porém, nem sempre me tereis.
12. Derramando esse perfume em meu corpo, ela o fez em vista da minha sepultura.
13. Em verdade eu vos digo: em toda parte onde for pregado este Evangelho pelo mundo inteiro, será contado em sua memória o que ela fez.
14. Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e perguntou-lhes:
15. Que quereis dar-me e eu vo-lo entregarei. Ajustaram com ele trinta moedas de prata.
16. E desde aquele instante, procurava uma ocasião favorável para entregar Jesus.
17. No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: Onde queres que preparemos a ceia pascal?
18. Respondeu-lhes Jesus: Ide à cidade, à casa de um tal, e dizei-lhe: O Mestre manda dizer-te: Meu tempo está próximo. É em tua casa que celebrarei a Páscoa com meus discípulos.
19. Os discípulos fizeram o que Jesus tinha ordenado e prepararam a Páscoa.
20. Ao declinar da tarde, pôs-se Jesus à mesa com os doze discípulos.
21. Durante a ceia, disse: Em verdade vos digo: um de vós me há de trair.
22. Com profunda aflição, cada um começou a perguntar: Sou eu, Senhor?
23. Respondeu ele: Aquele que pôs comigo a mão no prato, esse me trairá.
24. O Filho do Homem vai, como dele está escrito. Mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Seria melhor para esse homem que jamais tivesse nascido!
25. Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: Mestre, serei eu? Sim, disse Jesus.
26. Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo.
27. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos,
28. porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados.
29. Digo-vos: doravante não beberei mais desse fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no Reino de meu Pai.
30. Depois do canto dos Salmos, dirigiram-se eles para o monte das Oliveiras.
31. Disse-lhes então Jesus: Esta noite serei para todos vós uma ocasião de queda; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersadas (Zc 13,7).
32. Mas, depois da minha Ressurreição, eu vos precederei na Galiléia.
33. Pedro interveio: Mesmo que sejas para todos uma ocasião de queda, para mim jamais o serás.
34. Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo: nesta noite mesma, antes que o galo cante, três vezes me negarás.
35. Respondeu-lhe Pedro: Mesmo que seja necessário morrer contigo, jamais te negarei! E todos os outros discípulos diziam-lhe o mesmo.
36. Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar.
37. E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se.
38. Disse-lhes, então: Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo.
39. Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres.
40. Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: Então não pudestes vigiar uma hora comigo…
41. Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.
42. Afastou-se pela segunda vez e orou, dizendo: Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade!
43. Voltou ainda e os encontrou novamente dormindo, porque seus olhos estavam pesados.
44. Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras.
45. Voltou então para os seus discípulos e disse-lhes: Dormi agora e repousai! Chegou a hora: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores…
46. Levantai-vos, vamos! Aquele que me trai está perto daqui.
47. Jesus ainda falava, quando veio Judas, um dos Doze, e com ele uma multidão de gente armada de espadas e cacetes, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos do povo.
48. O traidor combinara com eles este sinal: Aquele que eu beijar, é ele. Prendei-o!
49. Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse: Salve, Mestre. E beijou-o.
50. Disse-lhe Jesus: É, então, para isso que vens aqui? Em seguida, adiantaram-se eles e lançaram mão em Jesus para prendê-lo.
51. Mas um dos companheiros de Jesus desembainhou a espada e feriu um servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha.
52. Jesus, no entanto, lhe disse: Embainha tua espada, porque todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão.
53. Crês tu que não posso invocar meu Pai e ele não me enviaria imediatamente mais de doze legiões de anjos?
54. Mas como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais é preciso que seja assim?
55. Depois, voltando-se para a turba, falou: Saístes armados de espadas e
porretes para prender-me, como se eu fosse um malfeitor. Entretanto, todos os dias estava eu sentado entre vós ensinando no templo e não me prendestes.
56. Mas tudo isto aconteceu porque era necessário que se cumprissem os oráculos dos profetas. Então os discípulos o abandonaram e fugiram.
57. Os que haviam prendido Jesus levaram-no à casa do sumo sacerdote Caifás, onde estavam reunidos os escribas e os anciãos do povo.
58. Pedro seguia-o de longe, até o pátio do sumo sacerdote. Entrou e sentou-se junto aos criados para ver como terminaria aquilo.
59. Enquanto isso, os príncipes dos sacerdotes e todo o conselho procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de o levarem à morte.
60. Mas não o conseguiram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas.
61. Por fim, apresentaram-se duas testemunhas, que disseram: Este homem disse: Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.
62. Levantou-se o sumo sacerdote e lhe perguntou: Nada tens a responder ao que essa gente depõe contra ti?
63. Jesus, no entanto, permanecia calado. Disse-lhe o sumo sacerdote: Por Deus vivo, conjuro-te que nos digas se és o Cristo, o Filho de Deus?
64. Jesus respondeu: Sim. Além disso, eu vos declaro que vereis doravante o Filho do Homem sentar-se à direita do Todo-poderoso, e voltar sobre as nuvens do céu.
65. A estas palavras, o sumo sacerdote rasgou suas vestes, exclamando: Que necessidade temos ainda de testemunhas? Acabastes de ouvir a blasfêmia!
66. Qual o vosso parecer? Eles responderam: Merece a morte!
67. Cuspiram-lhe então na face, bateram-lhe com os punhos e deram-lhe tapas,
68. dizendo: Adivinha, ó Cristo: quem te bateu?
69. Enquanto isso, Pedro estava sentado no pátio. Aproximou-se dele uma das servas, dizendo: Também tu estavas com Jesus, o Galileu.
70. Mas ele negou publicamente, nestes termos: Não sei o que dizes.
71. Dirigia-se ele para a porta, a fim de sair, quando outra criada o viu e disse aos que lá estavam: Este homem também estava com Jesus de Nazaré.
72. Pedro, pela segunda vez, negou com juramento: Eu nem conheço tal homem.
73. Pouco depois, os que ali estavam aproximaram-se de Pedro e disseram: Sim, tu és daqueles; teu modo de falar te dá a conhecer.
74. Pedro então começou a fazer imprecações, jurando que nem sequer conhecia tal homem. E, neste momento, cantou o galo.
75. Pedro recordou-se do que Jesus lhe dissera: Antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes. E saindo, chorou amargamente.

 
Capítulo 27

1. Chegando a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se em conselho para entregar Jesus à morte.
2. Ligaram-no e o levaram ao governador Pilatos.
3. Judas, o traidor, vendo-o então condenado, tomado de remorsos, foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata,
4. dizendo-lhes: Pequei, entregando o sangue de um justo. Responderam-lhe: Que nos importa? Isto é lá contigo!
5. Ele jogou então no templo as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se.
6. Os príncipes dos sacerdotes tomaram o dinheiro e disseram: Não é permitido lançá-lo no tesouro sagrado, porque se trata de preço de sangue.
7. Depois de haverem deliberado, compraram com aquela soma o campo do Oleiro, para que ali se fizesse um cemitério de estrangeiros.
8. Esta é a razão por que aquele terreno é chamado, ainda hoje, Campo de Sangue.
9. Assim se cumpriu a profecia do profeta Jeremias: Eles receberam trinta moedas de prata, preço daquele cujo valor foi estimado pelos filhos de Israel;
10. e deram-no pelo campo do Oleiro, como o Senhor me havia prescrito.
11. Jesus compareceu diante do governador, que o interrogou: És o rei dos judeus? Sim, respondeu-lhe Jesus.
12. Ele, porém, nada respondia às acusações dos príncipes dos sacerdotes e dos anciãos.
13. Perguntou-lhe Pilatos: Não ouves todos os testemunhos que levantam contra ti?
14. Mas, para grande admiração do governador, não quis responder a nenhuma acusação.
15. Era costume que o governador soltasse um preso a pedido do povo em cada festa de Páscoa.
16. Ora, havia naquela ocasião um prisioneiro famoso, chamado Barrabás.
17. Pilatos dirigiu-se ao povo reunido: Qual quereis que eu vos solte: Barrabás ou Jesus, que se chama Cristo?
18. (Ele sabia que tinham entregue Jesus por inveja.)
19. Enquanto estava sentado no tribunal, sua mulher lhe mandou dizer: Nada faças a esse justo. Fui hoje atormentada por um sonho que lhe diz respeito.
20. Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo que pedisse a libertação de Barrabás e fizesse morrer Jesus.
21. O governador tomou então a palavra: Qual dos dois quereis que eu vos solte? Responderam: Barrabás!
22. Pilatos perguntou: Que farei então de Jesus, que é chamado o Cristo? Todos responderam: Seja crucificado!
23. O governador tornou a perguntar: Mas que mal fez ele? E gritavam ainda mais forte: Seja crucificado!
24. Pilatos viu que nada adiantava, mas que, ao contrário, o tumulto crescia. Fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante do povo e disse: Sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá convosco!
25. E todo o povo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!
26. Libertou então Barrabás, mandou açoitar Jesus e lho entregou para ser crucificado.
27. Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e rodearam-no com todo o pelotão.
28. Arrancaram-lhe as vestes e colocaram-lhe um manto escarlate.
29. Depois, trançaram uma coroa de espinhos, meteram-lha na cabeça e puseram-lhe na mão uma vara. Dobrando os joelhos diante dele, diziam com escárnio: Salve, rei dos judeus!
30. Cuspiam-lhe no rosto e, tomando da vara, davam-lhe golpes na cabeça.
31. Depois de escarnecerem dele, tiraram-lhe o manto e entregaram-lhe as vestes. Em seguida, levaram-no para o crucificar.
32. Saindo, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, a quem obrigaram a levar a cruz de Jesus.
33. Chegaram ao lugar chamado Gólgota, isto é, lugar do crânio.
34. Deram-lhe de beber vinho misturado com fel. Ele provou, mas se recusou a beber.
35. Depois de o haverem crucificado, dividiram suas vestes entre si, tirando a sorte. Cumpriu-se assim a profecia do profeta: Repartiram entre si minhas vestes e sobre meu manto lançaram a sorte (Sl 21,19).
36. Sentaram-se e montaram guarda.
37. Por cima de sua cabeça penduraram um escrito trazendo o motivo de sua crucificação: Este é Jesus, o rei dos judeus.
38. Ao mesmo tempo foram crucificados com ele dois ladrões, um à sua direita e outro à sua esquerda.
39. Os que passavam o injuriavam, sacudiam a cabeça e diziam:
40. Tu, que destróis o templo e o reconstróis em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!
41. Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos também zombavam dele:
42. Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele!
43. Confiou em Deus, Deus o livre agora, se o ama, porque ele disse: Eu sou o Filho de Deus!
44. E os ladrões, crucificados com ele, também o ultrajavam.
45. Desde a hora sexta até a nona, cobriu-se toda a terra de trevas.
46. Próximo da hora nona, Jesus exclamou em voz forte: Eli, Eli, lammá sabactáni? – o que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?
47. A estas palavras, alguns dos que lá estavam diziam: Ele chama por Elias.
48. Imediatamente um deles tomou uma esponja, embebeu-a em vinagre e apresentou-lha na ponta de uma vara para que bebesse.
49. Os outros diziam: Deixa! Vejamos se Elias virá socorrê-lo.
50. Jesus de novo lançou um grande brado, e entregou a alma.
51. E eis que o véu do templo se rasgou em duas partes de alto a baixo, a terra tremeu, fenderam-se as rochas.
52. Os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos ressuscitaram.
53. Saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade Santa depois da ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas.
54. O centurião e seus homens que montavam guarda a Jesus, diante do estremecimento da terra e de tudo o que se passava, disseram entre si, possuídos de grande temor: Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!
55. Havia ali também algumas mulheres que de longe olhavam; tinham seguido Jesus desde a Galiléia para o servir.
56. Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
57. À tardinha, um homem rico de Arimatéia, chamado José, que era também discípulo de Jesus,
58. foi procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos cedeu-o.
59. José tomou o corpo, envolveu-o num lençol branco
60. e o depositou num sepulcro novo, que tinha mandado talhar para si na rocha. Depois rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro e foi-se embora.
61. Maria Madalena e a outra Maria ficaram lá, sentadas defronte do túmulo.
62. No dia seguinte – isto é, o dia seguinte ao da Preparação -, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus dirigiram-se todos juntos à casa de Pilatos.
63. E disseram-lhe: Senhor, nós nos lembramos de que aquele impostor disse, enquanto vivia: Depois de três dias ressuscitarei.
64. Ordena, pois, que seu sepulcro seja guardado até o terceiro dia. Os seus
discípulos poderiam vir roubar o corpo e dizer ao povo: Ressuscitou dos mortos. E esta última impostura seria pior que a primeira.
65. Respondeu Pilatos: Tendes uma guarda. Ide e guardai-o como o entendeis.
66. Foram, pois, e asseguraram o sepulcro, selando a pedra e colocando guardas.

 
Capítulo 28

1. Depois do sábado, quando amanhecia o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo.
2. E eis que houve um violento tremor de terra: um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela.
3. Resplandecia como relâmpago e suas vestes eram brancas como a neve.
4. Vendo isto, os guardas pensaram que morreriam de pavor.
5. Mas o anjo disse às mulheres: Não temais! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado.
6. Não está aqui: ressuscitou como disse. Vinde e vede o lugar em que ele repousou.
7. Ide depressa e dizei aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos. Ele vos precede na Galiléia. Lá o haveis de rever, eu vo-lo disse.
8. Elas se afastaram prontamente do túmulo com certo receio, mas ao mesmo tempo com alegria, e correram a dar a boa nova aos discípulos.
9. Nesse momento, Jesus apresentou-se diante delas e disse-lhes: Salve! Aproximaram-se elas e, prostradas diante dele, beijaram-lhe os pés.
10. Disse-lhes Jesus: Não temais! Ide dizer aos meus irmãos que se dirijam à Galiléia, pois é lá que eles me verão.
11. Enquanto elas voltavam, alguns homens da guarda já estavam na cidade para anunciar o acontecimento aos príncipes dos sacerdotes.
12. Reuniram-se estes em conselho com os anciãos. Deram aos soldados uma importante soma de dinheiro, ordenando-lhes:
13. Vós direis que seus discípulos vieram retirá-lo à noite, enquanto dormíeis.
14. Se o governador vier a sabê-lo, nós o acalmaremos e vos tiraremos de dificuldades.
15. Os soldados receberam o dinheiro e seguiram suas instruções. E esta versão é ainda hoje espalhada entre os judeus.
16. Os onze discípulos foram para a Galiléia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado.
17. Quando o viram, adoraram-no; entretanto, alguns hesitavam ainda.
18. Mas Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra.
19. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
20. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.
 

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